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Pra você dar o nome por Ivy

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Palavras: 3832
Acessos: 883   |  Postado em: 09/07/2018

Notas iniciais:

 

 

 

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 1

 

ISABELA

 

"Eu sabia." Eu disse, jogando a minha mochila na cadeira de plástico branca que quase virou com o peso que eu carregava nas costas todos os dias. "Eu sabia desde o começo que eu não deveria ter deixado você me convencer dessa ideia idiota." Eu repeti as minhas primeiras palavras, fazendo questão de reforçar todas as acusações por trás delas em uma mistura de tentar fazer o meu amigo se sentir culpado e simplesmente ser o meu típico eu dramático. Mas Thiago já me conhecia há tempo demais para cair nos meus dramas baratos.

 

"Pelo amor de Lady Gaga, o que eu fiz dessa vez?" Ele respondeu, já revirando os olhos ao invocar o nome da sua cantora preferida que para ele tinha, literalmente, status de uma Deusa. E a estampa em letras brancas na sua camiseta rosa bebê do álbum Joanne que, por sinal, eu tinha dado para Thiago no seu aniversário há alguns meses atrás, não escondia o nível da adoração.

 

"Lembra da história para a minha eletiva de literatura?" Eu perguntei enquanto amarrava o meu cabelo de forma desajeitada, tentando me livrar do calor insuportável que se instalava no Rio de Janeiro todo maldito fim de ano. Mas, depois de quase sete anos naquele lugar, eu já deveria ter entendido que a Ilha do Fundão, também conhecida por ser o principal Campus da Universidade Federal Do Rio de Janeiro, era uma bolha no meio da cidade maravilhosa que possuía o seu próprio micro clima. Se estava quente no resto da cidade, aquele pequeno pedaço de terra no meio da Baía de Guanabara era o próprio inferno. O fato de que eu tinha acabado de atravessar metade do Rio no ônibus gratuito da faculdade que trazia os alunos direto de um dos outros Campi, localizado em Botafogo, não ajudava muito a minha situação de me sentir como se estivesse prestes a derreter.

 

"A história sapatão? Claro que lembro!" Thiago rebateu com uma dose exagerada de empolgação que estava prestes a começar a me irritar. Ele enterrou uma colher de plástico no copo de açaí com granola que estava comendo e revirou os olhos mais uma vez ao voltar a sua atenção para mim e reparar na minha cara de mal humorada. "O que foi? Vai me dizer que você tirou nove e meio ao invés de dez na sua eletiva, e agora a culpa é minha só porque fui eu que te convenci a escrever sobre isso?"

 

"Antes o problema fosse nota!" Eu disse, pegando a minha mochila de cima da cadeira, e a revirando com as minhas mãos para procurar a pilha de cinquenta páginas encadernadas na xerox que consistia nos cinco primeiros capítulos da tal história que tinha iniciado toda aquela discussão. "O problema é," Eu continuei, folheando a minha própria escrita até chegar na parte que eu queria encontrar. "tem alguém lendo." Eu concluí, com uma pausa dramática planejada que seria o momento perfeito para o fim do capítulo de uma novela caso a minha vida fosse uma.

 

"Mas não é esse todo o ponto da coisa?" Thiago perguntou, completamente inabalado com a minha suposta chocante revelação. Tudo que ele se deu o trabalho de fazer foi largar o copo de açaí e virar o pequeno bolo de papéis na sua direção, de forma que ele conseguisse ler o comentário escrito de caneta azul no topo da última página. O comentário que eu estava indicando com o meu dedo e que tinha gerado toda aquela crise de desespero em mim.

 

"Bem, teoricamente." Eu concordei, porque, de fato, aquela era parte de todo o ponto da coisa.  

 

"Só me lembra de novo." Ele pediu, largando o meu rascunho em cima da mesa e voltando a pegar o copo de açaí. "Qual é o lance desse trabalho mesmo?"

