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Noites com Valentina por Sweet Words

Ver comentários: 15

Ver lista de capítulos

Palavras: 9952
Acessos: 5590   |  Postado em: 10/09/2017

Notas iniciais:

Olá! :) 

Sejam bem vindas de volta rsrs 
As músicas do capítulo estarão nas notas finais. 
Duas delas são importantes para o contexto, se quiserem ouvir, só acessarem os links. 

PS.: Dedico este capítulo à duas pessoas especiais, que sabem o porque recebem essa dedicatória. 
Marillia (Anjinho) ♥ e Bárbara ( "Mozi" do coração) ♥ 
Beijão em vocês meninas! 


BOA LEITURA!

Noites com Valentina - Pt 1

 

 

 

 

Respirando. Inspirando. Respirando. Inspirando.

Meus olhos estavam focados à frente, sentindo meu corpo se mover quase que por conta própria. Minhas pernas aceleravam e meus batimentos iam junto. O mar à minha direita, o sol batendo contra a minha pele alva. Tudo o que eu ouvia era a música em meus fones. O dia já estava bastante quente àquela hora da manhã, era cedo, calor habitual da cidade a qual fiz de meu lar. Uma linha de suor escorreu pelo meu pescoço, descendo até encontrar o fino tecido da minha blusa. Eu já me sentia exausta, mas ainda inquieta demais para parar de correr. Naquela típica manhã de segunda-feira, onde o movimento de veículos e pessoas já se fazia presente desde antes de o sol nascer, eu me encontrava dentre o caos da orla da praia, a alguns quilômetros do meu prédio.

Perdi o sono desde as 5h da manhã. Uma inquietação me consumia como fogo queimando as minhas pernas para que eu me levantasse. Era como se elas me suplicassem em desespero para sair do lugar.

Corra! Corra!

Eu quase pude ouvi-las dizer.

Depois de um banho frio não resolver o meu incômodo, vesti as minhas malhas de exercícios, os tênis que raramente saíam do armário, e desde então estou aqui, correndo feito uma louca sem rumo.

O grande problema é que mesmo com tudo isso eu sabia que haveriam grandes chances de a minha inquietação não passar. E por quê? Porque ela não estava somente em meu corpo, a sua origem era na minha mente. E pior ainda, o motivo de tudo isso tinha nome, sobrenome e uma boca deliciosamente linda. Olhos, boca, cabelos, seus traços, seu corpo... Tudo nela é atraente. Exatamente tudo. E mesmo que não a olhasse com os olhos do desejo, seria quase impossível não se encantar. Seu poder de atração é forte mesmo quando ela não o faz por intenção. E não queira imaginar como é quando ela quer te atrair. Não se pode escapar, nem se você quiser. Menos ainda se você a desejar.

Os atos de Valentina para comigo me fizeram tomar a decisão de encarar os fatos e esquecer os meus medos em relação a quem eu sou e quem eu realmente quero ser. A sua "prova de merecimento", que quase se tornou uma tragédia, me fez refletir e me deu confiança para me libertar de certos receios que me prendiam a uma falsa segurança onde eu ancorei a minha vida.

Eu me sinto confiante, mas ainda assim perdida.

O meu problema é pensar demais. No fundo eu tenho a nítida certeza de quem sou, do que sinto, de qual a minha orientação, quais os meus anseios... Mas mesmo assim não consigo me libertar. É como se algo aqui dentro ainda me prendesse, me limitasse e ao mesmo tempo me acusasse de tentar ser quem eu não sou simplesmente por ser mais confortável assim. E isso é ruim. Muito ruim.

A música ainda preenchia meus ouvidos. Uma sensação de raiva me fez querer correr mais forte e mais rápido. Eu sabia que mais tarde mal conseguiria andar, mas as minhas pernas, habitualmente sedentárias, dessa vez não queriam ceder.

Meus batimentos pulsavam contra o meu peito, o suor brotava e deslizava por minha pele. Eu corria com a audácia de um maratonista. Sob alguns olhares curiosos, outros inconvenientemente desejosos, eu passava como vento por todos, sem atenção. A minha mente estava focada demais em não parar de correr até que eu conseguisse parar de pensar.

Raiva. Raiva por permitir, durante toda a minha vida, que me tornassem esse modelo de perfeição aceitável para a sociedade.

Eu não preciso que ninguém me defina.

Medo. Medo por estar prestes a quebrar o meu casulo e deixar que o meu verdadeiro eu se mostre.

Inquietação. Inquieta e ansiosa pela maneira como se dará e principalmente com quem se dará a minha provável libertação.

Desejo. Desejo incontrolável pelo "quem" da minha inquietação.

Confiante e perdida. Era como eu me sentia. Mas ainda assim, estranhamente ansiosa.

Quando senti minhas pernas fraquejarem pelo cansaço, comecei a diminuir a velocidade. Eu mal me aguentava de pé. Parei ao lado de um coqueiro na orla e me recostei, puxando a respiração com força, as mãos sobre os joelhos, o peito ardendo, suplicando por ar, o suor formando desenhos abstratos e úmidos em minha blusa.

Ouvi meu celular. Um sinal de mensagem. O retirei do suporte em meu braço e abri a tela, sorrindo involuntariamente ao ler o seu nome.

"Estou ansiosa para começar a te encontrar todas as noites.

Espero que esteja preparada para ser minha convidada  rs  Mesmo que por alguns dias apenas.

Lhe enviarei as instruções para o encontro de hoje.

Desejo que você tenha um bom dia e uma noite melhor ainda..."

E lá estava ela novamente me fazendo sentir todas essas coisas de uma só vez. Coisas essas que eu não sou capaz nem de nomear no momento. Respirei fundo levando a mão ao meu pescoço, que deslizou facilmente pelo suor. O calor agora vinha de dentro para fora.

Eu não fazia ideia do que Valentina pretendia. E ela fez questão de não me dizer nada sobre os nossos encontros. Como se ela já não me surpreendesse o suficiente...

Desatenta, inquieta, ansiosa.

Desde a nossa noite juntas no sítio, eu não posso me distrair por um segundo sequer que a minha mente me manda diretamente para lá, para aquela caixinha a qual estive tentando esconder e evitar durante todo esse tempo. Aquela onde há uma enorme placa com um alerta em neon:

Perigo! Proibido! Cuidado!

É nessa caixa onde guardo todos os desejos mais insanos que ela me desperta. É onde escondo os pensamentos mais inapropriados sobre ela que já se passaram pela minha cabeça. Se essa caixa tivesse um nome, certamente se chamaria luxúria.

Não haviam condições lógicas para eu me sentir tão desnorteada. Ela nunca ultrapassou nenhum limite, mesmo deixando claro que o seu maior anseio era avançar. Valentina era cuidadosa e acima de tudo me respeitava, mas ultimamente tudo o que eu desejava era que ela não me respeitasse mais, que não se segurasse, que ultrapassasse todos os meus limites. O meu corpo reagia a cada vez que eu me lembrava dos seus beijos, das suas mãos delicadas, do seu corpo, o seu jeito de se mover, de sorrir, a sua maneira calma e suave de falar. E parecia que a cada dia ficava pior e a cada vez que eu me lembrava que se aproximava do momento de encontrá-la, mais forte se tornava essa reação.

A buzina de um carro apressado na via ao lado me fez despertar. Meus lábios doíam por tanto apertá-los. Respirei fundo, me recompus e voltei correndo para casa. Eu precisava de outro banho frio.

 

***

 

— Bom dia, mon amour!

Justine me cumprimentou animada, com a voz ainda sonolenta ao chegar à mesa para o café da manhã.

— Bom dia! Dormiu bem? — perguntei.

— Muito bem. E você?

— Não muito. Tive insônia. — beberiquei o café em minha xícara.

— Uh lala... Efeitos da Valentina?

— Você não deveria me conhecer tão bem. É irritante não conseguir esconder nada de você.

— E por que esconderia? Devo estar tão ansiosa quanto você por esse encontro. — ela disse, servindo-se do suco na jarra.

— E por que isso? É apenas um encontro.

— Não é apenas um encontro e você sabe bem disso. — a observei enquanto dava o primeiro gole no suco e me assustei ao vê-la cuspi-lo em seguida — O que... O que você colocou nesse suco, Diana? — perguntou entre tossidas.

— Como assim? Não tem nada demais aí. — respondi assustada.

— Experimente. — ela me ofereceu o copo, fazendo uma careta desgostosa.

Mal coloquei o líquido na boca e a minha vontade foi de fazer o mesmo que Justine.

— Mon Dieu, eu coloquei sal ao invés de açúcar!

— Estou feliz por não ser uma receita nova sua.

— Me desculpe, eu não sei onde estava com a cabeça.

— Pois eu sei e por isso te perdoo. — ela sorriu.

— Eu não vou nem me dar ao trabalho de negar. — sorri de volta — Mal consegui dormir direito pensando nisso.

