Capítulo 4
Dois dias depois, minha mãe despedia-se de mim, nos jardins da casa. Recusei-me a acompanhá-la até o aeroporto. Antônio faria isso. Tia Cláudia e ela mal trocaram um aperto de mãos. Assim que o carro partiu, minha tia acompanhou-me para dentro de casa. Augusto, como uma figura decorativa, mantinha-se um pouco atrás.
-- Agora meu bem, você precisa descansar e perdoar Madeleine. Ela, no fundo, não é má pessoa. Só foi estragada pela família dela. Foi mimada demais.
-- Ah, tia! Como eu queria que ela olhasse um pouco que fosse para mim! Sempre voltada para ela mesma! Minha mãe não enxerga mais ninguém além de si mesma!
Entramos no escritório e me joguei numa poltrona. Augusto se aproximou e se sentou num dos braços. Segurou uma das minhas mãos e pôs-se a beijá-la. Meu Deus, como eu queria que ele desaparecesse dali! Eu não estava entendendo porque estava tão hostil com ele. Parecia que toda a minha agonia, meu desespero e dor pela perda do meu pai, eu estava descontando nele. Com os beijos molhados, ele babava em minha mão. Aquilo me deu nojo e a puxei bruscamente.
-- Sylvia! O que está havendo com você? -- Ele perguntou inconsolável e seguiu em direção ao barzinho. E novamente serviu a dose dupla de uísque. -- Por que está me rejeitando desse jeito?
Eu não aguentei mais.
-- Será que não percebe que eu quero ficar sozinha? Você só fica grudado em mim. Me agarrando, me beijando. Eu não estou com cabeça para nada disso, Augusto.
-- Meu Deus! Eu sou seu noivo e é minha obrigação estar ao seu lado, lhe dando meu carinho, meu afeto.
-- Mas não precisa ficar o tempo todo colado em mim! -- Vê-lo com o copo de uísque na mão e o charuto, que ele ainda não havia acendido, entre os dedos, me causou uma ojeriza sem tamanho. -- Augusto, eu prefiro que você vá embora! Pegue um avião e volte para Lisboa.
-- Sylvia! -- ele olhou para tia Cláudia, como que pedindo ajuda. Ela apenas deu de ombros, pediu licença e saiu.
-- Augusto! Eu preciso organizar minha vida aqui. Tomar pé dos negócios, portanto, não vou poder lhe dar atenção. E, como você não vai entender isso, vamos acabar brigando, então é melhor você ir.
Ele, sentando-se numa outra poltrona, levou o copo de uísque aos lábios, olhou para mim e deixou as lágrimas caírem. Aquilo foi o bastante para a minha paciência. Levantei-me deixando-o sozinho.
**********
Mais de uma semana se passou depois da missa de sétimo dia.
Na tarde daquela segunda-feira de 23 de janeiro de 1967 eu entrei pela primeira vez, desde a morte do meu pai, no prédio onde ficava a matriz da empresa. Antônio me conduziu à sala que pertencera a meu pai. Era uma sala ampla, arejada e suntuosa. As poltronas em couro branco contrastavam com o verde fosco das paredes e com a grande mesa de carvalho. Atrás da mesa, uma grande janela de vidro proporcionava uma vista maravilhosa da cidade. Aproximei-me da mesa e vi novamente porta-retratos: um com minha foto, outro com uma de minha mãe. Não havia fotos da mulher. Decerto ali, onde recebia pessoas de negócio, ele respeitava minha mãe. Encostei-me à janela e observei a vista. O sol brilhava sobre os telhados das casas e fachadas dos prédios. Morumbi, um nome que me soava esquisito aos ouvidos. Eu dominava muito bem o português, mas algumas palavras me causavam estranheza.
Ouvi passos e voltei-me. Uma senhora alta e esguia, na casa dos cinquenta anos, entrou com uma pasta na mão. Olhou-me e me deu um franco sorriso de boas-vindas. Antônio se apressou em nos apresentar
-- Sylvia, esta é Ana Clara, secretária do senhor Antenor.
Bem, ali estava uma situação que eu teria que resolver. Não abriria mão de ter Lisa como minha secretária particular, mas também não podia rebaixar a mulher de cargo. Teria que a transferir para uma função de mesmo nível. Depois conversaria com Antônio.
Ela me estendeu a mão. E, mais que depressa, me ofereceu um café. Aceitei. Sentei-me na cadeira de meu pai. Era confortável. Afundei-me no couro macio e fiz sinal para que Antônio também se sentasse. Naquele momento iria começar a ter uma verdadeira noção da extensão dos negócios do meu pai. Antônio abriu sua pasta de couro e começou a me mostrar um amontoado de gráficos, planilhas datilografadas e livros. A secretária trouxe inúmeros cafés e ali ficamos até tarde da noite. Por volta das 22 horas, eu entreguei os pontos. O medo me dominou. Eu sabia que os negócios do meu pai eram grandes, mas a ideia que tinha estava muito aquém da realidade.
-- Antônio, eu não vou dar conta disso! Simplesmente, não posso! Não vou conseguir!
Ele esboçou um sorriso.
-- Claro que consegue Sylvia! Já lhe disse que você não está sozinha. Fique tranquila. Agora vamos. Precisa descansar.
Levantei-me e peguei minha bolsa. Estava louca por um banho e tirar aquela roupa. Estava vestida com um terninho Chanel cor de rosa. O tecido era leve, mas estava calor, afinal ainda era janeiro.
Entrávamos no elevador, quando Antônio se lembrou.
-- Sylvia, temos que ler o testamento! Qual a melhor data para você?
Levei a mão à testa. Havia me esquecido completamente.
-- Veja se consegue marcar para sexta-feira à tarde. Como é um testamento cerrado, ao que me parece, só pode ser aberto na presença do juiz.
Ele acenou com a cabeça em concordância. A menção ao testamento me fez lembrar que ela teria que estar presente. O meu estômago contraiu.
Ele pareceu ler meu pensamento.
-- Está lembrada que Júlia precisa estar presente?
-- Sim. E... Como disse anteriormente... Ela pode entrar lá em casa, sem problemas.... -- Senti vontade de dizer-lhe que ela poderia frequentar minha casa o quanto quisesse, agora que tinha certeza de que ela era uma vítima, mas me contive.
Antônio me acompanhou até o carro e o motorista deu partida me levando para casa.
**********
Antônio chegou em sua casa e Helena correu a abraçá-lo.
-- Meu bem, a reunião foi demorada, hein?
-- Pois, é. Fiquei mergulhado mostrando a Sylvia os balancetes da empresa. -- Sorriu -- Ela está com medo de não dar conta do recado.
Helena, ajudando-o a tirar o paletó, pegou-o pela mão e levou-o até o sofá.
-- É normal que ela se sinta insegura. Ela só tem 23 anos! É muito jovem e o negócio que terá que gerir não é pequeno!
-- Pois é. Ela não tinha noção do quanto é rica.
-- Deve estar faminto! Vou esquentar seu jantar.
-- Não, querida. Ana Clara nos encheu de biscoitos e sanduíches. Vou tomar um banho e cair na cama.
Ela se aproximou e sentou-se em seu colo.
-- Vai cair na cama e fazer o quê?
Ele a puxou para mais perto e lhe beijou os lábios com suavidade.
-- Depende. Depende do que vou encontrar nessa cama... -- Tomou novamente a boca da esposa num beijo profundo. Quando o ar faltou se afastaram.
-- Querida, a leitura do testamento, vou tentar marcar para sexta com o advogado. Avise a Júlia.
-- A presença dela é necessária, não é?
-- Sim. E será feita na casa de Sylvia. Ela aceitou a presença de Júlia lá, sem problemas.
Helena sorriu e suspirou aliviada.
-- Essa menina é um anjo. Se fosse outra estaria brigando até para tirar o que coube ao irmão.
Levantaram-se e foram em direção ao quarto.
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No outro dia pela manhã, Helena, Antônio e Júlia tomavam o café da manhã.
Helena aproveitou o momento para dar a notícia da leitura do testamento.
-- Júlia, a leitura do testamento será marcada para sexta-feira. Só falta Antônio combinar com o advogado e ver a disponibilidade de tempo do juiz.
-- Eu terei mesmo que estar presente?
-- Sim. Agora tem algo que você ainda não sabe.
Júlia ficou apreensiva. Só de imaginar-se frente a frente com Sylvia novamente, começou a suar frio. Olhou interrogativamente para a prima.
-- A leitura será feita na casa dela. Na chácara. Ela fixou residência lá.
-- Mas... eu ir até lá...?
-- Ela não se incomoda que você vá até lá, Júlia. Pelo menos para a leitura do testamento. -- Helena sorriu-lhe -- Já é um passo grande para que se tornem amigas. O Júnior precisa disso.
Júlia, mal conseguiu beber o resto do café que tinha na xícara, pediu licença e saiu.
Helena ficou observando-a se afastar.
-- Ela ficou apreensiva -- Observou Antônio.
-- Sim. Ela teme que Sylvia rejeite o irmão.
Antônio ignorando o que ia na alma de Júlia, terminou seu café com tranquilidade e seguiu para empresa acompanhado da esposa.
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Júlia, no quarto com o filho no colo, respirava fundo para se controlar. Era terça, ainda faltavam quase três dias. Ela iria contar minuto por minuto. Aqueles dias seriam torturantes para ela. Colocando o filho em pé em seu colo falou baixinho para ele.
