Um Passeio, Uma Noite e Uma Aposta
— Belo carro. — Justine comentou assim que foi dada a partida.
O ronco do motor era impressionante.
— Mustang 67. — Valentina respondeu orgulhosa — Lindo não é?
Justine assentiu no banco de trás.
— Eu não sabia que você gostava de carros assim. — eu disse, ainda surpresa.
— Foi um presente. Eu não gastaria toda a grana que um desses custa para comprá-lo. Mas não posso negar que adoro dirigi-lo, a sensação é ótima!
— Deve ser uma maravilha mesmo. — Justine dizia animada.
— Quer tentar? — a jovem ao meu lado perguntou olhando a de trás pelo retrovisor.
— Talvez uma outra hora.
— De preferência em uma estrada sem movimento e comigo fora do carro! — salientei.
— O que quer dizer com isso? – Justine questionou.
— Que você é levemente desequilibrada quando se trata de sentir fortes emoções. É melhor não arriscar.
Valentina gargalhou.
Após algum tempo de viagem, o verde tomou conta da paisagem. Árvores e arbustos dominavam os arredores da estrada, que ainda seguia pela via pavimentada.
— Pensei que você tinha insinuado que a estrada era ruim. — comentei vagamente.
— Ainda não chegamos na parte ruim. — ela riu.
Seguimos tranquilamente e aproveitei para relaxar e admirar a paisagem. Justine engatou uma conversa com Valentina sobre arquitetura europeia, a qual eu não entendia nada. Não me admirava que Valentina entendesse sobre o assunto. Ela tinha conhecimentos e habilidades sobre tantas coisas que eu já não me surpreendia mais. Ela é sempre tão confiante no que fala e no que faz que se um dia me dissesse que poderia conduzir uma nave espacial, seria bem capaz de eu embarcar numa viagem só de ida para Marte com ela.
Balancei a cabeça rindo em negação.
À que ponto cheguei...
Cerca de 1 hora mais tarde chegamos à estrada a qual já havíamos falado. Saímos da rodovia e adentramos num caminho de terra, onde buracos e poças de lama eram o cartão de visitas.
— Realmente você não mentiu quando disse que eu não iria querer colocar o meu carro nessa estrada.
— É, eu disse.
As poças não estavam tão assustadoras, mas eram muitas. Provavelmente havia chovido bastante na noite anterior e certamente meu carro de passeio sofreria muito mais do que o de grandes rodas e motor potente no qual viajávamos.
20 minutos depois estávamos à beira de uma longa descida. Lá de cima dava para ver a grande e bela propriedade, cercada de verde, natureza, um grande lago ao fundo e muitas árvores.
— Vocês querem descer do carro para ver? — Valentina parou e nos perguntou antes de desligar o motor — A vista é bem bonita daqui.
– Claro!
Saímos para admirar a linda vista que se formava.
— Daria um belo quadro. — Justine comentou.
— Eu sempre penso nisso, toda vez que venho.
— Você deveria fazer, Valentina. Você pinta tão bem. — eu disse.
Ela assentiu.
O sol estava pouco acima das árvores atrás do lago lá embaixo, o que deixava tudo ainda mais belo.
— Vamos? Eu ainda tenho que conferir se está tudo pronto para receber as crianças. Elas chegam daqui à pouco.
Descemos pela estrada e assim que chegamos pude admirar tudo de perto. Era uma propriedade grande e muito bem cuidada. Jardins floridos, árvores podadas, gramado aparado. A casa no centro parecia um grande e aconchegante chalé.
— Esse lugar é muito lindo. — falei para Valentina assim que descemos do carro.
— É, eu sei. — ela sorriu orgulhosa.
— Dona, Isis!
Um senhor que aparentava ter seus 50 e poucos anos apareceu em nosso campo de visão de braços abertos e sorriso no rosto.
— Venâncio!
Ela o abraçou com intimidade.
— Ah, há tanto tempo que a senhora não aparece. A Ana nem acreditou quando eu falei que você vinha com as crianças.
— Já faz um tempinho, não é?!
— Isis, minha filha!
Dessa vez foi uma senhora corpulenta e de sorriso largo que apareceu vindo da casa principal.
— Ana! Que saudades! — Valentina abraçou-a também.
— Está tão bonita! Tá corada e até mais gordinha. Tem se alimentado direito?
— Melhor do que nunca! Deixe eu apresentar as minhas amigas. Esta é Diana, ela é dona de um restaurante bem chique lá na cidade.
— Não exagere, Val... Isis! — me interrompi. Eu precisaria me acostumar a chamá-la de Isis ou acabaria cometendo uma gafe — É um prazer conhecê-los.
Apertei a mão dos dois, que retribuíram com simpatia.
— E esta aqui é Justine, uma amiga da França que fala um pouquinho enrolado, mas é uma pessoa muito legal.
— Olá! Como vão? — Justine também os cumprimentou.
— Sejam bem vindas, viu? Aqui a gente é simples, mas vocês se sintam em casa.
— Não se preocupe com isso, dona Ana. — respondi — Nós estamos muito felizes pelo convite da... Da Isis. É lindo aqui!
— Mas me digam, já está tudo certo para receber as crianças? — a anfitriã perguntou.
— Então, era sobre isso que eu queria falar. — o senhor se pronunciou — A chuva de ontem acabou pegando a gente de surpresa e aí deu um problema com o gerador de energia. A gente não percebeu porque foi de madrugada, mas hoje cedo nós conseguimos consertar, só que os freezers ficaram desligados a noite toda e isso acabou estragando uma parte da comida que a senhora mandou.
— Ah, não! Sério, Venâncio? E agora?
Acompanhamos todos até um refeitório numa espécie de galpão, o qual possuía uma cobertura feita de telhas simples, mas era livre de paredes em suas laterais, que ficava logo aos fundos da casa principal. Não muito longe dali ficava a casa dos caseiros, Dona Ana e Seu Venâncio.
Valentina disse que tinha mandado construir o refeitório pensando nas crianças. Foi então que comecei a observar que todo o lugar parecia ter sido preparado para recebê-las. Havia um pequeno parquinho com brinquedos, botes para passeio no lago e até uma casa na árvore tinha lá.
— Neto! Olha quem chegou!
Seu Venâncio chamou alguém que estava abaixado, mexendo em algo atrás do balcão da cozinha. Uma figura alta e musculosa, de camisa regata e boné, se levantou. O seu sorriso foi instantâneo.
— Isis! — o rapaz andou rápido até o acesso pelo balcão e correu para abraçá-la.
Confesso que a cena não me agradou muito.
— Venâncio Neto! — ela contornou o seu corpo, demasiadamente grande ao meu ver, o abraçando carinhosamente — Você cresceu mais ou é impressão minha?
— Só um pouquinho. — ele sorriu retirando o boné da cabeça.
— Neto, essas são minhas amigas, Diana e Justine.
O vi limpar a mão em sua calça antes de estendê-la para nós.
— Satisfação. — apertou com uma força moderada, sorrindo com timidez.
Depois de avaliarmos a situação, eu sugeri à Valentina que deixasse a alimentação por minha conta. Liguei para Fernando e pedi uma operação de urgência, para que ele viesse na caminhonete do restaurante e trouxesse mantimentos para preparar as refeições e sobremesas das crianças. Ele me atendeu com boa vontade e ficou feliz por poder ajudar.
Quem também ficou contente com a vinda do rapaz foi Justine.
