Capítulo 10
– Da próxima vez que resolverem aparecer liguem antes, para que não percam a viagem. – Respondeu secamente, começando a ficar incomodada com a invasão, sem querer prolongar mais ainda o assunto.
– Muito bem... depois não reclame que ninguém se preocupa com você.
– Nunca reclamei. Boa noite Tina. Amanhã ligo pra você. Prometo. Beijos.
– Tá. Qualquer coisa ligue.
– Pode deixar, está tudo bem. Boa noite.
– Tchau.
Camille não fez qualquer comentário, mas não gostou nada da insistência de Tina em envolver-se na vida da namorada. Estava convencida de que a outra até podia jamais ter se relacionado de forma mais íntima com Luana, mas nutria mais que amizade por ela.
– Quer sair pra jantar ou prefere comer aqui mesmo? – Terminou perguntando antes que dissesse algo descabido.
– O que você quiser.
– Então, se não se importa peço alguma coisa e comermos em casa. Assim podemos ficar mais à vontade e ter privacidade.
– Bom demais.
Pediram do ICI Bistrô, Frisée Lyonnaise e um Coq um Vin, e para beber escolheram o Gevrey-Chambertin.
– Já que escolhemos comida francesa vamos entrar no clima, quer ouvir Aznavour, Mireille Mathieu ou Piaf?
– Amo Piaf, mas gosto dos outros também...
– Então, depois vamos ouvir Piaf, ma cherie.
– Merci, je t’adore.
– Essa é mais uma das coincidências. Estava de viagem marcada justamente para França, você não tinha como saber, e quando nos conhecemos usou várias expressões em francês. Agora estamos indo juntas... É tudo tão... fantastique. Nenhuma das minhas outras namoradas falava francês.
– Já que tocou no assunto, posso saber quantas foram? – Aceitou como um elogio o comentário mas ficou mais interessada em saber sobre o passado da mulher.
– Namoradas, umas cinco. Mas apenas um relacionamento mais duradouro.
– Quanto tempo?
– Cinco anos e meio entre idas e vindas. – Contou sem se incomodar ou evitar o assunto.
– E por que terminou?
– Desgaste, incompatibilidade de gênios, outras pessoas, trabalho... uma série de fatores. Foi morrendo até não sobrar nada. E você?
– Mais de cinco. Dois mais longos. Três anos cada um.
– E como terminaram?
– Da mesma forma que o seu... Talvez mais por minha culpa. Sempre acreditei não ter sido feita para o casamento, nunca me joguei de cabeça em nada exceto no trabalho Quando as coisas começavam a ficar difíceis me distanciava ainda mais com a desculpa que tinha que escrever, que é algo que rouba bastante tempo, e requer, de quando em vez, um pouco de cozinhez.
– Bom saber. – Brincou.
– No fundo acredito que todas busquemos a mesma coisa: o “para sempre”, mas a vida transforma isso em algo tão... inaccessibles.
Calaram-se, no exato momento estava tocando “Problemas”.
“Qualquer distância entre nós
Virou abismo sem fim
Quando estranhei sua voz
Eu te procurei em mim...
– Quer fazer uma coisa comigo?
– Quero, o quê?
– Ir para o quarto escuro revelar as fotos que tirei mais cedo.
– Tudo bem, se eu não for atrapalhar.
– Acho que vai gostar. Adoro manipular fotos P&B por causa disso. Revelo, amplio, sensibilizo, escolho a tonalidade...Vamos? – Ofereceu a mão para que levantasse.
Acompanhou os processos deslumbrada em ver tempo depois as imagens surgindo no papel fotográfico.
Camille a ensinou a mexer no ampliador para ajustar o enquadramento, a exposição do papel, e a sequência de bandejas pelas quais o papel devia passar até fixar a imagem e se pudesse colocar as fotos penduradas para que secar.
Antes que conseguissem concluir o processo dos fotogramas escolhidos, o interfone tocou anunciando a chegada do jantar. Então, Camille pediu que Luana continuasse sozinha até que voltasse. A mulher concordou, divertindo-se com o que para ela parecia mágico.
Ampliou um foto de seus rostos quase colados, levemente cortados no enquadramento, na qual seus olhares se encontravam num momento de completo entendimento, o sentimento quase palpável.
Após ter passado o papel já exposto à luz do ampliador, passou-o pelas bandejas, então ficou a admirar a foto pendurada entendendo finalmente o conceito de “eternização de momento”.
Estudou os demais fotogramas e escolheu dois outros para revelar. Esqueceu do tempo completamente envolvida na atividade, já apaixonada também pela arte.
Depois de um tempo, que não pode precisar, Camille entrou na peça e surpreendeu-a com um olhar apaixonado.
– Adoro mais você a cada minuto... Você é uma caixa de surpresas. As fotos ficaram fantásticas. Tem talento pra isso, o contraste ficou perfeito, e o enquadramento...
