Capítulo 6
– Bom, até lá nos encontramos e você me conta essa história toda direitinho...
– Tá bem, mamãe...
– ... sim, já que alguém precisa te dar uns conselhos... terei de ser eu mesma.
– Sim senhora...
– Tá, vou desligar. Tenho outras coisas pra fazer além de cuidar de coroas sem noção.
– Ok, beijos pra você também, querida.
– Arg!... Beijos.
Luana pulou da cama, e foi para o toilete para verificar se as olheiras estavam muito aparentes, sempre que dormia pouco elas lhe marcavam o rosto. Por sorte com pouco corretivo poderia disfarçá-las.
Preocupou-se então em comer algo rápido e concentrar-se em escolher uma roupa para sair com Camille.
Depois de várias combinações terminou por escolher um outro blazer preto, com corte um pouco diferente do usado na noite anterior, uma calça jeans preta, justa, que marcaria seu corpo, uma camisa sem gola em tom palha, e um sapato clássico, também preto, num visual lesbian chique.
Caminhou pela casa sem conseguir pensar em mais nada. Olhou o relógio tantas vezes quanto possível, o tempo não passava... Finalmente, pouco antes das seis horas, estava vestida, perfumada e com os cabelos penteados. Pronta para sair.
Mesmo imaginando que Camille estivesse disposta mesmo a sair achou por bem ligar avisando que estava a caminho.
– Oi, Camille. Estou ligando pra dizer que estou pronta para sair de casa em minutos... Você vai poder ir ao cinema ou quer remarcar?
– Estou quase pronta. Achei até que você já estava a caminho...
– Resolvi ligar antes... sei lá... mas chego aí bem depressa...
– Ok, estou te esperando. Beijos.
– Beijos.
Apanhou a bolsa e as chaves do carro e saiu apressada rumo ao elevador. Fez o percurso de seu apartamento à casa de Camille o mais depressa possível, ansiosa em revê-la.
Estacionou o carro e desceu apressada. Ao apertar o interfone, prontamente a porta foi aberta.
As mulheres se olharam e sorriram, satisfeitas pelo encontro, e pelo visual de ambas.
Camille usava um vestido em tecido leve, branco, com decote sedutor sem ser vulgar, sandálias brancas, altas, e usava pouca maquiagem. Impecável. Sua beleza dispensava qualquer retoque.
Luana deu um passo em sua direção para cumprimentá-la, mas os olhos imediatamente fixaram-se nas bocas e o beijo tornou-se exigência. A fotógrafa mergulhou os dedos nos cabelos da mulher puxando-a mais para si. Camille então, ainda mergulhada na boca da outra, abraçou-a pelas costas e pela cintura.
– Oi... – Finalmente cumprimentou Luana, ao se separarem um pouco, ainda do lado de fora da porta, com um sorriso largo.
– Oi... – Camille respondeu, com a voz um pouco rouca. Só então percebendo que nem tinha convidado a escritora para que entrasse. – Desculpa, vem, vamos entrar...
– Melhor não... Na volta quem sabe... Do contrário perderemos a próxima sessão... – Cortou, sabendo que se entrasse não sairiam para ir ao cinema, porque não conseguiria mais controlar o desejo de sentir os outros sabores da mulher a sua frente.
– Ah, ok. Vou só pegar a bolsa, então. – Girou nos calcanhares e desapareceu, sem fazer qualquer comentário à recusa da outra. Talvez estivesse se oferecendo demais... precisava tentar se controlar, mas Luana uma hora parecia querer tanto quanto ela dar vazão aquilo, outra parecia recuar como se assustada.
Do cinema só poderiam dizer que assistiram ao filme de mãos dadas, de quando em vez, trocando alguns beijos suaves, porque se lhes perguntassem o nome do filme e qual o enredo não saberiam responder.
Quando o filme terminou, ficaram aliviadas, assim poderiam conversar em outro lugar.
– Vamos jantar no Terraço? Estou com fome. – Convidou Luana, ao saírem do cinema.
– Ótimo. Eu também.
O jantar transcorreu entre conversas animadas, troca de carinhos e silêncios, porque seus olhares se cruzavam e a tensão ficava evidente. Dispensaram a sobremesa, em tácito entendimento de que precisavam sair do restaurante o mais rápido possível.
Já no carro.
– Quer ir a algum outro lugar? O Bar des Artes, por exemplo... – Arriscou ainda adiar o momento em que não conseguiriam mais voltar atrás, mas rezando para que Camille não resolvesse aceitar ir ao bar.
– Não.
– Ok, então. Vou levá-la para casa.
– Se vai me levar em casa está indo pelo caminho mais longo, se tivéssemos dobrado à esquerda em menos de vinte minutos estaríamos lá...