— Ela te disse aonde vocês irão?

— Não. Está fazendo um suspense aflitivo.

— Também estou ansiosa e nem sou eu que vou a esse encontro! — ela fez uma pausa, me fitando — Posso te fazer uma pergunta?

— Quando perguntas vêm com introduções de permissão, certamente não é boa coisa.

— Há quanto tempo você não sai com uma mulher? — disse quase aos sussurros, como se houvesse mais alguém em casa.

— Nossa, eu não sei... Há muito tempo. Até uma semana atrás eu estava comprometida, Justine. — respondi óbvia.

— E agora não está mais?

— Sinceramente? Eu não sei. Quer dizer, ele adiou o casamento, nós estamos em uma espécie de pausa do relacionamento. É muito errado da minha parte sair com outra pessoa nesse meio tempo?

— Sinceramente? Eu não sei. – ela debochou aos risos – Mas o fato é que agora você se comprometeu em uma série de encontros com uma profissional do sex*. E isso é no mínimo excitante, mon cherrie.

A encarei espantada com a sua afirmação.

— Não fale assim, Justine.

— Pardon, eu me empolguei. Mas não deixa de ser uma verdade. É difícil não pensar nesse detalhe e é inegável que ela exala sensualidade e bem... Os pensamentos voam, não é?!

— E como voam. Acha que não consegui dormir por quê?

— Não posso imaginar.

Gargalhamos.

— Acho que estou um pouco nervosa. Eu nem sei se ainda sei... Você sabe. — sorri aflita, gesticulando nervosamente esperando que ela me entendesse sem maiores explicações.

— Como dizem, é como andar de bicicleta, nunca se esquece!

A encarei séria, tentando não rir daquela comparação infame.

— Você está brincando comigo? Porque eu não achei a menor graça.

Ouvi a sua gargalhada ecoar pela sala de jantar, sua mão repousada em seu peito enquanto ela ria descontroladamente.

— Me desculpe! — ela disse ainda aos risos — Me perdoe, Diana. Eu não falei de propósito, realmente não me lembrava desse detalhe.

— Não me diga... — tentei soar séria.

— Certo, oui. — disse respirando fundo ao se recompor — Você não deve se preocupar, estou certa de que ela te fará lembrar facilmente como é. — Justine disse, me fitando maliciosa.

— Mas isso não quer dizer que os nossos encontros serão resumidos a sex*, quer dizer, eu não acho que ela usaria os sete dias comigo apenas para isso. — fiz uma pausa — Você acha?

— Olha, Diana, eu prefiro nem pensar sobre isso. Esta cidade é quente demais até para pensar sobre essas coisas.

— Eu que o diga...

— Efeito Valentina?

— Efeito Valentina. — assenti, acompanhando a minha amiga aos risos.

...

— Aqui é sempre tão quente assim? — Justine perguntou enquanto nos espreguiçávamos nas cadeiras no deck da piscina.

— Quase sempre. — respondi — Você voltará para casa bronzeada.

— Você vive aqui há tanto tempo e continua alva como uma vela.

— Não tenho o hábito de tomar sol.

— Ao contrário de você, alguém aqui parece adorar. Ela está sempre por aqui. — minha amiga apontou para a gata que se aproximava.

— Mon petit. — a peguei e acariciei seu corpinho peludo — Mamãe sentiu saudades. Você se divertiu esse fim de semana no barco do seu avô? Ele disse que você gostou.

— O seu pai conseguiu cuidar dela?

— Sim. Levou bons arranhões, mas passa bem.

— Mas é claro. Essa gata não deixa que ninguém a toque a não ser você.

— Ela não é muito sociável, mas não é má. Você é um amorzinho, não é, meu bebê? — falei segurando-a de frente para mim.

— Somente com você. — Justine retrucou.

— Valentina adorou ela.

— Valentina parece mesmo ser alguém que gosta de ser arranhada.

— Justine!

A loira riu dando de ombros.

— Para a sua informação, – continuei – Branca de Neve não foi rude com ela, foi até bastante simpática. Valentina a segurou no colo sem nenhum problema desde a sua primeira visita.

Justine me olhava com um misto de incredulidade e conformismo.

— Por que será que eu não estou surpresa? Quem não gosta da Valentina, não é mesmo?! Até a sua mãe adorou ela.

— Poder de atração. Ela pode ser bastante persuasiva sem fazer esforço.

— É claro que pode. E com você o esforço é mínimo, não é mesmo?

— Branca de Neve, vamos brincar de ignorar a tia Justine? Quem conseguir por mais tempo vence.

Justine gargalhou.

— Certamente essa é a brincadeira favorita dela. Mas mudando de assunto, acho que estou com fome.

— Não me diga?!

— Uh, meu celular! — a vi saltar do assento num susto ao sentir o aparelho vibrar embaixo de sua perna — Oui? Alô? Sim, sou eu. Fernando! — ela me olhou surpresa — Como vai? Sim, claro. Jantar? Hoje à noite? Humm... É claro, eu adorava... Adorar... Adoraria! — achei graça do seu riso sem jeito — Sim, perfeito. Combinado. Até mais.

— Humm... — a provoquei — Temos alguém boba e sem jeito por um certo Chef, mas vejam só!

— Ele é fofo. — ela disse envergonhada.

— É, eu sei.

— E vai me levar para jantar. 

— Rapaz esperto, já sabe por onde te conquistar.

— Não posso negar que ele ganha muitos pontos por isso.

— É claro que ganha.

— Essa conversa está me dando fome.

— Ok, Justine, eu já entendi as indiretas. Vamos lá preparar o almoço.

— Achei que não ia nunca!

...

— Ele não trabalha hoje? – minha amiga perguntou enquanto me ajudava com as panelas.

— Não, não abrimos às segundas.

— Ótimo.

— Aonde ele vai te levar?

— Não sei, ele só disse que quer cozinhar para mim.

— Fernando é mesmo uma graça.

— Oh, é sim... – ela disse risonha.

— Tem alguém encantada aqui?

— Não quero me precipitar.

— Vá sem receios, ele é um cara legal.

— Vejam só quem é que está falando de receios aqui.

— São situações totalmente diferentes.

Nesse momento ouvi a minha campainha e saí depressa para atender.

— Cuide das panelas!

Alertei Justine e corri para a porta.

— Boa tarde, seu Jair. —­ era o porteiro.

— Boa tarde, dona Diana. Aqui. — ele disse me entregando um envelope — Chegou pra senhora.

— Obrigada.

O agradeci e acenei quando ele se retirou.

— Mais envelopes? — afirmei que sim para a loira que me esperava atenta ao balcão — Mais mistérios. E onde está a rosa dessa vez?

— A condição é que ela me entregue pessoalmente.

— "Para ver o lindo verde dos seus olhos brilhando, como eles ficam quando você sorri" — ela disse debochada, com a voz alterada e as mãos no peito.

— Pare com isso. — ela riu.

— O que diz dessa vez?

— Curiosa... — respondi enquanto abria o envelope rosado em tom claro, selado com um delicado adesivo dourado.

 

"Embora eu creia que você possa notar que planejei cada detalhe de tudo isso, temo que perceba a minha ansiedade levemente alterada. Hoje será o nosso primeiro encontro e penso que deveria saber que é a primeira vez que vou a um com alguém, um verdadeiro encontro, como nos filmes românticos de Hollywood. Não, não se espante e nem duvide, por favor.

Seja casual, não precisaremos de clichês elegantes por hoje. Mas ainda assim receio que não conseguirei fugir disso. Devo confessar que gostaria de ter com você todos os clichês românticos possíveis.

Te vejo às oito.

Com carinho,

Isis."

Um segundo cartão na cor preta — que me lembrou muito o primeiro contato que tive com ela em seu cartão de serviços pessoais, dentro do envelope, em letras douradas como num convite para um baile de gala, dizia:

"A Srta. Isis R. Viegas tem a honra de convidá-la para uma agradável noite de cinema no "James Dean - Drive in".

— Cinema. — sorri para Justine — Ela vai me levar ao cinema.

— Eu confesso que estava esperando por algo mais original.

— Não seja má, é o primeiro encontro dela na vida. — suspirei admirando os recados escritos à mão, com sua letra bem desenhada.

Justine me encarava como se eu tivesse acabado de dizer o maior dos absurdos.

— Acho que não entendi. Primeiro encontro?

— É exatamente isso que ela diz aqui. Vai ser a primeira vez que ela terá um encontro com alguém. E não é simplesmente num cinema comum, ela vai me levar a um Drive in.

— Ah... Por que não me disse antes?! Agora está explicado. Eu sabia que a Valentina era mais perspicaz do que isso.

— É um encontro romântico, não seja maldosa. — tentei não rir.

— Você jura que vai sair com ela usando toda essa inocência e pureza como acessório?

— Eu só estou tentando ser racional. Não quero resumir tudo a sex* e estou certa de que a magoaria se o fizesse.

