Capítulo 8
POV Sophie:
Assisti com ansiedade ela tirando suas roupas e dobrando cuidadosamente cada peça enquanto as colocava próximas a arvore onde eu estava sentada. Sempre tão orgulhosa e empinada a loba estava de cabeça baixa. Não sei se esse é o comportamento habitual, se ela precisa de uns segundos em silêncio antes de se transformar, então fiquei de boca fechada, aguardando. Óbvio que não tirava os olhos do seu corpo bem talhado, a memória do sabor do seu sangue veio a minha mente como um soco e minha boca automaticamente encheu d’água. Sede, desejo, gula, tesão, tudo misturado.
Observei seu corpo mudar e os sons que acompanhavam, estalos de ossos se quebrando e alongando, sua pele rasgando e esticando, um estalo forte ecoou quando seu tórax triplicou de tamanho e ela logo caiu ao chão em quatro patas. Para quem assiste o processo parece ser bem doloroso, a descrição é mais demorada do que toda a ação, e em segundos pelos cinza começaram a sair de todos os seus poros lhe dando uma pelagem linda, (parecida com a pelagem da Jade), com enormes olhos amarelos com uma pintinha na íris. Havia um lobo gigantesco ali, mas também havia a Ashley, impossível não reconhecer algum traço seu no lobo.
Ela se sentou em quatro patas virou o pescoço grosso em direção a lua e uivou, alto em saudação e alerta para todos os seres da floresta, que ali estava a mãe de todos os predadores. Os lobos fazem parte da minha vida desde sempre, vi uma infinidade deles, de todos os tamanhos e pelagens, e seguramente Ashley era o animal mais magnifico que eu já vi. Não consigo tirar os olhos dela, se meu coração batesse com certeza estaria explodindo no meu peito, um murmuro me rasga a garganta e não me contenho: “Magnifica!”
A loba me olha por alguns segundos, como se tivesse me escutado, então algo distrai a sua atenção, ela fareja o ar em várias direções e começa a correr, a uma velocidade incrível, deixando um rastro de galhos partidos. Eu a acompanho saltando entre os galhos de árvore para árvore, não quero perder nada!
Ela correu um pouco guiada pelos cheiros da floresta, observando tudo ao seu redor continuamente. Repousando em um galho duas árvores adiante estava um lince, já em alerta pela proximidade de outro predador em seu território.
A loba parou e começou a estudar o animal, vi o momento exato em que ela recuou as patas traseiras para pegar impulsão, quando um grito de mulher ecoou pela floresta.
Ela saiu correndo em direção ao grito e eu em seu encalço pelas árvores. Paramos a alguns metros da ação. Dois homens atacavam uma mulher, não havia dúvidas quanto as intenções dos homens: estuprar e matar. Nós somos ensinados desde sempre que não devemos intervir nos assuntos humanos. Eles podem se machucar, se matar, entrar em guerra e nós não devemos fazer nada além de observar. O objetivo é claro, manter nossa identidade em segredo, se salvarmos alguém como evitar que essa pessoa saia por aí contando histórias? Não, hipnose não faz parte do meu arsenal de armas...
Ashley não conseguia evitar de andar em volta da cena formando um anel de cerco, até que parou e ergueu uma pata em direção a cena rosnando baixo e ameaçadoramente.
“Não podemos intervir, eles vão saber o que somos!”, alertei!
A vítima lutava desesperadamente, chutando e apanhando para evitar o avanço de um dos agressores enquanto o outro observava tudo com um sorriso de excitação.
Um golpe mais violento fez a vitima gem*r de dor e Ashley se descontrolou. Emitiu um rosnado gutural anunciando sua presença enquanto caminhava em direção aos 3. O homem mais alto que tinha esbofeteado a mulher puxou um facão e apontou em sua direção. A raiva subiu pela minha garganta, calculei mentalmente a trajetória para saltar da árvore e aterrissar no chão com a metade do tronco daquele verme em minhas mãos, quando Ashley saltou sobre ele e o colocou abaixo de suas patas. E começou a devorá-lo vivo! Abocanhando grandes pedaços de carne enquanto o homem gritava e se debatia. A ferocidade e selvageria do seu ataque eram impressionantes. O sangue esguichou deixando todo seu focinho, boca e olhos coberto de vermelho. O segundo agressor estava ali parado em choque. Quando ele fez menção de reagir eu quebrei seu pescoço. E finalmente olhei direito para mulher que estava ali parada sem emitir um ruído.