— Eu acho que o Fernando ganhou um concorrente. — eu disse para minha amiga enquanto nos acomodávamos no quarto que Valentina preparou para nós na casa principal.
Era um quarto simples, mas espaçoso. Havia um banheiro, duas camas de um lado e do lado oposto ficava a porta da pequena sacada que dava vista direta para o lago.
— Do que está falando?
— O Neto...
— Ah não, Diana! Pare de ficar arrumando predend-preten...
— Pretendentes?
— Isso, não fique arranjando predendentes para mim!
Ri baixinho.
— Não sou eu, são eles que se encantam por você. Eu só comento.
— Você está falando isso porque ficou morrendo de ciúmes dele com a Isis, não é?
— Que ciúmes? Não sei de onde você tirou essa ideia.
— Da cara que você fez quando eles se abraçaram.
— Me poupe. Você está vendo coisa onde não existe.
— Agora sou eu que estou vendo coisas. — ela riu debochada.
— Vamos descer logo, as crianças já chegaram.
Era bonito ver o carinho que Valentina tinha pelas crianças do orfanato. A sensação era de que ela queria dar à elas tudo o que desejou, mas não pôde ter em sua infância. Apoio, carinho e oportunidade de conhecer a vida fora do orfanato. Os recebeu com imensa alegria e todos ali também pareciam gostar muito dela. Ela tinha uma participação constante e ativa nos trabalhos sociais daquele lar.
Logo foram todos encaminhados para o refeitório para um café da manhã reforçado que a dona Ana já tinha preparado bem cedo. Com os pequenos haviam duas freiras, à quem estavam sob a responsabilidade. Matilde e Norma eram simpáticas e solicitas e cuidavam das crianças com muito zelo.
Ainda pela manhã, depois de alguns telefonemas pedindo informações sobre o caminho, Fernando chegou com o que eu tinha pedido. Condimentos para preparar almoço, jantar e sobremesa para todos. E mais uma pequena surpresa a qual deixou as crianças muito alegres. Chocolates e mais chocolates, que foram distribuídos para todos.
— Obrigada por isso, Diana. Foi muito gentil da sua parte. — Valentina agradeceu.
— Não precisa agradecer. Só de ver os olhinhos deles brilhando já compensa por tudo.
— É, eles ficaram bem contentes com a surpresa. E confesso que eu também. — ela admitiu.
— Fico feliz em poder ajudar.
— Parece que mais alguém ficou feliz com essa ajuda... — disse ao ver Justine e Fernando interagindo com as crianças.
— Imagino que sim. — confirmei, tendo uma ideia em seguida — Você se incomodaria se eu o convidasse para ficar? O Fernando sempre foi muito engajado nessas causas sociais, acho que ele ficaria feliz se pudesse participar.
— É claro! Ele é muito bem vindo.
Assenti.
O dia seguiu num clima de animação e alegria. Fernando ficou feliz em poder participar e logo se voluntariou para cuidar da cozinha ao lado de dona Ana. Eu me revezei entre ajudá-los com as refeições e participar das brincadeiras que Valentina organizava. Enquanto Justine se entendeu bem com ela.
Foi um longo e divertido dia.
***
Já à noite, depois de um jantar animado com direito à sobremesa em dobro, as crianças se reuniram em uma fogueira próxima ao lago, feita pelo "tio Neto", como elas o chamavam. As mais velhas sugeriram que contassem estórias de terror, mas as freiras não permitiram por causa dos mais novos. Não queriam que houvessem problemas para dormir quando as luzes se apagassem. Isso causou um grande desapontamento, que logo foi dispersado pela ideia do Neto de buscar o seu violão e fazer uma grande cantoria ao redor da fogueira.
O clima estava ótimo, a noite era razoavelmente fria naquela região, um frio agradável. Havia muito tempo que eu não me conectava a algo assim, despretensiosamente e sem preocupações. Eu apenas aproveitava cada momento, que se tornava mais especial quando eu via o sorriso no rosto das crianças. Valentina parecia tão contente quanto elas. Ela estava do outro lado da fogueira, ao lado do Neto, o ajudando a cantar. Sua voz era bonita, assim como seu sorriso doce que reluzia em seu rosto através das chamas.
— Quer que eu busque um babador? — Justine cochichou ao meu lado, me provocando ao perceber que eu admirava Valentina.
— Para quem? Pro Fernando ou pro Neto? – devolvi a provocação.
A essa altura ela já havia entendido que os dois rapazes tinham entrado em uma disputa velada e silenciosa por sua atenção.
Ela virou-se para frente novamente, revirando os olhos e resmungando algo que eu não entendi. Acabei rindo. Não era como se Justine não fosse acostumada com esse tipo de atenção, pelo contrário. Mas a verdade é que ela nunca gostou disso. Sempre preferiu algo casual, pessoas que não se mostrassem derretidas de amores pelos seus belos cabelos dourados e olhos azuis. O que não era o caso dos dois aqui em questão, que disputavam até quem levava primeiro a sobremesa para ela.
Aquilo seria engraçado...
— Muito bem, já é hora de irmos para a cama, crianças! — a Irmã Matilde levantou-se chamando a atenção de todos após o fim da última música.
Um grande "ah" em coro foi ouvido, que não pareceu comovê-la nem um pouco.
— Vamos, sejam bonzinhos. Já deixamos vocês passarem da hora hoje. Os colchões já estão prontos e bem quentinhos esperando por vocês. Vamos lá?
Os pequenos se levantaram, alguns chateados e outros coçando os olhinhos de sono. Eram adoráveis.
— Deem boa noite à todos. — freira Matilde pediu.
— Boa noite! — disseram em coro.
— Boa noite, crianças! — respondemos.
Entraram na casa em fila e foram se ajeitar nos colchonetes que haviam sido espalhados por toda a casa, quartos, sala e alguns até perdidos sob a mesa da sala de jantar.
Depois de ajudar as freiras a colocar as crianças para dormir, dona Ana se juntou a nós, ao lado do Seu Venâncio no banco em que estavam juntos Neto e Valentina. Fernando aproveitou o momento e saiu do meu lado para se sentar junto de Justine, que, ao meu ver, gostou da companhia, o que causou um clima ruim lá do outro lado da fogueira.
Valentina aproveitou e se sentou onde o meu amigo estava antes.
— Bela noite. — ela disse.
— Linda noite. Você vem sempre aqui?
— Não, mas posso pensar em vir mais vezes agora que vi que o lugar é bem frequentado.
Ri de sua bobagem.
— Isso não foi aquela cantada barata, eu queria mesmo saber se você vem sempre.
— Eu sei, foi só pra descontrair. E respondendo à sua pergunta, não. Eu venho menos do que gostaria.
— Por quê? Nossa, se eu tivesse um sítio assim, viria todos os finais de semana. Esse lugar é tão lindo e tranquilo, já estou me sentindo renovada.
Ela concordou, rindo sem muita vontade.
— Muitas lembranças. Não gosto de vir sozinha. — ela disse encarando a fogueira.
— Ah... Entendo. — me culpei por não ter imaginado que com certeza ela havia passado belos momentos com seu filho aqui.
Ficamos em silêncio por alguns minutos até que ouvimos a voz grave e melodiosa do Neto nos chamando atenção.
— Vamos cantar mais uma? Dona Justine, a senhorita conhece músicas brasileiras?
— Não muitas. — ela respondeu sem jeito.
— Posso cantar uma em sua homenagem?
— Oui! É claro, por favor.
Vi Fernando mudar sua feição no mesmo instante, obviamente não gostando nem um pouco da situação.