— Isso não podemos negar, a Valentina é realmente perdida de amores por você.

 

***

 

Exatamente às 19h30min eu já estava pronta. Estive tão ansiosa durante todo o dia que comecei a me arrumar mais de duas horas antes do horário marcado.

Eu parecia uma adolescente nervosa em seu primeiro encontro com o garoto popular da escola.

Vergonhoso, eu sei.

Justine já havia saído com o Fernando. Ele a trouxe um buquê. Foi bonitinho ver os dois juntos.

Me sentei no sofá da sala para esperar, tentando não ter um mini ataque cardíaco. Já tinha perdido as contas de quantas vezes havia me olhado no espelho. Um jeans, camiseta, cardigan e sapatos. E se a hora demorasse muito a passar, eu trocaria toda a roupa pela terceira vez.

Levei as mãos aos cabelos. Eu não podia aceitar que estava me sentindo boba daquela maneira.

É só um encontro, Diana. Não seja ridícula.

Dei um salto no sofá quando ouvi meu celular tocar. O atendi rapidamente imaginando que fosse Valentina, mas ao olhar a tela, para a minha surpresa era a minha mãe.

— Alô?

— Você não se lembra que tem mãe, Diana?

— Oi, mãe!

— Está tudo bem? Não me deu mais notícias. O Eduardo já voltou de viagem?

— Sim, estou bem. E não, eu não sei do Eduardo.

— E você diz isso com essa calma assim?

— Quem terminou o noivado foi ele. E sinceramente estou feliz por não estar preocupada.

— Francamente, Diana...

— Mãe, se me ligou para falar sobre isso, eu sinto muito, mas...

— Não. Não exatamente. Você não perguntou, mas caso queira saber, eu estou muito bem, obrigada.

— Você não me deu chances de perguntar, madame La Roux.

— Que seja. Mas me diga, É... Você por um acaso tem visto o seu pai?

— Eu o vi ontem, ele esteve aqui para me trazer a minha gata.

— Humm...

— Mãe?

— Bem, não era nada. Eu preciso resolver um assunto sobre... Sobre uma das contas no banco e não consigo falar com ele.

— Quer que eu peça para ele te ligar?

— Não! Não precisa. Eu vou dar um jeito.

— Ok.

— Precisamos marcar algo. Não a vejo desde a semana passada. Onde esteve durante o fim de semana?

— Eu fiz uma pequena viagem, para me distrair.

— Vamos jantar amanhã.

— Amanhã eu não posso.

— Tudo bem, então na quarta-feira.

— Na quarta também não. Na verdade, durante toda essa semana eu tenho compromissos, mamãe.

— E posso saber que compromissos são esses que te impedem de ver a própria mãe?

— Não é nada demais, mãe. É... São, são coisas do restaurante.

— Não me diga que está saindo com alguém?!

— O que? Não, claro que não, quem te disse isso?

— Ninguém me disse, mas você anda muito estranha, Diana. E já faz algum tempo.

— Mãe, não faça a louca a essa altura, por favor. Eu não... Eu não estou saindo com ninguém. Se não se lembra, acabei de terminar um noivado às vésperas do casamento!

— Acho bom mesmo porque o Eduardo me garantiu que vai resolver tudo com você quando ele voltar.

— Okay, mamãe! Isso é assunto meu e dele e eu realmente não quero falar sobre agora. Eu preciso desligar.

— Por que está me evitando, filha?

— Eu não estou te evitando, mãe! É você que não perde essa mania irritante de querer controlar tudo sobre a minha vida!

— Diana Émeraud de Oliveira, não se atreva...

— Au revoir, mama!

Desliguei sem remorsos. Já estava mais do que na hora de enfrentar a minha mãe. Mesmo que apenas pelo telefone. E eu sabia que iria ouvir longas reclamações por isso, mas não queria pensar naquele momento. Não naquele momento. Eu não deixaria nada estragar a minha noite.

E dessa vez foi a campainha que me fez saltar sobre o sofá. Era ela!

Me levantei sentindo as minhas mãos dormentes e minhas pernas trêmulas. Caminhei rápido até a porta e esperei alguns segundos antes de abrir, para não parecer tão ansiosa quanto eu realmente estava.

— Oi. — eu disse ao abrir.

Ela sorriu e me observou.

— Oi. Você está bonita. Quer dizer, mais que o habitual, você é linda sempre, mas... Você... Você entendeu.

Ela parecia tão nervosa quanto eu.

— Obrigada. Eu deveria dizer o mesmo sobre você, mas não vou falar porque corro o mesmo risco de me atrapalhar ou esquecer na metade o que eu ia dizer.

Ela riu.

— Aqui está. — me entregou a rosa.

— Obrigada. Tem seu cheiro. — notei ao levá-la ao nariz.

— Eu passo o meu perfume nelas, mas isso é segredo.

— Prometo não contar para ninguém.

— Eu acho que estou um pouco nervosa, me desculpe.

— Não, não se preocupe com isso. Eu não sinto nada do pescoço pra baixo. Só sei que ainda estou viva porque meu coração está trabalhando bastante agora.

Nós realmente parecíamos duas crianças descobrindo o primeiro amor. E aquilo me assustava um pouco.

Quando saímos, ela me perguntou sobre o meu dia, sobre a minha saúde, sobre o restaurante e até sobre a Branca de Neve.

Valentina era atenciosa.

Ao chegarmos ao Drive in, ela estacionou aos fundos. Foi inevitável notar a atmosfera romântica que havia no lugar. A pouca luz, o clima frio, nós duas a sós no carro. Eu nunca tinha feito nada parecido e já estava gostando muito.

— Qual será o filme? — perguntei.

— Bem, eu não sei se você gosta de filmes antigos, mas espero que entenda que em Drive in's só exibem clássicos. Nesta semana eu soube que farão um tributo ao Charles Chaplin.

— Ah, eu adoro!

— Que bom, é mesmo muito bom saber. Estou aliviada na verdade. — rimos — O filme de hoje é 'Tempos Modernos'. Espero que goste.

— Eu já estou gostando, Valentina. Estou gostando muito.

Ela sintonizou o rádio do carro e não demorou para que começasse. Aquele era um lindo filme, Chaplin é magnífico.

Durante aquelas horas eu me vi imersa em uma outra dimensão onde só existíamos nós duas. Onde eu só ouvia o som da sua risada e a sua voz suave, via seus olhos brilhando durante as cenas mais dramáticas e o seu sorriso doce quando ela via que eu também estava gostando de estar ali.

E eu realmente estava. Foi uma experiência linda.

Ao final eu me sentia encantada, por tudo e principalmente por ela.

— Você quer ir beber algo? Ou jantar ou algo do tipo? — perguntou quando saíamos de lá.

— Eu confio em você. Me leve para onde achar melhor.

— Como quiser.

Fomos até o grande centro da cidade, onde se concentravam uma enorme quantidade de bares e restaurantes dos mais variados. Imaginei que ela fosse me levar para jantar, mas entendi que não quando ela estacionou em frente a um bar com um tom intimista.

“Jams Bar & Blues”

Entramos no lugar, era calmo, onde uma banda num pequeno palco aos fundos tocava uma música suave e baixa o suficiente para ser agradavelmente audível. A meia luz dava uma atmosfera interessante e posso até dizer sensual ao ambiente. Era um bar no estilo “Rock and Blues” anos 60. Estava quase cheio, mas ainda haviam lugares suficientes para algumas dezenas de pessoas se acomodarem.

Ela me guiou até uma mesa no canto, me indicou a poltrona confortável em couro escuro amarronzado e sentou-se ao meu lado.

— Lugar legal. — eu disse.

— Sim. — ela disse também admirando o local — Eu pensei que poderíamos continuar naquele mesmo clima lá do cinema, estava tão bom. — falou como se esperasse o meu aval sobre sua escolha.

— Eu gostei bastante, de lá e daqui também. Eu tô adorando tudo e principalmente a sua companhia.

— Obrigada. Obrigada por aceitar o meu convite.

— Bem, depois daquela leve pressão que sofri, não teria como recusar.

— Me desculpe por ter te assustado. Prometo não fazer de novo.

— Ah, mas certamente não mesmo!

Ela deu de ombros.

— Você vem sempre aqui? — questionei.

— Parece que essa pergunta está sempre nos rodeando.

— Gosto de saber que tenho certa exclusividade. Ou não...

Ela riu em negação.

— Certo. Uma informação: Você tem exclusividade sobre muitos pontos em relação a mim. Os nossos encontros foram planejados e eu cuidei para que fosse uma experiência nova e agradável para você, tanto quanto está sendo para mim. Então, sanando a sua dúvida, eu nunca vim aqui, com ninguém.

— Tudo bem... Se dissesse simplesmente não, eu teria entendido.

— Só achei importante que você soubesse. Me desculpe se fui rude.

— Você incrivelmente não consegue ser rude comigo, nem quando quer.

