Nunca me orgulhei de ser uma Villela
Olhei pros lados estava novamente naquele hospital, na poltrona ao lado estava Gabriela descansando.
-O que estou fazendo aqui ?
Minha voz baixa a acordou que se levantou e veio ao meu encontro, segurou em minhas mãos e me fez um leve carinho no rosto.
-Você desmaio, novamente.
-Cadê a Aline e Samanta ?
-Foi pra casa de praia, e a Glória foi com a Sofia pra casa dela.
Evitava olha-la nos olhos, pela primeira vez me insistia incapaz de cuidar de mim mesma, ainda mais agora com um filho a caminho.
-Vá pra casa.
Ouvi seu risinho fraco.
-Não acha mesmo que vou te deixar sozinha aqui né ?
A encarei seria, seu semblante era de cansaço isso era crueldade demais.
-Precisa cuidar do nosso filho, vou ficar bem.
Nisso o médico entrou com uma prancheta na mão, Gabriela me disse que ia tomar um café e que depois voltava, me beijou e se retirou.
Suspirei enquanto o médico me examinava, o que sentia não era normal então fui direto ao ponto.
- Sem rodeios, o que eu tenho ?
Ele estava tenso apesar do profissionalismo de muitos anos.
-Um tumor no cérebro.
-Um...Tumor!?
Ele começou a conversar sobre o meu atual problema, mas não escutava mais nada que vinha de sua boca, meus olhos estavam fixos no céu azul do lado de fora.
-A senhora vai passar por uma cirurgia, quanto mais rápida ela ser realizada mais chances, de levar tranquilidade pra sua família.
-Pode me deixar sozinha.
-Sim, com licença.
-Respira Rafaela, não vai se abalar por causa disso não é mesmo ? Cadê aquela mulher forte e implacável, força força!
Ajeitava o lençol quando Gabriela entrou no quarto, se aproximou me entregando o café fresquinho.
-O que o médico disse ?
Sua voz apreensiva me quebrava aos poucos, enquanto brigava comigo mesmo.
-Nada de mais, coisas de médico.
Bebia um pouco enquanto ela ligava a televisão e se sentava ao meu lado no leito, suas mãos macias se encontraram com as minhas e o sorriso se fez presente.
Quando descobri que estava gravida meu mundo caiu sobre mim, pensei várias vezes em abortar. Mas uma coisa dizia dentro de mim que aquele ser não tinha nenhuma culpa, assim segui minha gravidez, na época precisava de um mordomo aí me simpatizei com o Antônio, ele se mostrou prestativo em tudo que se relacionava a casa e a minha gravidez, uma vez estava no escritório tendo uma crise de raiva e ele entrou com um chá de camomila e um cd, lembro que estranhei aquilo tudo.
-Chá pra acalmar seu sistema nervoso, e músicas de ninar pra acalmar esse neném aí dentro.
Gabriela apenas me olhava atenta a tudo que falava.
Alguns meses se passaram até o dia do parto, ele me levou pra maternidade e meia noite a Sofia nascia, linda gordinha e com os meus olhos era cheia de vida e esperteza, mas algumas vezes a raiva e o ódio tomavam conta de mim, a evitava as vezes enquanto Antônio corria pela casa com a mamadeira. Tinha vergonha de contar pra alguém, afinal que iria acreditar ? Conforme os anos se passavam mais parecida com ele ela ficava, e isso me afastava mais ainda, tudo era pra ela a casa o dinheiro os melhores colégios tudo, mas tarde veio cobrar tudo isso com seu ódio precoce e o resto você já sabe.
-Podemos conversar com ela.
-Conversar ? Acho que não, ela me odeia, menos esse aqui.
Toquei em sua barriga e Gabriela sorriu.
-Nem ele nem ele vai te odiar, disso eu prometo.
A porta se abriu e olhamos automaticamente era Gomes se aproximando, pedindo mil perdoes, pois estava numa viagem de negócios.
Gabriela aproveitou sua visita pra ir embora, ficamos conversando sobre várias coisas, dentre elas o que estava acontecendo.
Deixei o hospital destinada a dar um outro rumo a essa estória.