O som do violão invadiu a roda e em seguida a voz de Neto preencheu nossos ouvidos com um sertanejo romântico.
— Isso vai ser divertido. — Valentina cochichou ao meu lado.
Ela também já havia notado a disputa e parecia estar se divertindo tanto quanto eu.
— Já está sendo. Olha a cara do Fernando.
Prendemos uma risada mais alta quando olhamos para o rapaz descontente ao lado.
Seu Venâncio e dona Ana pareciam alheios à tudo, apenas apreciavam a noite, de braços dados ouvindo o som romântico.
— Eles formam um casal bonito. — comentei.
— É verdade. Um dia espero ter alguém com quem dividir a vida assim também.
— Você pretende se casar um dia?
— Eu acho que há laços muito mais fortes que unem duas pessoas, laços que vão além do casamento.
Me calei. Se aquela tinha sido uma indireta, havia sido recebida com sucesso.
— Está com frio? — ela perguntou ao me ver esfregar minhas mãos e as esconder entre meus braços e meu corpo.
— Um pouquinho.
— Eu tenho mantas quentinhas lá no quarto, se quiser busco para você.
— Não precisa, Valent... Não precisa, obrigada.
Ela me olhou confusa.
— Eu preciso parar de te chamar de Valentina. — disse baixinho — Acho que só eu a chamo assim, não é?
— Na verdade, muita gente me chama assim. — ela respondeu, irônica.
— Você entendeu o que eu quis dizer.
— Tudo bem, eu gosto que você me chame de Valentina. Tem dado um outro significado ao nome. Você é a única que me chama assim e não tem outras intenções com isso. — ela riu sem muita vontade.
— Por que Valentina? De onde surgiu esse nome?
— Essa é uma longa história. Quem sabe um dia... Acho que já vou entrar. Amanhã o dia vai ser longo.
Nesse momento a canção finalmente terminou. Neto olhava com expectativa para Justine, esperando por uma reação.
— Nossa, foi bem... Foi bem lindo, Neto. Obrigada pela homenagem.
O rapaz se encheu de alegria e sorriu agradecido, acredito que já calculando quantos pontos havia ganhado com o feito.
— Bom, eu já vou indo. As crianças me deixaram bem cansada hoje. — Valentina se levantou.
— É, já está tarde mesmo. — disse dona Ana — Vamos, Neto, apague a fogueira. Chega de cantoria por hoje.
A fogueira foi apagada, os cumprimentos desejando boa noite foram feitos e em seguida todos se encaminharam para as suas acomodações. Passamos com cuidado pelo caminho até os quartos, pois a casa estava lotada de colchonetes onde as crianças dormiam.
As Freiras Matilde e Norma ficaram no quarto do térreo, ao lado da sala, onde originalmente tinha sido um escritório, ao que parecia. Fernando teve que ficar no sofá, já que não quis ir para a casa do Seu Venâncio dividir o quarto com o Neto. Eu e Justine subimos para onde já estávamos acomodadas, ao lado do quarto de Valentina, que por sua vez já havia se recolhido.
— Se quiser pode ir lá ficar com ela, eu não me incomodo em dormir aqui sozinha.
Justine insinuou enquanto trocávamos de roupa para nos deitarmos.
— Está dizendo isso porque quer trazer o Fernando pra cá? Não me diga que está com pena de deixar ele dormir no sofá?
— Isso nem passou pela minha cabeça. Você tem sido muito maldosa ultimamente.
— Eu sei que você não faria isso. Ainda mais em uma casa cheia de crianças e freiras!
— Então é só por isso que você não vai para o quarto ao lado? — ela riu debochada.
— Não. Primeiro, eu não tive essa intenção em nenhum momento. Segundo, mesmo que eu quisesse, não fui convidada.
— O que leva a entender que se ela te convidasse você iria.
— Justine, vai dormir, vai!
Ela riu e se deitou em sua cama, onde se cobriu até a cabeça, deixando apenas os olhos para fora.
— Estou com sede.
— Beba água. — respondi.
— Não quero ir lá embaixo, eu estou tão confortável aqui...
— Ótimo, fique com sede então.
— Diana...
— Não. Nem pensar, já estou até de olhos fechados, veja. — fechei meus olhos e me sentei na cama.
— Por favorzinho, chérie?!
A encarei com os olhos semicerrados, ainda sem acreditar que eu cairia naquela chantagem barata.
— Eu vou pensar em algo bem interessante para você me compensar por isso.
Me levantei e saí do quarto, vendo Justine me mandar beijos e sorrisos cheios de cinismo.
— Je t'aime, mon amour!
Desci até a cozinha onde tentei pegar a água sem fazer muito barulho. Ouvi um ronco vindo da sala e quando voltei, tive que prender o riso ao ver um dos meninos tapar com o travesseiro a cabeça do outro que roncava.
Passei direto levando uma jarra e um copo de volta até o quarto. Quando entrei, senti vontade de fazer o mesmo que o garotinho fez lá embaixo e sufocar Justine com o travesseiro. A bela já dormia feito um gatinho recém nascido.
— Eu não acredito que você me fez ir lá embaixo à toa, Justine! — sussurrei para mim mesma.
Descansei a jarra e o copo no pequeno armário que havia ali, apaguei a luz e fui me deitar.
Fechei meus olhos e comecei a pensar em como a minha vida tinha se tornado um oposto extremo. E era incrível como tudo o que Valentina fazia parte era o que mais me fazia bem. Ironicamente, era justamente essa a causa dos problemas que faziam parte do lado ruim desse extremo.
Tentei não pensar nela. Não pensar em como uma mistura de sentimentos me atormentavam por causa dela. Não pensar que eu poderia resolver tudo com uma simples decisão, mas que teriam consequências gigantescas sobre minha vida. Tentei não pensar em como ela me fazia sentir, em como ela me transformava em algo que nunca fui na vida, uma pessoa irracional e que age por impulsos. Mas aquilo era bom. Sim, era bom.
Virei para o lado da parede. A luz da lua nesse momento batia exatamente contra a vidraça da sacada e eu não tinha fechado as cortinas.
A minha vontade era de ir lá. Não fechar as cortinas, mas sim ir no quarto de Valentina.
Voltei a me virar para o lado em que eu estava antes. Justine dormia o sono dos justos. Tapei a boca ao começar a rir do meu trocadilho idiota.
Me sentei na cama e tentei olhar para o céu pela vidraça. Me levantei e corri a porta da sacada para o lado. Uma brisa gelada me atingiu, mas não foi ruim. Estava gostoso aquele tempo. Olhei para o céu e a lua já estava quase alcançando o topo. Me recostei no apoio de madeira e só então me dei conta de que a sacada saía da estrutura da casa, em uma base extra. Olhei para o lado para analisar a construção e me assustei ao ver a sombra da figura na sacada ao lado.
— Parece que ultimamente temos tido problemas para dormir. — ela disse sem desviar sua atenção da vista à frente.
— Você me assustou! Por um segundo, mas foi suficiente para fazer meu coração acelerar.
— Em outra situação eu ficaria feliz em saber que faço o seu coração acelerar. — Valentina me fitou com aquele sorriso bobo natural dela.
Ela faz isso de tantas maneiras que nem imagina... – Pensei.
Não disse nada, apenas olhei para frente e me coloquei a admirar a parte do lago que dava para ver dali, onde a luz da lua clareava.
— Você vem sempre aqui?
Voltei a encará-la e dessa vez ela não tirou os olhos de mim.