— Eu não me lembro de já ter querido ser rude com você.

— Não mesmo? Nem uma vezinha sequer? — a fitei sugestiva.

Ela desviou seu olhar e tentou disfarçar um riso que acabou vindo à tona.

— Você não deveria poder me deixar assim. Quer beber algo?

A velha e boa mudança abrupta de assunto.

— O que servem aqui?

— Eu não faço a mínima ideia. — ela respondeu pegando um cardápio sobre a mesa.

— Me sinto decepcionada. Achei que você havia planejado cada detalhe dos nossos encontros. — provoquei.

— Não me deixe mais nervosa do que já estou!

— Estou só brincando! Vamos relaxar.

— Eu planejei muitas coisas sobre os nossos encontros, Diana, mas não o que acontece neles. Eu te trouxe as folhas e os lápis, mas quem desenha é você.

— Adoro as suas analogias. — ela sorriu — Agora estou me sentindo levemente pressionada.

— Por favor, não. — ela riu — Vamos apenas tentar ficar à vontade então.

— É uma ótima ideia.

— Esses encontros... São sobre você. E sobre você e eu, nada mais que isso, simplesmente isso.

Apenas a olhei e decidi não tentar entender sobre a que ela se referia.

Pedimos bebidas quentes para uma noite fria. Conversamos sobre assuntos que não iremos nos lembrar amanhã e sobre coisas que jamais esqueceremos até o fim de nossas vidas.

— Você gostou do filme? — ela perguntou depois do silêncio após as últimas risadas.

— Sim. Já havia assistido na verdade, mas não quis falar para não estragar a sua surpresa.

— Não foi bem uma surpresa. — ela riu — Não é como se existissem muitas opções num Drive in.

— Realmente.

— Achei que a experiência seria interessante. Eu gosto desse filme. É bonito, poético. A nobreza do Charles, a leveza da garota órfã...

— Eu pensei em você. — a comparei com a moça do filme.

Ela achou graça.

— Eu também tentei fugir algumas vezes.

— Sério? — perguntei surpresa.

— Aos 9, aos 10. Aos 15...

— Me diga algo sobre você que eu ainda não saiba.

Me vi curiosa e essa foi a melhor maneira que encontrei para saber mais sobre ela, sem parecer invasiva.

— Assim de surpresa?

— Sim, diga qualquer coisa.

— Tudo bem, vamos fazer isso direito então. Vamos jogar um jogo.

— Sim, diz aí.

— Uma moeda. — ela buscou sua carteira e vasculhou até encontrar uma moeda de 50 centavos de euro espanhol — Cara e você me diz algo que eu não sei sobre você. Coroa e eu te desafio a algo, se você aceitar, eu bebo uma dose, se recusar, você toma uma dose. E o mesmo vale para mim.

A encarei de olhos cerrados, pensando em sua proposta. Àquela altura da noite, bebendo há pouco mais de uma hora, certamente eu já teria coragem o suficiente para aceitar qualquer coisa que ela me propusesse.

Comecei a pensar em como eu queria que ela me fizesse outras propostas...

Okay, foco!

— Fechado. — eu disse por fim.

Ela assentiu.

Acenou para a garçonete gentil que nos atendia e pediu que trouxesse uma garrafa de Vodka e dois copos.

— Quer começar? — perguntou.

— Sim, eu falei primeiro sobre as perguntas.

— Tudo bem. — ela me entregou a moeda.

— Certo. — me posicionei na poltrona e joguei a moeda.

Alguns segundos no ar e ela estava de volta à minha mão.

— Preparada?

— Sempre. — ela disse.

Abri a minha mão.

— Cara. — olhei para ela.

— Vamos lá.

— Me diga algo que eu ainda não sei sobre você.

— Humm... Deixe-me ver. Eu tenho medo de altura.

— Sério?

— Aham.

— Essa não foi uma informação muito reveladora.

— Foi só a primeira, relaxa aí.

— Você não parece ser do tipo que tem medo.

— Pois é, eu disfarço bem.

— Ok... Sua vez.

Ela pegou a moeda e jogou no ar. Meu coração acelerou com receio de que saísse Coroa. Pensando melhor, não sabia se havia álcool o suficiente em meu organismo para aceitar qualquer desafio.

— Cara.

Suspirei.

— Vejamos... Eu já tive 5 peixinhos de estimação, todos morreram por excesso de alimentação.

— Você tá brincando?!

— Não. — neguei sem jeito.

Ela gargalhou.

— Você gosta mesmo de alimentar as pessoas... E bichinhos também. Como a Branca de Neve ainda sobrevive? — completou ainda aos risos.

— Eu era uma criança, ok? Eu preparava comidinhas para eles, a ração não parecia ser muito saborosa. Não queria vê-los tristes e quando eu dava a comida eles pareciam mais alegres.

— Certamente! Estamos descobrindo uma assassina em série que fez experiências com animais indefesos. Confesso que estou chocada.

— Engraçadinha! Se for ficar me zoando assim eu não brinco mais.

— Tudo bem, não farei mais isso. Mas devo dizer que agora estou com medo de provar a sua comida.

— Não cozinho mais para você, nem se me implorar!

— Me desculpe. — disse aos risos — Vamos continuar.

— Ótimo. Agora é a minha vez. — joguei a moeda — Cara. Seja melhor dessa vez.

— Ok. — ela riu — Eu tenho uma adaga de estimação.

— Uma adaga? Aquela que você usou naquele cara no dia em que me encontrou na frente do restaurante?

— Sim, essa mesmo.

— Aquilo foi sexy. — falei sem pensar.

— Você achou é?

— Posso saber por quê? — mudei de assunto.

— Por que o quê?

— Por que tem uma adaga de estimação?

— Uma informação por vez.

— Isso é injusto.

— Você quer trapacear.

— E você só me deixa mais curiosa!

— Bom, foi você quem começou. Quer parar?

— Não!

— Certo, sua vez de responder. Ou aceitar o desafio...

Ela jogou a moeda novamente.

— Cara de novo. Essa moeda só pode estar viciada. — ela brincou fingindo irritação.

— Está querendo me desafiar?

— Ou te fazer beber, qualquer um dos dois será bem engraçado.

— Bom saber...

— Diga lá.

— Minha primeira vez com uma mulher foi aos 17.

— Uh... Interessante. Posso perguntar com quem?

Neguei com a cabeça.

— E como foi? — ela insistiu.

— Uma informação por vez.

— Humm... Vingativa. Muito bem!

Gargalhei.

— Me dê a moeda. — pedi e a joguei — Cara.

— Eu tenho duas tatuagens. — respondeu sem muitos rodeios.

— Sério? E como eu nunca as vi? — fiquei realmente surpresa.

— É porque não estão em lugares muito visíveis.

— Uh... Não me diga que...

— Não. Não pense besteiras.

— Então...?

— Uma na costela, bem abaixo do seio esquerdo. E a outra na nuca.

— Posso ver? Se disser que não, eu te desafio a tirar a roupa aqui mesmo quando sair Coroa.

Sua gargalhada foi alta e eu acabei rindo junto.

— Tudo bem, pedindo assim com jeitinho, né...

Primeiro ela olhou pros lados e se aproximou. Levantou a sua blusa e puxou levemente o sutiã.

— "Para siempre mi ángel". — li em voz alta.

Estava escrito em letras cursivas e pequenas. Delicada.

— É sobre o... Seu filho? — perguntei receosa.

— Sim. — ela assentiu abaixando a blusa — Fiz um tempo depois que ele se foi.

Um sorriso triste brotou em seus lábios.

— É linda.

A vi assentir com a cabeça e se servir de uma dose da Vodka sobre a mesa. Virou num só gole.

— E a outra?

Ela se virou e puxou os cabelos para o lado. Era também pequena, algarismos romanos. Parecia uma data.

VI XI MMIX

— 07 de novembro de 2009. — ela disse.

— É sobre ele também?

— Não. — se virou de volta para mim — Esse é um outro assunto.

— Uma data importante?

— Sim. — ela deu um sorriso mais alegre dessa vez — Agora já chega de perguntas. Você já teve muitas vantagens.

— Ok! Jogue.

— E deu... — ela fez suspense, o que me fez arregalar os olhos em receio — Coroa.

— Não! Jura?

— Aham... — me mostrou sua mão aberta e lá estava o rosto de Miguel de Cervantes estampado na moeda dourada.

— Idiota!

— Salva por Dom Quixote.

— Eu quase acreditei em você!

— Precisava ver a sua cara de medo.

— Vai ter volta.

— Ei, calma aí né?! — disse rindo — Eu vou pegar leve no seu desafio.

— Isso se sair Coroa!

— Uma hora vai...

— Ok... Deixa eu me lembrar de algo. Ah... Não, isso não.

— O que?

— Eu me lembrei de algo, mas é vergonhoso demais. Não vou dizer.

— Pois agora eu quero que diga.

— Não. Você vai rir de mim.