-Essa sua casa é muito bonita, mas preferia ficar com a Gabriela e a Rafaela.
-Essa é nossa casa agora! Esqueça aquelas pessoas.
-Qual o seu problema Sofia, não pode tratar as pessoas assim a Rafaela é sua mãe!
-A Rafaela é uma puta!
A empregada foi abrir a porta e era Gabriela, minha noiva foi abraça-la, enquanto nossos olhos se encontravam.
Enchi o copo de Tequila enquanto a mesma se aproximava.
-Precisamos conversar!
-Espero que seja importante, diga.
-O que o Jorge te falou e tudo mentira, não pode acreditar em um homem que chega do nada e fala um monte de coisas.
Bebi a bebida num único gole a encarando.
-Acha mesmo que ele apareceu do nada, ele me falou que a Rafaela sempre o proibiu de me ver, não sabe o que e crescer sem pai!
-Há eu sei sim garota! Coitadinha de você com seu dinheiro sua casa luxuosa, chorando por um homem que fez tanto mal a sua mãe.
-Calma, amiga.
-Sabia que não era coisa séria.
Me afastei quando Gabriela segurou forte em meu braço, me puxando do encontrou a ela.
-Escuta aqui Sofia, você está cometendo um grande erro.
-Não me diga, agora me Solta!
A empurrei e Glória a segurou.
-Ficou louca Sofia! A Gabi está gravida!
-Gravida?
Sofia ficou pasma me olhando enquanto minha amiga me ajudava a me sentar.
-Que sejam muito felizes...
E saiu de porta a fora.
Entrei no carro e arranquei procurando a única pessoa que me entendia, cheguei em sua casa e havia muitos policiais lá.
-O que está acontecendo aqui, pai ?
Os policias me olharam e ficaram surpresos, meu pai veio se juntar a mim e me disse que eram perguntas de rotina.
-A onde o senhor estava no dia do incendio ?
-Na Beleza da Alma, com a minha filha.
Ele me abraçou forte e os policias anotaram no bloquinho, dentre as perguntas uma era se ele suspeitava de alguém.
Nós olhamos e pensamos a mesma coisa, mas não estava bem certa disto.
-Sabe melhor que eu que ela tem motivos.
-Ela quem senhor ?
-Minha ex Rafaela Villela, pra ter mandado alguém aqui fazer seu serviço sujo é pouco.
Por fim os policiais foram embora, conheci sua casa e jogamos um pouco de cartas.
-Olha você é boa nisso.
-O Antônio que me ensinou.
-Serio ?
-Sim, ele era como um pai pra mim, no caso meu segundo pai agora.
-Aos poucos vai esquecendo dessas pessoas, vai ver como e se divertir com o seu pai, já pilotou uma moto ?
-Uma vez, as pernas não ajudam muito, levantei meu jeans e ele a olhou chocado.
-Há isso e o de menos, vai se sair bem.
Tocou em meu ombro e voltamos a jogar, aquela noite dormi em sua casa.
Cheguei em casa cansada e Antônio estava à minha espera.
-A senhorita precisa se alimentar, venha.
Me conduziu a sala de jantar vazia e triste.
-Podemos comer na cozinha ?
-Claro que sim.
Na cozinha lavei minhas mãos e nos sentamos, Antônio me servia um pouco preocupado.
-Dona Rafaela está bem ?
-Sim, amanhã vão dar alta pra ela, mas Sofia está irredutível acha mesmo que o pai e um super herói.
Comecei a comer ao termino Antônio estava quieto e olhando pela janela, pra noite fria que fazia.
-Nunca pensei que esse dia fosse chegar, pai e filha juntos.
-Rafaela vai fazer de tudo pra nós poupar.
-Acho que posso ajudar, mas as consequências podem ser fatais.
-Do que está falando ?
Me levantei e fui até o homem de cabelos grisalhos, seus olhos estavam marejados, apesar de tudo é pai e filho nesse caminho torto e doloroso.
-Fui eu que coloquei fogo na boate.
-Hã! ?
-Não é uma coisa que me orgulhe, mas se é uma pessoa que pode parar o Jorge sou eu.