— Não, essa é a primeira vez. — resolvi entrar em seu jogo.
— E está gostando?
— Sim, muito. Obrigada pelo convite.
— Isso é ótimo, mas não era o que você deveria dizer. Você estragou o script que criei na minha cabeça.
— Oh, me desculpe. — eu disse rindo — Posso começar de novo?
— Agora não tem mais graça.
— Você é muito boba, sabia?
Ela deu de ombros e voltou a olhar para frente.
— Diana, você está vendo aquilo? — apontou para frente, em direção à floresta que seguia após o lago.
— Aquilo o que? — olhei para onde ela apontava, não vendo nada de incomum.
— Lá, olha! Lá nas árvores. Não está vendo?
Fixei meus olhos tentando enxergar algo além da escuridão, mas não vi nada.
— Não vejo nada.
— Ai meu Deus! Olha só aquilo, Diana! — ela disse baixo, mas num tom incisivo que começou a me deixar apreensiva.
— Não tem nada lá, Valentina!
— Eu não acredito que você não está vendo!
— Você está curtindo com a minha cara é? Não vou cair nessa.
— Eu vou pegar meu celular, preciso filmar isso!
Eu não estava colocando muita fé no que ela dizia, mas depois de vê-la pegar o celular e começar a gravar com entusiasmo na direção da floresta, comecei a duvidar que não fosse nada.
— O que é, Valentina? Me diga! — comecei a ficar aflita revezando meu olhar assustado entre ela, o celular e a floresta.
— Eu não acredito! Caramba, olha só isso! Ninguém vai acreditar quando ver.
Ela deixou de filmar e trouxe o celular para junto de si, vendo o resultado da gravação.
— Você não vai mesmo me dizer o que foi isso?
— Não dá pra explicar, você precisa ver com seus próprios olhos!
— Daqui não dá pra enxergar, não é tão perto quanto parece.
— Tudo bem, então amanhã eu te mostro.
Eu a encarei incrédula.
— Você não vai fazer isso?!
Ela me olhou dando de ombros.
— Agora que eu não vou conseguir dormir mesmo sem saber o que você viu. Você não pode me deixar curiosa, Valentina!
— Mas estava bem ali, na sua frente. Como você não viu?
— Eu não vi nada porque não tinha nada ali!
— Calma, não se exalte! Tudo bem, olha, vem aqui rapidinho e eu te mostro. A gravação é rápida, mas dá pra ver bem. Eu nem acredito que consegui capturar um momento como esse!
O seu entusiasmo ainda não havia diminuído e o pior é que eu acabei ficando tão empolgada quanto ela.
— Tá, mas é rapidinho, hein?
— Claro, não vai demorar nem um minuto.
Saí da sacada e fechei a vidraça e em seguida as cortinas. Abri a porta do quarto com cuidado para não acordar Justine e fui receosa até a porta do quarto ao lado. Bati duas vezes bem devagar e no mesmo instante ela abriu.
— Eu espero que seja algo surpreendente o bastante para você ter me feito vir aqui.
Valentina usava moletom, shorts e meias. Achei fofo.
— Bom, eu disse para esperar até amanhã, foi você quem não quis. — ela disse fechando a porta atrás de mim.
— É claro! Depois de você ter me deixado curiosa! Me mostra logo!
— Tá bom, calma.
Ela posicionou seu celular em nossa frente e quando dei por mim, um flash ofuscou meus olhos, me deixando temporariamente cega.
Ouvi as suas risadas e só então me dei conta de que tinha acabado de cair numa pegadinha ridícula.
— Eu não acredito nisso, Valentina!
Olhei para ela e vi pontinhos brancos por toda a parte.
— Até que ficamos bem na foto, olha.
Tomei o aparelho de sua mão e vi a imagem. Eu estava fazendo uma careta com os olhos fechados, apertados por causa do flash, e Valentina ao meu lado com a cabeça inclinada mostrando a língua.
— Vou apagar isso.
— Não! — ela veio pra cima de mim quase desesperada — Não apaga não!
Me desvencilhei dela enquanto tentava apagar rápido antes que ela me tomasse o celular.
— Não, Diana!
— Me solta, Valentina. Eu não vou deixar isso aqui, olha a minha cara!
Senti seus braços me rodearem por trás, tentando pegar o aparelho. A cada vez que eu conseguia chegar na tela de confirmação para apagar, ela mexia em meus braços e me impedia.
— Está linda, é impossível você ficar feia, Diana! Não apaga!
Sentir seus braços me apertando ao seu corpo e sua voz tão perto já estava começando a me incomodar.
— Tudo bem! Tudo bem, eu não vou apagar.
— Eu não confio em você.
— Pode me soltar, eu vou te devolver o celular.
— Não. Me devolve agora.
— Não. Me solta primeiro.
— Você vai trapacear.
— Não vou. Pode soltar.
Eu já sentia meu corpo tenso. Quase supliquei para que ela me soltasse de uma vez.
— Valentina...
Senti o aperto diminuindo, mas não senti que ela fosse me largar. Era como se ela estivesse apenas mudando suas intenções.
Sua mão esquerda segurou minha cintura e a direita subiu devagar pelo meu braço, indo parar em minha nuca, onde deixou um caminho de arrepios. Afastou meu cabelo para o lado e eu engoli seco ao sentir sua respiração se aproximando da minha pele. Respirei fundo, buscando forças para impedi-la, mas não consegui.
Seus lábios me tocaram suavemente e correram pelo meu ombro em direção ao meu pescoço. Esse era o momento decisivo. Se eu deixasse ela chegar lá, não teria mais volta. Eu precisava pará-la ali.
Minha respiração entrecortada já denunciava o meu descontrole. Eu não precisava apenas ter forças para fazer ela parar, eu precisava querer que ela parasse. Mas eu não queria.
Foi então que subitamente ela se afastou, levando consigo num movimento ágil o seu celular.
Abaixei a cabeça num riso de alívio pós desespero.
— Você trapaceou! — me virei para ela com as mãos na cintura.
Eu precisava me sentir equilibrada para olhá-la.
— Apenas antes que você trapaceasse primeiro.
— Isso não foi justo.
— Não foi mesmo. Tem ideia do risco que corri? Sabendo que eu comecei algo que não posso terminar. Foi uma estratégia perigosa.
— Você é inacreditável! — balancei a cabeça, rindo em negação — Tudo isso só para me trazer até o seu quarto?
— Se eu tivesse convidado você não teria vindo.
— Quem sabe...
— Teria?
Meneei com a cabeça ponderando uma resposta.
— Eu só queria conversar, saber como você está. Não tivemos muito tempo de falar hoje. Somos amigas, não somos? Amigas gostam de saber como as outras estão.
Me surpreendi com sua resposta, a qual, ironicamente, também me fez relaxar.
— Eu estou bem, obrigada. E você? Está tudo bem?
— Sim. Tudo bem.
Eu não sei qual das duas mentia mais. A nossa vida estava um completo caos e mesmo assim sorríamos uma para a outra como se tudo fosse um mar de rosas.
Passei por ela e fui em direção à sacada do seu quarto.
— Eu quase acreditei em você. De onde tirou essa ideia mirabolante?
— Não sei, foi o que me veio em mente na hora. — ela disse se encostando ao meu lado — Pensei que você já estivesse dormindo e quando você apareceu na sacada, vi que a vida tinha me dado outra chance.
Preferi não perguntar sobre a que chance ela se referia.