— Não vou.

— Você já está rindo!

— Não estou não! Eu estou rindo para você, não de você.

— Eu não sei por que te levo a sério.

— Vamos lá, diga...

— Eu não sei andar de bicicleta. — confessei.

Ela me encarou em silêncio por alguns segundos.

— Veja, não estou rindo. Estou?

Me olhou séria, mas não durou muito tempo.

— Você está querendo rir, eu tô vendo.

Ela fez um som nasal em negação.

— Não, eu não.

Inclinei a cabeça para o lado e a encarei. Foi quando explodimos em gargalhadas.

Ela se debruçou sobre a mesa e eu me joguei na poltrona. Rimos feito loucas por um tempo que nem pude mensurar.

Àquela altura a banda já havia feito uma pausa e eu nem tinha me dado conta.

— Acho que já estamos bêbadas! — eu disse ainda rindo descontrolada — Isso não tem a menor graça!

— Também acho! — ela respondeu, rindo ainda mais.

Quando meus olhos já estavam lavados em lágrimas e meu peito ardendo sem fôlego, então consegui me acalmar.

— Me desculpe. — ela pediu quase sem ar — Foi sem querer, eu juro!

— Tudo bem, foi engraçado mesmo.

— Não é engraçado que você não saiba andar de bicicleta, foi o jeito que você falou.

— É, sei.

— Desculpe. Mas se você quiser eu posso te ensinar.

— Só se você me deixar te ensinar a nadar!

— A gente pode ver isso um dia desses.

— Preciso ir ao banheiro. Beber e rir demais pode causar reações. — eu disse sentindo a minha bexiga reclamar.

— Vai lá. Eu te espero aqui.

Depois de longos minutos esvaziando todo o álcool que eu tinha ingerido naquela noite e em seguida me retocando no grande espelho na parede lateral, avaliando se eu ainda estava atraente o suficiente caso Valentina resolvesse me surpreender, voltei para a mesa me sentindo mais calma e aliviada.

Quando retornei, ela tomava uma bebida diferente, de cor azul esverdeada.

— Experimenta isso.

Me ofereceu quando me sentei ao seu lado.

— O que é?

— Não sei bem, mas é muito gostoso.

Provei e senti o sabor de menta refrescar a minha boca e em seguida descer quente por minha garganta.

— É muito bom.

— Aqui tá dizendo que é afrodisíaco. — ela disse olhando a descrição no cardápio.

— O que está pretendendo, hein?

— Hã? Não! — ela riu sem jeito — Não foi de propósito. Eu queria beber outra coisa pra tirar o gosto da Vodka e aí resolvi jogar a moeda. Caiu nesse drink aqui no cardápio e aí pedi sem nem olhar direito o que era.

— Você está gostando mesmo de jogar com a moeda. Devo me preocupar?

— Só se cair em Coroa. — ela riu maliciosa.

— Ei, você disse que iria pegar leve!

Ela piscou para mim e pegou a moeda outra vez — Jogue.

Joguei para o ar e a peguei em seguida, olhando o resultado, para minha decepção.

— Não é possível! Cara de novo!

Valentina riu e disse sem pensar muito.

— Eu fugiria com você. — tomou o drink da minha mão e bebeu um gole.

— Como?

— A minha confissão. Eu fugiria com você. Quando quisesse e para onde quisesse. Se me dissesse agora mesmo que quer pegar o próximo voo pra Dubai ou pro Japão ou para uma ilha no meio do nada, eu iria. Sem pensar duas vezes.

— Isso é... Bem, é algo que eu não sabia. Então tá valendo.

Odeio essa minha mania, de repente não sabia reagir a ela.

— Sua vez. — a entreguei a moeda.

Ela jogou e a segurou na palma da mão fechada. Me encarou, abriu a mão e a estendeu para mim.

— Coroa. — disse com ar vitorioso e cheio de intenções — E dessa vez é sério.

— Droga! — murmurei — Ok, vamos lá.

— Dance para mim.

— Que? Aqui? Agora?

— Sim.

— Eu não sei dançar.

— Curiosidade interessante. Agora dance.

— Não posso fazer isso, não aqui.

— Vou anotar isso.

— O quê?

— Você disse "aqui". Cobrarei numa próxima oportunidade, em um outro lugar.

— Você devia se calar e me passar logo essa bebida.

Ela riu e encheu o copo sobre a mesa. Respirei fundo e virei de uma só vez.

— Meu Deus do céu!

Balancei a cabeça sentindo todo o meu corpo arrepiar.

Valentina ria...

Seu sorriso era bonito, era leve. Ela parecia tão bem. Eu gostava de vê-la assim. Eu gostava de vê-la. Em qualquer situação. Ela me fazia bem. Me deixava leve e parecia gostar de me ver assim. Nós nos fazíamos bem.

Seu cotovelo sobre a mesa apoiava a sua cabeça enquanto ela me olhava com aquele sorriso. Aquele sorriso. Parecia esperar que eu dissesse algo, mas naquele momento estava tudo fora do lugar.

Eu poderia beijá-la. Eu borraria o seu batom, que estava incrivelmente intacto. Como ela era capaz? Depois de uma noite inteira e ela ainda parecia tão irritantemente disposta e bem alinhada. Seu cabelo numa bagunça bem arrumada. Eu poderia desarrumá-lo agora. Se ela o quisesse. Eu a deixaria me bagunçar. Mais do que tem me bagunçado. Eu a beijaria, me sentaria em seu colo, sentiria o seu gosto, seu toque, seu cheiro. E não me importaria com mais nada nesse mundo se ela me fizesse sua. Aqui mesmo.

Eu a amaria...

— Diana?

Sua voz risonha me despertou.

— Oi?

Deus, o que tinha nessa bebida?

Me endireitei na poltrona sentindo o meu corpo pesar.

— Você tá bem? — perguntou percebendo o meu momento de delírio.

— Sim, aham, tô ótima. — balancei a cabeça, afirmativa até demais para alguém no meu estado.

— Onde é que você estava viajando aí?

— Eu estava... Bom, não importa onde eu estava. Vamos continuar?

— Tem certeza que quer continuar?

— Sim. Desde que eu não precise dançar ou beber mais nada.

Ela gargalhou.

— Vamos torcer então. Jogue.

Peguei a moeda torcendo para que saísse Coroa. A vingança seria plena.

— Não acredito! Cara outra vez, não é justo.

— Não faço ideia de quem você esteja culpando, mas vamos prosseguir.

— Se fosse possível, eu culparia você por trapacear.

— Conte-me mais sobre como eu faria isso, Srta.?

— É o que estou tentando descobrir.

— Não me diga que descobriu os meus poderes telepáticos?

— Não seja irônica, Valentina... Não provoque a ira de uma mulher alcoolizada.

— Tudo bem, eu realmente senti o impacto dessa ameaça. — levantou os braços em rendição —Já me calei.

— Tá, agora pare de enrolar e fale logo.

— Sim, Sra. — ela disse e então ficou séria de repente — Eu menti pra você.

Num primeiro momento achei que fosse mais alguma de suas piadas, mas logo notei que ela estava séria demais para que fosse brincadeira.

— Sobre o que?

— Sobre o seu pai. Não aconteceu nada entre nós, ele nem chegou a cogitar essa hipótese quando que me viu pessoalmente. Ele foi muito gentil.

Senti a minha garganta se fechar ao pensar naquela possibilidade, ao lembrar das minhas dúvidas. Mesmo que eu já soubesse a verdade, ouvir dela me foi surpreendente e me deixou imersa num misto de alívio e raiva por ela ter mentido.

— Por que mentiu? Por que me fez acreditar que vocês tinham... Eu não posso nem pensar.

— Me desculpe. No início, quando nos encontramos, eu tentei me aproximar de você a todo custo, eu estava disposta a ter você. Mas depois que vi que a sua vida era tão... Perfeita... Um noivo que te ama, uma família que te cuida, seu trabalho no restaurante... Eu não poderia estragar tudo, eu não... Eu não seria boa para você, Diana. Na verdade, eu sei que não sou, mas não é como se eu pudesse lutar contra isso.

Ela fez uma pausa, respirou. Seus dedos pareciam interessantes, ela mal tirava os olhos deles, inquietos sobre a sua perna.

— Eu ainda não consigo entender.

— Essa foi a maneira que eu encontrei para me afastar. Eu não conseguiria, mas você sim, se tivesse um motivo forte o suficiente para isso.

— E você estava certa! — demonstrei meu descontentamento com tudo aquilo — Por um momento eu tive raiva de você. Por um momento. Mas você parece que... O que é que você faz comigo, hein?

— Talvez o mesmo que você faça comigo.

— Tenho a impressão de que sempre estamos voltando uma para a outra, não importa o que façamos.

— Sim, nós estamos sim.

— Nós nos reencontramos.

— E aqui estamos.

— Acho que isso não pode ser simples acaso.