-- Você vai conhecer sua irmã, meu amor. Vai ver como ela é linda! Tão linda quanto você. - O pequeno Antenor sorriu sacudindo as mãozinhas, totalmente alheio ao que a mãe dizia. De repente Júlia deu uma risada e arregalou os olhos admirada -- Meu filho, sexta-feira é seu aniversário! Que coincidência! Você a conhecerá no dia em que fará um ano de vida. Meu anjo, isso será um presente maravilhoso! -- Deitou-se na cama, trazendo-o para cima do próprio corpo. Manteve-o deitado sobre si, e ficou alisando-o na cabecinha. -- Vamos rezar para que tudo dê certo! Tudo vai dar certo. Ela vai gostar de você. É impossível não se render aos seus encantos, meu anjinho! É impossível! -- Ficou alguns segundos em silêncio e seu semblante nublou -- Sei que ela não vai gostar de mim, mas isso não importa.
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Da sua sala na empresa Antônio ligou para o advogado de Antenor e pediu que fosse marcada a leitura para sexta-feira, 27 de janeiro. Feito isso, voltou a atenção para os papéis que tinha em mãos. Na parte da tarde se reuniria com Sylvia novamente para continuar a tarefa do dia anterior. Naquele momento ela estava fazendo um tour pela empresa acompanhada por Helena.
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Depois que visitamos diversos setores da empresa, Helena me acompanhou até a minha sala. Pedi um lanche à secretária, pois estava sentindo o estômago vazio. Estava me estranhando, parecia que o clima tropical estava abrindo o meu apetite. Teria que tomar cuidado para não engordar. Helena sentou-se à minha frente e deixou seus olhos vagarem pela sala. Depois de alguns segundos falou com o seu sorriso caloroso.
-- Agora esta é sua sala, Sylvia. Vai mexer na decoração? Dá um toque feminino?
Olhei para as paredes e os móveis. Além de três poltronas, um sofá de três lugares e duas cadeiras em frente à mesa, havia uma estante numa parede lateral, um armário com portas de madeira e outro armário menor com portas e prateleiras de vidro, onde era guardada uma boa quantidade de garrafas de bebida. Em outra parede uma porta levava ao banheiro. Eu, na verdade, não queria modificar nada ali. Deixaria por conta de Lisa, só recomendaria a ela, que não modificasse tanto o ambiente, para não tirar a marca do meu pai. Eu, com toda certeza, iria me sentir segura, com as marcas da presença dele ali. Talvez com o passar do tempo, eu me abrisse a modificações mais arrojadas.
-- Por enquanto não, Helena. Quando Lisa minha secretária chegar, a incumbirei dessa tarefa. -- Lembrei-me de Ana Clara -- Quero a sua opinião e a de Antônio, sobre como proceder com a secretária do meu pai. Não abro mão de Lisa.
Helena me olhou séria e ficou em silêncio por alguns segundos, sem saber o que dizer.
-- Eu não penso em demiti-la Helena, fique tranquila. E nem a rebaixar. Quero dar a ela uma função equivalente à que ela exercia ou superior. O que sugere? -- Achei graça da cara de receio que ela fez.
-- Essa Lisa é a sua secretária lá de Paris?
-- Exato.
-- Secretária particular? Ela exerce também a função de secretária executiva?
-- Sim, mas mais como particular. Por quê?
-- Eu não acho recomendável você dispensar Ana Clara, porque ela conhece como ninguém o funcionamento do Grupo Leme de Barros. E seu pai confiava cegamente nela. Ela e Antônio eram os dois braços do senhor Antenor. A senhora Lisa conhece a realidade do escritório de Paris, apenas. -- Engoliu um pouco de café e continuou -- São duas realidades bastante diversas.
-- Então o que você sugere?
-- Mantenha Ana Clara como sua secretária executiva e a Lisa como particular. As duas podem trabalhar juntas e assim você estará bem assessorada.
Gostei da sugestão dela. Uma sugestão inteligente. Realmente, se eu afastasse Ana Clara de mim, ficaria mais difícil para tomar pé das coisas.
Helena levantou-se para sair, mas antes me fez outra recomendação.
-- Ela está ansiosa para saber o que você vai fazer com ela-- Sorriu -- Posso mandá-la entrar, para você acalmar aquele coraçãozinho?
Eu acenei a cabeça afirmativamente.
Helena saiu e Ana Clara entrou, muito elegante num tailleur azul marinho.
-- Mandou me chamar, senhora?
-- Sente-se, Ana Clara.
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A manhã e a tarde daquela terça-feira passaram voando. A noite chegou e o motorista, mais uma vez, me levou para casa. Já imaginava encontrar Augusto com a cara emburrada. Eu o mandava ir embora e ele insistia em ficar. Tia Cláudia tinha ido até a sua cidade ajeitar algumas coisas para, em seguida, vir morar comigo.
Ele ouviu os meus passos no corredor. Veio correndo ao meu encontro. Me abraçou e procurou meus lábios. Estava cheirando a uísque e charuto. Tentei suportar o beijo, mas a repulsa foi maior do que a minha tolerância. Ele me apertava em seus braços e eu pude sentir a rigidez do seu membro de encontro ao meu ventre. Empurrei-o com força. Ele explodiu.
-- Eu não aguento mais isso! A sua rejeição está me matando! Tem noção do quanto estou me ardendo de vontade de você, Sylvia? -- Tentou me abraçar novamente.
-- Augusto, eu estou cansada! Por favor!
-- Cansada! Cansada! É sempre a mesma desculpa. Você não precisa trabalhar! Os administradores podem muito bem cuidar de tudo para você. Porque ficar se matando?
-- Vou tomar um banho, depois conversaremos.
Segui para o meu quarto e tranquei a porta. Ele, como estava alterado pela bebida, podia muito bem vir atrás de mim.
Fiquei um tempo interminável na banheira sentindo a carícia da água em meu corpo. Enquanto passava a esponja em minha pele, senti, em determinado momento, o meu corpo reagir. Lembranças de alguns anos atrás, de fatos ocorridos no Colégio Interno para meninas em que estudei na Suíça, me acudiram à mente. Fechei os olhos e deixei minha mente mergulhar naqueles compridos corredores.
" A professora de literatura explicava a matéria com sua voz calma, rouca e baixa. Tínhamos que ficar em silêncio para ouvi-la direito. Todos a respeitávamos e a admirávamos muito, pois ela era o que poderia se dizer, uma mulher à frente de seu tempo. Suas roupas acompanhavam sempre a última moda; o corte de cabelo sempre arrojado, moderno.
Fosse nos corredores do colégio ou na sala de aula, seus olhos pousavam sobre mim com tanta insistência que me deixava sem graça. Ela caminhava por entre as fileiras de nossas carteiras e vez ou outra parava ao meu lado; pegava meu caderno e sempre fazia um elogio sobre a minha organização, minha letra e minhas excelentes notas. Sempre que colocava o livro ou o caderno de volta sobre minha mesa, deixava sua mão tocar na minha. A sua forma gentil e carinhosa de me tratar, com o passar do tempo, conquistou meu coração. Eu percebi o quanto ela havia conquistado a minha simpatia, quando um dia, não compareceu à aula. Eu a aguardava ansiosa, sem perceber, é claro, meu estado de espírito. Não havia me dado conta que, sempre depois da aula dela, o dia me parecia mais bonito.
Nesse dia em que ela faltou, uma professora substituta entrou na sala e depois de nos cumprimentar nos deu a triste notícia de que a nossa querida professora Eloise estava adoentada. Como ela não morava no colégio eu fiquei inconsolável, por não poder visitá-la.
-- Não posso lhes dizer quando ela retornará, pois ao que parece, necessitará ficar em repouso por mais de uma semana -- As nossas vozes soaram em lamento por toda a sala e foi necessário que a professora nos pedisse silêncio, elevando a voz.
-- O marido dela veio nos avisar, portanto, eu a substituirei até o seu retorno.
Quando ela disse marido, senti uma pontada estranha no peito. Não sabia que ela era casada. Nessa época eu estava com 14 anos de idade e era para ela que direcionava todos os meus pensamentos. Enquanto minhas colegas sonhavam com os garotos, eu sonhava com Eloise, mas não fazia a menor ideia do que era aquele sentimento. Quantas e quantas vezes, me imaginava passeando com ela, descansando em algum parque com minha cabeça em seu colo, enquanto ela alisava meus cabelos e lia algum livro para mim! Imaginá-la casada me fez pensar que ela poderia fazer com o marido, o que eu desejava que ela fizesse comigo. Aquela notícia trouxe-me lágrimas aos olhos.
Eloise ficou afastada por duas semanas e aquele tempo para mim foi uma eternidade. Eu mal comia e mal conseguia prestar atenção às aulas. Mas, mesmo assim, arrasada de saudade, me afundei nos estudos para manter as notas altas e continuar recebendo os elogios dela. Sugeri à turma que fizéssemos alguma coisa para recebê-la. Todas concordaram. Reunimo-nos para decidir o que fazer e, a maioria optou por depositar cartas, em que relatávamos o que sentimos com sua ausência, numa caixa. Eu fiquei encarregada de enfeitar a caixa e, como gostava de desenhar, forrei a caixa com desenhos do seu rosto.
Num belo dia a professora substituta me fez, sem o saber, a pessoa mais feliz do mundo.
-- Queridas alunas, hoje tenho uma boa notícia para vocês. A professora Eloise retorna amanhã, então essa é nossa última aula.
Eu passei o resto do dia numa doce ansiedade. O dia foi longo e a noite interminável. A aula dela seria as duas últimas do período da manhã. Nos intervalos eu me esgueirava pelos corredores na esperança de vê-la, mas só consegui vê-la no horário da aula.