– Só estava brincando, adorei fazer isso. Abraçou-a.
– Ai, ai... Acabei de ensinar o caminho das pedras à concorrência... Brincou, antes de beijá-la, rindo.
Ainda permaneceram na peça por mais algum tempo antes de voltarem para a sala para jantar.
Ao saírem Luana ficou surpresa ao ver que Camille colocara velas decorativas pelo ambiente, desligara as luzes, e preparara a mesa para que jantassem ao som de Piaf, num clima romântico perfeito.
– Ficou lindo! Comentou beijando-a novamente.
Jantaram a luz das velas, saboreando os pratos, o vinho e a companhia. Depois de Piaf, Aznavour embalou o ambiente.
– A partir de hoje sempre que ouvir essa música vou lembrar de você. Comentou Luana, ao ouvir She.
“She may be the face I can't forget,
A trace of pleasure or regret,
May be my treasure or
The price I have to pay.
She may be the mirror of my dream,
A smile reflected in a stream,
She may not be what she may seem
Inside her shell.
She may be the love that cannot hope to last,
May come to me from shadows of the past,
That I'll remember till the day I die.
She may be the reason I survive,
The why and wherefore I'm alive,
The one I'll care for through the
Rough and ready years.
Me, I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be.
The meaning of my life is she, she, she”
– Quero você na minha vida. Disse, de repente.
– Nunca me apaixonei tão rapidamente... Você está virando a minha vida de cabeça pra baixo. Chegou vinda do nada, de repente, e já não consigo pensar em não estar com você. Minhas amigas têm razão em achar que estou louca, elas não conhecem essa que está aqui com você, nem eu mesma conhecia.
– Então também sabe como me sinto. Estou alheia a tudo o mais. Juro que cheguei a pensar em não ir pra Lion se não fosse comigo. Pensei em jogar tudo pra cima só pra ficar com você. Estou me sentindo tão... viva... Tão... sua.
Luana levantou, apanhou a taça de vinho e estendeu-lhe a mão para que também levantasse. Contornou a mesa se unindo a ela. Apanhou a garrafa de vinho e beijando-a caminhou em direção ao sofá.
– Não, lá dentro. Olhou em direção ao quarto.
Ao entrarem Luana notou que o aposento também estava iluminado apenas à luz de velas, e a cama pronta. A banheira já estava preparada com água quente e sais.
Depois de um banho não muito demorado levaram as taças já abastecidas para o quarto, mas as esqueceram sobre o criado mudo.
Tocaram-se em câmera lenta, em movimentos carregados de sensualidade e paixão. As carícias suaves, de tão demoradas, provocavam arrepios, e as excitavam cada vez mais.
– Me faz sua... Murmurou Camille, passando a língua na orelha da amante.
– Quero você, minha. Foi tudo que conseguiu dizer antes de procurar com a boca o sex* da mulher, e mergulhar os dedos, em busca de fazê-la realmente sua.
O orgasmo veio em meio a apelos para que não parece com os movimentos. As mãos seguravam-lhe a nuca evitando que deixasse de sugá-la um instante sequer. Então o corpo se retesou e um líquido quente invadiu a boca da amante.
Tendo quase atingido o clímax também, Luana então se encaixou a mulher e movimentou o corpo para que os sex*s se encontrassem enquanto a beijava.
– Goz* em mim, amor, vem... Sou sua...
Gozou em total entrega, sugando os lábios da mulher e misturando fluidos. Só então fez menção em mudar de posição, sendo impedida.
– Não, gosto de sentir seu peso. Protestou Camille, evitando que a mulher a abandonasse.
– Você é linda, sabia? Comentou, afastando alguns fios de cabelo do rosto da mulher, dos olhos verdes da tonalidade mais impressionante que conhecera. Quando faziam amor o tom esverdeado acentuava, contrastando mais ainda com os cabelos castanhos.
– Sabia, mas é sempre bom ouvir. Riu gostosamente sem falsa modéstia.
– E adoro o seu senso de humor.
– É, sou praticamente perfeita... Seguiu no mesmo tom.
– Acho que não quero mais sair daqui.
– E quem disse que tenho alguma intenção de deixá-la sair?
– Ah, é assim, é?
– Se não gostar, avise, mas de antemão fique sabendo que não vai adiantar nada.
– Hum, vai terminar se arrependendo...
– Disso não.
– Vamos ver.
– Me faz goz*r de novo, vai...
– Ninfomaníaca... Riu.
– Não, porque gozo gostoso todas as vezes. Corrigiu, ainda rindo, já empurrando a boca de Luana para seus mamilos, depois para seu clit*ris.
Goz*ram mais uma vez, antes de dormirem abraçadas.
O quarto, mergulhado na escuridão das persianas cerradas e velas apagadas, permitiu que dormissem até mais tarde.
Fim do capítulo
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