Duas semana se passaram e nenhuma notícia da Sofia na empresa, Rafaela estava começando a se preocupar, Glória me contava que ela mal dormia em casa, e os dias que dormia vinha cheirando a álcool e cigarro.
Estava trabalhando no escritório quando meu celular tocou, pensei em ser Sofia.
-Sofia ?
-Como vai Rafaela, que tal ver nossa filha em ação.
Jorge me passou o endereço e anotei o desgraçado desligou na minha cara, peguei minha jaqueta e sai de casa, sem avisar ninguém.
-Vai demorar muito, jovem ?
-Não muito senhor.
Cheguei no lugar estava lotado de jovens, paguei a entrada que seria de uma corrida de motocross.
Ao chegar na arquibancada avistei, várias pessoas gritando e assobiando pros competidores entre eles estava Sofia.
Me aproximei da grade a chamando, ela olhou pros lados e me encontrou, acenei pra ela em vão, mas desviou o olhar enquanto Jorge a introduzia.
-Se concentra esquece que ela está aqui, ok.
-Ok.
Havia treinado algumas vezes, mas aquela adrenalina do perigo nunca surtiu tanto efeito em mim, mais ver Rafaela aqui acendeu-me ainda mais, passei a vida toda tentando provar algo pra ela, essa e a chance.
Fiquei nervosa de ver Sofia naquela moto, a corrida começou, incrivelmente ela conseguia realizar as manobras sem se machucar, na última volta ela parou do meu lado.
-Filha...
-Eu não sou sua filha!
E acelerou voltando pro seu lugar.
-Muito bem!
-Preciso de um tempo...
Fui beber água aquela roupa me deixava muito desconfortável, ao longe a observava enquanto bebia água.
Meu celular vibrou, pensei que fosse Glória, mas era Antônio estranhei e cliquei no vídeo.
Eram câmeras de segurança dos fundos de algum lugar, ao olhar nitidamente as duas pessoas na filmagem, meu corpo travou.
Derrubei a garrafinha de água e tive que me segurar pra não cair naquela hora, guardei o celular quando ele se aproximou.
-Então filha a moto está pronta.
O encarei com todo ódio naquele momento e me retirei em direção a moto, a montando.
-Última volta filha!
-Nunca me orgulhei tanto de ser uma Villela.
Ele riu.
-Do que está falando ?
-Você sabe do que estou falando, seu estuprador!
Os portões se abriram e acelerei com a moto, o mais rápido que consegui ia fechar o total de pontos com um scorpion, mas algo não estava bem nem a moto nem eu. Na última volta estava lá a rampa de dois metros de altura a alguns centímetros de mim, a moto dava pequenos engasgos quando acelerei ao máximo pra subir o suficiente ele parou.
Meus olhos estavam fixos nela e seu modo de pilotar não era mais como antes, na última volta meu coração começou a se apertar olhei pro sorriso cínico de Jorge e temi o pior, quando ela deu impulso pra subir não subiu o suficiente, vi seu corpo sendo jogado violentamente contra a rampa de terra molhada e se chocar contra a cerca.
-Sofiaaaa!!
Sai de onde estava entrando na pista todos pararam imediatamente, corri até seu corpo inconsciente jogando em meio a cerca quebrada com a força do impacto, me ajoelhei ao seu lado a chamando, seus olhos estavam semi cerrados enquanto balbuciava algumas palavras e gemia de dor.
-Por favor não fale nada filha, uma ambulância!!
Ela tocou em minha mão e olhou-me profundamente nos olhos.
-Eu... Eu sei...A verdade.... agora.
Sabia do que estava falando apenas assenti com a cabeça e a abracei, banhando seu rosto com minhas lagrimas.
-A ambulância já está chegando...
-Mãe....Minhas...costas... doem muito.
Ao ouvir isso meu coração quase parou, uma corrente elétrica passou pelo meu corpo. Olhei pros lados e Jorge não estava mais, A ambulância demorou muito por não ser um lugar de grande acesso, mas Sofia ficou comigo até eles chegarem era forte demais.
-Vai ficar tudo bem, estou com você sempre.
Entrei na ambulância com ela e seguimos pro hospital, eu rezei e pedi aos céus que não fosse o que tanto temia.
Fim do capítulo
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