Depois da lavação de roupa suja, a festa continuou...
Capítulo 80. Eu sempre vou te amar.
-- Mas o que trás o nobre amigo em minha casa?
-- A sua filha e o meu neto! – ela foi hoje até o presídio e encontrou o meu neto, os dois ficaram conversando e o Carlinhos perguntou sobre você. Então a Marcia deu o endereço e pediu que nós viessemos aqui. Por isso eu vim seu velho carcamano. E você Carlota tudo bem? – Ainda aguentando essa mala do Giuseppe?
Todos começaram a dar risada sobre o que Teixeira falava para o velho coronel. Marcelo era quem mais se divertia. Gabriel olhou para a avó e perguntou:
-- Vovó a senhora coloca roupa no vovô?
Andressa estranhou a pergunta do filho e falou:
-- Filho porque você está perguntando isso para a sua avó?
O menino com cara de matreiro respondeu:
-- Porque ele chamou o vovô de mala. Falou apontando para o coronel Teixeira que riu com a simplicidade do menino. Márcia por sua vez tratou de explicar ao filho o porquê do coronel ter se expressado daquela forma.
-- Ah entendi. Desculpa vovô. Disse para o velho.
-- Não se preocupe Gabriel. Falou Gênova. – Isso é normal na sua idade e você terá muito tempo para aprender as coisas, assim como seus irmãos.
Logo os dois já estavam conversando e muitas coisas foram lembradas pelos dois coronéis. Raimundo e Vaz Amorim também participavam enquanto as respectivas esposas conversavam entre si. Foi Celina sob o olhar atento das mães quem perguntou para o avô:
-- Vovô Giuseppe, como o senhor conheceu a vovó Carlota?
O velho olhou com carinho para a neta e perguntou se ela e os irmãos gostariam mesmo de saber.
-- Eu quero vovô. Adiantou-se Gabriel seguidos dos outros.
-- Pois bem vamos todos até a varanda que eu vou contar como eu conheci essa mulher maravilhosa que é a avó de vocês.
Cada um se ajeitou em um lugar e Andressa como sempre estava sentada no colo de Márcia.
-- Meus filhos, netos, genros, noras, bisnetos e bisnetas. Eu era um jovem aspirante a oficial quando conheci a Carlota. O meu pai coronel Genaro Mantovanni que havia lutado na revolução de 1932, naquela época já fazia parte do Regimento de Cavalaria ao qual a Márcia comandou e que hoje é brilhantemente comandada pela minha nora Andressa. Naquela época a polícia militar era conhecida como Força Pública e através do seu bisavô Perfídia eu ingressei na cavalaria. Porém eu não trabalhava diretamente com ele porque o meu trabalho era mesmo na academia. Mas sabia de tudo o que acontecia por lá. Em meados de 1954, praticamente eu já tinha me formado oficial e nesse meio tempo fui destacado para trabalhar como chefe de gabinete do coronel Bastos e ele sendo o comandante da batalhão de choque comecei por lá. Lembro-me que a rua Jorge Miranda era um pouco diferente do que vocês conhecem hoje. Mas o bairro da Luz já existia assim como a rua São Caetano aquelas das noivas também.
Perfídia olhava fascinada para o avô e a recíproca desse era a mesma para a neta.
-- Um dia eu estava indo embora para casa, mas como eu tinha que esperar o Teixeira, esse porcaria que aqui está porque ele me daria uma carona até a minha casa eu vi duas moças descendo a rua. Uma delas era a sua tia Juanita e a outra era a mãe de vocês. Naquela época as moças andavam de saia ou vestido abaixo dos joelhos e quando elas passaram por mim eu fiquei olhando aquela moça dos olhos azuis. A sua mãe, Francesca, nem olhou para o lado e assim passaram-se alguns dias. Era uma tarde de verão e eu já tinha saído do quartel e estava indo pegar o bonde que passava pela rua João Caetano e de lá iria até a Mooca onde eu morava. Quando eu subi no bonde havia um lugar vago e lá estava sentada a Carlota. Pedi licença e me sentei ao seu lado. No meio do caminho resolvi oferecer uma bala para ela e depois de fazer muita frescura acabou aceitando. Conversamos um pouco e ela logo desceu no ponto que era em frente a casa do seu avô Manolo e entrou. Eu continuei, pois a minha era uns quatro pontos depois.
Os filhos e os netos começaram a rir e então Marcelo falou:
-- É dona Carlota naquela época a senhora já era difícil.
A mãe da coronel olhou para o filho e falou:
-- Você me respeita moleque. Não é porque o senhor já é avô que vai fazer gracinhas.
