Capítulo 31
– Quero voltar pra casa. Foi a primeira coisa que Luana ouviu na manhã seguinte, ao acordar e perceber que a mulher estava debruçada a seu lado, olhando-a.
– Bom dia...
– Bom dia. Alguns segundos depois, repetiu – Quero voltar pra casa.
– Aconteceu alguma coisa, amor? Perguntou, estranhado a repentina vontade da mulher de interromper a viagem.
– Não, só quero ir pra casa e organizar a nossa vida de novo... Já gastamos de mais e já nos divertimos. Quero voltar para casa, começar a procurar outro lugar para morarmos... e depois, quero lhe pedir uma coisa...
– O que quer?
– Quando tivermos achado a casa nova conto. Mas podemos voltar pra São Paulo?
– Claro, amor... vamos, vamos comprar as passagens e devolver o carro na locadora. Aqui em Madri deve haver uma filial, para que possamos deixá-lo.
– Tem. Já verifiquei mais cedo, quando acordei. E ainda há lugares no voo de hoje a noite. Só estava esperando que acordasse para ter certeza que não ficaria chateada de voltarmos daqui.
– Amor, sabe que tudo que quero é estar com você, aqui, em São Paulo, ou em qualquer outro lugar. Nada mais me prende a lugar nenhum, além de você. Se quiser, até mudar de São Paulo não me importo... como você mesma disse anos atrás, posso escrever em qualquer lugar, assim como você pode trabalhar.
– Amor, não diz isso que já fico desejando sair de São Paulo...
– Se quiser, nada nos impede...
– Mesmo?
– Sim... basta resolver para onde quer ir...
– Amor, seria bom de mais se pudéssemos morar em Brasília... Adorei a zona em que Tina mora... parece tão tranquila... e se tem contato com a natureza, bem diferente de São Paulo... e eu teria muitos trabalhos lá também.
– ... Bom, nunca tinha considerado Brasília, mas... é uma cidade bonita, tem tudo que encontramos em São Paulo, parece menos violenta...tem Tina e Flávia...acho que pode ser uma boa opção... Teríamos que procurar uma casa num dos Lagos...
– Seria maravilhoso, amor.
Luana reconheceu nos olhos da mulher o tom esverdeado que conhecia muito bem, então resolveu cumprir a promessa que fizera a si mesma, fazê-la feliz.
– Então está decidido... Vamos fazer as malas e ir direto pra Brasília procurar uma casa pra comprar... Depois pensamos na mudança... vou colocar a casa em Campos do Jordão à venda, porque só fomos uma vez lá nos últimos anos.
– Sério, amor?
– Hum, hum. Mas antes me dê um beijo...
Beijaram-se algum tempo, antes que Camille pulasse para fora da cama e, como criança com brinquedo novo, começasse a fazer as malas.
– Vou ligar pra Tina...
– Ela pode nos ajudar a procurar uma casa...
– Sim.
Tina pareceu tão feliz quanto Camille, quando Luana lhe deu a notícia de que chegariam a Brasília no dia seguinte e começariam a procurar uma nova casa para mudarem-se.
– Flávia pode ajudar também, ela conhece melhor que eu a região dos Lagos... Com certeza acharemos algo bem legal pra vocês... Vai ser ótimo ter minhas amigas por perto.
Tina e a mulher iriam buscá-las no aeroporto, e ficariam hospedadas com elas até encontrarem um lugar com potencial.
Como o voo era no final da tarde, o casal, depois do desjejum e de ter arrumado as malas, foi fazer compras na capital espanhola, pois queria comprar presentes para o casal de amigas que iria recebê-las.
Para Tina compraram um sapato e uma bolsa na Dolce & Gabbana, e no Empório Armani, para Flávia, encontraram uma bolsa em estilo mais clássico e um lenço em seda mista, em tons de cinza.
Quatro dias depois de terem desembarcado em Brasília, Flavia encontrara uma casa há poucas quadras da delas por um preço relativamente bom, com quase tanto espaço quanto a sua própria. Também com vista privilegiada para o Lago Paranoá, e que poderia, com o tempo, sofrer boa reforma, caso resolvessem mudar as linhas de sua fachada, de estilo contemporâneo clássico.