— Eu não acreditava em destino até você existir na minha vida. — seu semblante suavizou.

— Acho que você já contou o suficiente para pelo menos três rodadas.

— Tudo bem, eu te deixo com a vantagem.

Ela disse pegando a moeda e a soltando no ar.

— Se eu te pedir um beijo agora, conta como desafio?

— Por quê? — perguntei confusa.

E então ela abriu a sua mão.

— Ah, não!

— Quer ser desafiada ou vai beber de uma vez?

— Se o desafio for te beijar, nem precisa encostar nessa garrafa.

— Acredite, eu estou realmente tentada. Mas...

— Valentinaaa... — protestei — Seja boazinha, vai?

Me aproximei devagar, enrolando seus cabelos com os meus dedos, fazendo a minha melhor cara de cãozinho filhote sem dono.

— Você está tentando trapacear? — ela perguntou, me olhando de relance.

— Sim, estou. — confessei sem remorsos — Quero saber se o meu poder de persuasão exerce força suficiente sobre você.

— Ah, é mesmo é? 

Ela se virou para me olhar de frente, seus lábios curvados num meio sorriso cheio de segundas intenções.

— Sim, é sim.

— Pois eu devo te dizer que... — ela se aproximou devagar — Com muito menos que isso você me ganha. — seus olhos fixos na minha boca, os meus na sua — Você me ganha fácil, Diana. Muito fácil.

— É? — sussurrei, já me sentindo desorientada.

— Aham... Muito fácil.

— Então você pode...

— Mas, para o seu azar, eu sou muito competitiva. Não vai ser dessa vez, baby.

Senti seus lábios tocarem os meus rapidamente e em seguida ela se afastou.

— O seu desafio é...

— Eu não acredito que caí nessa! — suspirei em derrota.

Ela riu.

— Vá até o bar e consiga uma bebida de cortesia, mas eu quero a bebida mais cara que eles servem aqui.

— Humm... — a encarei ponderando o desafio proposto — É, não me parece algo tão difícil.

— Vamos lá, pra você vai ser muito fácil. Posso apostar que não vai precisar nem pedir. É só chegar lá com esses seus olhos sedutores e esse sorriso lindo e pronto, o bar inteiro será seu se quiser.

— Estou me perguntando por que é que os meus "olhos sedutores e o meu sorriso bonito" não tiveram efeito sobre você agora. — a analisei desafiadora.

— Bem, talvez eu esteja treinando para aprender a resistir aos seus encantos.

— Veremos por quanto tempo isso vai durar... — falei me levantando.

— Apenas não me tente se não estiver pronta para saber. — ela disse ao me mandar uma piscadela.

Sorri e saí em direção ao bar.

Você me subestima, Valentina. E está na hora disso mudar. — pensei comigo mesma.

Depois de alguns sorrisos e uma conversa interessante com a moça bonita que me atendeu gentilmente, voltei triunfante com a bebida em mãos.

— E voilá! A sua bebida. — coloquei a taça sobre a mesa.

— Mas vejam só, está de parabéns.

— Não foi tão difícil assim.

— Pude ver que não mesmo. A moça do bar pareceu bastante interessada na sua conversa.

— Eu tenho os meus segredos.

— Posso imaginar.

— Agora experimente e veja se está do seu agrado, querida. — abusei do cinismo, apontando para a taça.

— Eu não vou beber isso.

— O que?! — perguntei indignada — Como não? Pra que me fez ir até lá então?

— Foi só um desafio. — ela respondeu calma — Além do mais, a moça está olhando para nós agora. Vai ficar desapontada se eu beber o drink que ela fez com tanto carinho para você.

— Eu não posso crer no que estou ouvindo. — sorri irritada.

— Vamos lá, sua vez agora. Eu sei que está desejando se vingar, seja uma boa menina.

— Ah, você não faz mesmo ideia das coisas que eu estou desejando agora, Valentina.

— Quer me falar sobre isso? Terei prazer em ouvi-la.

Neguei com a cabeça. Eu não tinha me dado conta de que aquela conversa havia se tornado tão sexual. Ou era só coisa da minha imaginação...

— Okay. — respirei fundo e peguei a moeda.

Soltei ela no ar e...

— Coroa! — gritei levando os braços ao alto.

E no instante seguinte tapei a boca, olhando as pessoas ao lado me encararem como se eu fosse louca.

— Imagino que tenha algo bem interessante para mim. — ela disse ao ver a minha animação.

— Pois saiba que eu tenho sim.

— Certo, diga.

— Quero que vá até o palco e cante uma música.

— Você tá brincando, né?!

— Não mesmo. Prefere a dose da Vodka? Já adianto que tem alucinógenos muito perigosos aí dentro dessa garrafa, falo por experiência própria.

— Jura? — ela sorriu em negação — Está bem. Eu aceito o desafio.

A encarei surpresa.

— Sério?

— Sim.

Valentina se levantou, pegou a garrafa e deu um longo gole, direto do gargalo.

— Uma dose de coragem líquida e vamos lá. — disse secando a boca com as costas da mão.

Ainda não podia acreditar ao vê-la se encaminhar para o palco, agora não iluminado. Alguns instrumentos permaneciam lá, aguardando os músicos que ainda não haviam retornado.

A vi desaparecer atrás das cortinas avermelhadas ao fundo e depois de alguns minutos retornar com um microfone, o qual posicionou na haste ao centro. Logo, um senhor alto, de boina e longos bigodes, surgiu e se colocou diante do piano. Assim que uma luz se acendeu, dando foco a ela, todos no bar deram-na atenção.

— Boa noite. — disse ao microfone.

 Parecia levemente nervosa.

— Bem, eu não sou cantora e nem faço parte da banda. Muito menos sou comediante. É, eu também estaria desapontada se estivesse aí no lugar de vocês. — falou, arrancando risadas de alguns na plateia.

— Bem, eu vim até aqui para cantar uma música, prometo, vai ser só uma. Devem estar se perguntando o porquê. Na verdade nem eu sei por que aceitei isso, mas o que acontece é que eu vim aqui hoje com uma pessoa especial e nós começamos uma brincadeira. E aqui está o resultado, fui desafiada a vir ao palco e cantar. A minha outra opção seria beber uma dose de Vodka pura, o que eu tive que fazer de qualquer forma, para ter coragem de subir aqui.

Ouvi alguns aplausos e assovios encorajadores.

Eu não sabia ao certo o que sentia naquele momento, mas se ainda era possível, os meus níveis de admiração por ela aumentaram consideravelmente.

— Tudo bem. — ela respirou fundo mais uma vez — Diana... Desde aquela data, até hoje e sempre. Essa música é pra você.

Sem que eu percebesse, a minha respiração havia ficado pesada, meu coração acelerado, meu corpo retesado em direção a ela.

O som do piano invadiu o silêncio. No momento em que ouvi sua voz nos primeiros versos, senti meu estômago revirar, como se houvessem mil borboletas me forçando àquele velho clichê. Era doce, suave, rouca e, ainda assim, incrivelmente sexy.

Senti os meus olhos úmidos, meu corpo tremia e o coração eu nem sabia se ainda estava lá.

Aquilo era surrealmente lindo. Seus olhos permaneceram fechados durante toda a música e eu temia que se ela os abrisse e me olhasse, eu me desfizesse em litros de encantamento derretido.

A cada verso, a cada acorde, enquanto a melodia preenchia todo o lugar, eu sentia todo o seu sentimento me invadir, tudo de bom que ela tinha dentro de si estava ali, naquela música a qual ela havia dedicado para mim.

Eu não esperava por isso, não mesmo. Não havia imaginado que quando eu aceitei encontrar aquela moça naquele hotel, abriria outras portas para conhecê-la, para me encantar por ela e para estar aqui hoje, pensando seriamente em jogar toda a minha vida para o alto, como aquela moeda, e esperar que a sorte me guie até ela.

"But I can't help

  Falling in love with you..."

Quando as últimas notas no piano foram tocadas, eu não consegui evitar que algumas lágrimas transbordassem. Os aplausos e assovios inundaram todo o lugar. Ouviu-se até pedidos em coro para mais músicas. Valentina sorria tão encantadora como sempre, esfregando suas mãos em sua calça, em nervosismo. Agradeceu a plateia, apertou a mão do pianista e desceu do palco às pressas.

Ela se aproximou com um sorriso sem jeito, ajeitando os cabelos. Sem dizer nada, sentou-se ao meu lado. Eu apenas a observei enquanto tentávamos nos acalmar. Seu olhar era sereno, mas cheio de expectativa. Mas eu também não conseguia falar.  

E então eu simplesmente a puxei pela nuca e selei a minha boca na dela, sem pensar, sem receios, sem amanhãs, sem uma vida perfeita me esperando no dia seguinte. Só eu e ela. E mais ninguém. Como deveria ter sido desde a primeira vez, desde o primeiro encontro.