Sentei-me em minha carteira. Minhas mãos estavam geladas e um frio terrível tomava posse da minha barriga. Meus olhos não se desgrudavam da porta. Emanuelle, minha inseparável colega, desconfiava do que eu sentia por Eloise, uma vez que ela nutria sentimento igual por mim, fato este que tomei conhecimento, muito tempo depois.
A porta foi aberta e ela entrou. O seu rosto lembrava muito a Brigitte Bardot. Não, não era fantasia de uma adolescente encantada! Todos comentavam como eram parecidas, mas a semelhança parava aí. Eloise amava uma sala de aula.
Ela entrou com seu corpo alto e esguio, num vestido de última moda; os cabelos loiros na altura dos ombros e um sorriso que iluminava todo o rosto. O meu coração parou de bater, o ar faltou e uma leve vertigem me acometeu. Tive a impressão de que estava sonhando. Ela parou junto à mesa e nos cumprimentou. Sua voz rouca e baixa penetrou nos meus ouvidos e me trouxe de volta à realidade. Todos estavam de pé, então me levantei rapidamente, pois havia ficado sentada devido ao meu estado de entorpecimento.
-- Bom dia minhas queridas. Estava com muitas saudades de vocês.
O nosso bom dia foi uníssono. Ela nos mandou sentar e se pôs a caminhar por entre as carteiras. Parou ao lado de cada uma de nós e conversou brevemente com todas. Quando chegou a minha vez, pensei que fosse desmaiar. Ela, suavemente, deslizou uma mão sobre meus cabelos e me presenteou com o sorriso mais lindo do mundo. Seus olhos cor de mel fixaram-se no meu de forma penetrante. A intensidade de tal olhar me fez tremer. Meu coração disparou mais ainda quando ela escorregou a mão pela minha face e me declarou baixinho:
-- Senti muito a sua falta. Preciso falar com você no final da aula.
Seguiu para a carteira da frente.
Ela recebeu a nossa caixa de correspondência com lágrimas nos olhos e prometeu ler as cartas em sua casa e responder todas. Ficou encantada com os meus desenhos.
Eu aguardei o término das duas aulas, agoniada. Não conseguia prestar a atenção em nada do que ela dizia. Só ficava imaginando o que ela queria falar comigo. Não conseguia fazer a mínima ideia do que fosse. Não desgrudava os olhos dela. Emanuelle, que se sentava ao meu lado, segurou a minha mão.
-- Você está passando mal, Sylvia? Está pálida e suando.
Puxei minha mão e a escondi no meu colo, passando-a na saia. A outra, que segurava o lápis, tremia.
-- Não. Estou bem.
Depois de duas horas, que me parecerem dois séculos, o sinal tocou. Suspirei. Todas foram saindo e eu permaneci sentada. Emanuelle me olhou por um tempo, mas logo depois deixou a sala. A professora estava sentada com a cabeça voltada para uns papéis sobre a mesa. Eu me levantei e aproximei-me a passos lentos. Meu estômago se contraia e o frio na barriga aumentava; os joelhos moles ameaçavam me derrubar no chão. Parei em frente à mesa. Ela, percebendo minha presença, ergueu a cabeça. Mais uma vez fui presenteada com seu sorriso.
-- A... A senhora... disse que... queria falar... comigo.
Ela ficou me observando por uns instantes e o silêncio reinou na sala. Depois estendeu uma mão para mim. Antes de dar-lhe a mão a sequei na roupa. Senti sua mão macia. Ela apertou a minha com delicadeza. Deslizou o polegar sobre o dorso e, enquanto fazia isso, me olhava dentro dos olhos. Em seguida, ainda segurando minha mão, levantou-se e parou na minha frente. Abaixei a cabeça, não conseguia mais encará-la. Ela tocou levemente o meu queixo, fazendo-me olhar para ela.
-- Não precisa ter medo. Não vou lhe fazer mal.
-- É... Não... Não estou com... medo.
-- Quero conversar com você, Sylvia! Mas essa conversa tem que ficar apenas entre nós duas.
-- Cla... Claro!
-- Eu senti muito a sua falta. Senti demais!
-- Eu... também!
-- Posso lhe dar um abraço? - Perguntou, me segurando pela cintura -- Sempre quis fazer isso, mas depois que adoeci, fiquei com medo de morrer sem poder lhe abraçar.
Como tínhamos quase a mesma altura, coloquei meus livros sobre a mesa e a enlacei pelo pescoço. Ela me apertou de encontro ao seu corpo e eu senti que ela estava tremendo. Nossos rostos se emaranharam nos cabelos uma da outra. Senti seu perfume delicioso e inebriante! Jamais iria esquecê-lo. Ela beijou o meu cabelo, o meu ouvido e sussurrou baixinho:
-- Meu Deus, como senti sua falta, menina! -- Me apertou mais -- Deus sabe como senti!
Ao ouvir isso e senti sua voz no meu ouvido me agarrei mais a ela e também sussurrei:
-- Então não adoeça mais! Não se afaste mais de mim!
Ela começou a me beijar no rosto inteiro e de repente se afastou.
-- Por favor, ninguém pode ficar sabendo desse nosso abraço. As pessoas não entenderiam e me afastariam de você.
-- Eu não vou... falar para ninguém... Não quero... a senhora longe... de mim!
Ela pegou a bolsa sobre a mesa, olhou para mim mais uma vez e saiu da sala.
Eu fiquei lá por alguns minutos digerindo o que havia acontecido.
A minha história com Eloise durou mais de três anos.
A minha mãe só ficou sabendo depois que eu já havia saído de lá. Mexendo em minhas coisas encontrou cartas de Eloise. Não acabou com a vida da professora, porque Eloise usava um pseudônimo como assinatura.
Quando a água esfriou eu voltei ao presente. Levantei-me, me enrolei no roupão, liguei para Julieta e pedi que me trouxesse um copo de leite. Não estava com disposição para uma conversa com Augusto. A ideia de rompimento do noivado crescia a cada dia e tomava forma em minha cabeça. Mas, não ia tomar nenhuma decisão por enquanto.
***********
Os dias de quarta e a quinta passaram rápidos e a sexta-feira chegou.
Eu já estava em minha casa, precisamente no escritório, aguardando a chegada do juiz e os demais para a leitura do testamento. O cofre, onde estava guardado o documento, ficava numa parede ao lado da mesa. Uma pintura de Caravaggio, pintor que meu pai admirava, o ocultava. Eu sabia a combinação do cofre desde que era criança. Ele me confidenciou todas as combinações dos seus cofres e sempre me informava, caso fizesse alguma alteração.
O meu coração ribombava no meu peito. A garganta seca já me havia feito consumir uma quantidade exagerada de água. Tia Cláudia, que havia retornado no dia anterior, percebera minha inquietação. Eu estava sentada em minha cadeira e não tirava os olhos da porta. Tinha ensaiado mil formas de como me comportar na frente dela e do meu irmão, mas nenhuma se fixava na minha mente. Tinha que me segurar para não deixar transparecer meu nervosismo. Tia Cláudia, Helena e Antônio eram pessoas espertas e vividas, se eu cometesse o menor deslize eles poderiam perceber. Naquele momento eu agradeci a presença de Augusto. Iria me refugiar nele, para desviar minha atenção dela.
Inconscientemente caprichei na aparência. Vesti um terninho de corte feminino na cor vinho. Aquela tonalidade realçava minha pele branca e contrastava muito bem com meus cabelos claros e olhos esverdeados. Por baixo uma blusa branca de botões. Por sorte, naquele dia, o calor dera uma trégua. O céu estava carregado e uma chuva torrencial ameaçava cair.
Ouvi vozes no corredor. Engoli em seco. A porta foi aberta e por ela passaram Augusto, o Juiz, o escrivão, o advogado do meu pai e agora meu. Pedi ao juiz que permitisse a presença de Augusto, ele seria, acreditava eu, um refúgio para eu esconder minhas emoções ao me deparar com ela. Logo em seguida, entrou tia Cláudia seguida de Helena. Meus olhos, acredito, estavam arregalados. Essa era a impressão que eu tinha. Augusto se postou ao meu lado e eu segurei sua mão. Ele ficou feliz, coitado, com o meu gesto.
Ouvi um pequeno balbuciar e, aos meus olhos, surgiu ela com o filho nos braços. Meu coração acelerou mais ainda, minhas pernas tremeram e ficaram moles. Temi não me aguentar em pé, pois me levantara assim que o juiz entrou. Firmei-me com uma mão na mesa, já que a outra segurava a de Augusto. Se o meu noivo não tivesse o ego tão grande teria percebido o que se passava comigo. Meus olhos se cravaram nos dela. Aquele mar azul pareceu encher toda a sala. Meus olhos desceram para a boca, o pescoço, o decote e o resto do corpo. Ela trajava vestido preto de botões, na altura dos joelhos. Nos pés um par de sandálias, também preto, de salto médio. O corpo, sob a roupa bem cortada, deixava adivinhar as curvas perfeitas. Os cabelos soltos e brilhantes caiam sobre os ombros como cascatas. Eu pensei que fosse morrer diante de tanta beleza. Não podia existir no mundo criatura mais bela! Mais uma vez eu compreendi meu pai.
Ela tinha um ímã que me atraia. Não conseguia parar de olhá-la. E, novamente, me veio aquela vontade que senti no hospital: a vontade enorme de abraçá-la, de me refugiar no calor do corpo dela.
Ela ficou parada ao lado da porta. Estava estática, sem tirar os olhos de mim. Então eu percebi que não lhe era indiferente. Mesmo que seu olhar era terno e doce, pareceram revelar uma emoção que eu comecei a conhecer aos 14 anos, nos olhos de Eloise. Com essa desconfiança eu senti um misto de alegria, medo e tristeza. Era loucura da minha cabeça, pensar nela do jeito que estava pensando. Ela era mãe do meu irmão e foi amante do meu pai. Então, era inadmissível, que eu alimentasse o sentimento que criava raízes em meu peito. Devia cortá-lo, antes que me dominasse por inteiro.