 

Em outra situação, talvez eu ficaria irritada de ter que explicar a mesma coisa pela milésima vez para alguém. Mas eu sabia que aquele não estava sendo o melhor momento de vida para o meu melhor amigo, que estava completamente perdido entre a crise pré formatura, também conhecida como o momento quando você finalmente percebe que a sua vida dentro da bolha universitária está chegando ao fim, e o desespero de tentar finalizar o seu TCC a tempo para colar grau ainda nesse período. Duas coisas com as quais eu já tinha lidado. Então, só me restava ter um pouco de empatia.

 

Além de tudo, paciência era uma virtude que eu precisava treinar agora que tinha decidido voltar para a UFRJ e fazer uma segunda graduação, trocando o diploma certo de engenharia pelo universo da Licenciatura. Relembrar o meu trabalho final de literatura para Thiago não era nada perto de explicar matemática para os pequenos humanos endiabrados que me esperavam dentro das salas de aula no mundo lá fora.

 

Mas, independentemente do meu futuro, Thiago merecia o melhor da minha calma. Eu queria poder dizer que os seus problemas profissionais e acadêmicos eram os únicos que ele enfrentava no momento, mas eu sabia que, para ser a cereja no topo do seu bolo de preocupações, Thiago ainda tinha que lidar constantemente com os seus pais absurdamente conservadores e religiosos que estavam começando, aos poucos, a descobrir sobre a sua sexualidade.

 

Eu observei o meu amigo em silêncio por mais alguns segundos, lembrando do dia que nós tínhamos nos conhecido na nossa primeira semana de UFRJ, perdidos no prédio do CT tentando encontrar uma sala de aula. Eu sorri inconscientemente com a memória do menino barbudo e baixo o suficiente para não ter que me obrigar a quase ter um torcicolo olhando para cima quando conversava com ele, o que era algo considerável para uma pessoa da minha ridícula estatura de um pouco mais de um metro e cinquenta. Eu lembrava de pensar que ele era filho de Libaneses ou que tinha alguma ascendência Árabe pela sua fisionomia e pelo seu tom de pele característico.

 

Os seus olhos e os seus cabelos escuros completavam a sua aparência tão bem quanto o seu rebol*do ao andar ou dançar nas baladas, e a sua boca suja que não conseguia passar mais de alguns minutos sem falar um palavrão ou uma putaria, completavam a sua personalidade.

 

"A gente precisa escrever um conto completo ou os primeiros capítulos de uma história." Eu voltei a falar, dando a explicação que ele tinha me pedido, e Thiago assentiu para mostrar que estava ouvindo enquanto pegava o telefone e verificava alguma coisa.

 

"Para começo de conversa, com tanta eletiva mamata para preencher currículo nessa faculdade, por que você foi justamente escolher uma de escrita criativa?" Ele perguntou, levantando os seus olhos da tela do celular para me encarar. "Ainda mais sendo aluna de matemática. Pelo amor de Deus, Isabela. Não é possível que seis anos dentro desse lugar não te ensinaram nada." Ele continuou, tomando mais um gole do açaí. "Prioridades. Você precisa aprender a ter prioridades. Quanto menos trabalho em eletiva melhor, porque as matérias obrigatórias, os estágios e o TCC já dão dor de cabeça o suficiente."

 

"Dá para você me deixar ser o meu eu indiezinha-artista-escritora-dramática?" Eu perguntei em tom de brincadeira, o que me rendeu mais uma típica revirada de olhos de Thiago. Ele pegou o celular pela segunda vez, abriu o que parecia ser uma conversa pelo pouco que eu conseguia distinguir de longe, e soltou uma pequena risada.

 

"Alguém está de bom humor." Eu notei, sem fazer a menor questão de esconder a pergunta subentendida na minha frase. Nós dois já tínhamos intimidade demais para nos preocuparmos com essas sutilezas desnecessárias.

 

"Ah, é só um boy." Ele respondeu, dando de ombros.

