Coincidências por Rafa e
Capítulo 8
Haidê voltou para casa passava da meia-noite, estava cansada, a morte de Malquíades havia, de alguma forma, mexido com ela. Ouviu quando Helena desceu as escadas.
-- Haidê?
-- Sou eu vó.
-- Finalmente. – levantou as mãos em agradecimento. – Não aguentava mais o silêncio. Nem Gato miava mais. – Haidê revirou os olhos, conhecia bem os dramas da avó.
-- A senhora não disse que iria chamar Júnior?
-- Chamei. – aproximou-se para beija-la. - Eu chamei, mas até ele tinha o que fazer com aquele velho caduco.
-- Vovó, ele é avô de Cristina, ela adora a senhora, não ofenda o avô dela.
-- Não estou ofendendo e digo mais, além de caduco é assanhado. Onde já se viu, achar que vou querer um velho babão depois de ter um galês loiro e viril na cama? – Haidê revirou os olhos e levantou as mãos.
-- Não quero ouvir mais nada. Eu sou neta de uma maluca!
-- Garota esquisita... – brincou com a neta e concluiu. – Teve uma loira bem preocupada aqui. – esperou a reação da morena que parou surpresa. - Ela deixou uma carta. – mostrou o envelope e viu quando os olhos da advogada brilharam. Ela ergueu a sobrancelha e pegou a carta.
-- Eu vou subir.
-- Não vai me dizer o que tem aí?
-- Vó, hora de crianças e idosos estarem na cama. – cantou.
-- Você me respeite. – disse brincando e Haidê beijou sua cabeça, depois subiu com a pequena mala em uma mão e a carta na outra. Entrou no quarto e abriu o envelope com ansiedade.
“Haidê, espero que esteja bem. Estou preocupada com a impressão que ficou depois que falhei com você. Não foi culpa minha, aqueles amigos que me procuravam... Bem, eles me encontraram. Como posso me redimir? Tenho chances? Fiquei triste com sua viagem inesperada. Será que mereço um pequeno “oi” quando voltar? Saudades, Lívia.”
Haidê leu três vezes e sorriu, seus fantasmas atormentaram seu dia até o momento, depois do bilhete, tudo parecia sem importância. Sua maior preocupação era encontrar Lívia. Viu o telefone da loirinha no final do bilhete, pensou em ligar, desistiu ao ver a hora.
-- Hoje vou tentar dormir, amanhã eu coloco meu plano em prática. – disse para si mesma sorrindo.
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Lívia estava assistindo televisão. Conversar com Helena lhe animou um pouco, mas precisava de Haidê para voltar a ficar bem. Bá havia saído com o jardineiro, ele sempre fazia o papel de motorista, levando-a ao supermercado e feira nos finais de semana. A loirinha preferiu ficar em casa, sem receber ninguém, principalmente seus amigos. Estava deitada no sofá quando ouviu Pedrinho, filho do jardineiro, chamando-a.
-- Lívia tem uma amiga sua aqui. – a loira bufou.
-- Pedrinho, eu pedi que falassem a todos que não estava em casa. Não quero receber ninguém.
-- Nem eu? – Haidê usou um tom rouco e sensual que fez Lívia pular do sofá e olhar em direção a porta.
-- Haidê? – a morena sorriu.
-- Esse pedido serve para mim, também? – perguntou fitando-a nos olhos e com as mãos no bolso da calça jeans. Lívia abriu um sorriso e pulou nos braços da morena.
-- Nunca... – abraçou forte e depois a beijou no rosto, deixando-a sem jeito. – Para você sempre estou. – disse após se colocar na frente dela, olhando-a nos olhos.
-- Oi! – ficou sem jeito. - Eu li seu bilhete.
-- E? Será que serei perdoada? – perguntou sorrindo.
--Depende.
-- De que?
-- Aceita passar o dia comigo? – estavam se olhando, Lívia esticou a mão e contornou o rosto da morena.
-- Estava com tanto medo que não me desculpasse... – Haidê acariciou o rosto de penugens loiras. – Também estava com saudades. – sorriram enquanto mantinham o contato.
-- Eu só pensava em voltar. – abraçaram-se Haidê se afastou. – Vamos sair?
-- Vou trocar a roupa. – foi em direção à escada e depois olhou para trás. – Não saia daí.
-- Nem pensar. – piscou e Lívia ficou encantada com o jeito da advogada. Poucos minutos depois ela retornou.
-- Como não sei para onde vamos, vesti uma roupa mais próxima a sua.
-- Não se preocupe com isso, vamos nos divertir. – Lívia sorriu e segurou na mão de Haidê.
-- Moto?