Helena se aproximou, pegou a criança e veio em minha direção. Só naquele momento consegui prestar atenção no garotinho.
-- Sylvia, este é Antenor Júnior!
Aquele rostinho infantil era lindo. Tão lindo quanto o da mãe. Os olhos também eram azuis e expressivos. Os cílios longos e negros. Acariciei os cabelos cheios, negros e sedosos e, para minha surpresa e acho que de todos, ele me abriu os bracinhos. Eu não consegui resistir e o peguei no colo. Ele me enlaçou o pescoço e deitou a cabecinha no meu ombro. Era pesadinho e rechonchudo. Olhei para ela e vi que de seus olhos desciam grossas lágrimas. Fiz um esforço sobre humano para conter as minhas.
Antônio aproximou-se e me avisou que o juiz não podia esperar. Abri o cofre, peguei o testamento e o entreguei ao juiz.
Tentei devolver o garotinho a Helena, mas ele não quis. A mãe se aproximou para pegá-lo, mas ele deu-lhe as costas. Ela esboçou um leve sorriso. A alegria que ela sentia de vê-lo em meus braços estava palpável em seus olhos. Foi tão agradável senti-la tão perto novamente! O mesmo perfume, a mesma leveza, a mesma voz doce! Seus dedos tocaram em meus braços ao tentar pegar o filho e mais uma vez eu pensei que fosse desmaiar. Ela, dando-se por vencida, me olhou e disse num quase sussurro.
-- Ele... gostou de... você!
Eu me senti nas nuvens. Ela estava tão perto que senti seu hálito morno e doce.
Quando ela se afastou eu me sentei e o acomodei no meu colo. Ele se aninhou nos meus braços.
O juiz, chamando a atenção de todos, verificou se o lacre e a costura do envelope que continha o testamento estavam intactos e, em seguida, abriu-o e mandou que o escrivão desse início à leitura.
O escrivão terminou a leitura e ficou estabelecido que, do total dos bens, 75% ficariam para mim e 25% para o Antenor Leme de Barros Júnior. Só naquele momento que fiquei sabendo do nome real do meu irmão, apesar de Helena sempre se referir a ele como Júnior ou pequeno Antenor. Para a senhora Júlia, meu pai não legou nada porque, como ele deixou por escrito, ela assim o exigiu. Mais um dos desejos de meu pai, expresso no documento testamentário, era que eu gerisse os bens do meu irmão, bem como me encarregasse de todas as suas despesas. E, além disso, caso não fosse constrangedor para mim, convidar a ele e a mãe para morarem sob o mesmo teto que eu, a fim de que pudéssemos desenvolver um verdadeiro laço de amor fraterno. Confesso que fiquei surpresa e até chocada com aquela revelação. Mas, como aquele desejo do meu pai, era algo íntimo, pessoal, não seria obrigada a comentar nada a respeito naquele momento. Era algo que exigiria de mim, muita reflexão. Deixaria meu sangue esfriar para pensar a respeito e, só depois de muito ponderar, tomaria uma decisão.
Durante o processo de leitura, o silêncio reinou no ambiente, sendo, vez ou outra, rompido pelo balbuciar de Antenor no meu colo. Por fim, ele terminou sendo vencido pelo sono. Os olhos dela repousavam no filho em meus braços. De vez em quando se cruzavam com os meus, e eu sentia novamente aquela vontade de abraçá-la, aquela vontade de me perder no calor do seu corpo. Meu Deus, não deixe isso me dominar! Rezei ao nosso criador. Eu não podia me enveredar por aquele caminho. Voltei meus olhos para meu irmãozinho e, sem resistir, curvei-me e beijei-o na testa. Pelo canto do olho pude perceber que ela sorriu. Eu estava sentada quase de frente para ela.
Augusto, sentado ao meu lado, não fazia a mínima questão de esconder o seu desagrado em relação ao meu irmão. Como um menino emburrado, olhava de través para a criança. Aquilo só aumentou a irritação crescente que vinha sentindo em relação a ele. Constatei que, se Augusto continuasse com aquele ciúme bobo, nossa relação iria ficar insustentável, pois ter aquela criança em meus braços e saber que ela era formada pelo meu sangue e pelo da senhora Júlia, despertou em mim uma ternura e um instinto de proteção imensuráveis. Aquele ser pequenino, em poucas horas, fisgou para sempre o meu coração. Olhei para aquele rostinho inocente e, novamente, beijei-lhe a testa. Quando levantei a cabeça e me virei na direção de Augusto, percebi novamente, o brilho de raiva em seus olhos. Ele olhava para meu irmão com antipatia, com ódio. Realmente, nosso noivado não podia continuar. O problema era a palavra que havia dado ao pai dele. O pobre homem acreditava que se casando, Augusto tomaria jeito, adquiriria responsabilidade.
Depois de um tempo que não pude precisar - apesar de ter um relógio no pulso -, devido ao meu estado emocional, a leitura foi encerrada e todas as formalidades necessárias para se cumprir o testamento foram cumpridas.
A tarde já se despedia e tia Cláudia, percebendo que eu estava totalmente aérea, convidou a todos para acompanhá-la até a copa para um lanche. Olhei pela janela e a chuva, começava a cair. O céu mesclava tons de chumbo e laranja e os grossos pingos da chuva formavam gotas de luz nas vidraças das janelas.
Levantei-me com cuidado para não acordar Antenor. Ela se aproximou de mim:
-- Quer... que eu o... segure? -- Seus olhos devoravam os meus. Meu coração novamente começou a galopar no meu peito -- Ele está... pesado. Você... deve estar... cansada.
Eu mal estava ouvindo o que ela dizia. Só sabia olhar para seu rosto perfeito e sentir seu perfume. Via o movimento da boca, o brilho dos olhos, as faces coradas e pensamentos não muito adequados para o momento começaram a invadir minha mente. A boca rubra e bem-feita atiçava meus instintos mais primitivos. Para fugir daquelas sensações, tentei responder do jeito mais impessoal possível, mas não consegui, pois, minha voz saiu num doce sussurro:
-- Não...! Quero ficar... um pouco mais com ele! Pode ser? -- Meus braços já estavam cansados, mas queria prolongar a sensação de tê-lo em meus braços. Ele era tão fofo, tão lindo e cheiroso.
Ela sorriu mais e os olhos marejavam. Levou a mão aos cabelos do filho e, ao que parece, deixou-a deslizar pelo meu braço, propositadamente. Aquele breve e suave toque provocou um tremendo arrepio em meu corpo.
Augusto, como um cão de guarda, estava parado assistindo à cena, mas sem nada perceber. Repito o que é sabido desde que o mundo é mundo: "os homens são mesmo uns cegos. Só enxergam o próprio umbigo".
Seguimos para a copa. Ela recusou o lanche e se sentou numa pequena conversadeira sob uma janela. Eu fiquei caminhando para lá e para cá enquanto me deliciava apreciando aquele rostinho de anjo! Enfim, eu tinha um irmãozinho nos braços. Por um caminho tortuoso, meu pai me ofertou um presente maravilhoso.
Depois de mais alguns minutos meus braços começaram a doer e resolvi colocá-lo numa cama. Ele tinha o sono pesado, pois a conversa das pessoas não o despertava. Aproximei-me dela e a convidei para me acompanhar ao quarto. Ela, apenas concordando com um aceno de cabeça, me acompanhou. Subimos as escadas e, assim que chegamos ao corredor que levava aos dormitórios, decidi colocá-lo em minha cama. Seguimos pelo longo corredor, pois o meu quarto era o último. Abri a porta e, depois de passar rapidamente os olhos pelo ambiente e perceber que aquele não era um quarto de hóspede, perguntou admirada:
-- Este quarto... é... é...?
-- Sim! Este quarto é meu... Vou colocá-lo na minha cama! Você... se importa?
Ela mais que depressa meneou a cabeça.
-- Não! Claro que... não! Ele... Ele é... seu irmão!
Coloquei - o com todo o cuidado e ela, com um breve sorriso tímido, terminou por ajeitá-lo protegendo-o com os travesseiros.
-- É... Eu...
Percebi que ela queria dizer mais alguma coisa.
-- Você... quer dizer mais alguma coisa?
Ela, já de frente para mim, abaixou os olhos para as próprias mãos, depois me olhou novamente. Seus lábios tremeram quando falou num fio de voz:
-- Hoje é... aniversário dele! Faz um aninho!
Meu Deus! Aqueles lábios cheios, vermelhos como uma amora, tremulando ao falar, me deixaram completamente fora de órbita. Fechei os olhos para afastar aquela visão. Ela estava mais ou menos a um metro de distância. Dei um passo atrás e sorri ao saber do aniversário dele.
-- Não sabia! Um aninho! -- Sem mais saber o que dizer, caminhei em direção à porta.
-- É... Posso ficar aqui? Tenho medo... que ele acorde... e estranhe o quarto!
Senti vontade de ficar ali com ela, mas não podia. O que ela iria pensar? Apenas abanei a cabeça em concordância. Nada justificaria a minha permanência ao lado dela. Antes de sair olhei para ela mais uma vez e novamente notei aquela deliciosa ternura em seus olhos. Ela parecia um anjo. Tão leve, tão linda, tão doce! Meu Deus, o que será de mim? Não posso sentir isso em relação a ela! Não posso! Por ela não! Sai e fechei a porta levemente.