 

"Qual deles dessa vez?" Eu disse, já começando a passar mentalmente a lista de todos os infinitos contatinhos que Thiago arrumava em mil aplicativos diferentes, acrescentando os que sempre iam e voltavam, os amigos de amigos, e os que ele conhecia nas festas durante o fim de semana.

 

"Esse é novo. Você não sabe dele ainda." Eu soltei um suspiro aliviado por não ter que acessar a minha memória externa para buscar a história compatível com qualquer nome supostamente conhecido que ele soltasse, mas já desesperada por ter que gravar mais coisas sobre um novo pretendente. "Mas dá para você focar na sua história primeiro?" Ele perguntou, largando o telefone e empurrando o copo de açaí para mim. O recipiente deslizou na mesa branca de plástico, deixando um rastro da água que escorria pelas suas alterais na sua superfície.

 

"Continuando," Eu disse, roubando a colherada do doce que Thiago indiretamente me ofereceu. "A gente precisava escrever essa história e entregar um novo capítulo ou um novo trecho por semana durante a segunda metade do período inteira. E até ai tudo bem, eu comecei a escrever a história do jeito que você disse justamente por saber que só a professora iria ler."

 

"A história sapatão?" Thiago perguntou, mais para me irritar do que para confirmar qualquer coisa.

 

"O problema é que semana passada a professora inventou que também quer que nós tenhamos a oportunidade de julgar o trabalho dos nossos colegas." Eu continuei, ignorando o comentário do meu amigo. "Então, ela entregou uma cópia de uma das histórias escritas pelos alunos para cada um de nós, e agora nós vamos ser responsáveis por ler e fazer algo entre uma crítica construtiva e uma resenha sempre que a pessoa pela qual nós ficamos responsáveis escrever algo novo."

 

"E a história que você pegou para ler não é boa?" Thiago tentou mais uma vez.

 

"Antes fosse isso!" Eu comecei a ficar impaciente com a lerdeza do meu amigo.

 

"De quem é?" Ele insistiu, pegando o celular de cima da mesa mais uma vez, mas eu fui mais rápida e arranquei o aparelho da sua mão, decidida a não perder a sua atenção.

 

"Não importa! E eu não sei! A gente não sabe o nome da pessoa que está escrevendo a história que estamos lendo! A distribuição foi anônima. Segundo a nossa professora, ela quer opiniões e críticas imparciais." Eu expliquei, começando a me irritar com não conseguir chegar no ponto principal da conversa. "O problema é que tem alguém lendo a minha história!" Eu puxei o bolo de folhas encadernado de volta para o centro da mesa e bati com o meu indicador no comentário escrito a caneta na última página.

 

"Agora a gente precisa deixar uma parte nova da nossa história em um armário no fundo da sala toda semana, e cada pessoa pega o material que foi sorteado para ler para atualizar a resenha de acordo com o desenvolvimento do enredo." Eu continuei explicando, mas Thiago continuava me encarando como se não estivesse entendendo todo o meu desespero.

 

"E?" Ele perguntou vagamente, confirmando a minha teoria de que ele não fazia a menor ideia do motivo da minha crise.

 

"E eu recebi o primeiro feedback do meu editor anônimo hoje." Eu rebati. "Eu peguei de volta no armário a cópia que eu tinha deixado na semana passada, e tinha isso." Eu insisti, apontando para o comentário em azul pela milésima vez. O comentário que eu já tinha lido tantas vezes que já tinha decorado cada palavra.

 

Adorei a história, principalmente a escolha do enredo e as personagens principais. Você escreve bem, bem de verdade. Em um nível que é difícil encontrar em autores amadores por aí. Você conseguiu me prender desde o início com o seu jeito de escrever, mas em alguns momentos você acaba se estendendo demais em detalhes que poderiam ser ditos mais rapidamente e de uma forma mais dinâmica. Acho que essa é a minha principal crítica, mas não leve a mal. Você realmente tem um potencial e acredite, já li muitas histórias amadoras com temática lésbica pela internet. Essa conseguiu entrar no top das melhores que eu já encontrei por aí.

