Capítulo 12
Sozinha enquanto dirigia, Luana pensava em como sua vida tinha mudado tão rapidamente. Riu sozinha, lembrando diversas passagens dos últimos dias. Pensou no quanto se sentia leve e pulsante. No quanto a outra mulher mexia com seus sentimentos. E em todas as primeiras vezes de tudo: passar a noite, dormir fora de casa, conhecer a mãe da outra, aprender o processo de revelação de fotografias, dividir roupas, viajarem juntas... Eram tantas as mudanças que o mundo parecia girar em sentido contrário, como se para recuperar o tempo perdido.
As amigas já a aguardavam quando finalmente chegou em casa, não lhe dando tempo nem para mudar de roupa. Tina tinha a expressão carrancuda, enquanto Julia e Claire pareciam se divertir com a situação.
Depois de cumprimentarem-se como de costume trocando beijos, Tina saiu disparando:
– Então, pode ir contando... Estamos preocupadas.
– Bom... Riu gostoso, jogando-se no sofá enquanto as amigas se acomodavam ao seu redor. – Sei lá... aconteceu... estou apaixonada...Camille é fantástica... não sei mais o que dizer... São tantas coisas novas...
– Você, com certeza estava precisando de algo assim. Comentou Julia, feliz pela amiga.
– É, já estava mais que na hora de você voltar ao mundo dos vivos. Completou Claire.
– Ela está é ficando louca. Não estimulem. Cortou Tina, em profunda irritação.
– Que bicho andou te mordendo, Tina? Deixe-a ser feliz.
– É,... que coisa...
– Vocês não estão vendo que isso é completamente insano. Ela mal conhecia a mulher e já a trouxe pra casa, depois dormiu na casa da criatura e, pra completar, em menos de um mês, resolve ir pra França com ela. Disse, alterada.
– Tina, fique feliz por mim. Estou bem. Sei que parece loucura, mas é uma loucura boa. Estou me sentindo tão... tão feliz, é isso.
– Não confunda sex* com felicidade. Respondeu Tina, fora de si.
– Deus, acho que você é quem está precisando trans*r. Caramba. Comentou Claire, voltando-se para Tina.
– Vão a m... Nada a ver.
– O sex* é fabuloso, confesso, mas tem tantas outras coisas boas, conversamos muito ... Adoro o jeito descontraído de Camille, sua autenticidade, e a falta de regras... Estou me dando o direito de curtir isso.
– Ah, meu Deus, estão vendo ela já está falando até em “curtir”... Tô dizendo...
Todas riram, mesmo Tina, de braços cruzados e com ar que queria pular no pescoço de Luana e estrangulá-la.
– Arg! Detesto vocês. Tem alguma coisa pra beber nessa casa? Levantou em direção ao armário onde sabia que a amiga guardava as garrafas de uísque.
– Vai beber a essa hora? Perguntou Ju, espantada com o comportamento da amiga.
– Óbvio, se sou a única pessoa com algum senso, vou beber pra ver se não enlouqueço, e entro no clima de vocês. Serviu-se de uma dose generosa de um dos scots.
– Deixem-na pra lá. Agora conte os detalhes. Como é que resolveu de uma hora para outra ir à França? Pediu Claire.
Enquanto Luana relatava a conversa com Camille, que antecedera a resolver acompanhá-la, Tina sorvia em goles grandes o uísque cawboy, sendo observada de quando em vez pelas amigas.
Ju e Claire ouviam o relato da amiga e enchiam-na de perguntas, enquanto Tina servia-se outra vez da garrafa, já trazida para a mesa ao lado de sua poltrona.
Depois da terceira dose Claire chamou a atenção da amiga, sabendo que algo muito sério estava acontecendo.
– Não acha que está bebendo demais? Desse jeito não vai conseguir levantar daí depois.
– Ah, me deixem em paz. Quem precisa de conselhos não sou eu. Alfinetou com cara de poucos amigos.
As outras mulheres se entreolharam e não tocaram mais no assunto, voltando a falar do assunto principal, Camille e a viagem de Luana.
As horas voaram, Tina alheia à conversa, remoendo coisas que as outras não imaginavam. Luana, abraçada numa almofada, contando sobre seu novo relacionamento com a fotógrafa. Claire e Julia acrescentando comentários, visivelmente felizes pelo momento de vida da amiga, que há muito tempo não parecia tão bem.