Segui pelo corredor com o corpo em chamas. Quando cheguei ao térreo, o juiz, o advogado e o escrivão só estavam me esperando para se despedirem. A chuva estava engrossando e eles, por terem compromissos, não podiam pernoitar.
Depois que saíram, segui para a copa para tomar um pouco de chá. Estava nervosa demais. Augusto surgiu, não sei de onde, com o charuto entre os dedos. Aproximou-se de mim e me beijou no rosto. Sentou-se numa cadeira e ficou me olhando. Helena e Antônio se aproximaram.
-- A chuva, pelo jeito, vai cair a noite inteira. -- Constatou Augusto.
-- Vocês deveriam passar a noite aqui -- Sugeri -- Antenor está dormindo e não é recomendável viajar com ele numa chuva dessas.
Helena sorriu de rosto inteiro. Deixou estampada a felicidade por eu ter caído de amores pelo meu irmão.
-- Ele está no mais profundo dos sonos, lá em meu quarto.
Ela não conseguiu disfarçar o espanto. Seus olhos cresceram. Mas nada disse.
Augusto, claro, não podia deixar de proferir mais uma das suas.
-- Em seu quarto? Ele está dormindo na sua cama?
-- Sim. Qual o problema?
-- Sylvia! Você conheceu esse menino hoje! E, bem ele... ele é seu irmão, mas... mas você sabe... A mãe...
Eu me recostei na cadeira e apertei os olhos -- um traço meu quando ficava indignada ou irritada com algo - e o encarei. Não estava acreditando que ele estivesse com preconceito pelo fato do menino não ser filho do casamento. Com a voz baixa e entrecortada proferi.
-- Diga-me que estou com problema de audição e não ouvi direito o que você falou, Augusto! Diga-me!
Ele ficou mudo, pois percebeu que havia falado mais uma asneira. Tentou consertar a bobagem que fez, mas pirou mais a situação.
-- É que... A cama é... um lugar íntimo... E... e você, não.. não o conhece direito... Ele... pode ter... alguma doença... Sei lá!
Eu coloquei os cotovelos sobre a mesa e apoiei a testa nas mãos. Fiquei alguns segundos naquela posição. Eu não estava acreditando nos meus ouvidos! Eu não conhecia aquela pessoa! Aquele não podia ser o Augusto que eu conheci! Ele novamente tentou consertar.
-- Sylvia! Entenda... Não falei... por mal... Só me preocupo com você!
Levantei-me, olhei para ele e disse com os dentes trincados, tentando manter a calma. Minhas mãos tremiam. Meu corpo todo tremia.
-- Augusto, saia da minha frente! Saia agora! E por favor, não me apareça mais por hoje!
-- Mas... por quê? Não falei por mal.
-- Amanhã, bem cedo, arrume suas malas e vá para um hotel em São Paulo. E depois, me faça mais um favor, volte para Lisboa!
-- Não vou para São Paulo, coisa nenhuma! -- Alterou a voz. -- Não preciso ir, pois eles vão embora amanhã, não é Antônio? Vocês vão amanhã, não é?
Eu perdi a paciência e alterei a voz, coisa que raramente fazia.
-- Não! Eles não vão amanhã. Vão passar o final de semana aqui comigo! Você é quem vai! -- Ele me olhava com os olhos enormes. Tentou protestar, mas não deixei -- Será que vou ter que pedir aos seguranças para levá-lo?
Ele colocou-se de pé e, sem acreditar no que estava ouvindo, girou nos calcanhares e saiu.
Soltei o corpo na cadeira e deixei as lágrimas caírem dos meus olhos. Chorava não por ele, mas pelo fato de ter me enganado tanto, por ter sido tão ingênua.
Antônio e Helena permaneceram calados. Ela apenas segurou minhas mãos e alisou os meus cabelos. Depois de alguns minutos, ela se pronunciou:
-- Quer mesmo que fiquemos aqui?
Sequei meus olhos e confirmei com um aceno de cabeça. Depois, lembrando-me do aniversário de Antenor, tive uma ideia.
-- Fiquei sabendo que hoje é aniversário de Antenor. Vocês fizeram alguma comemoração na parte da manhã?
Ele meneou a cabeça.
-- Então vou pedir a tia Cláudia para providenciar alguma coisa para amanhã à tarde. O que você acha?
Eu sabia que estava fazendo aquilo por ele, mas, principalmente, para mantê-la por mais tempo perto de mim. Só que naquele momento eu me enganava, tentando convencer a mim mesma de que era apenas por ele.
O rosto de Helena se iluminou.
-- Sylvia, você não imagina como fico feliz com isso! Tudo que eu, Antônio e a própria Júlia mais queríamos era que você se apaixonasse pelo seu irmão e parece que isso aconteceu, não foi?
Eu sorri confirmando.
-- Ela temia que você o rejeitasse. Mas graças a Deus isso não aconteceu!
-- Helena! Imagina se eu iria rejeitar uma criança! Ainda mais sabendo que tem o meu sangue! -- Os olhos dela brilhavam de felicidade --Ele não tem culpa de nada! -- Servi mais um pouco de chá e confessei --Sempre gostei de crianças e é impossível não se encantar por ele, não é? É lindo demais!
Helena completou.
-- Lindo como a mãe! Júlia sempre foi bela. Desde criança!
Eu fiquei nervosa e tentei esconder, desviando meus olhos para a xícara de chá. Mais que rapidamente, peguei um biscoito e o coloquei na boca.
Não sei se Helena percebeu meu nervosismo, pois não demonstrou. Mudou de assunto anunciando que teria que ir até a cidade no outro dia bem cedo, apanhar roupas para o final de semana, uma vez que vieram desprevenidos, pois imaginaram retornar no mesmo dia.
Depois de mais um longo tempo conversando, Antônio me pediu permissão para ficar por algumas horas no escritório, lendo alguns documentos. Eu e Helena fomos para o meu quarto espiar o dorminhoco.
Já eram quase sete horas da noite. Abrimos a porta bem devagar e para nossa surpresa, mãe e filho dormiam abraçados. Ela o mantinha encaixado de encontro ao seu corpo, em conchinha. Ela deve ter deitado apenas para se acomodar melhor, pois os pés pendiam para fora da cama, e acabou por pegar no sono. Um abajur estava aceso, proporcionando ao quarto uma parca iluminação. Eu e Helena nos pusemos a observá-los. Meus olhos, no entanto, eram puxados para ela: um braço envolvendo o filho e o outro sob a própria cabeça. O rosto sereno irradiava paz. O queixo repousava suavemente sobre a cabeça de Antenor. O corpinho dele estava todo encaixado nela. Naquele momento desejei estar no lugar dele e também tê-la em meus braços. Meus olhos desceram pelo corpo, avaliando a curva da cintura, a linha redonda do quadril, o desenho das coxas, que estavam parcialmente reveladas pelo vestido que desabotoara alguns botões. O ar me faltou e, naquele momento, eu pude ouvir claramente um diabinho me dizendo: "Sylvia, você está desejando a amante de seu pai, a mãe do seu irmão! " Meu coração disparou mais ainda. Minha boca secou. Tentei desviar meus olhos daquele corpo fantástico, mas não consegui.
Helena aproximou-se e, suavemente, tocou-a no ombro. Ela abriu os olhos e ao me ver e se dar conta de que estava deitada na minha cama, levantou-se o mais rápido que pode, se desculpando.
-- Des... Desculpe-me. Sem... querer, acabei... pegando no... sono!
Eu estava paralisada. Meus olhos penetraram no decote, que exibiu parte dos seios, quando ela se levantou. Um ou dois botões dali, também estavam fora de suas casas. Benditos botões e bem-aventurados olhos meus! Totalmente hipnotizada por aquela visão, deixei meus lábios se espalharem num sorriso silencioso. Senti uma imensa alegria, pois pelo pouco que vi, constatei que seus seios eram cheios e do tamanho que eu gostava, nem grandes, nem pequenos.
Ela ficou de pé, me olhando envergonhada e se desculpou novamente.
-- Por favor... desculpe-me!
Sentia a garganta travada, mas tentei tranquilizá-la.
-- Fique tranquila... não tem do que... se desculpar!
Ela não parava de me olhar e meus olhos não desviavam do decote dela. Helena pegou Antenor que com o susto da mãe, acordou chorando.
Aquela noite seria longa e insone para mim.
***********
Já passava da meia noite e Júlia, deitada ao lado do filho, na confortável cama de casal, que lhe foi destinada naquele enorme e confortável quarto de hóspede, não conseguia conciliar o sono. Nunca imaginou em sua vida que um dia adentraria às portas daquela mansão e que dormiria uma noite ali. A vida era mesmo cheia de surpresas! Quando ouvira o escrivão pronunciar, na sua voz impessoal, o último desejo de Antenor, sentiu o sangue gelar. Ele nunca havia mencionado nada daquilo. Nunca havia lhe dito que desejava uma aproximação de Sylvia com o irmão, quanto mais morarem sob o mesmo teto. Isso nunca iria acontecer, pois ela não fez nenhum comentário a respeito. Seu rosto ficou impassível quando o desejo do pai foi pronunciado, não revelou nenhuma emoção! Mas também, porque ela haveria de se incomodar com aquilo? Antenor deixou bem claro que era apenas um pedido, e que ela atendesse se assim o quisesse. Claro que ela jamais atenderia àquele pedido do pai!