O velho continuou a narrativa.
-- Passados uns quinze dias eu sai mais cedo do quartel e fui para o ponto esperar o bonde. Naquela tarde a sua avó Consuelo estava junto com a sua mãe e o seu tio Sebastian, aquela peste. Como estávamos eu e mais três o meu colega o tenente Manoel me empurrou e eu acabei caindo em cima da Carlota. É claro que eu fiquei sem graça e a sua avó me deu uma olhada séria. Levantei, ajudei a sua mãe e pedi desculpas. Apresentei-me e disse para a dona Consuelo que eu gostaria muito de conversar com a sua mãe. Ela me respondeu o seguinte:
-- Conversar com a minha filha? – Você é muito abusado seu moleque. Só porque usa farda está achando que é homem? – Vai criar bigode na cara.
-- Eu fiquei sem graça e o assim que o bonde chegou elas entraram e eu fiquei lá com cara de bobo e os rapazes começaram a rir e esse velho que está ai sentado era o chefe do bando. Mas ele também já estava de olho na sua avó menino Carlos e depois dessa resposta eu resolvi esperar mais um pouco.
-- Nossa vovô logo de cara o senhor tomou um pito da bisa Consuelo? Perguntou Giovana que era filha de Viviam e Gênova.
-- Sim princesa do vovô. Foi uma desfeita muito grande da sua bisa com o bonitão aqui. Falou fazendo com que todos rissem.
-- Conta para eles Giuseppe o dia em que o seu cunhado foi armado lá no quartel atrás de você sem que o velho Manolo soubesse.
A coronel e todos os demais olharam espantados para Teixeira e então Márcia perguntou:
-- Sério isso papai?
-- Sim filha, aquele espanhol nunca foi flor que se cheirasse.
-- Falando mal de mim Giuseppe?
Assim que olharam em direção à porta lá estava Sebastian o irmão mais velho de dona Carlota. A filha deste que se chamava Veruska e era a mais velha logo chamou a atenção do velho dizendo:
-- Papai o senhor já vai começar? Comporte-se que o senhor está na casa da tia Carlota.
-- Chegou o estraga festa. Disse Carmem olhando para o irmão.
-- O que você disse Carmem?
-- O que você ouviu Sebastian. Aqui ninguém está interessado em ouvir seus desaforos.
-- Continua a história vovô, ela está mais interessante do que outras pessoas. Disse Antônia fazendo com que todos olhassem espantados.
-- Essa menina não recebeu educação Márcia?
-- Recebi sim tio, mas a minha educação não é para todos. Principalmente para pessoas chatas e desagradáveis. Falou olhando seriamente para o velho com os mesmo olhos azuis acinzentados da mãe..
-- É se vê que ela é bem neta de espanhol com italiano. Menina topetuda como vocês costumam dizer.
-- Antônia respeite o tio. Pediu André.
-- Você não me encha o saco André, você é igual a ele. Um chato!
-- Gente estou adorando essa menina! Disse Carmem para o irmão Raul que era o segundo mais velho da família Peres Cortês.
-- É ela é uma mistura de Consuelo com Manolo.
-- Tia Carmem por favor não dá corda! Pediu Andressa.
Gabriel que não entendia nada do que acontecia perguntou para a madrinha:
-- Dinda eles tão brigando?
-- Não meu anjo é só uma conversa, não se preocupe. Disse olhando para a esposa que sabia aonde isso ia dar.
-- Mas voltando ao assunto como eu dizia, esperei um pouco para ter outra oportunidade de conversar com a sua avó. Quando chegou em junho eu sabia que chegaria o dia dos namorados e esperei que ela passasse em frente ao quartel. Eu havia comprado um buquê de rosas e esperaria ela passar. No fim da tarde eu a vi descendo a rua com a sua tia Juanita e quando ela estava chegando eu parei em frente dela e falei:
-- Desculpe senhorita, mas eu poderia lhe falar um instante? – Claro que ela me olhou desconfiada e então a sua tia que já havia percebido algo falou:
-- Carlota converse com o rapaz. Eu fico olhando para ver se não vem alguém.
-- Então diga o que você quer, porque eu tenho muita coisa para fazer.
-- Em primeiro lugar eu gostaria de me apresentar. Meu nome é Giuseppe e eu sempre a vejo passar por aqui. Eu desejo lhe entregar essas flores para que se lembre sempre de mim senhorita.
-- Obrigada Giuseppe, mas eu preciso ir quem sabe outra hora conversamos. Vamos embora Nita? Nita era o apelido de dona Juanita tia da coronel.