O interfone avisou a chegada de Camille, que ao entrar trazendo um enorme embrulho fez questão de enlaçar o pescoço de Luana e puxá-la para um beijo mais que quente, provocando a ira de Cristina e a diversão das outras amigas da namorada.
– Trouxe um presente pra você. Quer dizer... mais ou menos... o trabalho foi seu, apenas emoldurei. Dito isso entregou o embrulho à mulher.
– Oi, querida. Já imagino o que seja. Riram, trocando olhares cúmplices.
– Abra.
– Vem, quero apresentá-la às minhas amigas. Puxou-a pela mão.
Camille, então, atravessou a sala exalando charme, com o sorriso mais doce que conseguiu.
– Tina você já conhece... ou melhor... já falou ao telefone.
– Oi. Como vai? Fez menção de se abaixar para beijar-lhe a face, mas Tina estendeu a mão, que Camille apertou, educadamente.
– Claire e Ju.
As mulheres, então em pé, trocaram beijos e sorriram amistosamente enquanto Luana abria o embrulho que guardava a fotografia que ampliara, agora emoldurada. Camille escolhera justamente a primeira que Luana sensibilizara, dos olhares cúmplices.
– Que linda. Ficou maravilhosa...
– Linda mesmo! Comentaram as amigas.
– Adorei a moldura... Agradeceu Luana, beijando-a outra vez suavemente, em felicidade aparente.
– Ah, amor, foi só uma coisinha. O trabalho foi seu.
Naquele exato momento, a música que tocava não podia ser mais devastadora, Cássia Eller cantava “Preciso dizer que te amo”
A música, a troca de palavras de amor e o segundo beijo foram a gota d’água para Tina, que se levantou sumindo na cozinha de Luana. Deixando para trás um clima estranho.
– Vou ajudar Tina a pegar gelo. Tentou disfarçar Ju, levantando-se para segui-la e descobrir o que realmente a deixara naquele estado.
– Adorei a exposição. Trocou de assunto Claire, ajudando a desenevoar o ambiente e distrair a recém-chegada.
– Obrigada. Agora, a amiga de vocês também está pronta para se aventurar nessa outra arte. Seguiu o rumo da conversa percebendo que as mulheres estavam se esforçando para aceitá-la, e fazer de conta que o comportamento de Tina não era anormal.
– Tina, o que é que está acontecendo afinal?
Ju encontrara a amiga parada de costas para a cozinha na saída da área de serviço do apartamento olhando para o vazio.
– Ai, Ju... Virou-se para a amiga mostrando os olhos marejados.
– Ai, não. Tina! Como é que isso foi acontecer? Já abraçando a amiga em mudo entendimento.
– Não sei. Não tenho nem ideia. Desmoronou, encostada ao peito de Ju.
– Ah, minha querida...mas que droga....
– Eu que o diga.
– Bom, agora não há o que fazer. Então, ao menos tente se controlar. Tá dando bandeira demais.
– Não consigo. Tô sem chão.
– Eu sei, mas é preciso. Antes de tudo você é amiga da Lu.
– M... porque fui descobrir isso tão tarde?!
– ... A vida é assim, minha querida. Não tem explicação.
– É como se eu estivesse numa montanha russa, em queda livre. Desabafou, chorando.
– Tá dando pra ver.
– Eu odeio essa Camille.
– Ela não tem nada a ver com isso, Tina. Não tem culpa. Na verdade ninguém tem.
– Tá. Já sei. A culpa é toda minha. Sou uma idiota.
– Não, essas coisas acontecem. Só não desconte nela. Sei que dói, mas Lu está feliz então você vai ter que aprender a lidar com isso.
– Não sei se vou conseguir. Por sorte ela vai viajar assim não vou precisar vê-las juntas.
– É, até que vai ser bom que elas não estejam por perto até que consiga resolver isso.
– Não quero perdê-la, Ju.
– Não vai, mas vai ter que entender que não vai tê-la como quer. De nós você sempre foi a mais próxima a ela. Ela a ama, mas como amiga.
– Eu sei, m... Só que não consigo mais vê-la só assim.
– O tempo vai ajudar. E vamos estar com você, Claire e eu.
Ficaram abraças mais um pouco, então Ju emendou.
– Agora vamos limpar esse rosto, pegar um balde de gelo para levar pra sala, e você vai fingir que está tudo bem. Ficamos mais um pouco depois a levo pra casa. Passo a noite na sua casa se quiser.
– Tá. Vou tentar. Mas se não conseguir vou embora.
– Ok. Saímos juntas, na hora que você quiser.
Fim do capítulo
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