 

Mal posso esperar para pegar o próximo capítulo na semana que vem.

 

PS: um último detalhe. Você deveria trabalhar um pouco mais as suas cenas de sex*. Transar é normal, todo mundo faz. Você passa voada por essas partes da história como se estivesse com medo de dar detalhes demais.

 

Deveria aproveitar.

 

E só para constar. "Respiração pesada" no meio da trans*, no meu mundo, se chama gemido. Pode usar a palavra certa sem eufemismos. Afinal, gem*r no sex* é fundamental ;D

 

"Melhor crítica que eu já li na minha vida!" Thiago disse ao terminar de ler, soltando praticamente um berro e começando a rir histericamente. "Gem*r é fundamental. Essa garota é genial, Isabela! E pelo que eu conheço de você, as suas cenas de sex* realmente devem ser uma merd*."

 

"Eu não sei por que eu tive esperanças de você me dizer algo útil." Eu reclamei, a minha paciência finalmente chegando ao fim, enquanto me levantava e pegava a minha mochila da cadeira.

 

"Para com isso, vai." Thiago me segurou pelo meu braço, me impedindo de ir embora, mas fazendo absolutamente nenhum esforço para parar de rir. "Eu só estou dizendo que você nunca fez e ainda é toda certinha. Você não deve ter lá o melhor imaginário para sex*, Isabela. Ainda mais para descrever." Eu revirei os meus olhos com insistência dele, mas Thiago percebeu que eu estava começando a ficar realmente irritada.

 

"Senta e me fala qual é o problema de verdade." Ele tentou de novo, tentando colocar uma expressão um pouco mais séria no seu rosto, mas ainda deixando escapar algumas risadinhas entre os seus lábios.

 

"O problema é que tem alguém lendo a minha história. A história que eu escrevo abertamente sobre meninas que gostam de meninas e sobre como eu me sinto sobre isso tudo e o meu próprio processo de autodescoberta." Eu parei, sentindo os meus olhos queimarem com as lágrimas de estresse que ameaçavam começar a escorrer. "O problema é que alguém naquela sala sabe de mim agora."

 

"Bel." Thiago disse, soltando um suspiro. "Não é porque você está escrevendo uma história lésbica que isso te transforma automaticamente em uma. Quantas histórias LGBT já foram escritas por pessoas cis e heteros?"

 

"Por isso que a maioria delas é uma grande merd*." Eu critiquei, solando uma risada e conseguindo relaxar um pouco.

 

"Além disso, você mesma disse. A leitura é anônima. Não tem como ninguém saber que é você quem está escrevendo." Thiago tentou me acalmar.

 

"Mas e se descobrirem?" Eu insisti, porque era isso que eu fazia. Eu sempre pensava na pior hipótese possível.

 

"Como vão descobrir?" Ele perguntou e o meu silêncio disse automaticamente que eu não tinha uma resposta para essa pergunta. "Exatamente." Thiago pontuou. Ele pegou o copo de açaí mais uma vez e começou a raspar o fundo da mistura de granola, calda de morando e a fruta batida com guaraná e banana. "Agora, fala a verdade, você não está nem um pouco curiosa para saber quem é essa garota que está lendo?"

 

"Você não sabe se é uma garota." Eu respondi.

 

"Isabela, pelo amor de Lady Gaga." Thiago exclamou, sacudindo a colher de plástico no ar. "Quem fala que já leu várias histórias lésbias na internet? Além disso, isso é letra de mulher." Ele disse, apontando para o comentário escrito a caneta em uma letra pequena, fina, bem desenhada de uma forma elegante e, de certa forma, um pouco...sexy.

 

Mas no mesmo momento eu me repreendi por descrever a letra de alguém como sexy.

 

Aquilo já era demais.

 

 "E o mais importante, ela claramente está aproveitando da resenha para dar em cima de você." Thiago concluiu como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.