— Eu só... Só preciso te beijar agora, Valentina. — sussurrei me afastando vagamente dela — É só isso que eu preciso.

Ela me encarou sem reação. Seus olhos cravados nos meus. Senti sua respiração pesar. Já estávamos tão próximas, mas ainda não parecia ser o suficiente para mim, tamanha a urgência que eu sentia dela.

A beijei outra vez.

Sentir a sua boca era o meu mais novo sabor favorito do mundo. Combinava tanto que eu duvidava de que poderia dar tão certo com qualquer outra boca na minha vida inteira.

Suas mãos estavam firmes em mim, não me deixando fugir dela, como ela sempre fazia quando nos beijávamos. Como se dissesse que eu deveria pertencer a ela. E a cada dia eu tinha mais certeza que, inevitavelmente, eu pertencia.

A beijei sem pudores, sem receios, sem evitar nenhum avanço, eu queria avançar. Talvez fosse a bebida, ou o meu desejo forte que cresceu ao ponto de não conseguir mais segurar. Eu queria que ela soubesse, queria que ela me entendesse, eu queria que ela sentisse o quanto eu havia sentido naquela música, o quanto eu havia apreciado e o quanto ela foi linda para mim. Mas principalmente, naquele momento, eu queria que ela sentisse o quanto eu queria ser dela, em todos os sentidos, eu queria que ela me fizesse sua.

— Me leva daqui. — sussurrei para ela.

— Pra onde você quer ir?

— Só me leva daqui, pra qualquer lugar.

Ela se levantou e me puxou pela mão. Saímos às pressas, como se fugíssemos de alguém. Corremos até o carro do outro lado da rua, rindo feito loucas.

— Nós não pagamos a conta! — falei quando ela abriu a porta para mim.

— Depois eu volto aqui. — ela disse tranquila — Agora entra que a moça do bar tá vindo aí.

Olhei para trás e me assustei ao ver a Bargirl que havia me dado o drink vindo em nossa direção.

— Entra nesse carro e vai rápido, Valentina!

A morena correu para dar a volta e pisou fundo para sair dali. Pela janela eu vi a moça na calçada do outro lado da rua, com as mãos na cintura e um semblante frustrado.

Comecei a rir de nervoso, sendo observada por uma Valentina confusa.

— Calma, ela não vai mandar a polícia atrás da gente. — debochou.

— Não é isso. Mon Dieu, eu fiz uma besteira.

Valentina ainda me encarava sem entender.

— Ok... É o álcool fazendo efeito ou batizaram o seu drink?

— É que eu meio que... Fiz uma coisa para conseguir a bebida.

— Que coisa? — ela tentava dividir a atenção entre mim e no trânsito.

— Eu disse a ela que nós, eu e você, estávamos procurando alguém para... Sexo a três.

— O quê?

— Ela ficou bem interessada.

— Posso imaginar.

— Não foi trapaça, você não me disse as condições do desafio, só disse para conseguir a bebida, e eu consegui.

— Não estou dizendo que foi, não se preocupe.

— Então o que?

— O que o que?

— Por que essa cara?

— Foi um choque momentâneo, já estou bem. Vamos ter que voltar lá.

— Por quê?

— Temos que cumprir o que você prometeu.

— Eu não prometi nada.

— A pobre moça vai ficar chateada, Diana.

— Só posso lamentar por ela. Você está falando sério mesmo?

— Por quê? Não parece que estou?

— Então você gostou da ideia.

— Não posso negar que seria interessante. A moça é bem bonita.

— Vou fingir que não ouvi isso.

Liguei o som do carro. Caiu numa pasta aleatória de músicas românticas. Pensei em mudar, mas Valentina me impediu.

— Deixe. Eu gosto dessa.

Fiquei em silêncio por um tempo, olhando a paisagem lá fora. Estávamos na orla, a lua estava cheia, clareando o mar. Era bonito.

— Eu estava brincando. — ela disse de repente.

— Hã?

— Sobre a moça do bar. Era brincadeira.

— Eu sei que era.

— Sabe é?

— Sei.

Eu sabia que aquele tão esperado momento havia ganhado importância demais para nós duas. E sabia que quando chegasse a hora, seria especial. Independente de como fosse, seria o nosso momento.

— Pensando em que? — ela perguntou.

"Em como eu tô louca pra ir pra cama com você!" — foi o que pensei.

— Em nada. — foi o que eu disse.

Uma música bonita começou a tocar quando já estávamos chegando ao meu prédio. Ela desacelerou e foi bem devagar até chegar em frente ao condomínio.

— Essa música é bonita. Posso esperar terminar pra sair? — perguntei.

— Você pode tudo o que quiser.

Sorri para ela.

— Foi lindo. A música, a sua voz, as coisas que você disse. A noite foi linda com você. Obrigada.

— Fico feliz que tenha gostado. Espero que amanhã goste mais ainda.

— Eu vou gostar sim. Você é especial, Valentina.

— Você é linda. Quer fugir comigo? — ela se aproximou, sussurrando a letra da música para mim — Venha embora comigo no meio da noite. Venha embora comigo e nos beijaremos no alto de uma montanha.

— Ou dentro de um carro, também pode ser. — brinquei.

— Como quiser.

Ela disse e me beijou. Suave outra vez, com calma, sem pressa.

— Você quer subir comigo? — perguntei.

— Eu não sei se devo. Não ainda.

— Posso tentar te convencer?

— Não seja assim tão má.

Ela me beijou no rosto e saiu do carro. Peguei a rosa que havia deixado sobre o painel e em seguida ela abriu a porta para mim e me deu a mão para sair.

— Então é isso.

— Parece que sim. — eu falei desapontada.

Ela me abraçou apertado.

— Com você é diferente. Eu só quero ir com calma, sem pressa e sem medos.

— Tudo bem. Acho que só estou ansiosa.

— Duvido que mais do que eu.

— Então até amanhã. — eu disse ainda sem me desgrudar dela.

— Até amanhã.

— Tenha uma boa noite.

— Você também.

— Durma bem.

— Durma bem também. — ela disse.

— Se eu conseguir...

— Também acho que não vou.

Rimos.

— É agora que a gente se solta e vai? — perguntei tentando inventar desculpas para não deixá-la ir.

— Acho que sim.

— Está tão bom aqui.

— Está sim. Você tem um perfume bom.

— Você também. — beijei seu pescoço.

— Você está trapaceando outra vez. — ela protestou num suspiro pesado.

— Me desculpe. Você está me deixando mesmo ansiosa.

— Eu acho melhor a gente...

— É melhor irmos, né?

— Sim.

— Então tchau.

— Tchau. — ela beijou o meu rosto outra vez e se afastou relutante.

— Vá com cuidado. — eu disse ao vê-la entrar no carro.

Ela me mandou um beijo e um aceno e se foi.

Caminhei devagar até a portaria e antes que eu subisse o primeiro degrau, ouvi meu nome ser chamado.

— Ei, Diana?

Aquela voz era conhecida e pelo seu tom pude sentir sua surpresa e estranheza mesmo antes de me virar e então me deparar com o seu olhar curioso e questionador.

— Diana…

...

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Música que a Diana está ouvindo no início: https://youtu.be/CXiMKUu_1xs 
Música que a Valentina canta para a Diana: https://youtu.be/COFgTynydQE 
Música no carro: https://youtu.be/QKEuOO0lQPc 


E então pessoal, o que acharam? Espero que tenham gostado. 
Como já é de costume, só posso pedir desculpas pela demora e agradecê-las por ainda estarem aqui e pelo imenso apoio que vocês têm me dado. 
Obrigada por tudo, de coração. 
Esse foi só o primeiro encontro delas e aviso que nos próximos haverão surpresinhas... rsrs 

PS.: Este capítulo foi livremente inspirado em um episódio da série "Gypsy". Quem já assistiu pôde perceber e quem não assistiu, indico muito! A série é muito boa, meninas! 


Obrigada mais uma vez por me acompanharem e até o próximo! 
Grande beijo em vocês ♥


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Comentários para 12 - Noites com Valentina - Pt 1:
Cacavit
Cacavit

Em: 03/04/2021

Minha nossa!!

Que deu até inveja, quem me dera ter uns encontros tipo assim, estilo filme americano!!!

Ai, ai que só me resta suspirar mesmo.

Responder

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LuBraga
LuBraga

Em: 26/07/2018

Toc, toc,

Olá moça de palavras doces, onde estás?

Bjs e tenha uma ótima semana.


Resposta do autor:

Oii, minha querida!

Ando por aqui rsrs

Obrigada! Bjos e ótima semana pra vc tbm  S2

Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 09/07/2018

Olá Sweet!

Espero que esteja tudo bem por aí!

Espero que você possa  voltar em breve!

Abraços fraternos procês!


Resposta do autor:

Oii

Voltei e já quero voltar de novo rsrs Espero que eu possa logo...

 

Por aqui está tudo bem, indo, no fluxo... rsrs

E por aí como vai?

