A Italiana por Sam King
CapÃtulo 1 - A Viagem
Navio no meio do oceano Atlântico, ano de 1900.
O cheiro a acordou antes do barulho de crianças chorando e velhos tossindo, o ar é rançoso e fétido, não tinha como ser diferente ,onde quase 300 pessoas ocupam o mesmo espaço sem tomar banho há dias. E ainda assim Amélia não reclamou de nada, nem do seu minúsculo pedaço de chão que ocupava na terceira classe, nem do lençol que está tão rasgado que não a protege do frio da noite, nem do rato que passa correndo nesse instante. Amélia Di Angeli não reclamaria de mais nada, pois está indo para as terras brasileiras, onde ela poderia trabalhar e no final do dia teria comida na sua mesa. Vira as costas para a massa de pessoas que tinha as mesma esperanças que ela e seus pensamentos voltaram para onde tudo começara.
Amélia é órfã, morava com mais algumas dezenas de jovens no orfanato La Casa del Signore no pequeno vilarejo que ficava em Vêneto, distribuía na praça com as outras jovens verduras que elas cultivavam, para as pessoas que não tinha nada, ter um verdura para colocar na sopa de água é muito. As guerras haviam devastado a Itália, e atingiu principalmente os agricultores, as pessoas passavam fome e o governo não tinha como ajudar. Mesmo Amélia tendo a proteção do orfanato, as vezes dormia apenas com uma refeição na barriga. Então seu mundo começou a mudar quando aquele homem, muito bem vestido, e com uma leve pança, o que para muitos representava fartura, começou a discursar no meio da praça com um sotaque que ela não reconhecia sobre terras magnificas e férteis, e sem mão de obra para trabalhar, no auge dos seus 16 anos, Amélia sentiu esperança.
Perguntaram então onde ficava esse milagre, e o homem respondera:
- fica meus caros, lá do outro lado do mundo, em uma lugar chamado Brasil, e para quem tem força de vontade e saúde, pode-se pegar um pedacinho dessa terra e faze-la sua.
Alguns outros desconfiados, como não, quem seria aquele homem que se atrapalhava com o dialeto dizendo trazer soluções tão fáceis para seus problemas:
- e como vamos poder comprar essas terras senhor? Se não temos nem o que colocar na boca de nossos filhos? Isso é alguma trapaça?
O homem olhou ao redor, e o que viu foi o cansaço e a fome estampada nos rostos daquela gente, falou firme olhando dentro dos olhos de quantos pode, inclusive de Amélia:
- lá haverá trabalho que pagará bem, e quando os senhores conseguirem juntar o dinheiro, a terra estará lá esperando para ser cultivada. Hoje ficarei o dia todo na estalagem Osteria, estarei à disposição para responder as questões de todos.
Amélia sorrira, talvez pudesse finalmente sair daquele lugar, onde não tinha nada e nem ninguém.
Fugira no começo da noite, depois que as Irmãs rezaram o ultimo pai nosso, com uma capa cobrindo metade do rosto foi direto para a estalagem. Havia muitas pessoas reunidas no salão, o homem respondia todas as perguntas. Amélia descobrira que as despesas da viagem seria todas pagas, mas que quando chegassem no Brasil teriam que devolver, mas que não seria problema, pois eles iriam já com trabalhos garantidos. Que nessa terra de esperança acontecera a libertação dos escravos alguns anos atrás e que muitos fazendeiros ficaram sem mão de obras, e então o governo autorizou a buscarem em outros países. Nessa parte Amélia ficou confusa, não entendera muito bem o que era escravidão, mas parecia ser algo ruim, e pensou porque o governo desse país não contratava sua própria gente para trabalhar. Ninguém fizera aquela pergunta e ela também não teve coragem.
O homem que se chamava senhor Silva, explicou que quem quisesse ir para o Brasil, teria que se apresentar no máximo em dez dias no porto, de lá que sairia o navio para o outro lado do oceano. E mesmo tecnicamente ainda ser uma tutelada do governo, Amélia juntou seus poucos pertences em um saco e partiu com a metade do vilarejo , as freiras não a impediram, apenas lhe desejaram buona fortuna.
Foram quase 5 dias andando de a pé, infelizmente houveram baixas, e dos 107 italianos que saíram do povoado, um pouco mais 70 conseguiram chegar ao porto.
E agora ela estava ali, deitada no seu pedacinho de chão, mas sonhando com prados verdes.
Brasil,Caxias do Sul, Vinhedo Bella Vista, ano de 1900.
Ela aperta mais o cobertor sobre os ombros, a manhã estava muito fria e enevoada, havia geado aquela noite e ficou preocupada com a plantação. Sabia que se seu pai a visse àquela hora andando feito um espírito no meio das parreiras, com certeza seria castigada. Mas Clarisse Ana Tavares Oliveira tinha verdadeira paixão por aquelas uvas.
Caminhou entre as parreiras carregadas, respirou o ar puro e cítrico que exalam, uvas vermelhas e suculentas, que iriam ser colhidas e logo estariam sendo esmagadas e virando vinho, para o sustento de tantos. Havia também na fazenda cultivo da uva verde, que era mais para a venda das frutas e algumas cabeças de gado. Seu pai sempre fora um homem empreendedor, e com a morte do seu avó, resolveu diversificar mais, mas o vinho que sua família produzia há mais de cem anos ainda é o carro chefe da fazenda.