Antenor sempre falava da filha, mas como de alguém que estaria sempre muito distante do menino e dela. Quando ele se referia à Sylvia era como a alguém intocável, precioso demais para se misturar com qualquer pessoa. Todas as vezes, na verdade muitas, em que ele lhe mostrava as fotos dela, sentia um encantamento lhe invadir a alma, talvez porque ele a revestisse sempre com uma aura de mistério, de um ser inatingível. O que mais lhe chamava a atenção nas fotografias eram os olhos. A cor encantadora do verde folha-seca lhe magnetizava. Os lábios delicados e cheios, graciosos no sorriso cristalino, igualmente lhe prendiam a atenção. Os cabelos de um castanho bem claro, num tom incomum, como um louro-cinza, alegravam seus olhos. Na verdade, sempre que olhava a figura daquela moça, a ternura era o sentimento que primeiro brotava. Depois da ternura, outros sentimentos mais fortes e estranhos lhe turbilhonavam o coração a deixando atordoada. Juntamente com o roldão de emoções diversas, vinha uma curiosidade muito grande a respeito do que ela fazia, do que gostava, do que pensava, de como era o seu dia a dia. Quando Antenor falava dela, lhe perguntava uma coisa ou outra, mas sendo sempre discreta e econômica com as palavras, pois não conseguia manter com ele uma conversa prolongada.
Certa vez furtara uma foto do álbum de Antenor e a mantinha a sete chaves num pequeno baú herdado de sua mãe. A olhava com certa constância. Sentava-se próxima à janela de seu quarto e deixava seus olhos viajarem por aquele rosto encantador. Encantador e inatingível. Sempre acreditou que nunca veria aquela menina de perto, que ela nunca se dignaria a lhe dirigir a palavra ou, sequer, o olhar. Acreditava que dela, se um dia tivesse, seria apenas ódio e desprezo. Um dia se pegou chorando ao se pensar destinatária desses sentimentos.
Mas, como a vida é imprevisível e surpreendente, eis que descobriu em Sylvia, uma moça gentil, doce, simples e atenciosa.
*************
Sua cabeça estava girando, seu estômago enjoado, seu corpo febril, a garganta doendo. Tremia sob as cobertas. As emoções do dia foram fortes demais, e o descuido de ter pegado no sono na cama da sua enteada e, logo em seguida, ser flagrada por ela, abalara por demais seu estado de espírito. Ainda podia sentir sobre si os olhos dela. Estranhou o que viu naquele olhar. O brilho, demasiadamente intenso, ainda lhe queimava e, enigmático, não se permitia ser decifrado. Apesar do seu estado emocional extremamente abalado, naquele momento do flagrante, não percebeu nela a mesma suavidade que vira, quando ela embalava nos braços, o irmão. Notou uma emoção diferente: doce, porém quente, vibrante, pulsante. E, como resposta, sentiu o sangue ferver em suas veias, seguido de um arrepio e contrações no corpo.
A janela, com as cortinas afastadas, filtrava a parca luz que vinha da noite chuvosa. Nas vidraças, os grossos pingos de chuva caiam sem parar. Levantou-se vagarosamente para não acordar o filho e se dirigiu ao banheiro. Mal alcançando o vaso, o vômito saltou rasgando sua garganta. O gosto da bílis sacudiu seu corpo num estremecimento. Sentou-se no chão e descansou os braços na borda do vaso. Novamente abriu a boca dando passagem ao líquido amargo. A cabeça doía. O frio a abraçava devido à febre. Meu Deus, não me deixe ficar doente! Pelo menos, não aqui! Orou.
Após intermináveis minutos quase colocando para fora as entranhas, levantou-se e se aproximou da pia. Abriu a torneira e lavou a boca e o rosto. O contato da água fria arrancou-lhe um doloroso gemido. Olhou-se no espelho e se assustou com as olheiras e a palidez do rosto. Enxugou-se e voltou para o quarto. Enfiou-se sob as cobertas e deixou-se ficar ali tiritando. O sono não veio e pode amanhecer o sábado, juntamente com o tímido raio de sol que se insinuava pela vidraça da janela. A chuva passou. Antenor mexeu-se, abriu os olhos, fungou e ameaçou chorar. Ela, mais que depressa se sentou, colocou-o no colo e deu-lhe de mamar.
*********
Helena olhou seis horas no relógio de pulso. Rapidamente pôs-se de pé, pois pretendia ir o mais depressa possível para a cidade, a fim de retornar para o bolinho de Antenor. Sylvia havia combinado com dona Cláudia na noite anterior, que cantariam os parabéns para ele na tarde daquele sábado. Helena iria pegar algumas roupas e objetos pessoais, porque ficariam na fazenda até o domingo a tarde.
Depois de fazer uma rápida toalete, dirigiu-se ao quarto de Júlia.
Bateu na porta e entrou o mais silenciosamente possível, para não assustar Antenor. Espantou-se quando se deparou com a prima pálida e olhos mortiços.
-- Júlia! O que houve? -- Aproximou-se depressa e tocou-lhe na face.
-- Não sei, Helena! Passei mal a noite. Não consegui dormir e vomitei muito.
-- Você está com febre, minha querida! Vou pedir um termômetro à dona Cláudia -- Saiu rápida em busca da mulher.
Minutos mais tarde as duas entraram no quarto. Dona Cláudia era enfermeira. Havia feito alguns anos de medicina, mas acabou optando por enfermagem.
A tia de Sylvia aproximou-lhe, tocou-lhe a testa, as faces e o pescoço. Abriu-lhe os olhos e em seguida colocou-lhe o termômetro sob o braço.
-- Você está com febre, Júlia! Faz ideia do que pode ser? Comeu alguma coisa diferente? Sente alguma dor?
-- Não! Não comi nada de diferente. Agora a minha cabeça e minha garganta estão doendo muito!
Dona Cláudia pediu-lhe que abrisse bastante a boca. Espiou e viu que a garganta estava vermelha e inchada.
-- Parece que sua garganta está inflamada, querida!
Júlia, pousando os olhos azuis sobre a mulher idosa a sua frente, sussurrou um pedido de desculpas.
-- Dona Cláudia! Não quero dar trabalho. Acho melhor deixarmos para outro dia esse bolo de Antenor... É melhor eu ir para casa...
Dona Cláudia sorriu e meneou a cabeça.
-- Você, minha querida, não sai daqui hoje nem sob decreto! -- Virou-se para Helena-- Já que você vai até a cidade, aproveita e traz o Dr. José de Morais.
Júlia, sem forças, baqueada pela febre, deixou-se ficar. Olhou para o filho que dormia indiferente ao movimento no quarto. Um sorriso de ternura nasceu em seus lábios. Olhou para Helena e pediu:
-- Lena, você pode dar um banho nele para mim? Tem roupas na bolsinha dele.
Dona Cláudia, segurou-lhe as mãos.
-- Minha querida, eu cuido dele! Não vamos retardar Helena, pois quanto mais rápido ela for, mais rápido o médico virá. Vou telefonar para ele para que fique de prontidão. Caso ele tenha alguma emergência no hospital, poderá enviar outro médico. -- Estendendo a mão até ao rosto da jovem, completou -- Vou até a cozinha pegar um café para você. Fique aí quietinha e nada de se esforçar.
-- Dona Cláudia, eu lhe agradeço... A senhora sempre foi boa comigo... Mesmo com tudo o que aconteceu... Mas, eu fico deslocada aqui... A sua sobrinha... Não sei se ela... Vai aceitar muito bem... minha presença aqui assim...doente... Não quero dar trabalho!
Dona Cláudia sorriu alto.
-- Sylvinha!? Fique tranquila! A minha sobrinha é um anjo que veio do céu, mas é forte, determinada e muito sincera. Franca demais! Se ela fizesse alguma restrição à sua presença aqui, minha querida, você nem teria atravessado o batente da porta principal. -- Afagou-lhe os cabelos. -- Tire essas caraminholas da cabeça. Trate de ficar quietinha, pois se for garganta mesmo, terá que fazer repouso. -- Levantou-se e saiu.
Júlia, vendo-se a sós, soltou o ar dos pulmões. Estava envergonhada. A primeira vez que põe os pés naquela casa, adoece. Só comigo mesma para acontecer uma coisa dessas! Pensou.
************
Naquela manhã de sábado eu acordei feliz, apesar de ter dormido muito pouco. Teria a presença dela e de Antenor por todo o sábado e o domingo. Rolei na cama várias vezes, tentando espantar as imagens que insistiam em povoar minha mente: os olhos dela, o rosto lindo, o corpo perfeito! Imagens que pareciam ter se gravado no meu cérebro para sempre. E na verdade foi isso que aconteceu. Aquelas imagens e outras ficariam gravadas indelevelmente em todo o meu ser. O pouco que vi dos seios, quando ela se levantou rapidamente da minha cama, era a imagem que mais se fazia presente. E o desejo de vê-los por completo me queimava por inteiro, me sufocava. Por mais que eu me esforçasse para não pensar, para espantar do meu cérebro aquela imagem, eu me perdia tentando imaginá-los expostos aos meus olhos. A minha imaginação estava febril, pois me pregava peças, fazendo-me vê-la toda nua na minha frente, se exibindo para mim. Assim eu passei quase a noite toda: dormia e acordava assustada, alucinada, sonhando, com o par de seios mais lindos, mais perfeitos que meus olhos jamais viram. Eu estava desejando, cobiçando a amante do meu pai e isso me apavorava.
*********
Sentei-me à mesa da copa e aguardei que me servissem o café. Margareth aproximou dando instruções à copeira. Tia Cláudia orientava outra empregada a compor uma bandeja. Aproximou-se e me deu um beijo na testa.
-- Bom dia, meu bem! Como passou a noite?
Olhei para ela e sorri. Se ela soubesse!