Em excelentes condições, a residência abrigava duas amplas salas, uma sala conjugada que poderia ser transformada em estúdio ou sala de leitura, três suítes, uma cozinha grande, banheiro social, dependência de empregados, lavanderia e garagem para dois carros.
Uma piscina, cercada, logo ao lado de um pergolado, integrado a uma edícula. Canil e um jardim maravilhoso, com árvores frutíferas e flores típicas da região, além de muito espaço para ampliações, caso o desejassem.
– Amor, adorei a casa, mas achei o preço exorbitante... Não quero investir tudo que tenho na casa... Tenho outros planos... quero encontrar uma boa casa, mas preciso deixar uma reserva guardada, pretendo passar um tempo sem trabalhar no próximo ano.
– Camille, posso comprar a casa sozinha... sabe que eu não estaria pensando em comprar algo contando com as suas economias.
– Já tivemos uma discussão dessas no passado... não vamos tê-la de novo. Sabe bem que faço questão de que moremos em algo comprado em conjunto.
– Tá, amor...mas me deixa ao menos pagar a maior parte... não nos fará falta.
– Não.
– Amor, quero essa casa, se vamos mudar para Brasília.
– Não precisamos de um casa tão grande...
– Camille, agora sou eu quem não vai aceitar negociações. Vou comprar a casa e fim. Não vamos encontrar nada melhor por esse preço... Depois, podemos também vender o apartamento em São Paulo. Podemos pensar em comprar um menor, para quando tivermos de estar lá.
– Mas, amor...
– Camille!
– Oh, teimosia... Tá bem, mas depois não reclame se tiver de me sustentar até que vendamos o apartamento...
– Amor, vamos fazer diferente... Quando vendermos o apartamento, você me repassa a sua parte...
– Não. Não vou mudar pra cá se a casa for só sua...
– Amor, a casa será nossa. Estamos fazendo um negócio. Desconto da sua parte do apartamento.
– Então pago vinte e cinco por cento agora, e a outra metade você desconta da venda do apartamento. Não quero colocar a casa da mamãe à venda.
– Jamais permitiria isso, tenho dinheiro aplicado.
– Ok, então... pode fechar o negócio. Vá com a Flávia resolver, que quero ficar e conversar com a Tina. Pediu. enlaçando o pescoço da mulher.
– Será que Flávia ainda não saiu?
– Não, ela disse que a esperaria para saírem juntas... parece que ela também quer conversar alguma coisa com você.
– Vou procurá-la, então.
– Hum, hum. E se encontrar Tina pela casa, peça que suba se puder, para conversarmos.
– Está bem, estou indo...
– Ei, espera... vou te dar o cheque...
– Não vamos pagar hoje... só vamos acertar para fechar o contrato.
– Sei, mas você já o leva para depositar na sua conta.
Sabendo que o assunto não permitiria mais argumentos, resignou-se.
– Tem certeza de que quer fazer isso, Cam? Sabe que é algo sem volta... Vai mudar toda sua vida, e a vida de vocês.
– Tenho Tina, pensei muito antes... agora só falta conversar com Luana. Se ela concordar, dentro de alguns meses vou procurar os meios existentes...
– Ai, Cam... você é realmente corajosa... Já pensei nisso algumas vezes, mas nunca me animo a conversar sobre o assunto com Flávia.
– Tina, Luana e eu já vivemos todos os altos e baixos possíveis... sei que agora aprendemos... sei que não há mais volta, que ficaremos juntas, então, acredito que não seja uma decisão tão radical assim.
– Não sei, amiga... continuo achando que é muita coragem... acho que sou egoísta demais para algo assim, embora já tenha mudado muito depois de Flávia e também creia que nosso relacionamento será duradouro.
– Só vou pedir que não comente nada com Luana antes que eu conseguir conversar com ela.
– Nem precisava pedir, Cam. Esse assunto é só de vocês duas. É uma decisão muito séria para ser assunto de uma conversa entre amigas.
– Obrigada, Tina...
– Admiro muito você, Cam.
– Também admiro você.
As mulheres se abraçaram, antes de mudarem de assunto.
Fim do capítulo
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