-- Não. – olhou em direção ao portão. – Hoje vamos com meu carro.
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-- Pedrinho, você viu Lívia?
-- Oh dona Dirce, ela saiu com aquela amiga bonitona que “teve” aqui outro dia.
-- Haidê?
-- Ela mesma. Dona Dirce, ela é muito linda. – revelou com um jeito sapeca. – Queria ser adulto para pegá-la.
-- Oh rapaz! Isso é jeito de falar com dona Dirce? – Jeremias repreendeu.
-- Foi mal dona Dirce! Só que ela é linda, aí não consigo ficar quieto né pai? – Bá riu com o jeito menino, ainda agia como uma criança, mas os hormônios da adolescência começavam a ferver.
-- Eu que estou louca para conhecer essa mulher. – disse com frustração. – Só ouço que é linda, alta e não a conheço.
-- A senhora vai ficar surpresa, não é o perfil de pessoa que anda com a menina.
-- Espero que ela se ajeite com essa mulher.
-- Tomara. – Jeremias completou sorrindo.
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-- Para onde estamos indo?
-- Vamos tomar café. – respondeu em tom de mistério.
-- Tudo bem, mas aonde?
-- Segredo.
-- Haidê! – sentiu a mão maior sobre a sua e seu coração disparou.
-- Calma. – sorriu. – Quando chegarmos eu aviso.
Lívia ficou emburrada, mas a carícia da mão maior sobre a sua, aliviou mais a curiosidade.
-- Chegamos. – a loirinha olhou uma linda casa arrodeada de varandas que ficava bem de frente para o mar, próxima a uma pequena colônia de pescadores.
-- Que lugar lindo! – estava muito admirada com a beleza do local. – A casa é sua?
-- Não. – abraçou a surfista. - Ela pertence a uma amiga. – olhou para Lívia. – Gostou?
-- Eu amei!
-- Posso lhe sequestrar para ficar comigo? – perguntou em tom de brincadeira.
-- Neste lugar horrível e estressante? – entrou na brincadeira. Haidê passou a mão pelo rosto da loirinha.
“Para sempre.” – pensou antes de responder. – Agora seus amigos não irão incomodar. – Lívia pegou o celular e mandou uma mensagem para Bá, avisando que iria desligar o telefone. Haidê observou com curiosidade.
-- Agora eles não incomodarão, não tem como apelar. – estava triunfante. Mostrou a mensagem que enviou para Bá, Haidê leu e depois a puxou para mostrar a casa.
-- Que lugar lindo!
-- Realmente é lindo. Cristina pensou em vende-la.
-- Vender? Ela não gosta de praia?
-- Gosta sim, mas este local não trás boas recordações. – referia-se ao dia em que Joaquim estuprou a amiga. – Depois que se casou, a esposa fez mudar de ideia. – Lívia gostou do que ouviu.
-- Você tem amigas casadas? Quer dizer, duas meninas... – Haidê começou a rir com a falta de jeito da loirinha.
-- Minha melhor amiga é casada com uma mulher, além delas, tenho amigos gays e outras lésbicas.
-- Não podia imaginar.
-- Por que?
-- Talvez pelo perfil do seu noivo, ele é homofóbico. Sabe disso não é?
-- Não vamos pensar em nada além dessas paredes... – pediu com jeito. – Vamos aproveitar esse visual, curtir e pensar em coisas boas.
-- Tudo bem, você tem razão. – forçou um sorriso e mudou de assunto. - Ela vem sempre aqui? - Haidê parou para observa-la e pensar na pergunta antes de responder.
-- Não. – “Como ela muda assim de assunto sem avisar?” – pensou.
-- A casa está bem, como se estivesse em constante cuidado. - a morena sorriu, aproximando-se, e esse simples gesto acelerou o coração de Lívia.
-- Tem um casal que mora aqui perto e cuida da casa. Eu pedi a permissão de Cristina, ela avisou para deixar tudo pronto. - deu de ombros. - Exageros da minha amiga. – sorriu e puxou a mão da loirinha. - Vem, quero lhe mostrar tudo. - Haidê abraçou a loirinha e mostrou à casa que era cercada de portas de vidro, Lívia estava fascinada. – Como não sabiam a hora que eu chegaria... – deu de ombros. - Terei de fazer o café para comermos. - Lívia sorriu e acompanhou Haidê, ao passar por uma parede, parou com curiosidade.
-- Ela é a Cristina? - apontou para uma foto.
-- Ela é Cristina e aquela... – mostrou a outra foto. - É Cristina com Isadora e os dois filhos mais velhos. Nesta época Isabela ainda não havia nascido. - Lívia se aproximou e reconheceu a jornalista.