-- Bem, tia. Dormi muito bem! - Às vezes somos obrigados a mentir. Olhei para a bandeja que ela se preparava para pegar. -- Para quem é este café, tia? Algum preguiçoso que reluta em sair da cama? -- Indaguei num tom jocoso.
Ela interrompeu o movimento e me olhou séria.
-- Sylvia, eu espero que não se incomode, mas é que Júlia não passou bem a noite e...
Eu senti um frio na barriga. Imaginá-la doente me deixou agoniada.
-- O que ela tem, tia?
-- Não sei! Mas pelo que pude observar, me parece uma inflamação de garganta. Ainda está com febre, alta por sinal. Não dormiu nada a noite, coitada!
-- Lamento muito, tia! Transmita a ela minhas estimas de melhora.
--Bem, eu acho melhor ela ficar por aqui, até melhorar. Helena trabalha e... bem... Tem o menino... Tudo bem para você?
--Tia! Claro que ela pode ficar o tempo que for necessário! Afinal ela é mãe do meu irmão! E... eu sei que... na verdade, ela foi uma vítima do meu pai...
Tia Cláudia ergueu a bandeja nas mãos, me sorriu e soltou com sua língua sem papas:
-- Eu agradeço a Deus todos os dias, por você não ter saído a Madeleine. Você é um anjo, meu amor! Um anjo! Você não faz ideia do quanto a pobre Júlia sofreu!
Antes que ela se afastasse eu manifestei num tom baixo, tímido:
-- Tia, depois que o Antenor acordar... Se a mãe dele permitir, claro... Traga-o para ficar um pouco comigo... Afinal ela está doente e...
O rosto de tia Cláudia iluminou num sorriso de orelha a orelha. Novamente colocou a bandeja sobre a mesa, aproximou-se de mim e me puxou para um abraço.
-- Minha coisa linda! Eu te amo! Amo por ser minha sobrinha e, principalmente, por ter esse coração de ouro. -- Me deu um beijo na bochecha, piscou um olho e declarou - Aquele danadinho lhe fisgou o coração, não foi? Ele fez o mesmo comigo. Assim que bati os olhos nele, no dia do nascimento, me vi perdida, totalmente apaixonada por aqueles olhos azuis.
Pegou a bandeja e saiu com sua risada gostosa. Eu me sentei novamente e fiquei a pensar num meio de vê-la. Poderia muito bem lhe fazer uma visita, mas tinha medo de sentir novamente aquelas sensações. Eu tinha que evitá-la, não podia alimentar o sentimento que brotava dentro de mim. Levantei-me novamente e fui para o escritório.
Tirei do bolso da calça de boca larga que usava, a chave da última gaveta da escrivaninha. Depois que guardei ali os esboços do desenho do rosto dela, mantinha a chave sempre comigo.
Destranquei a gaveta e peguei o caderno e o envelope com as fotos. Abri e lá estava o esboço. Apoiei as costas no recosto da cadeira e me pus a observar o meu desenho. Iria me dedicar a ele com todo o esmero quando tivesse mais tempo. A ideia de fazer um óleo continuava. Depois abri o envelope e puxei as fotos. Quando a primeira fotografia surgiu eu senti o mesmo impacto no peito. Era incrível, todas as vezes que olhava aquelas fotografias, era como se estivesse vendo-as pela primeira vez. Sentia um choque, uma surpresa, uma admiração. Coloquei o caderno e o envelope sobre a mesa, me acomodei melhor na cadeira e deixei meus olhos vagarem sobre aquele rosto perfeito. Eu não me cansava de olhar. Na verdade, nunca me cansei. Mesmo tempos depois, quando chegava cansada do trabalho e muitas vezes preocupada, aquelas fotografias eram o meu refúgio. A suavidade, a serenidade do rosto dela, a calma e ternura daqueles olhos, tiravam de mim toda e qualquer preocupação, todo e qualquer receio. Na verdade, Júlia se tornou, com o passar do tempo, o meu oásis.
**********
Não sei por quanto tempo fiquei ali perdida contemplando o rosto dela. Acredito até que tenha também cochilado, pois me assustei com leves batidas na porta. Mais que depressa guardei os meus tesouros secretos na gaveta e autorizei que entrassem.
Tia Cláudia entrou com Antenor nos braços. Ele estava gracioso. Trajava uma camisa xadrez em tons azul e branco e um calção também azul, só que num tom mais escuro. Nos pés uma botinha marrom e meias brancas. Estava parecendo um homenzinho. Quando me viu abriu um sorriso mostrando dois dentinhos superiores. A basta cabeleira negra, cheia de cachos, recém-lavada exalava um delicioso perfume. Quando me aproximei ele se jogou para os meus braços. Tia Cláudia brincou.
-- É. Parece que ele também foi fisgado!
Segurei-o e beijei-lhe o rostinho.
-- Como ela está?
-- O doutor José de Morais está lá em cima com ela. Ela quase não tomou o café, coitada! A garganta está doendo e o estômago enjoado.
Eu não disse mais nada. Nem sabia o que falar. Aliás, me faltava coragem para falar dela. Não queria que tia Cláudia soubesse do que estava se passando comigo. Ela sabia do meu passado e, se eu me descuidasse, ela somaria dois mais dois. Era muito esperta. Pegava as coisas no ar. Ainda bem que não era preconceituosa. Quando minha mãe descobriu meu envolvimento com Eloise, ela pegou o primeiro avião e foi ficar do meu lado. Discutiu bastante com minha mãe e a proibiu de fazer um escândalo. Ficou por lá mais de um mês me dando apoio e me defendendo das alfinetadas da minha mãe.
-- Meu bem, vou deixá-lo com você. -- Da porta se virou -- Ah! O bolinho dele eu mesma vou fazer. É melhor cantarmos os parabéns amanhã. Júlia estará melhor e poderá participar.
Eu sacudi a cabeça em concordância. Ela saiu e fechou a porta.
-- O que vamos fazer agora, garotão? Vamos para o jardim?
Levei-o para o quintal e fiquei por um bom tempo lhe mostrando as flores, os insetos que pousavam nelas. Ele gargalhava, tentando pegar as borboletas com as mãozinhas. Com todo cuidado peguei uma joaninha e coloquei sobre o dorso da mão dele. Ele ria sem parar e tentou amassá-la com o dedinho da outra mão. Eu não deixei e a devolvi para a folhinha na qual ela se aventurava. Quando o senti pesar nos meus braços, coloquei-o no chão e lhe segurei uma mão para que ele caminhasse ao meu lado. Ele ainda não andava sozinho e com os passinhos trôpegos me acompanhou por entre os canteiros. Era delicioso ter aquela mãozinha macia e rechonchuda na minha!
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O resto da manhã passou tranquilo. O médico examinou a senhora Júlia e foi embora. Ficou diagnosticada inflamação de garganta e abalo dos nervos. Ela foi medicada e tia Cláudia recomendou ao motorista que comprasse os remédios, após deixar o médico em seu destino.
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Por volta das 17: 30 horas, eu me encontrava em meu quarto. Acabara de tomar banho e passava um creme hidratante no corpo. Eu ainda não a tinha visitado. A vontade era enorme, mas eu me segurava. Não podia demonstrar interesse. Nem ela mesma entenderia. Vesti um roupão e me deitei na cama. O quarto dela ficava três portas além da minha, do outro lado do corredor. Seria tão fácil, era só dar alguns passos! Só de imaginar fazendo isso, meu estômago contraia.
Após longos minutos deitada e lutando comigo mesma para não ceder à vontade que me devorava, levantei-me, vesti um pijama de seda preta. Gostava daquele tipo de roupa para dormir, pois era confortável. Se bem que teria que modificar e muito o meu guarda-roupa. O clima do Brasil era muito diferente do da França e eu estava estranhando bastante. Na próxima semana, iria retornar ao meu país para ajeitar algumas coisas que ficaram pendentes e me mudar de vez para cá trazendo Lisa comigo.
Abri o livro que estava lendo pela segunda vez: The Price of Salt, de Patrícia Highsmith. Eu era uma fã ardorosa dela. Já havia lido quase todos os seus livros. O Talentoso Ripley, por exemplo, já havia lido várias vezes e sempre percebia novas nuances na personalidade dele.
Em The Price of Salt, Patrícia usou o pseudônimo de Claire Morgan. Este livro também conhecido como Carol, retrata uma história de libertação sexual em que o lesbianismo - apesar da atmosfera de suspense tão presente nas obras da autora-, é pela primeira vez, mostrado com uma certa naturalidade e com final feliz.
Fui totalmente absorvida pela leitura. Como havia deixado a janela do quarto aberta, só voltei à realidade quando senti a brisa fria da noite me afagar o corpo. Abandonei o livro sobre a cama e me levantei para fechar a janela. Em seguida liguei para a cozinha e pedi um chocolate quente com uns biscoitos. Estava sentindo fome! O meu apetite estava me surpreendendo! Nunca senti tanta disposição para comer! Logo eu que quase nunca comia! Mas mesmo com tamanha disposição eu me segurava e comia apenas o suficiente para saciar a fome. Não podia satisfazer plenamente meu apetite, pois não queria engordar.
Novamente me peguei pensando nela enquanto aguardava o jantar. A vontade de vê-la voltou à carga numa força ainda maior. Voltei ao livro, mas a história não mais me absorveu como antes. Joguei-o de lado e me deitei. Fiquei olhando para o teto de madeira, tentando adivinhar os desenhos formados pela sombra que o lustre projetava. Era engraçado como os meus olhos viam os desenhos, mas na minha mente, apenas a imagem dela ganhava forma e se impunha imperiosa. Eu tinha que me cuidar para não me apaixonar por aquela mulher. Por ela eu não podia! Ela é um fruto proibido, Sylvia! Adverti a mim mesma.