— Obrigada por ser legal comigo. Hoje era para ser o dia mais feliz da minha vida, mesmo eu não estando certa de que seria exatamente tão feliz assim. Depois do que houve, deveria ser o mais triste. Abandonada às vésperas do casamento... — ri sem vontade.
— Não pense nisso. Eu te trouxe aqui justamente para você se esquecer. Pelo menos por hoje. Eu não tinha mesmo nenhuma segunda intenção quando te convidei. Só queria que você não ficasse mal, imaginei que estivesse sozinha em casa pensando em tudo isso.
— Eu não estava sozinha, mas fiquei mal pelo que aconteceu. Principalmente porque sei que a culpa foi minha por ter deixado as coisas chegarem nesse ponto.
— Não pense nisso agora. Quero que você se sinta bem aqui e que tenha boas lembranças. Aqui é um lugar para se esquecer do mundo lá fora e pensar apenas em coisas boas. Essa foi a minha intenção quando te convidei. Teve apenas esse acidente de percurso agora há pouco que não estava programado, mas foi um imprevisto. Me desculpe por isso. Eu prometi a mim mesma que não iria te desrespeitar mais, mas na primeira oportunidade olha só o que faço...
— Tudo bem, não é para tanto. Foi só uma situação.
— Você poderia pelo menos ser um pouco menos atraente. Ajudaria muito. — ela disse rindo, escondendo seu rosto entre as mãos.
— Eu não sei o que fazer sobre isso. Sinto muito. — ri também.
— Quer chocolate? Eu trouxe alguns para o quarto, sabia que teria insônia hoje. Chocolate ajuda com a minha ansiedade.
Valentina e essa sua mania de mudar de assunto repentinamente.
Ela foi falando enquanto entrava de volta ao quarto. Foi até a cômoda e pegou uma barra. Segui ela e me sentei ao seu lado na beira da cama.
— Você sempre tem dificuldades para dormir?
— Às vezes. São épocas, sabe? Em alguns momentos eu me sinto bem, em outros não. Vou contornando a situação como dá.
Assenti, levando à boca um pedaço da metade do chocolate que ela havia dividido comigo.
Pensei em perguntar sobre a Doutora Celina Maia, mas corria o risco de ser extremamente invasiva. Eu sabia que se ela se sentisse confortável, me diria.
— Você foi ao médico? — ela perguntou.
Conexão mental... – Pensei.
— Fui. Estou anêmica. Por isso as tonturas e enjoos às vezes.
— Isso é ruim. Está se cuidando?
— Sim. Remédios e dieta rigorosa. Inclusive, eu nem deveria estar comendo isso agora. — deixei o restante da minha parte sobre a embalagem entre nós.
— Eu sou sempre um perigo para você. Talvez isso seja um sinal. Afaste-se enquanto há tempo. — disse rindo.
— Engraçado... Eu senti isso desde a primeira vez em que nos vimos. Um alerta de perigo brilhava ao seu redor, mas parece que isso só me atraiu ainda mais para você. — brinquei.
— Sou uma má companhia, eu sei. — ela guardou o restante do chocolate no criado-mudo e deitou-se.
— Eu estava brincando. Você é uma ótima companhia.
Ela riu. Sua mão correu devagar até a minha, onde ela iniciou um carinho, o qual retribui.
— No que está pensando? — perguntei.
— Em como tenho sorte por ter conhecido você.
Ela sabia como me desestruturar.
Me deitei ao seu lado e fiz um carinho breve em seus cabelos.
— Eu queria ter te conhecido antes. — confessei.
— Eu também. Eu queria tanto!
Ela segurou minha mão outra vez e reiniciou o carinho.
— A vida tem dessas coisas, gosta de brincar com a gente.
— Se fosse tudo tão fácil, não teria a mesma graça.
— Eu já percebi que você gosta de desafios.
— Eles me atraem. Ainda mais quando têm belos olhos.
— Finalmente descobri o que represento para você. Estou desapontada.
— Você sabe que é muito mais do que isso. — ela sussurrou.
— Um dia eu vou entender por que você me atrai e em seguida me afasta com a mesma facilidade.
— Quando você deseja muito uma coisa, mas sabe que não pode tê-la, então apenas admira. Eu gosto de te admirar. De perto. Sentir, ver e ouvir. Todas as sensações que você pode me causar.
— São tantas assim?
— Mais do que você imagina.
— Você canta bem.
Foi o que me veio em mente naquele momento. Eu não queria que caíssemos no vazio do silêncio, mas também não poderia continuar naquele assunto. O que ela me causava beirava um nível de insanidade. Mas eu não poderia mergulhar naquela loucura sem antes resolver a minha situação. Não seria justo nem com ele e nem com ela.
— Obrigada.
— O Neto também, exceto quando ele está forçando a voz para fazer uma serenata para a Justine.
Valentina riu.
— Acho que o Fernando não gostou muito.
— Não mesmo!
— A Justine também gosta de meninas?
— Sim, ela é bissexu*l*. Como você sabe?
— Apenas intuição.
— Ótima intuição.
— Não é difícil identificar quando há duas mulheres olhando maliciosamente para você.
— Ai meu Deus! Você viu?
— E ouvi também. — ela gargalhou.
— Não acredito! Que vergonha. Eu vou matar a Justine!
— Por quê?
— Porque foi ela quem começou. Eu apenas fui repreendê-la e... E aí, bom... Acabei sendo influenciada.
— Não me diga!
— Olha só, não é muito fácil passar despercebida. Se é que me entende.
— Não se preocupe. Foi bom saber que você também me admira. — ela disse tentando não rir.
— Mas você é mesmo admirável. Não só nesse sentido, claro! Eu te admiro pela pessoa que você é, principalmente.
Ela parou por alguns segundos, me olhando no fundo dos olhos. Despindo o meu corpo e a minha alma, como se preparasse para dizer.
— E depois de tanto admirar, você começa a pensar que talvez, numa possibilidade remota, quem sabe seja agraciada pela sorte e ela atenda o seu pedido...
— E qual é o seu pedido? — perguntei.
Ela soltou a minha mão e levou a dela até meu rosto. Fechei os olhos por reflexo. Seus dedos desenharam meus contornos com delicadeza. Minhas sobrancelhas, meu nariz, minha boca...
Senti que ela se aproximou, mas decidi não me afastar.
— Posso te beijar? — sussurrou.
Consenti.
Seus lábios suavemente tocaram os meus. Se moviam devagar, como se quisesse sentir cada movimento, cada segundo daquele momento.
Prendi meus dedos em seus cabelos quando sua língua encontrou o caminho até a minha, mas sem perder a calma. Aquele beijo foi diferente dos outros. Não havia somente um desejo ardente, era algo mais. Eu sentia sua devoção.
Ela se afastou milimetricamente, ainda de olhos fechados.
— Me deixe parar esse momento? Só um pouco. Por favor...
— Eu queria ter esse poder.
— Não quero me lembrar que não sou sua quando o dia amanhecer.
— Não pense nisso agora. Vamos fingir que o tempo parou.
A abracei e a apertei contra mim, como se não quisesse mesmo deixar que aquele momento acabasse. O seu perfume era bom, o seu calor era bom e era incrível sentir o seu carinho, mas a parte racional em mim me impedia de seguir adiante, seria errado. Mesmo que eu quisesse muito.
— Não quero que esse dia acabe nunca.
— Os momentos bons também precisam ter fim para aprendermos a dar valor à eles. — respondi.
