Um pai de valor
Estava sentada naquela sala de espera, rezando e chorando, não me importava se estava chamando a atenção com minhas roupas sujas de terra molhada e Mato.
O médico veio ao meu encontro e me disse que a queda foi brusca, e que ela quebrou o braço e umas costelas, mas a coluna dela o incomoda.
Depois veio aquele papo de que tudo vai ficar bem, me sentei escondendo meu rosto.
Senti quando mãos a afastaram, sorri ao ver minha esposa, que me abraçou forte.
- Como isso aconteceu?
Enxugou minhas lágrimas, enquanto me olhava preocupada.
-Jorge...
Ficamos sentadas na salinha, embora não precisa -se permanecer ali.
-Deveria ir pra casa, isso é muito pro nosso garoto.
Toquei em sua barriga e ela sorriu.
-Ele ou ela e um Villela, a força está no sangue.
Glória chegou e nos encontrou na salinha, havia chegado da casa de campo. Ela se encontrava assustada e nervosa, tentamos alcalma-la, mas tudo era demais pra nós.
No final da tarde o médico me disse que ela ficará no CTI, tudo era questão de esperar, e que poderíamos ir.
-Senhora Rafaela, será que podemos conversar a sós?
-Sim.
-Esperamos no carro meu amor.
-Está bem.
Acompanhei o médico até sua sala, já sabia o que viria pela frente.
-A senhora tem muita sorte, poderia ter morrido hoje, temos que agendar a sua cirurgia.
- Eu sei da minha situação doutor, mas não posso ainda.
-A senhora corre um grande risco, pelo que vi sua esposa está grávida, e sua filha internada elas precisam da senhora.
-Era só isso?
- Não, a enfermeira vai lhe entregar os pertences da sua filha.
Ao sair esperei a enfermeira me entregar a carteira e o celular da Sofia, o aparelho vibrou em minha mão, ao deslizar os dedos notei chamadas e conversas.
Ao sair notei que eram de Antônio, ao clicar assisti o vídeo.
-Filho da puta!!
Entrei no carro tentando não deixar minha raiva transparecer, fomos direto pra casa.
Ao chegarmos Gabriela e Glória subiram, enquanto eu fui ao encontro do Antônio.
Nunca caminhei pelo corredor que levava ao seu aposento, parei diante de sua porta e bati.
Esperei um pouco até a maçaneta virar, e ficar cara a cara com um homem do qual não conhecia mais.
-Senhora...
Dei um passo a frente deixando-o encurralado.
- Eu só vou perguntar uma vez, quem é você Antônio ?
Ele me olhou assustado porém seus olhos continuaram firmes.
-A senhora sabe quem eu sou.
-Escuta aqui Antônio, minha filha está no CTI por sua culpa!! Agora só porque respeito sua idade não acabo com você.
-A menina Sofia está no hospital!? Eu...Não era pra ser assim.
-E como era ?
- Eu sempre vi a menina como minha filha, apesar de não ser o pai dela, mas não me orgulho de ser...O avô dela.
Me afastei encarando o senhor a minha frente, me sentei na cama ainda sem acreditar.
-Por que Antônio?
-Sempre tentei ser um bom pai pro Jorge, mas depois da morte da mãe dele ele mudou radicalmente. Nunca gostou de trabalhar honestamente e tentou conseguir dinheiro da maneira mais fácil, até aquela terrível noite que cheguei do trabalho e encontrei a polícia na minha casa, a vergonha e o medo tomaram conta do meu coração, ver um filho sendo preso por estupro. Ali eu percebi que havia o perdido para sempre, quando fui visita-lo na cadeia estava feliz feliz até demais apesar das surras que davam nele, me disse com ódio que iria tomar a filha quando saísse, e que a Beleza da Alma seria dele. Me disse pra me infiltrar em sua casa pra preparar o terreno concordei, mas não ia fazer do seu jeito, esses anos todos cuidei e mimei aquela menina como se fosse minha própria filha, mas só eu tinha a chance de abrir os olhos dela, agora se a senhora quiser me demitir....
- Eu não vou te demitir.
Me levantei e ficamos nos olhando.
-Me da um abraço ?
Sorrimos e nos abraçamos.
-Espero contar com você pra cuidar do Ângelo.
-Será uma honra.
Dois dias depois a polícia estava atrás do Jorge, na investigação contou que na moto havia água com açúcar no meio do combustível.
Falava com Aline e Samanta todos os dias pela vídeo chamada, Samanta estava mais esperta e um pouco crescida.
Ainda não era seguro elas voltarem ainda mais com Jorge foragido.
Passava no hospital todos os dias e nessas idas a olhava pelo vidro, parecia tão indefesa.
Ter Antônio como avô da Sofia era diferente, mas minha opinião ao seu respeito não mudou só melhorou.
Enquanto isso cuidava da minha esposa, enquanto preparava o enxoval do bebê.
-Olha esse macacão amarelinho.
-Acho que ele vai sobrar tecido.
-Deixa de ser chata Rafaela, o que você comprou ?
-Comprei carrinho com controle remoto.
-A sim, daqui a pouco vai querer dar um carro quando ele completar um ano.
-Quem sabe.
Ela ficou emburada guardava as coisas enquanto a abraçava por trás.
-Calma estou brincando minha bravinha.
-Espero que ele não puxe o seu humor.
-Espero que ele não seja...
-Não seja ?
Gabriela ergueu a sobrancelha e me encarou, apenas sorri desconversando.
Uma semana depois estava eu Gabriela e Glória no hospital, o médico me disse que ela foi pro quarto, a enfermeira veio ao nosso encontro e deixamos Glória entrar primeiro.
- Meu amor.
Glória se aproximou e me abraçou com cuidado, tinha sido uma babaca com ela.
-Parece que estraguei tudo.
- Não é hora nem momento, de tocarmos nesse assunto.
-Tudo bem, só quero que saiba que pensei nos meus erros.
-Isso é bom.
Uma hora depois ela saiu mais animada. Foi minha vez de entrar, ao entrar notei que estava mais magra e pálida.
- Como você está, filha ?
-Bem melhor...
Beijei sua testa e me sentei ao seu lado.
-Precisa comer, pra sair o mais rápido daqui.
- Não está brava comigo né?
Suspirei enquanto Sofia me olhava como um olhar infantil.
- Não, mas o que fez foi rebeldia.
-Pode ser... mas o ódio foi tão grande, que simplesmente não pensei... queria desmacara-lo na frente de todos ali, mas você ficaria uma fera falando que manchei o nome da empresa.
-Escuta, segurei em sua mão enquanto seus olhos me olhavam atentamente.
-A empresa não é tão importante assim, quanto a minha família eu te amo minha filha, se que fui uma mãe cruel, mas nunca mais quero ser aquela Rafaela de antes pra você.
- Eu te amo também mamãe, me desculpe por te fazer sofrer.
-Nos abraçamos em meio a lágrimas e soro.
-Ele está sendo procurado pela polícia, não há com que se preocupar.
- Com tanto que tenhamos você.
Fim do capítulo
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