-- Quando ela estava saindo eu segurei em seu braço e disse: -- Posso conversar com o seu pai no sábado a tarde em sua casa? – E ela respondeu que sim e eu fiquei muito feliz.
A varanda da casa estava em total silêncio porque todos escutavam atentamente o coronel. Até as crianças estavam comportadas e olha que o grupinho era grande cada um com seus pares.
-- No sábado eu fui à casa do bisavô de vocês e lá chagando, coloquei a ele todas as intenções que eu tinha com a sua avó. Ele permitiu o nosso namoro e dois anos depois nos casamos e formamos nossa família. Primeiro a sua tia Francesca, depois seu tio Genaro, a mãe de vocês falou apontando para os filhos da coronel, sua tia Marieta, seu tio Nicola, Marcelo, Gênova e depois seu tio Giuseppe que é o caçula. Foram oito filhos criados com muito amor e carinho. E assim é a história minha e de sua avó que eu amo e sempre vou amar.
Todos aplaudiram o casal de velhos, mas sempre alguém tinha que estragar.
-- Atualmente seria oito Giuseppe se o Nicola não estivesse morto. Falou Sebastian olhando para Márcia que sentiu um certo mal estar. Todos perceberam que a indireta fora para ela e então Andressa falou no ouvido da esposa:
-- Tenha calma amor, deixe-o soltar todo o veneno que tem. Tomara que dê um enfarto nessa praga. Eu detesto o seu tio.
-- Porque o senhor está dizendo isso tio Sebastian? Perguntou Alejandro que chagava com a esposa e os filhos.
-- Ora todos sabem porque o Nicola morreu e quem causou isso ou estou enganado.
Márcia já não estava se sentindo bem e Marcelo percebeu.
-- Tenha calma minha irmã, não dê ouvidos a esse velho.
Magalhães e Laura já estavam próximos dos pais de Márcia e isso aliviou a todos.
-- O que você está querendo fazer Sebastian? Perguntou Carmem.
-- Nada minha querida irmã. Eu só quero saber até onde vai a cegueira do seu cunhado em relação à morte do seu sobrinho. Se o Nicola está morto isso é responsabilidade sua Márcia. Você causou isso quando se juntou com esse sapatão que está ai ao seu lado.
-- Sebastian respeite a minha filha e a minha nora. Você está na minha casa! Disse o velho coronel.
-- Deixe-o falar papai. Ele está certo eu fui responsável pela morte do Nicola e nunca escondi isso de ninguém. Sei de tudo o que se passou e me culpo até hoje por isso. Se eu tivesse entendido o que se passava com ele e tivesse dado a devida atenção ao que acontecia ele não estaria morto. Falou segurando as lágrimas e o nervoso que estava passando. Ela sentia algumas pontadas no peito, mas não demonstrava. Sua vontade era de apertar o pescoço do tio, mas para não deixar os velhos preocupados, ouviu calada todos os desaforos que o tio falava.
-- Sebastian já chega! Falou Raul que era o segundo mais velho dos irmãos de dona Carlota. – Você já fez estragos demais na nossa família e eu não vou admitir que você fale assim com a Marcita.
-- Isso mesmo Raul, não dá mole para esse velho recalcado. Falou Carmem que também tomou as dores da sobrinha.
Márcia pediu licença para os pais e virando-se para o tio falou:
-- O senhor terminou de falar tudo tio Sebastian, então agora o senhor vai me ouvir e nunca mais me dirija à palavra. É a última vez que vamos nos encontrar nem no seu enterro eu irei.
Andressa ficou olhando para a esposa, mas não disse nada. Quando pensou a coronel olhou para ela e disse:
-- Nem pense em falar nada Andressa, esse é um assunto meu e dele. Ninguém se meta, nem o senhor papai e muito menos a senhora mamãe.
-- Mas mamãe ele te ofendeu! Disse Celina.