— Esse momento já é muito valioso pra mim. Não precisa ter fim.
O vento começou a soprar mais forte e não demorou para que a chuva começasse a cair. Tentei me levantar para verificar se a chuva estava forte, mas os braços de Valentina se apertaram contra mim.
— Temos que fechar a porta da sacada se não vai molhar aqui dentro.
— Não tem problema, deixa molhar. Não quero perder você nem por um segundo.
— Mas... Espera. — comecei a rir quando ela se sentou para puxar o cobertor sobre nós e se aconchegar ao meu lado, me abraçando outra vez — Ei, eu não posso dormir aqui!
— E por que não? — ela me olhou tranquila, como se tudo fosse muito simples.
— Por que, não sei se você lembra, mas há crianças e freiras lá embaixo.
— E o que é que tem isso? Elas estão lá embaixo, nós aqui em cima, todos confortáveis e está tudo bem.
Tentando não rir, eu fitei seus olhos cheios de cinismo e vi ela os apertar, fechando-os.
— Se souberem que eu dormi aqui vão achar muito estranho.
— Não tem nada de estranho. Somos duas amigas que resolveram fazer companhia uma à outra e dormir juntas. Nada de estranho.
— Simples assim?
— Simples assim.
— Por que está falando de olhos fechados? — perguntei, imaginando que ela já estivesse com sono.
— Porque eu estou com vontade de te beijar. Fechei os olhos até passar.
Se eu ganhasse dinheiro para cada vez que ela me deixasse sem palavras, já estaria riquíssima.
Mas foi inevitável rir.
Ela permanecia de olhos fechados, imóvel. Sua respiração estava calma e seu rosto sereno. Seus traços eram lindos, eu não me cansava de admirar.
Então dessa vez fui eu que desenhei seu rosto com meus dedos. Seus olhos, seu nariz, sua boca. Senti sua respiração mais pesada. Seus lábios se entreabriam e ela beijou minha mão. A puxei devagar contra mim e, sem pensar muito, a beijei. Calmamente como antes. Sem pressa. Sem pensar em nada, a não ser em nós e naquele momento.
A cada vez que o beijo ficava mais intenso eu sentia que ela se controlava para se acalmar. Não tentou ir além em nenhum momento. E mesmo que aquilo estivesse me deixando extremamente excitada, achei melhor assim. Ainda não era o momento. Não ainda...
Não me lembro até que horas ficamos acordadas. Entre conversas, beijos e carinhos a noite foi passando. Rimos, brincamos, falamos do universo e de flores. Valentina era especial. E a cada dia se tornava mais especial para mim.
...
Acordei na manhã seguinte com o barulho das crianças lá embaixo. Estiquei meu corpo ainda na cama e abri os olhos. Só então me lembrei onde eu estava.
— Droga, eu devia ter voltado pro quarto.
Não vi nem sinal de Valentina. Ela saiu sem fazer barulho. Ou fui eu que estava com muito sono. Olhei para o lado da cama onde ela dormiu e me deparei com mais uma rosa vermelha em cima do travesseiro.
Suspirei. Senti o perfume, era mesmo o dela. Sorri.
— Por que você faz isso comigo? — perguntei como se ela pudesse me ouvir.
Ouvi outro barulho lá embaixo e achei melhor sair dali logo antes que alguém aparecesse. Peguei a rosa e saí na ponta dos pés. Entrei no quarto ao lado, torcendo para que Justine ainda estivesse dormindo, mas bem na hora ela estava saindo do banheiro.
— Bonjour, mon amour!
Eu conhecia aquela voz cínica e debochada, de quem estava prestes a me encher a paciência e me bombardear de perguntas.
— Bom dia, meu amor. — respondi como se nada estivesse acontecendo.
Coloquei a rosa dentro do copo em cima do armário e o enchi de água.
— Dormiu bem essa noite? — ela perguntou.
— Sim. E você?
— Muito bem.
E de repente um silêncio inesperado se instalou no quarto. Olhei para Justine e a vi sentada na cama, batendo as mãos inquietas na cama e balançando as pernas, como se não aguentasse mais se segurar. Ela me olhou de volta, sorrindo e desviando o olhar a cada dois segundos.
— Ok, Justine. Pode perguntar. — me dei por vencida.
— Eu? Não, eu não quero perguntar nada não.
Levantei uma das sobrancelhas e a fitei.
— Mas só acho engraçado que você falou tanto sobre "as crianças e as freiras", não é mesmo? Me acusou de querer chamar o Fernando para dormir comigo, mas vejam só!
— Não aconteceu nada, ok?
— Não me diga! — a ironia era palpável em sua voz.
— É sério! — eu estava tentando não rir, mas era praticamente impossível quando minha amiga se fazia de inquisidora indignada daquela forma.
— Ora, mas vejam só! Esse ano já posso esperar que Papai Noel desça pela minha chaminé! Magnifique! — disse batendo palminhas.
— Justine! — gargalhei — É verdade. Nós passamos a noite conversando apenas. E... E nos beijando. Um pouco... só algumas vezes. Mas não passou disso, juro!
— Se você está dizendo... Mas como é que você foi parar lá? Porque da última vez que te vi você estava saindo por esta porta para buscar água para mim.
— Essa é uma longa história. Vamos nos trocar, te conto no café da manhã.
...
Depois de contar tudo para Justine, ouvi-la encher Valentina de elogios e até desejar ser a madrinha do nosso casamento, fomos ajudar na arrumação do refeitório após o café da manhã. Valentina ainda não havia falando comigo, trocamos apenas olhares e alguns sorrisos, os quais minha amiga não deixava passar despercebidos.
Depois da arrumação, Justine foi para um passeio convidada por Fernando, que aproveitou a oportunidade, já que Neto havia prometido levar as crianças para passear de bote no lago. Acompanhei o rapaz, que encaminhou os pequenos para a beira do lago e pediu que eu tomasse conta de todos enquanto ele buscava os coletes salva-vidas.
— Crianças, não entrem na água! Esperem o tio Neto chegar! — alertei alguns que se aproximaram demais da água.
— Oi. — era Valentina. Nem a vi se aproximar.
— Oi. — sorri para ela.
— Dormiu bem?
— Muito bem. E você?
— Tão bem como há muito tempo não dormia.
— Isso é bom.
Ela assentiu.
— Você... Vem sempre aqui?
— É sério? — gargalhei.
— Não, é brincadeira. — ela riu — Vai passear de barco também?
— Não, só vou ajudar o Neto com as crianças.
Observei ela em silêncio por algum tempo, olhando para o lago.
— Me diga um número de 1 a 10? — disse, de repente olhando para mim.
— Pra quê?
— Me diga primeiro e eu falo o porquê em seguida.
— Tudo bem. Cinco.
— Cinco. Certo. — ela encarou o lago até a sua margem do outro lado e voltou a me fitar — Eu quero fazer uma aposta com você.
— Uma aposta?
— Sim. Uma aposta e uma proposta. Se você aceitar, teremos um acordo.
— Ok. Mas eu preciso saber do que se trata.
— Digamos que eu consiga atravessar o lago com o bote a remo em cinco minutos, ida e volta.
— Ida e volta em cinco minutos? — olhei para ela e em seguida para o lago, incrédula que ela tinha se proposto aquele desafio — Não dá, é muito distante!
— Se eu conseguir, — ela continuou, parecendo não se importar — quero te propor algo.
— Valentina, você já observou bem a distância de uma margem à outra? Deve dar uns 800 metros. É quase 1 quilômetro! Não dá pra ir e voltar à remo nesse bote em cinco minutos.