– Não disse que a levaria para sua casa, vou levá-la para minha casa. Se quiser, é claro... – respondeu sorrindo, entrelaçando os dedos aos da mulher e pisando mais no acelerador.
– Hum..hum. – Camille beijou-lhe a mão, antes de soltá-la e percorrer o pescoço num carinho mais que gostoso.
O trajeto do restaurante ao apartamento foi feito no piloto automático, porque o toque da mulher em seu corpo e o perfume que tomara conta do carro estavam deixando Luana fora de controle.
Já na garagem do prédio, antes que pudesse tirar o cinto de segurança, Camille já sem o seu, puxou-a para sua boca querendo um beijo mais ousado, coisa que desejava desde o início da noite.
As línguas se procuraram com pressa, as mãos percorriam pescoços, seios, costas e nucas. Os sex*s clamando por um contato mais intenso.
– Vamos subir. Aqui não. Vem... – Desvencilharam-se para descer do carro e entrar no elevador, ainda trocando carícias. – Têm câmera de segurança. – Avisou ao entrarem.
– Vamos divertir os seguranças. – Dizendo isso enfiou a língua na boca de Luana, colando o corpo ao seu, evitando protestos. Permitindo-se ser a mulher que a escritora conhecera na galeria, dona da personalidade forte e ousada. Atitude que em nada desagradou Luana, que a essa altura não se importava em ser ou não observada.
Os quatorze andares pareceram duzentos, mas elas conseguiram não passar dos beijos urgentes. Rindo, saíram do elevador de mãos dadas em direção ao apartamento da escritora.
– Espero que não tenha mais ninguém na sua casa. – Acrescentou, antes que a outra pudesse abrir a porta e puxá-la para dentro, segurando-a pela nuca,explorando com a boca seu pescoço.
– Não tem... – Ainda disse, antes de encostar Camille na porta que acabara de fechar, antes de beijá-la novamente e, pela primeira vez, perceber um certo tremor na mulher, aparentemente tão decidida.
Minutos depois com a respiração menos ofegante, Camille abraçou-a.
– Não costumo ir pra cama no segundo encontro...
– Nem eu, mas já é o quinto, o primeiro foi na galeria, o segundo no Baretto, o terceiro no cinema, o quarto no Terraço, então, esse já é o quinto... – Riu – e é bom quebrar regras de quando em vez... Revelou-se a escritora, tomada de desejo.
Riram abraçadas, encostadas ainda à porta, mergulhadas na escuridão da sala.
Luana então encontrou o interruptor de luz clareando o ambiente, e afastou-se um pouco para dar passagem à convidada, sem soltar-lhe da mão.
– Quer beber alguma coisa?
– Se tiver vinho sim, não quero misturar...
– Claro, vou buscar, fique à vontade...
– Posso ligar o aparelho de som? – Perguntou, já se dirigindo ao móvel com o equipamento e com uma coleção invejável de CDs.
– Claro... Escolha algo. Vou buscar o vinho. Tenho um Pinot Noir muito bom, serve?
– E como...
Luana apanhou as taças, e o vinho na wine cooler. O silêncio foi invadido por Damien Rice. Apreciou a escolha.
Como as coisas estavam indo tão depressa?! Não era afeita a arroubos como aquele... trazer alguém para sua casa logo na segunda noite... Mas lembrou-se novamente da mulher que a aguardava na sala e, embalada pela música, permitiu-se viver o momento sem pensar em mais nada.
“And so it's
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it's
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you...”
Encontrou Camille confortavelmente jogada sobre o sofá de olhos fechados, acompanhando a melodia da música e descansando o corpo. Sem abrir os olhos, simplesmente disse:
– Adoro essa música e, estranhamente, ela me faz lembrar você lá na galeria, quando a vi pela primeira vez. Você me emocionou. Queria tê-la fotografado naquele exato momento... Mas aquela imagem vai ficar gravada em mim. – Abriu os olhos sorrindo sedutoramente para Luana, que a olhava com a mesma expressão de fascínio, como uma noite antes admirava o pôster.
– Essa música me lembra o filme Closer... – Fez uma longa pausa. – Gostaria de poder vê-la fotografando. – Acrescentou antes de entregar a taça e beijá-la novamente. Agora sem pressa, percorrendo com a mão livre suavemente cada centímetro deixado a mostra pela roupa. Também sendo acariciada e explorada sem urgência.
– Então este esse é o refúgio de Luana Hays... – Comentou a fotógrafa depois de alguns minutos, enquanto bebericavam e se estudavam.
– Não, é apenas uma deles. Gosto de escrever aqui, mas tenho uma casa em Campos do Jordão onde passo bastante tempo. Adoro o frio de lá, no inverno. Depois me arrependi de tê-la comprado... quando se tem para onde ir se fica comodista, é melhor viajar e descobrir novos lugares, que sempre podem servir de inspiração para um livro.
Fim do capítulo
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