 

"Thiago, claro que não!" Eu rebati na mesma hora, porque de todas as coisas que ele tinha dito hoje, aquela com certeza era a mais absurda. "Por que uma pessoa completamente aleatória daria em cima de mim por causa de uma história idiota?"

 

"Primeiro, lésbicas. Na primeira oportunidade vocês já estão casando. Dar em cima não é nada perto disso." Thiago explicou a sua lógica, e bem, ele tinha um ponto. "Segundo, você de fato escreve de um jeito envolvente, Bel. Eu teria interesse em você se começasse a ler algo seu."

 

"Isso foi um elogio?" Eu perguntei, levantando as sobrancelhas em surpresa.

 

"Talvez." Thiago não cedeu, colocando a última colherada de açaí na boca e me lançando um sorriso com os seus dentes machados de roxo. "Mas foco. Como a gente vai fazer para descobrir quem é essa menina que está lendo a história?"

 

"Eu nem sei se eu quero saber, Thiago." Eu respondi resmungando, mas claro que falar aquilo e nada era a mesma coisa.

 

"Claro que quer! Agora a gente só precisa saber como fazer isso." Thiago insistiu e começou a traçar mil planos diferentes em voz alta sobre como podíamos dar um jeito para descobrir quem era a tal menina que fazia tanta questão de gemidos no meio do sex*. Mas eu me parei de prestar atenção alguns segundos depois. Os meus dedos automaticamente deslizaram pela folha de papel, por cima da tinta coloria, e parando na carinha piscando no fim da mensagem, sorrindo para mim como alguma piada de mau gosto do destino.

 

Talvez Thiago tivesse razão. Talvez, eu realmente quisesse saber quem era ela, e só não queria admitir. Eu pensei, sentindo o meu coração perder um pouco o ritmo das batidas com a perspectiva de conhecer alguém como eu que estava tão próxima, de uma forma tão assustadora.

 

De uma forma que fazia tudo parecer tão mais real.

 

***

 

AURORA

 

A: VIADA, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR.

 

L: Uai, o que aconteceu?

 

Eu me joguei na minha cama, ainda vestindo a calça cor de vinho, a regata preta e as minhas botas da mesma cor que eu tinha usado para ir para a faculdade. Os meus olhos se reviraram automaticamente com a gíria de Laura que entregava a uns cem quilômetros de distância para qualquer um que ela era mineira.

 

A nossa amizade tinha começado pela internet, anos antes, quando amigos virtuais ainda se conheciam por comunidades do Orkut. Naquela época, nós duas gostávamos das mesmas coisas; mulheres e RBD. Ou seja, o suficiente para sedimentar o início de uma amizade. Perdidas entre viver com a consciência de ser diferente do padrão e gostar de meninas, nós nos encontramos no submundo virtual que é o universo lésbico na internet.

 

Ela do interior de Minas, carregada de sotaque, vivendo e trabalhando em uma cidade que provavelmente tinha a mesma quantidade de habitantes que a Tijuca, o bairro onde eu morava. E eu do coração do Rio de Janeiro, uma das pessoas que mais amava ser daquela cidade e morar naquela cidade. A carioca que puxava todos os S possíveis e impossíveis. A garota que mais amava ser de uma cidade grande e poder viver tudo que o dinamismo de um lugar como o Rio oferecia. Nós não podíamos ser mais diferentes uma da outra. Laura e eu nos víamos, com sorte, uma ou duas vezes por ano. Mas, ela continuava sendo a pessoa para quem eu corria quando precisava contar alguma coisa.

 

Principalmente quando envolvia o mundo sapatão.

 

A: TEM ALGUÉM ESCREVENDO UMA HISTÓRIA SAPATÃO NA MINHA AULA DE LITERATURA.

 

L: É O QUE? ME CONTA ISSO? POR QUE A GENTE ESTÁ GRITANDO.

 

A: PORQUE A HISTÓRIA É FODA, A GAROTA ESCREVE BEM PARA CARALHO, E ESSE

MOMENTO É MUITO MEU.