Batidas na porta chamaram minha atenção.
-- Entre!
Uma moça, mais ou menos da minha idade, entrou trajando o uniforme da casa. Era negra e bonita. Eu ainda não sabia o nome de todos os empregados. Teria que me dedicar a isso também, pois gostava de chamá-los pelo nome, eles se sentiam prestigiados, valorizados e, de alguma forma, no meu modo de ver, eles faziam parte da família. Assim pensava eu, bem ao contrário de minha mãe.
Ela depositou a bandeja sobre a mesa e ficou aguardando uma nova ordem.
-- Qual o seu nome?
Ela, mantendo os olhos abaixados, me respondeu numa voz tímida.
-- Joana, senhora!
Aproximei-me da mesa e me sentei. Ela se prontificou a me servir, mas eu recusei.
-- Pode deixar, Joana! Eu mesma me sirvo! Pode ir -- Olhei-a e lhe sorri. Ela pareceu contente.
Fiquei comendo lentamente o meu jantar e o meu pobre cérebro corria afoito para o quarto a três portas do meu. De repente perdi a vontade de comer. Fui para o banheiro a fim de escovar os dentes. Ali fiquei por longos minutos tentando me concentrar naquela tarefa automática. Senti necessidade de me concentrar num simples ato daquele, para poder desviar minha atenção dela. Meticulosamente comecei a deslizar a escova sobre os dentes e prestando bastante atenção àquele movimento. Acreditei que, se eu fizesse uso da prática de me concentrar no que estivesse fazendo, mesmo que fosse nas pequenas coisas, eu impediria que ela ocupasse tanto a minha mente, os meus pensamentos. Ledo engano! Eu fiz uso desse exercício cotidianamente: em casa, no trabalho, nas viagens, em todos os lugares em que eu estivesse, de forma incansável. Eu tentava controlar meu pensamento, mas a imagem dela me acompanhava aonde quer que eu fosse, obstinadamente.
Voltei para a cama e vi que já passava das 20 horas. Num repente levantei-me da cama e sai do quarto. Segui em direção ao quarto dela. O corredor estava deserto e iluminado apenas por uma fraca luz amarela. Na ponta dos pés aproximei-me da porta. Nenhum barulho vinha de lá de dentro. Ensaiei dar umas batidas, mas desistir e girei rapidamente nos calcanhares. Parei na porta do meu e fiquei olhando na direção de onde viera. Meu coração batia acelerado, meu estômago se apertava num frio glacial. Parecia que uma mão gelada apertava minhas entranhas. Respirei fundo e segui de novo, vagarosamente, em direção ao quarto dela. Parei em frente à porta e novamente respirei fundo. Ergui a mão direita e bati levemente. Minha boca secou e senti o coração na garganta, quando ouvi a voz inconfundível soar baixa, quase num sussurro.
-- Pode entrar!
Girei o trinco bem devagar e entrei.
Ela abriu mais os olhos quando me viu e se ajeitou nos travesseiros, pois estava sentada com o filho ao peito. Meu Deus que hora eu achei de vir! Pensei comigo mesma. Meus olhos foram ávidos para o seio exposto. Meu irmãozinho mamava tranquilo. Com grande esforço desviei os olhos. Ela estava muda. Percebi que de tão sem graça e envergonhada, ela não conseguia articular uma palavra sequer.
Aproximei-me dos pés da cama e fiquei em pé, olhando-a. Nossos olhos se encontraram e ficaram se devorando. Eu me enchi de coragem e não desviei os olhos dela. A vontade de olhar para o seio era terrível, mas eu tinha que respeitar o meu irmão e o momento. Ali estava exposto um seio de uma mãe amamentando o filho. Eu me abominava naquela hora, por meu corpo estar tendo reações não muito adequadas para o momento. Achei que estava cometendo um sacrilégio. Ela não fazia outra coisa a não ser mergulhar seus olhos nos meus. O quarto estava iluminado apenas pela luz de um abajur e a fraca claridade dava a ela uma aparência diáfana, mágica. Ela parecia hipnotizada enquanto me olhava. Eu, sim, tinha certeza de que estava hipnotizada por ela. Não mais me contendo, deixei meus olhos descerem para os lábios, que estavam entreabertos em busca de ar. Era visível seu nervosismo, pois seu tórax subia e descia muito rapidamente. Depois desviei o olhar para o pescoço e, finalmente, para onde estava a cabecinha do meu irmão. Simplesmente fiquei olhando. Não me incomodei mais com o que ela pudesse pensar. Simplesmente deixei meus instintos prevalecerem.
Tudo parecia conspirar para o meu delicioso tormento. Antenor rapidamente largou o peito, antes que ela pudesse guardá-lo na camisola e saiu do colo dela. Eu engoli em seco e senti meu corpo todo tremer, pois aos meus olhos surgiu o seio branco e redondo com o mamilo e o bico vermelhos, do tamanho que eu gostava: nem grande, nem pequeno, na medida certa para abarcá-lo com a mão, sentir a textura, a maciez, a rigidez. Agora é que minhas noites vão ser terríveis, meu Deus! Pensei.
A taquicardia que senti foi tão forte que fui acometida de uma ligeira vertigem. Firmei-me no dossel da cama para não cair. E, acredito que literalmente, meus lábios se abriram, pois me lembro de umedecê-los com a língua.
Ela ficou tão atarantada que não conseguiu guardar o seio logo. Ficou com os olhos presos na minha direção. Eu não sabia olhar para nenhum outro lugar que não fosse para aquele lindo melão que me alegrava os olhos e me queimava as entranhas. Desejei ardentemente ver o outro, mas sabia que isso seria impossível.
Ela parecendo sair do torpor em que estava, puxou a camisola e ocultou a parte do seu corpo que iria povoar por muitas noites os meus sonhos. Acomodou-se melhor na cama, ajeitou Antenor sob as cobertas e me olhou novamente.
Eu, sentindo-me tragada de volta ao mundo real e, tendo plena consciência de que estava diante da mulher que foi amante do meu pai, me recompus, inspirei a maior quantidade possível de ar, e falei:
-- É... soube que... ficou doente...
Ela mexeu os lábios num sussurro.
-- É... minha garganta...
-- Soube por minha tia...
Ela abaixou as vistas para as mãos que repousavam sobre o colo.
-- Desculpe... estar incomodando... Não queria... Não sei como... foi acontecer assim...
Sorri para ela. Senti vontade de colocá-la no colo e consolá-la. Parecia tão frágil, tão abandonada.
-- Não precisa se preocupar. Fique tranquila... Pense apenas... na sua saúde.
Ela me sorriu e mais uma vez vi seus olhos serem inundados de ternura. E novamente a vontade de me perder nos braços e no calor do corpo dela tomou conta de mim. Quis me aproximar, mas, antes que cometesse mais essa loucura, me despedi.
-- Vou deixá-la descansar. Estimo melhoras!
Ela apenas acenou com a cabeça e sorriu. Os olhos continuavam derramando ternura.
-- Se precisar de qualquer coisa, seja o que for, é só pedir. Seja a que horas for. -- Nossos olhares novamente se perderam um no outro. Ficamos assim por alguns segundos. Suspirei e segui em direção à porta -- Boa noite.
-- Boa noite para você também. E, obrigada!
Sai e segui rápido para o meu quarto. Joguei-me na cama e fiquei esperando meu coração se acalmar. Toda a cena do que lá havia acontecido voltou à minha mente como um filme.
O seio dela povoou minha mente a noite toda.
**********
Depois que Sylvia saiu, Júlia sentiu o corpo todo trêmulo e dolorido. Já estava enfraquecida pela inflamação da garganta, mas a tensão emocional causada pela presença da moça a deixou completamente desnorteada e com os nervos em frangalhos. Serviu-se de um pouco de água da jarra sobre o criado mudo e aos poucos foi controlando a respiração. Ainda podia sentir os olhos dela sobre seu rosto, seu decote, sobre seu seio. Era um olhar que a fez se sentir exposta, tímida, fraca e totalmente dominada por uma energia imperiosa e deliciosamente estranha. Apagou o abajur para fugir da vergonha que sentia de si mesma e daquele olhar que parecia ainda estar ali a consumindo. Sentia-se nua, vulnerável na tímida luz que se acomodava no ambiente. Não sabia como iria encará-la no outro dia. Teria que se refugiar na doença e evitar ficar a sós com ela. Não saberia o que dizer. Não conseguiria olhá-la. Não fazia a menor ideia de como iria reagir vendo-se, novamente, sob a força daquele olhar. Fechou os olhos e procurou desviar o pensamento, mas os olhos verdes castanhos pareciam brilhar na escuridão do quarto e percorrer todo o seu corpo. Sentia, no seio que ficara exposto, a sensação de que o mesmo fora tocado, tateado. O misto de angústia e satisfação que crescia dentro de si a deixava apavorada, pois se descobriu gostando de ter sobre si os olhos de sua enteada. Elevou o pensamento a Deus, para que afastasse aquelas estranhas sensações. Mas o que teve foi uma noite de sono sobressaltado e de sonhos confusos iluminados por um olhar verde-castanho.
Fim do capítulo
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Flor de Liz
Em: 25/09/2018
Aff que pé no saco esse Augusto. Sylvia querida, despache de vez esse encosto da sua vida ! Esse homem é um atraso de vida, kkkk.
Aparecida3791
Em: 27/06/2018
Sua história é surpreendente! Li há alguns anos e é com um prazer imenso que releio. Parabéns pela sua escrita.
Resposta do autor:
Obrigada Aparecida.
Espero que se emocione como na primeira leitura.rsrs
Bjs
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