Capítulo 18
Nos intervalos entre as sessões fotográficas, a escritora e Camille desvendavam as belezas de Paris, e seguiam o roteiro anteriormente programado, sempre desfrutando uma da companhia da outra, trocando impressões, sensações e gostos.
As duas primeiras semanas passaram rapidamente, todos os momentos juntas transbordavam amor e desejo, e nem o cansaço de horas trabalhando afetava o ânimo da fotógrafa, que quando chegava ao hotel, estava sempre disposta a explorar um novo restaurante, uma nova galeria, ou mesmo simplesmente caminhar de mãos dadas pela cidade, com a namorada. E é claro, ao voltarem para a suíte, faziam amor repetidas vezes, até adormecerem.
Na terceira semana, Camille passou mais tempo ausente, cada dia em uma locação, e Luana escreveu freneticamente, pois não sentia vontade de sair sozinha, e conseguiu passar horas concentrada escrevendo, o que lhe permitiria terminar o romance antes do prazo.
A viagem foi perfeita, assim como os meses seguintes. Ao retornarem a São Paulo dividiam as noites entre o loft da fotógrafa, e o apartamento de Luana, onde durante o dia, geralmente, a escritora dedicava-se à conclusão do livro.
O novo casal reunia-se com frequência nos finais de semana com Eleonora e as amigas de Luana, exceto Tina, que manteve certa distância.
Não foram raras as vezes em que a escritora se aventurou na câmara escura, ampliando e revelando imagens com a namorada, algumas vezes até mesmo sozinha, mas sempre sendo estimulada pela mulher, que apreciava o bom gosto no enquadramento e na sensibilidade no que se referia à tonalidade final das fotografias. Da mesma forma era comum Camille ler os capítulos do romance que a namorada estava escrevendo, algumas vezes inclusive dando opinião e sugestões, ou mesmo querendo que a mulher antecipasse os acontecimentos a serem descritos, curiosa em saber o desfecho.
Algumas vezes, a vida imita a arte, mas o contrário também é possível, e Camille se reconhecia na caracterização de uma das personagens, e cenas de intimidade vividas pelo casal muitas vezes rendiam trechos calientes no romance, arrancando sorrisos da fotógrafa, muitas vezes fazendo com que exigisse que a escritora deixasse o notebook de lado e vivenciasse com ela outros tantos momentos de prazer.
Além das saídas para encontro com a mãe da fotógrafa e os raros amigos, costumavam, pelo menos uma vez por semana, sair para jantar fora, ir ao cinema, teatro, ou frequentar outros eventos artístico-culturais.
Raramente dormiam separadas, por falta de vontade, mas em tácito acordo algumas vezes isso ocorria porque acreditavam que mesmo quando se ama alguém é preciso se conservar um pouco da privacidade, e embora respeitassem seus momentos de solitude, de quando em vez despediam-se no final da tarde e preenchiam essas horas entre um encontro e outro com atividades que raramente faziam quando estavam juntas, entretanto, quase sempre acabavam por conversar ao telefone antes de dormir.
A primeira noite de autógrafos do livro de Luana reuniu centena de pessoas, e se estendeu por longas horas. Durante quase todo o evento Camille fazia registro fotográfico, e de quando em vez surgia uma pontinha de ciúme, graças à tietagem ostensiva de algumas fãs da escritora. Por quatro vezes Luana chamou a namorada para que ficasse a seu lado, como que para deixar claro que estava acompanhada e que não tinha olhos para mais ninguém. Nesses momentos, além de longo contato visual fazia questão de, ou entrelaçar os dedos aos da fotógrafa ou dirigir-lhe algum gesto de carinho e intimidade.
Num desses momentos, disse-lhe ao ouvido, entre dentes, fingindo um sorriso:
- Não vejo a hora de sair daqui... essa fila para autógrafos não termina mais... por favor, arranja um jeito de me tirar daqui.
- Amor, não tenho como, depois a levo pra jantar e prometo que quando chegarmos em casa ajudo você a relaxar... Respondeu no mesmo tom, prometendo uma noite das mais interessantes. – Mas só se você se continuar se comportando bem... se ficar se assanhando prometo que pessoalmente coloco todo mundo a correr.
Nas noites seguintes, se fez presente em outros eventos, no Rio de Janeiro, em Brasília, em Porto Alegre, em Belo Horizonte, em Recife, e em Florianópolis, tendo sempre sido acompanhada pela mulher, com quem dividia o sucesso e os ônus.
Camille assinara um contrato para fotografar no Egito e insistiu para que a escritora a acompanhasse também. A viagem não seria tão agradável quanto à anterior, e seria bem menos penosa se pudesse contar com a mulher, porque deveria ficar quinze dias fora e, por experiência, sabia que sofreria divido ao clima, pois estavam em pleno verão.