 

L: Acalma esse cu e me conta essa história direito.

 

A: Lembra do meu projeto de literatura? Aquele que eu tinha que escrever um conto ou o pedaço de uma história ao longo dos dois últimos meses do período.

 

L: Sim.

 

A: Então, a professora decidiu mudar um pouco as coisas. Ela disse que além de escrever, também queria que a gente fizesse uma crítica ou resenha sobre o trabalho de algum dos nossos colegas. Então, ela entregou uma história para cada pessoa ler, mas omitindo o nome do autor para garantir a imparcialidade dos feedbacks.

 

L: E você pegou uma história sapatão?

 

A: PORQUE SAPATÃO SE ATRAI, VIADA. A DEUSA LÁ EM CIMA SABE COMO TRABALHAR.

 

L: EU ESTOU BERRANDO. COMO É A HISTÓRIA?

 

A: Todo aquele clichezão de menina se descobrindo, primeira paixão por uma menina, primeiro beijo, drama com família, blablabla. Mas é um clichê usado de uma forma diferente. Não sei explicar. É clichê mas é original, bem escrito. E EU PRECISO SABER COMO VAI ACABAR.

 

L: Uai, mas você não leu tudo?

 

A: NÃO, PORQUE AINDA FALTA UM MÊS E MEIO PARA O SEMESTRE ACABAR E AGORA EU TENHO QUE ESPERAR CADA SEMANA PARA A MENINA ESCRVER UM CAPÍTULO NOVO E CONTINUAR A MINHA CRÍTICA.

 

L: Quase igual a ler fanfic na internet.

 

A: EXATAMENTE. VOCÊ ENTENDE O MEU DESESPERO? EU NÃO COMEÇO A LER FANFIC NÃO TERMINADA JUSTAMENTE PARA EVITAR ESSE TIPO DE SOFRIMENTO.

 

L: Uai, chega na menina e pergunta para ela sobre a história.

 

A: Qual parte do é anônimo e eu não sei quem está escrevendo que você não entendeu?

 

L: Usa o seu gaydar, viada. Não é possível que você não consiga identificar a sapatão da sala.

 

A: Tem duas meninas, talvez três, que eu acho que são.

 

L: Então, pergunta para elas.

 

A: Mas e se elas não forem?

 

L: Não deixa o gêmeos do mapa atacar agora, amiga. Você quer saber ou não quer?

 

A: EU NÃO SEI. E SE ACABAR COM A MAGIA DA COISA?

 

A: LAURA, E SE FOR MACHO COM FETICHE ESCREVENDO HISTÓRIA SAPATÃO?

 

A: MEU DEUS. DEVE SER MACHO COM FETICHE.

 

L: PORRA, AURORA! NÃO! AGORA EU PRECISO SABER TAMBÉM!

 

A: COMO EU VOU DESCOBRIR?

 

L: Pergunta para as que você acha que são.

 

A: Mas sério, e se perder a magia?

 

L: Que magia, mulher?

 

A: A magia, sabe? O mistério. A possibilidade de ser pessoas diferentes, com personalidades diferentes. E se eu descobrir quem é e for...sei lá, decepcionante?

 

L: Você por acaso está interessada nessa garota, Aurora?

 

A: O QUE? CLARO QUE NÃO.

 

A: Me respeita garota, depois da satanás eu não quero me envolver com ninguém tão cedo. Preciso de uns três anos para tomar coragem de sequer pensar em ter interesse em alguém.

 

L: Dramática.

 

A: Eu estou falando sério, e você sabe disso.

 

L: Eu sei. Então, zero interesse?

 

A: Zero interesse. Só curiosidade e uma vontade descontrolada de poder perturbar alguém pedindo um capítulo novo.

 

L: Vou dar print nessa conversa caso seja necessário usar contra você no futuro.

 

A: Não será. Eu juro que não será.

 

Fim do capítulo


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