Não que pudesse dizer alguém que sabia de tudo isso, para a família de Clarisse , ela não passava de uma moça de 16 anos com complexos. Isso porque raramente ela aparecia na sociedade, nascera com um sinal negro que cobria boa parte do lado direito do seu rosto. Fora incutido desde de nova que aquilo era um defeito horrível, que nem se casaria, Clarisse acreditara que era uma espécie de monstro por boa parte da vida. Mas sua ama Cacau disse que todas as pessoas tem beleza, assim como ela, e que o sinal fazia parte de quem ela era e sendo assim também é belo. Desde esse dia, Clarisse tenta se tornar mais sociável, apesar de sempre despertar os olhares curiosos quando tocava piano nos saraus que sua família proporcionava para alta sociedade de Caxias.
Correu para o casarão, assim que avistou os primeiros trabalhadores surgirem nas plantações. Na cozinha está Chica, a cozinheira da casa e antes dela, era sua mãe que vergonhosamente fora escrava na fazenda da sua família. Clarisse ainda era muito jovem quando ainda existia escravidão, por isso muito do que sabia era apenas as histórias que sua ama e alguns negros que viviam com eles contavam , ainda assim sentiria vergonha pelo resto da vida, por sua família ter sido adepta a escravidão. Por isso sempre tratava todos iguais. Chica lhe deu um sorriso e disse com sua voz grossa:
- sinhazinha ta toda molhada do sereno, anda senta aqui perto do fogo que vou fazer um chimarrão.
- obrigada Chica.
Clarisse dispensou a coberta e fez como a cozinheira falou, sentou próximo do forno de lenha que ficava no fogão da gigantesca cozinha. Logo a moça de sorriso fácil lhe serviu o chimarrão e uma broa de milho que tinha acabado de tirar do forno. Clarisse comeu com gosto, amava a comida de Chica e tinha nela uma amiga também, já que é apenas 4 anos mais velha. Brincaram bastante quando criança, de costas Chica diz:
- a sinhazinha está sabendo que Senhor Silva está "vortando" com uns mil Italianos?
Clarisse sorri do exagero de Chica, que tinha certa véia dramática:
- estou sim, mas são apenas umas dezenas que vem para cá, papai falou que a maioria será levando para São Paulo, disse que eles estão precisando mais que nós.
- verdade sinhazinha?
Chica a encara e Clarisse aquiesce e continua:
- e sim, dizem que as fazendas cafeeiras estão praticamente sem ninguém para trabalhar nelas, que todos os escravos libertos foram embora.
- acho que se tivesse coragem também me ia embora, para longe de tanto sofrimento.
Elas se encaram constrangidas, as vezes a cozinheira se esquecia que ela é a filha dos senhores , mas para Chica, Clarisse é apenas sua amiga. Ela volta- se para suas panelas e diz tentando quebrar o clima:
- isso aqui vai ficar interessante sinhazinha. Agora já "temo" todos esses "alemão" falando essa língua dura, e vai vim os italianos, como será a língua deles?
Clarisse oferece a cuia do seu chimarrão para Chica e se levanta, diz brincando:
- a língua italiana e conhecida como a língua do amor, foi o que li em um livro uma vez.
Chica dá uma risadinha encabulada e sorve o chimarrão, enquanto Clarisse sobe para seus aposentos para começar mais um dia na sua vida.
Fim do capítulo
ola,
Tem muitos fatos historicos na estória, mas peço aqui a licença poetica para quando eu fugir um pouco desses fatos,
Abraços :).
Comentar este capítulo:
perolams
Em: 28/09/2018
Esperava alguma coisa do embuste, mesmo assim fiquei chocada com tamanha maldade. Acredito que a vida de Clarisse vá virar um inferno agora.
Doramélia é real!! Shipo muito, espero que a Italianinha encontre um pouco de felicidade, que já tá bom de sofrimento.
Resposta do autor:
ola,
Ah...esse embuste ainda vai aprontar hein..
Qnt a Doramelia...sera q rola?! hahahah
Grande abços
[Faça o login para poder comentar]
perolams
Em: 12/09/2018
Ola moça, tudo bom? Espero que sim. Já tô com saudade de passar raiva com dona Bernadete, torcendo pra tua inspiração voltar logo.
Resposta do autor:
olá,
Antes de mais nada qro me desculpar pela demora..realmente estou com um bloqueio para continuar a estoria..ms não se preocupe... eu vou sim finaliza-la!
só peço um pouquinho mais de paciência ...hahaha
Logo mais terá mais aventuras dessas gurias!
Grande Abraço!
[Faça o login para poder comentar]
Endless
Em: 08/07/2018
Olá, autora!
Bem vinda de volta! Primeiro capítulo é sempre cartão de visita. Li ontem mesmo, mas pelo celular, e eu simplesmente não consigo comentar do celular!Rsrsrsrs! Sinto falta do meu velho teclado. Mas, vamos ao que interessa. Boa proposta. Não se preocupe muito com detalhes históricos, pois quem lê ficção entende que as "licenças poéticas" foram feitas para nos fazer viajar na maionese e são as melhores viagens!Rsrsrrs!
Por hora é só. Boa sorte!
Resposta do autor:
Ola,
Hahaha e não que vivo mesmo viajando na maiosene!
Espero que voce goste bastante, e quero te dizer que eu ouvi seu conselho , escrever com mais paciência.. Mas ta dificil..hahaha!
Grande Abraço!
[Faça o login para poder comentar]
perolams
Em: 08/07/2018
Interessante, não me lembro de ter lido alguma história com essa proposta antes, gostei.
Resposta do autor:
ola,
E muito bom ter voce aqui me acompanhado novamente, espero que minha estoria te surpreenda, não nego que esta sendo um desafio!
abraços
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]