-- Essa é Isadora Marcondes? – perguntou quase pulando de alegria com a descoberta.
-- É sim.
-- Eu sou muito fã dela. – declarou sorrindo. - Meu sonho era conquistar o título de campeã mundial e ser entrevistada por ela. - disparou de uma só vez. - Sempre achei linda, ainda mais quando ela se envolvia naquelas reportagens de investigação. Quando veio morar no Brasil e começou esse programa, eu comecei a assistir. Todos riram de mim porque falei que a pegaria quando fosse campeã. - Haidê ouviu a revelação e segurou a vontade de rir com a espontaneidade da loirinha falante.
-- Desculpe em frustrar seus sonhos, mas Isadora é louca pela esposa e a recíproca é verdadeira. – revelou com uma pitada de sarcasmo. Lívia percebeu que havia falado demais e sentiu o rosto queimar.
-- Isso foi antes... – estava muito envergonhada. - Agora eu também tenho alguém em minha mente, nada me faria pensar em outra pessoa.
-- Fico feliz em ouvi-la. - sorriu encarando-a.
-- Haidê...
-- Hum...
-- Nossos telefones estão desligados, ninguém sabe onde estamos... - aproximou-se. - Acho que não seremos interrompidas em nada aqui. – ela se insinuou, mas Haidê ergueu uma sobrancelha e se aproximou mais.
-- Só por minha barriga pedindo comida. - revelou sorrindo e Lívia acabou entrando na brincadeira. Na verdade, Haidê estava nervosa, sentia-se uma adolescente, diante do primeiro beijo.
-- Então vamos atendê-la, assim nada mais irá nos atrapalhar. – respondeu com malícia. - Sabe onde fica a cozinha? - Haidê mostrou com a mão, ela seguiu na direção apontada e sentiu quando foi acolhida em um abraço.
-- Hoje eu vou servi-la. - Lívia entendeu aquilo como um duplo sentido.
-- Conto com isso. - respondeu com a mesma malícia. Ela sentiu quando Haidê se curvou e lhe deu um beijo no pescoço, sorriu com um brilho no olhar. – “Depois eu mesma saciarei a minha fome.” – pensou com a mesma malícia.
Enquanto Haidê preparava torradas com ovos mexidos, Lívia arrumava a mesa. Haidê estava entretida com a comida, começou a assobiar a música Patience do Guns N´Roses. A loirinha reconheceu e cantarolou a letra, acompanhando-a. Uma troca de olhar falou muito mais do que palavras, a conexão era forte e clara, sem dúvidas ou explicações.
-- "Girl, I think about you every day now/ Was a time when I wasn´t sure/ But you set my mind at ease/ There is no doubt you´re in my heart now". - cantarolou olhando dentro dos olhos azuis, observando-o mudar a tonalidade. Haidê retirou a frigideira do fogo, segurando-a e sem quebrar o contato com os olhos verdes, cantou um pedaço da música como se confessasse algo.
-- “Said: girl, take it slow. And it´ll work itself out fine. All we need is just a little patience". - Lívia sorriu e apareceram umas ruguinhas no nariz, Haidê achou lindo. Não havia mais como negar, estava apaixonada por aquela garota. Ela se aproximou olhando para a boca da loirinha, não teve mais como se segurar, veio naturalmente, assim como aconteceu. Os lábios se encontraram, pareciam se conhecer há anos, o encaixe foi perfeito. Foi um beijo lento, carinhoso, falava tudo aquilo que não tinha como ser dito em palavras ou mensurado em sentimentos. Lívia sentiu o coração se acalmar, o frio na barriga sumiu e o beijo terminou assim como aconteceu. As bocas se afastaram e Haidê a olhou com um sorriso que iluminava todo o ambiente. - Acho que minha fome aumentou. - lembrou-se que ainda segurava a frigideira com os ovos mexidos.
-- Quanto a isso, tenho certeza. – piscou o olho com aquele jeito sacana que a morena amava. Haidê serviu os ovos mexidos nos pratos dispostos na mesa.
-- Para a loirinha linda. - serviu um pouco do café e puxou a cadeira para que ela sentasse. Lívia sentou e depois viu quando puxou o prato e colocou ao lado do seu. - Prefiro ficar pertinho. - pegou a mão da loirinha e beijou, depois lhe deu um selinho. - Coma, veja se passei no teste. - Lívia comeu e olhou com um semblante neutro.
-- Não sei... - abriu o sorriso quando viu a expressão de dúvida de Haidê. - Está ótimo! Se quiser, você já pode casar.
-- Vou ter paciência e esperar por uma menina aí. - Lívia olhou com malícia.
-- Que menina?