-- Não se preocupe minha filha, eu sei enfrentar onças. E agora eu vou dizer tudo o que está engasgado a muitos anos. Como o senhor mesmo disse tio eu sou responsável pela morte do Nicola e sempre me culpei por isso. Muitas vezes eu vi o olhar de reprovação do meu pai em relação a mim, mas também eu sempre entendi o lado dele e da minha mãe afinal, perder um filho não é fácil e eu imagino a dor que eles sentem até hoje. Eu mesma ficaria louca se algo acontecesse e eu perdesse algum de meus filhos. Porém se o senhor não sabe eu mesmo fui vítima do Nicola. Se eu fiquei três meses em um hospital lutando para sobreviver, foi por causa de dois tiros que ele me deu. Ele seu sobrinho querido que se deixou influenciar pelo canalha do meu ex-sogro e tomara que o diabo o deixe bem preso na profundezas do inferno. O senhor sabia que a minha esposa quase ficou viúva com dois filhos para cuidar? – O senhor também sabia que eu tive que me afastar da minha família por causa de ameaças e que a minha casa foi invadida por uns policiais canalhas que se juntaram a bandidos da pior espécie e um desses colocou um revolver na cabeça do André que era um bebê e não entendia nada do que estava acontecendo? -- Eu sou sim responsável pela morte do Nicola, porém, apesar de ser sapatão eu tenho muito orgulho de mim. Tudo o que eu tenho consegui sozinha, pois o seu cunhado nunca me deu um centavo. Que enquanto eu andava a pé e o meu pai apesar de ter carro, ele nunca me deu uma carona? E antes de tudo respeite a minha mulher ou o senhor quer que todo mundo saiba que o senhor foi responsável pela morte da tia Paloma? -- Que a sua ruindade foi tão grande que ela morreu de desgosto por sua causa? -- Tome vergonha na cara tio, o senhor já está bem velho para ficar fazendo fuxico. Ou o senhor pensa que eu não sei que foi falar sobre a minha condição sexual na época para o meu avô? – Só que ele foi muito compreensível comigo e quando eu falei que se a minha presença na casa dele fosse vergonhosa, eu nunca mais colocaria os pés na casa dele. E a resposta foi um tapa na cara e depois ele disse que eu era neta do mesmo jeito e que eu vivesse a minha vida com responsabilidade. Portanto eu não lhe devo nada e quero que o senhor vá para o inferno. Agora faça o favor de se retirar da casa do meu pai, o senhor não é bem vindo aqui e se você Veruska não gostou do que eu falei ao seu pai, não precisa nem me dizer tchau e essa conversa está encerrada.
-- Vai mesmo embora tio Sebastian, e aprenda a respeitar as minhas mães. Disse Nicola que olhava sério para o tio.
-- Seu fedelho vá tirar as fraldas e depois venha falar comigo.
-- Eu sou muito mais homem do que o senhor pensa tio. Muito mesmo.
A prima da coronel simplesmente respondeu:
-- Marcita você está certa, alguém tinha que falar algumas coisas que o meu pai precisava ouvir e essa foi você. Quem sabe agora ele aprende a respeitar as pessoas, coisa que ele nunca fez. Nem com a mulher e nem com os filhos.
-- Fique com a gente Veruska, você sabe o quanto gostamos de vocês. O único problema é essa mala sem alça do seu pai. Por favor, fique. Pediu dona Carlota.
-- Posso ficar tio Giuseppe?
-- Claro filha fique com o seu marido e os seus filhos. E quanto a você Sebastian dê o fora da minha casa.
E assim se foi. O tio da coronel acabou indo embora sozinho e depois do mal estar e dos comentários a festa continuou com muita alegria e paz. Andressa se aproximou da coronel e disse em seu ouvido:
-- Eu estou muito orgulhosa de você meu amor. Obrigada por defender a todos nós, principalmente a mim e aos nossos filhos. Eu te amo muito e sempre te amarei.
-- Eu me segurei para não quebrar a cara dele, mas agora passou e está tudo bem. E eu também meu amor te amo e sempre te amarei. Para sempre vou te amar.
Fim do capítulo
Olá queridas.
Oi meu amor.
Peço desculpas pela demora, mas aconteceram algumas coisas e agora tudo está em paz.
Odrigado pelas leituras e também pela atenção. Joana Darque agora você já pode matar saudades da coronel.
Desejo a todas um bom final de domingo e uma ótima semana a todas.
Bjs.
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A Coronel está cada dia mais poderosa rsrsrsr. Quando ru crescer quero ser igual a ela.
Obrigada Catrina!
Esse tio teve o merecido! Acho que em toda família tem um ser parecido com ele kklll.
Mais uma vez ??‘???‘???‘???‘?
Bjs e sucesso!
patty-321
Em: 01/07/2018
Caramba. O caldo engrossou, que homem mal amado esse tio hem? Mas a coronel colocou ele no devido lugar. Tao libda a estória do pai da coronel, era tão lindo os namoros se antigamente. Tudo dentro do respeito. Eita familia de sangue quente. Italianos misturados com espanhóis. Eita. As crianças ja estão bem grandinha e entendem Tudo, tirando o Gabriel. Amei. Bjs amor. Boa noite.
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