Como precisava de um tempo para recarregar as baterias antes de começar a delinear um nova obra, e tinha quase certeza que ficar longe de Camille a deixaria preocupada com seu bem estar, não viu outra opção senão segui-la, e como sabia da importância do trabalho para a fotógrafa, nada mais justo que enfrentasse o clima quente e seco com ela, e aproveitaria a viagem para conhecer a Cidade dos Mil Minaretes, Cairo.
Depois de duas semanas de preparativos, desembarcaram no Cairo International Airport, via Milão, depois de quase dezoito horas de voo, indo de taxi diretamente para o Conrad Cairo, onde ficariam hospedadas pelos próximos dias. Como estavam extremamente cansadas optaram por refrescarem-se na piscina e fazer uma refeição leve no próprio hotel. No dia seguinte a fotógrafa encontraria e equipe da agência que a contratara e Luana aproveitaria para visitar o Museu do Cairo, onde se encontra a múmia de Tutancâmon.
Dentre as locações para as sessões fotográficas estava programada a Necrópole de Gizé, onde se pôde apreciar a famosa Esfinge, reprodução de imagem mitológica criada no Egito Antigo, com corpo de leão e cabeça de ser humano, e as três grandes pirâmides, Quéops, Quéfren e Mikerinos, assim Luana acompanhou Camille durante os três dias que a mulher fotografava no local.
Aproveitaram a estada na capital egípcia para provar o melhor da comida árabe, no Fayruz Lebanese Restaurant provaram o Shawarma de Carne, carne bovina ricamente temperada com especiarias, empilhada em um espeto vertical, grelhada enrolada, servida em um pão Sírio com molho de Tahine, acompanhado com tomates grelhados, salsa picada, hortelã e batatas fritas.
No Sachi Restaurant provaram o salmão com salada de legumes, e não poderiam deixar de provar um dos pratos típicos do País, o Ful Medames, que é uma variedade de feijão, parcialmente esmagado, cozido em panela de cobre, que lhe dá um sabor diferenciado. O prato é levemente picante, e é servido com ovos cozidos.
Ainda aventuraram-se a comer um assado mergulhado em pimenta e especiarias, entretanto o resultado não foi dos melhores, e Luana teve uma forte crise de gastrite, preocupando a companheira, que desmarcou a sessão do dia seguinte para ficar com a escritora no hotel. Por sorte o trabalho estava bem encaminhado e não precisariam retardar a volta a São Paulo.
Antes do retorno, ainda puderam fazer o city tour oferecido pelo hotel, cujas principais atrações são os bairros Islamic Cairo e o Caoptic, além da Mesquita Citadel. Até pensaram em conhecer Alexandria, mas a fotógrafa não via a hora de voltar para casa e voltar ao ritmo normal, além de fugir do calor intenso.
Durante o tempo que não estava desvendando as belezas do Egito, e desacompanhada da mulher, Luana anotava algumas ideias para o próximo romance. Traçava o perfil psicológico de alguns personagens, fazia pesquisa para ambientar algumas passagens da história, registrava sentimentos e sensações que poderiam ser usadas.
Da janela do hotel, podia observar o tráfego intenso nas avenidas que margeavam o Nilo, e percebeu que a sensação de ser apenas mais uma criatura que não conseguia entender qual o real significado da existência a fez desejar crer em algo, algum ente supremo... considerava-se ateísta ética, o que não a tornava insensível, ao contrário, sofria em perceber a mediocridade e a injustiça, somente não conseguia creditar a algo ou alguém a responsabilidade pela existência ou pelas ações, principalmente as humanas.
Em verdade, via como hipocrisia deixar de agir de uma determinada forma por temer um julgamento divino ou algo do gênero, cria que se deve pautar as ações se baseando em valores que levem em conta a evolução de todos os seres, para que venham a ser uma civilização planetária, respeitando a todos indistintamente, e de forma solidária.
Fim do capítulo
Meninas, os demais capítulos serão postados outro dia. Assim que organizados.
Por favor, deixem seus comentários. Nos servem como feedback.
Grata desde já pela leitura!
Abraços,
G.Leonard
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LeticiaFed
Em: 06/07/2018
Ola! Comecei a ler ontem e estou gostando muito. Também da “história paralela”, do romance que Luana estava escrevendo. Fiquei com pena de Tina, e curiosa com o desgaste e final (ou não) da relação das nossas protagonistas. Volte logo! Beijo!
Resposta do autor:
Oi, muito feliz por estares gostando. As histórias paralelas se transformaram em contos, que depois pretendo republicar aqui no Lettera. Já a história da personagem Tina, transformou-se em outro romance, já completamente postado aqui, Caminhos Cruzados, caso tenhas interesse depois em ler.
Tudo de bom. Bom final de semana! E mais uma vez, obrigada.
Beijo.
Ghi Leonard
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