-- Uma aí que conheci e beija gostoso. - foi inevitável o sorriso de satisfação da loira. - Acho que vou virar cliente. - Lívia se aproximou e deu outro beijo.
-- Esse é para segurar a cliente. – Haidê ergueu uma das sobrancelhas e voltou a beija-la.
-- Não precisa segurar, essa cliente já é fixa. – Lívia sorriu e serviu a morena, colocou ovos em uma torrada e ofereceu. Haidê comeu se deliciando com o momento.
Estavam lavando os pratos quando Lívia olhou ao redor e perguntou com curiosidade.
-- Haidê, o que Cristina faz? Para conquistar Isadora ela tem que ser especial. – a morena colocou o último prato no escorredor e olhou para loirinha, analisando-a.
-- Tem certeza que não sabe quem é a esposa de Isadora?
-- Se soubesse não perguntaria.
-- Cristina tem um apelido, talvez a reconheça por ele.
-- Apelido?
-- A jovem rainha do gado.
-- É aquela que participou de um episódio daquele programa de culinária como jurada? – pensou um pouco. – Ela é viciada em requeijão. – Haidê deu uma gargalhada.
-- Ela deveria ser conhecida como a maior consumidora de requeijão do Brasil. – disse sorrindo. – É ela mesma, Melissa Cristina.
-- Acho Melissa um nome mais bonito.
-- Ela também acha. – respondeu enxugando as mãos.
-- E por que chamam de Cristina?
-- Poucas pessoas no mundo chamam de Melissa. – pensou um pouco e depois puxou a loirinha para um abraço. – Atualmente, acredito que só Isadora. – sorriu. – Tenho pena de quem chama-la pelo primeiro nome.
-- Ela não gosta?
-- Acredito que não se importa, mas Isadora mata. – deu uma gargalhada. – Cristina era o nome da avó dela, foi mais uma homenagem.
-- Desculpa, mas acho isso... – fechou um olho para completar o raciocínio. - Um pouquinho mórbido.
-- Eu sei, mas se olhar pelo lado da homenagem e o que representa, vai interpretar de forma diferente. – Lívia esboçou um sorriso.
-- Tem razão. – sorriu e formou as ruguinhas no nariz, o que deixou Haidê encantada.
-- Adoro quando forma essas ruguinhas. – delineou o rosto da loirinha com o dedo. – Eu lhe acho uma gatinha.
-- Miau! – abraçaram-se.
Fim do capítulo
Boa noite garotas!
Mais um capítulo e muitas emoções. Agora acho que elas se pegam de vez.
A música da vez é Patience do Guns N´Roses.
Beijos
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LeticiaFed
Em: 27/07/2018
Oi, Rafa. Terceira vez que escrevo um comentário, os outros dois quando mandei resolveram sumir...
Comecei a ler Coincidências somente hoje e fui surpreendida por seu comentário anterior. Lamentável que uma ou duas ou sei la quantas pessoas sem noção e sem educação façam uma ótima escritora desanimar e pensar em não postar mais, privando uma legião de fãs - certamente muuuito mais numerosas que as ditas cujas- do prazer de ler e se divertir com suas histórias. Imaginei que depois daquele surto de má-educação em Uma Pequena Aposta vc tivesse um período de paz e tranquilidade. Não desanime, por favor. Não tenho face, nos atualize por aqui. Continuo acreditando que passando essa fase de desânimo você permanecerá por aqui nos alegrando. Pensamentos positivos para você e muita luz! Beijão!
Resposta do autor:
Oi Leticia, às vezes também acontece comigo: escrevo e some, mas depende do tempo de conexão. Infelizmente existem pessoas (como diria uma amiga) espírito de porco ofenderia os seres humaninhos...kkkkk.... Gente que vem mesmo para azucrinar e agem de forma mesquinha, com fofoquinhas e comentários desnecessários. Estou vendo como farei. Gosto muito do site e da equipe por trás dele, assim como gosto de escrever, mas como diria Júnior em um dos seus momentos filósofico: são ossos do edifício. Bjs
Mille
Em: 26/07/2018
Olá Rafa
Adoro essa música.
Haide deu mais sorte que Melissa o beijo já aconteceu logo o clima esquenta entre as duas.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille,
Bonita, amo o Guns. Foi mais rápida, no entanto... Vou ficar quieta ou entrego tudo. Bjs e até mais.
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Baiana
Em: 26/07/2018
Agora vai! Estava achando elas muito devagar, quase parando kkkkkkk
Tô imaginando aqui a avó da Haidê com o avô da Mel,e o Júnior de cupido!
Resposta do autor:
Ahhhh, mas o que? A Lívia mega afoita e ainda achou passos de tartaruga? A loirinha é porreta.
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