“Não tenha medo, nós não vamos machucá-la, venha cá deixe-me ajudá-la a se levantar.” E a mulher loira não pode deixar de olhar para o imenso animal chafurdando na carcaça do homem morto e comendo suas entranhas.
Enquanto eu conversava com a mulher loira para tentar acalmá-la Ashley largou o corpo do homem e se deu por satisfeita. Sentada sobre suas patas traseiras ela tranquilamente iniciou o ritual de limpeza, lambendo a pata dianteira e esfregando sobre o focinho e olhos. Parecia muito mais um gato do que um lobo nesse momento. Eu e a humana nos acalmamos somente em observar esse ritual e logo despertei!
“Precisamos nos livrar dos corpos, não podemos deixá-los aqui expostos.” Eu disse.
“Porque não chamamos a polícia, afinal esses homens iam me matar, vocês me salvaram, você e o seu cão gigante!” Falou Sacha, e Ashley respondeu com uma risada de escarnio, o que provocou um olhar de curiosidade da humana. Afinal, lobos não soltam risadas de deboche.
“Ela não é meu cão, e em poucas horas voltará a ser humana.” Respondi de forma direta.
“O que vocês são? Não se preocupe, eu jamais contarei o que houve hoje para ninguém, eu lhes devo a minha vida.” – Continuou a humana curiosa.
“Eu sou uma vampira e ela é a minha guardiã, uma loba pura de nascimento.” – Esclareci para encerrar a história.
Ashley andou em círculos farejando a terra, parou em um ponto e começou a cavar velozmente. Cavou o suficiente para acomodar dois corpos e me olhou por instantes. Sem dizer nada arrastei os dois corpos para perto da cova, quebrei os ossos nas juntas para que ocupassem menos espaço e os atirei dentro do buraco. Aguardei a loba tapar a cova e caminhamos em direção ao carro. Convidei a humana para ir conosco, que aceitou prontamente.
Depois de caminharmos pelo que pareceu uma eternidade finalmente chegamos a clareira que era o nosso ponto inicial. O corpo da loba foi chacoalhado por uma sequência de tremores e começou a mudar de tamanho. Ela estava literalmente encolhendo. Suas patas se achataram e os dedos alongaram, o focinho recuou dando lugar a sua boca e nariz, enquanto toda sua pelagem ia caindo e se dissolvendo no chão. Em pouco tempo estava ali novamente a minha guardiã, nua, suja e indefesa, pela primeira vez em todos esses anos ela iria precisar do meu amparo.
Ela tentou ficar em pé sozinha e seus joelhos fraquejaram. “Segure-se em mim! Sacha, pegue aquela mochila que está ali escondida embaixo dessa samambaia.” Sacha prontamente pegou a mochila abrindo-a e retirando os itens de higiene que Ashley havia preparado, toalhas, lenços umedecidos e álcool.
Limpei cada parte do seu corpo e com ajuda de Sacha a vesti e andamos poucos passos até o carro que estava parcialmente oculto pela vegetação. Sacha contou que estava fazendo uma viagem de mochilão e sua mochila com suas coisas não estava muito longe dali. Ela largou as coisas quando encontrou com os dois homens que a perseguiram até dentro da floresta. Entramos as três no carro, eu dirigindo, Sacha no banco do carona e Ashley deitada no banco de trás, paramos apenas para pegar as coisas de Sacha e tomamos o rumo de casa.
Olhei pelo retrovisor e Ashley estava completamente desmaiada no banco de trás, lutando contra o cansaço, abrindo e fechando os olhos sem querer adormecer. Virei o pescoço e olhei para trás por um instante, apenas para dar um olhar tranquilizador para ela. Não disse nada, porque tinha receio e não entendia exatamente todas as emoções que eu senti nessa noite. A humana deu um suspiro e vi que ela estava tremendo e segurando as lagrimas. Convidei-a para ficar conosco por alguns dias até se recuperar. Ela recebeu o convite com satisfação.
Olhei novamente pelo retrovisor e Ashley estava dormindo como um filhote. Com um semi sorriso entre os lábios rosados que formam um biquinho e parece ser apetitoso para passar a língua. Oi!??? Não viaja princesa Sophie! Sim, eu falo comigo mesma em terceira pessoa.
Fim do capítulo
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