— A vantagem é sua. As minhas chances são menores, logo, você pode ganhar a aposta.
— E que aposta é essa? — eu já estava ficando preocupada.
— Bem, se eu perder, nada acontece e o acordo acaba. Mas se eu conseguir ir e voltar em cinco minutos, você me promete sair comigo durante uma semana inteira, todos os dias, começando a partir de amanhã.
— Valentina... Por que você tem que complicar tanto as coisas? — eu disse rindo de preocupação — Não seria mais fácil simplesmente me convidar?
— Eu preciso merecer a sua companhia. E assim posso te provar que mereço tê-la.
— Você não precisa me provar nada.
— É um desafio, vamos lá... Aceita ou não?
A encarei aflita, tentando pensar em alguma maneira de dissuadi-la.
— Eu vou fazer isso, mesmo que você não aceite. Só quero a sua resposta para ter um incentivo.
— Tudo bem, tudo bem! Meu Deus do céu, Valentina, olha só o que você me faz fazer! — respirei — Eu aceito. Mas tenha cuidado, por favor.
— Eu terei, não se preocupe.
Fiquei observando-a preparar o bote enquanto eu tentava controlar a minha aflição.
— Espere o Neto trazer o colete salva-vidas!
— Não precisa, vai me atrapalhar a remar. Eu sei nadar muito bem, não se preocupe. — ela piscou para mim, mas aquilo não foi suficiente para me tranquilizar.
O bote foi posicionado e, antes de subir, ela me entregou seu celular com o cronômetro na tela.
— Cinco minutos! — disse ela.
Afirmei com a cabeça e a vi entrar no pequeno barco e segurar firme os remos.
— Está pronta? — perguntei.
— Sempre pronta.
As crianças, que esperavam para o passeio de bote com o Neto, se juntaram atrás de mim, empolgadas com o desafio de Valentina, dando o maior apoio à ela. Mal sabiam elas o motivo daquela loucura.
Liguei o cronômetro e dei sinal para que ela partisse.
— Vai! — gritei.
As crianças logo começaram a gritar e a aplaudir em apoio. Meu coração estava apertado, principalmente por saber que eu era o motivo dela estar fazendo aquilo.
Valentina começou a remar com força, movendo o bote em direção ao centro do grande lago.
— Vai! Vai, tia Isis! Vai! — as crianças gritavam.
Ao chegar na metade do percurso, já tinha se passado 1 minuto e meio. Comecei a pensar se deveria torcer para que ela conseguisse ou não. Eu teria que cumprir a minha parte e sair com ela durante uma semana. Não tinha ideia do que Valentina tinha em mente, mas sabia que ela não faria uma proposta como essa com a intenção de ter apenas a minha amizade. Mas naquele momento eu só torcia para que ela conseguisse completar o desafio em segurança.
Ao alcançar a margem, ela logo sentou-se do lado oposto do bote e começou a remar de volta.
3 minutos e 25 segundos.
Por impulso, eu apertava o celular em minha mão tão forte que já podia senti-lo marcando a minha palma.
— O que é que está acontecendo? É uma competição? — com seu sotaque carregado, Justine apareceu ao meu lado, vindo não sei da onde.
— Não, é um desafio. — respondi sem tirar os olhos da morena remando rápido no lago.
— Desafio? Por que ninguém me chamou antes? Eu gostaria de participar.
— Porque isso é coisa da Valentina. — cochichei para ela — Ela me propôs uma aposta. Disse que se conseguisse atravessar o lago e voltar em cinco minutos, eu deveria sair com ela durante uma semana.
Justine me encarou com um misto de surpresa, incredulidade e... Empolgação?
— Ohh, Diana! Isso é tão bonitinho! — disse juntando as mãos em seu peito — Ela está tentando conquistar o seu coração! Romantique!
— Não é romantique, é perigoso! Nem o colete ela quis colocar.
Voltei a observar e a essa altura ela já havia atravessado pouco mais da metade no retorno.
Fixei meus olhos no cronômetro. Faltava menos de 1 minuto.
— Ela vai conseguir! Vai, Isis! — Justine aplaudiu — Oh, não! Ela não vai. — disse, de repente desanimada.
Levantei a cabeça rapidamente e quando vi a cena à frente, meu coração deu um salto no peito. Valentina tinha perdido um dos remos e nesse momento estava inclinada sobre a borda do bote tentando pegá-lo.
— Cuidado, tenha cuidado, por favor! — sussurrei como se ela pudesse ouvir.
Foi então que minha frequência cardíaca foi à zero e em seguida à cem em menos de um segundo.
Valentina havia caído na água.
— Mon Dieu! — Justine levou as mãos à boca.
— Onde ela está? Você está vendo? Eu não estou vendo ela, Justine!
Minha aflição conseguia me deixar preocupada, desesperada e culpada, tudo ao mesmo tempo.
As crianças começaram a gritar e a fazerem burburinhos assustados, o que só me deixava pior.
— Aqui está, pessoal! Eu trouxe os... O que houve? — Neto apareceu e logo percebeu que tinha algo errado.
— Neto! — avancei sobre ele — A Valentina, não, a-a Isis! Ela, ela foi com o bote atravessar o lago e acabou caindo e... — meus olhos se enchiam de lágrimas enquanto eu falava.
— Espera, onde ela está? Só estou vendo o bote. Ela está usando colete?
— Ela não colocou colete, disse que sabia nadar.
— O que? A Isis não sabe nadar!
Meu coração parou. Olhei novamente para o lago, me sentindo aterrorizada. E então foi seguido de alívio e desespero ao ver suas mãos emergirem atrás do bote. Por um segundo pensei que ela estava voltando ao barco, mas no segundo seguinte entendi que ela apenas tentava se segurar e se manter na superfície.
Quando dei por mim, Neto já havia arrancado a camisa e pulado na água, nadando rápido na direção dela.
Justine me abraçou e então foi inevitável segurar as lágrimas que já se acumulavam.
A cada vez que ela submergia, demorava mais para voltar. Neto nadava depressa, mas eu tinha medo de que ele não chegasse a tempo. Ela conseguiu se segurar na borda do bote por alguns instantes, mas o barco era muito leve e então virou novamente, a jogando na água outra vez. Foi aí que ela afundou e não voltou mais.
Neto, que já estava bem próximo, mergulhou por baixo do bote para tentar alcançá-la. Aqueles poucos segundos que se passaram foram como uma eternidade. Parecia que eles não voltariam mais. Mas então, no minuto seguinte, vi o braço forte do rapaz e logo a sua cabeça aparecer na superfície. Valentina estava apoiada em seu ombro, desacordada.
— Meu Deus, não! Não pode ser. — minhas pernas tremiam tanto que eu mal conseguia ficar de pé.
Neto conseguiu empurrá-la sobre o bote e apoiá-la de forma segura para então puxar à nado até a margem onde eu, Justine e as crianças os aguardávamos aflitos.
Assim que ele se aproximou, eu corri para ajudar a resgatar Valentina, que permanecia inconsciente.
Retiramos ela e a deitamos sobre a grama que seguia logo após o espaço de areia que precedia o lago. Neto, mesmo ofegante pelo esforço do resgate, começou a fazer uma massagem cardíaca em seu peito. Por sorte ou providência divina, não foi preciso mais do que três movimentos para que a ouvíssemos tossir e jogar a água para fora.