Abração  S2

Responder

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fsari
fsari

Em: 23/01/2018

De nada e as palavras vieram de acordo com o que eu sinto toda vez que eu leio essa história e me perco e quanto a frequencia de postagens quem realmente gostar da história sempre que um novo capitulo for postado vai vir ler correndo (e eu sou uma delas) e muito obrigada por ter feito eu começar a assistir o seriado Gypsy eu devorei 8 capitulos da série e vivo vendo videos no youtube das duas, quem tem que agradecer algo aqui somos nós suas leitoras.


Resposta do autor:

Um carinho imenso!

Muito obrigada ?

Responder

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Mille
Mille

Em: 31/12/2017

Olá autora tudo bem?

“A aventura da vida renova a cada 365 dias e só desejo que os próximos sejam os melhores de sempre.“

Que você tenha inspiração e continue nos proporcionando a alegria de histórias maravilhosas personagens cativantes.  

 

Feliz Ano Novo!


Resposta do autor:

Oláá!

Tudo bem. E você, como vai?

Muito obrigada! Te desejo tudo em dobro, minha querida.

Que você tenha um ano maravilhoso e cheio de alegrias e prosperidade.

Grande beijo! S2

Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 05/10/2017

Li todos os capítulos de uma vez. 

Amoseus romances. Amo como você fala do amor.

Não sei se Íris Valentina é uma psicopata ou uma louca, mas gosto da maneira que ela tenta seduzir Diana

Ela já sofreu muito com apenas 22 anos

Louca para descobrir mais sobre ela. Tenho certeza que Diana também está kkk ela principalmente, mas tenho certeza que na hora certa tudo irá se encaixar

Espero que ela não seja louca ou psicopata. Diana e ela não merecem um final que não seja o feliz

Depois de Camila e Evellyn tomarem meu coração,agora chegou a vez dessas duas: a Chef e a Prostituta. 

Volte sempre que puder

Abraços fraternos procê!


Resposta do autor:

Eii!

Fico muito feliz por ler tudo isso. É lindo pra mim saber que vocês se conectam com a estória e com os personagens. Muito obrigada pelo carinho.

Voltarei sim assim que eu puder.

Grande beijo! S2

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LuBraga
LuBraga

Em: 28/09/2017

Sweet, Sweet, my Sweet Words dizer que estou encantada é pouco diante de tanta sedução!

Caramba...sabe que nem me prendo na preocupação da espera do próximo capítulo, talvez por saber que serei brindada com o teu melhor que vejo em cada palavra dita nos dialogos maravilhosos dessas duas beldades.

Parabéns Sweet, realmente suas palavras são doces com um quê de luxuria que seduz a cada linha escrita.

Atiça minha curiosidade, envolve e arrebata...

Maravilhoso esse capitulo, e ainda termina com suspence kkk aí mata mainha moça!!!

Bjs 


Resposta do autor:

Oi, oi, oi.... rsrsrs

É sempre muito bom pra mim saber as suas impressões dos capítulos.

Fico feliz lendo e até acho graça também rsrs

Só posso agradecer mais uma vez pelo carinho e por permanecer aqui me acompanhando.

Espero que eu consiga terminar com o suspense em breve.

Grande beijo e até a próxima! S2

Responder

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JanBar
JanBar

Em: 21/09/2017

Sweet,

Show de sedução! Passaria muuuuiiitas noites dessas com Valentina! rarara...

Além de sexy e sedutora, Valentina tem senso de humor, romantismo, inteligência, timing e malandragem nas medidas certas. Está arrasando!

Não sei como Diana está conseguindo se controlar tanto! No lugar dela, eu já teria partido pra cima da Valentina... rarara...

Parabéns! Valeu cada minuto de espera... Mais um maravilhoso trabalho seu. Ansiosa pelo próximo capítulo. Bjs


Resposta do autor:

Oiii

A Valentina é um acontecimento sempre rsrs 

Com sutileza ela chega onde quer e Diana fica à mercê dos seus encantos.

Muito obrigada por acompanhar e me ler e por me deixar saber sempre as suas impressões sobre os capítulos.

Espero voltar logo pra continuar mostrando vocês sobre essa estória que gosto tanto de escrever.

Até breve!

Grande beijo S2

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beatriz_cf
beatriz_cf

Em: 18/09/2017

Autora, que capítulo!!! Quando acho que sua habilidade de escrita não pode ficar melhor, você sempre me surpreende!! Sou sua fã desde In love with my boss, mas confesso que Noites com Valentina supera qualquer outra!
Você escreve muitíssimo bem, faz valer qualquer espera!
Já estou na expectativa para o próximo capítulo, com o coração na mão por essas duas! Obrigada por escrever para nós!
Resposta do autor:

Oie

Ah rsrs Que gentil

Muito obrigada! Fico feliz mesmo pelas suas palavras de carinho.

E feliz também por saber que está gostando.

Muito obrigada e até breve!

Beijão S2

Responder

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Anna Caroll
Anna Caroll

Em: 14/09/2017

Oiê Sweet!! 

Você voltou porque eu já estava morrendo de saudade dessa estória linda. 

Linda! 

Bjssssss 

Ansiosa pelo próximo 


Resposta do autor:

Oiee

Voltei, to demorando de novo, mas prometo que vou continuar voltando, até terminar.

Muito obrigada pelo carinho!

Beijão S2

Responder

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Anna Caroll
Anna Caroll

Em: 14/09/2017

Oiê Sweet!! 

Você voltou porque eu já estava morrendo de saudade dessa estória linda. 

Linda! 

Bjssssss 

Ansiosa pelo próximo 

Responder

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Clarissa Maia
Clarissa Maia

Em: 13/09/2017

Eita moça!! 

Quando acabei o capítulo, fiquei pensando quem é a mais "ruim" dessa história: você por nos deixar tantos meses sem atualização ou a Valentina por deixar a Diana na "mão" (rsrsrsrs). Brincadeira a parte, adorei o capitulo, e principalmente a trilha sonora (arrebentou meu coração). Enfim, dias de luz p vc. Beijo


Resposta do autor:

rsrsrsrs

Olha, em minha defesa devo dizer que: Juro que não faço por mal

Infelizmente não tenho podido atualizar com mais frequência, mas sempre que faço é com amor.

E sou muito grata pela paciência (grande) de vocês.

Fico feliz em saber que você gostou. Muito obrigada pelo carinho!

Espero voltar logo.

Beijão S2

Responder

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Dolly Loca
Dolly Loca

Em: 13/09/2017

Coisa boa ter mais um capítulo para ler!! O entrosamento entre essas duas é incrível. Mal posso esperar pelo próximo capítulo!!!


Resposta do autor:

Eiii

Que bom saber que você gostou!

Muito obrigada pelo carinho.

Também mal posso esperar pra postar o próximo!

Espero que consiga logo.

Grande beijoo S2

Responder

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ReSant
ReSant

Em: 12/09/2017

Eu quase surtei quando vi que vc tinha atualizado, mas ao mesmo tempo quase morri,pq tive que esperar um dia inteiro pra ler, a filha da mãe da minha net nao resolve cair bem no momento que eu abria o cap??? Moral da historia, so carregou ate a metade do cap kkkk, tive que dormir na ansiedade de saber mais sobre essas duas....kkkk

fiquei tão feliz, muito mesmo, vc nao sabe do carinho que tenho por essa historia, adoro de verdade, tenho tanta curiosidade pra ver quando elas vão ficar juntas... Nao demore mais 5 meses pra atualizar guria, nao deixa a gente aqui morrendo de preocupação nao jkkkk, obrigada por vc ter postado, amei


Resposta do autor:

Nossaaaa sério? 

Poxa kkkkk

Mas que bom que você conseguiu ler depois rsrs

Olha, eu que fico muito feliz, muito mesmo, por saber o tamanho do carinho que vocês têm por essa estória e pelo que escrevo.

Ao mesmo tempo que meu coração pesa por demorar e deixar vocês esperando por um longo tempo.

Eu agradeço sempre pela paciência de vocês por esperarem tanto e continuarem aqui comigo, a cada capítulo.

Muito obrigada por esse carinho, sempre me faz bem.

Espero conseguir voltar logo.

Um beijão e até mais S2

Responder

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Mille
Mille

Em: 10/09/2017

Olá moça que capítulo lindo.

E lindo repertório, a música que a Valentina cantou para a Diana é a belíssima canção que amo de coração, e foi inevitável mim apaixonar por você....  E espero que nos próximos encontros seja tão especial quanto foi este primeiro.

Bjs e até o próximo capítulo, uma ótima semana


Resposta do autor:

Oláá

Muito obrigada!

É muito bom saber que você gostou, de verdade, fico feliz.

Eu também amo essa música, é linda.

Eu também espero conseguir passar esse sentimento nos próximos encontros, quero que seja tão especial quanto foi esse.

Até o próximo!

Grande beijo S2

Responder

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