— Valentina! — segurei em seu rosto, analisando seus sinais e expressão — Olha pra mim. Você consegue respirar?
Ela afirmou levemente com a cabeça.
— Vamos levá-la até um hospital. — sugeriu Justine.
— Não precisa. — ela disse entre tossidas — Eu estou bem.
— Você quase me matou de susto! — ela riu fracamente enquanto eu alisava o seu rosto — Nunca mais faça uma loucura dessas outra vez, tá me ouvindo?
Ela assentiu.
— Promete pra mim?
— Prometo. Mas antes eu preciso saber de uma coisa.
— O que?
— Eu ganhei?
Sorri soltando o ar pesado em meus pulmões, me sentindo aliviada. Ela estava de volta. Estava bem e comigo de novo. Foi então que me dei conta de que a sensação de perdê-la que esteve presente em mim durante aquele momento não era somente por medo de que acontecesse uma tragédia. Durante todo esse tempo ela esteve ali, me dando a oportunidade de conhecê-la melhor. Ela se doou para mim e eu a recusei, não me permiti. Então percebi que durante toda a minha vida eu fui assim. Sempre me contive, sempre pensei nos outros antes de mim. Sempre deixando as vontades dos outros acima das minhas. E se eu continuasse assim, chegaria ao fim da vida sem ter vivenciado a experiência de ser eu mesma. Simples e puramente eu.
Precisava mudar isso antes que fosse tarde demais.
— Sim, Valentina. Nós ganhamos.
...
Fim do capítulo
Foi isso, pessoal! Espero muito poder vê-los em breve.
Quem quiser saber a quantas andam as postagens, a escrita dos capítulos e também sobre a comédia dramática que anda a minha vida, segue lá no
TWITTER: @SrtaSweet1
Desde já aviso que não tem nada de muito interessante por lá kkk
Paz, amor e beijo à todxs <3
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Mille
Em: 25/07/2017
Oi Swet tudo bem?? Saudades!!!
Hoje é o dia do escritor desejo muita inspiração, alegria e sucesso a ti. Tem uma frase muito linda que vi hoje pena que o site não aceita anexar figura.
"As melhores viagens da minha vida eu fiz sem sair do lugar".
Já viajei muito por lugares, conhecimentos de culturas e sentimentos, a torcida por os personagens queridos, ou vilões para ver sua queda.
Obrigada por sempre nos presentear com belissimas histórias.
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Sweet Words Autora da história
Em: 29/04/2017
Meninas, peço desculpas pela demora em responder vocês e também pelos comentários "economicos" nas palavras.
Quero que saibam que li todos, um por um, e recebi e guardei no coração todas as palavras de carinho e de motivação que vocês me enviaram.
Mesmo que eu não tenha expressado nas respostas, quero que sintam aí o meu carinho de volta. Eu sou muito grata por ter pessoas como vocês que me motivam e me dão força para continuar a fazer o que amo, que é escrever. E mesmo que o que eu faço seja algo simples e despretensioso, é algo importante pra mim.
MUITO OBRIGADA POR TUDO SEMPRE!!! ♥♥♥
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Laura Veigas
Em: 16/04/2017
Sweet, parabéns pela história.
É uma das melhores que têm no site.
Sua escrita leva a gente ao delírio.
Feliz Páscoa. Muita luz na sua vida.
Resposta do autor:
Muito obrigada!!! *-*
Pra você também! (atrasado, mas ok rsrs)
Beijo no coração ♥♥♥
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JanBar
Em: 13/04/2017
Valentina/Isis não sabe nadar?! Hahaha... As loucuras incentivadas pela paixão... Ótimo capítulo! Depois desse desfecho como não ficar ansiosa pela continuação?! Hahaha... Bjs
Resposta do autor:
Pois é, que nem a escritora kkk
Espero voltar em breve!
Beijo ♥
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TatuZinha
Em: 11/04/2017
Meo deusss! Suspirando sem parar aqui!
Olá Sweet!
Vim aqui pra dizer que vc é uma grandessíssima bandida! Uma ladra das mais profissionais, pois você conseguiu uma coisa dificílima... você roubou meu coração com essa história! E eu não posso viver sem ele, por favor me devolva!
Fico aqui pensando.... Como pode alguém conseguir transformar tanta sensibilidade em palavras e coloca-las num papel, com tanta maestria, na forma de uma história que nos faz sentir e entrar nessa história a ponto de sonhar e querer ser parte dela? Como pode??
Olha, tenho lido as dificuldades pelas quais você tem passado para continuar a escrever e publicar esse sonho de história. Mas só te peço uma única coisinha.
Demore o tempo que for preciso, mas por favor, não desista dela, continue a escrever sem pressa e publique quando puder! Sinto muito, mas depois que você deu início a essa beleza, você perdeu o seu direito de desistir e nos deu o direito de tê-la pra nós!!
Desejo que Deus te guarde e te dê muita saúde pra você poder seguir colocando esse DOM maravilhoso no papel e continuar nos presenteando com ele!!
Um grande abraço afetuoso!
ALEX
PS.: Não sei como você tem escrito no celular/tablet, mas baixe o aplicativo do ofice nele. Eu escrevo muito e só pelo tablet (por pura preguiça), apesar de não ser igual ao note, o aplicativo do Word ajuda muito mesmo!
Resposta do autor:
Olá!
Olha, eu não sei nem como te agradecer por todas essas palavras lindas.
É muito motivador e inspirador saber a opinião dos leitores e quando vem com um carinho tão bonito assim é mais especial ainda.
Só congigo dizer muito obrigada a você por compartilhar comigo e por me deixar saber que estou conseguindo, ao menos um pouquinho, cumprir essa missão a qual eu me propus.
Muito obrigada, de verdade ♥
E sim, eu uso esse app mesmo, ajuda bastante! rsrs
Grande beijo e até breve! ♥♥♥
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ReSant
Em: 10/04/2017
como não apaixonar?? Como não torcer por essas duas?? Vc tem noção do quanto esse cap foi lindo?? Não desista pelo amor de Deus, eu te imploro, não desista de postar....
estou muito ansiosa pelo próximo, quero ver o que a valentina vai fazer pra Di
Resposta do autor:
Não vou desistir não! rsrs
Até lá... ♥
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Dolly Loca
Em: 10/04/2017
Que alegria ter capítulos novos!!!
Esperando por mais capítulos em breve.
bjos
Resposta do autor:
*-*
Beijo no coração ♥♥♥
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Mille
Em: 10/04/2017
Olá Sweet
Que maravilha de capítulos.
Sera que agora a Diana toma rumo em sua vida, deixa o Eduardo seguir a vida dele e enfrentar a mãe e vai ser feliz com a Valentina.
Ísis/Valentina é uma personagem que nos surpreende.
Bjus e até o próximo capítulo
Boas energias e não tem como abandonar sua história, pois a cada capítulo nos prende.
Resposta do autor:
Olá!
Muito obrigada!!!
Beijo no coração ♥♥♥
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cidinhamanu
Em: 10/04/2017
Olá Inês, que bom que você está de volta!!
Bem tenso esse final, foi tão fofo ver a Diana tão desesperada por causa da Valentina.
Valentina é apaixonante, e não adianta a Diana lutar contra isso, ela já está mais que laçada.
Volta logo por favor, que eu tô curiosa para saber como será essa semana delas juntas...
Beijos.
Cidinha.
Resposta do autor:
kkkk Tem alguém aqui me acompanhando no Twitter... rsrs
Muito obrigada!!!
Beijo no coração ♥♥♥
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