Capítulo 15: Mariana
Fernanda e Gisele acompanharam Dulce em todas as cerimônias de despedida que se sucederam após o reconhecimento do corpo da jornalista Ana Paula Martins pelos pais. Depois do sepultamento, seguiram para o apartamento que Gisele alugara provisoriamente em Copacabana, uma vez que sua temporada no Brasil seria mais longa do que programara, além do mais, a presença de Dulce no flat tirava sua privacidade e não oferecia conforto para a amiga.
-- Legal o apartamento Gi. Foi sorte encontrar um desses nessa época, verão chegando, alta estação, os gringos sempre lotam Copa. – Fernanda comentou.
-- O Erich é um chato, mas é um excelente agente, é um “faz-tudo” para mim, e conhece sempre alguém que conhece outra pessoa... Enfim, as conexões são infinitas. – Gisele respondeu.
-- Dulce, você está tão calada, isso é no mínimo estranho... Desabafa mulher... Estou preocupada com você! – Fernanda sacudiu a amiga que olhava para a janela com vista para orla de Copacabana.
-- Vocês não estão apavoradas? Essas pessoas morreram por estar em nossas vidas, um louco está se inspirando no que você escreve- Apontou para Gisele- para mostrar o nível de crueldade e doença dele! Como vocês conseguem ficar tão calmas assim! – Dulce quebrou o silêncio, exasperada.
Gisele e Fernanda se entreolharam deixando a preocupação e a angústia evidentes. A policial mais comedida, puxou Dulce para sentar-se no sofá e sentou-se de frente para a jornalista e disse:
-- Olha só... Eu estou sim apavorada, e mais que isso, me sentindo culpada, por que nós temos enfim um elemento em comum entre as vítimas, minha ex-namorada está morta por minha causa e eu tenho mais que a obrigação de prender esse louco, ao invés disso, deixei outra inocente morrer...
-- Não Nanda, isso eu não vou permitir! Essa culpa não é nossa, muito menos sua! – Gisele interviu com lágrimas nos olhos. – Se você tem culpa por não prender esse bandido, a minha é maior, porque ele está seguindo os passos do que eu criei na ficção!
-- Vamo parar as duas?! – Dulce bradou. – Não estou culpando ninguém!
-- Ok, vamos nos acalmar.
Fernanda retrucou mais forte fazendo um gesto com as mãos, pedindo calma. Gisele levantou bruscamente anunciando:
-- Vou pegar algo para bebermos, quem sabe isso nos relaxa um pouco.
Enquanto a escritora preparava três doses de whisky com gelo, Fernanda explicitou o que seu instinto policial falava desde a morte da terceira vítima.
-- Gente, vamos pensar juntas. Sabemos agora que as vítimas tem algo em comum: nós.
-- É, mas vocês duas tiveram um caso amoroso com as mulheres assassinadas, eu não! O único pecado da Aninha, era ser minha amiga! – Dulce disse sorvendo um gole da bebida servida por Gisele.
-- Opa, “pó parar” com essa história de pecado dona Dulce! – Fernanda se defendeu.
-- Tá, desculpa! Foi só um modo de falar, e estou tentando entender a mente desse serial killer... – Dulce se desculpou.
-- Se associarmos ao assassino do meu livro, a Dulce não errou na ideia de pecado Nanda. O serial killer que criei, escolhia as vítimas de acordo traumas do seu passado, como se matando pessoas que expressassem os traumas que ele adquiriu, expiasse um pecado e assim ele cumpria um ritual para se purificar.
-- Cara, eu já te disse que você é doida né? Ow imaginação pra criar um troço desse! É até complicado entender você me explicando, que dirá entender a cabeça do assassino. – Fernanda bufou.
-- Para de implicância Nanda, você não é ignorante no assunto, imagino que tenha tido na sua faculdade alguma coisa sobre psiquiatria forense... – Dulce interviu.
-- É, mas vi muito pouco, nunca lidei com um caso de assassino em série, traçar o perfil desse especificamente vai ser complicado, por que estou envolvida. – Fernanda refletiu.
-- Com certeza a doutora poderosa vai poder te ajudar nisso, ela não é CSI? Deve saber tudo disso, por que nos Estados Unidos é só o que tem é serial killer!
Dulce comentou, despertando a cara de poucos amigos de Gisele que repreendeu a amiga só com um olhar.
-- É, com certeza a Letícia deve ajudar a traçar esse perfil psicológico, classificar o transtorno mental do cara. – Fernanda mal percebeu que falava da médica com intimidade. – Mas, nós três temos que pensar juntas, o que nós três temos em comum para atrair a loucura desse psicopata?
-- A primeira vítima estava relacionada a Gisele, que se quer mora no Brasil... – Dulce pensou alto.
-- Eu estava no Brasil a menos de dois meses, poucas pessoas sabiam, eu escolhi a casa do meu tio na serra justamente para escrever meu novo romance.
-- Então esse cara calculou muito bem cada crime desses... Você passou anos fora do Brasil, e pouco tempo depois de sua chegada, ele começa a matar mulheres ligadas a nós? Nós nos afastamos desde que saímos do Nossa Senhora das Graças, aquela tragédia tornou impossível nossa permanência naquele colégio... – Fernanda pausou a reflexão e bateu na mesa com a mão espalmada- Gente é isso! O incêndio é o que nós temos em comum no passado, nós três estávamos no auditório quando aconteceu aquela tragédia!
-- Nós, e a Mariana né? – Gisele acrescentou.
-- Aaaaii, cruz credo! – Dulce fez o sinal da cruz, três vezes rapidamente – Até subiu um calafrio agora, para né Gi! A Mari morreu naquele incêndio... O que você está sugerindo Nanda, que o fantasma da Mariana esperou a Gisele voltar ao Brasil pra se vingar de nós?
-- Para ow! Estava demorando pra você falar uma besteira né Dulce! – Fernanda disse dando um empurrão no ombro da jornalista – A gente está lidando com um cara bem vivo, tem nada de espírito não!
-- Nanda, o que você está pensando afinal? – Gisele indagou
-- Ajudem aí a juntar as memórias... Como era a família da Mari? O que vocês lembram do funeral dela?
-- Ai, foi tudo tão traumático Nanda, até hoje evito me lembrar disso, até na terapia que fiz, aliás, a qual eu não recebi alta...
-- Claro! Qual o psicólogo arriscaria te dar alta, Dulce? – Fernanda interrompeu brincando.
-- Para de implicância Nanda! Nós também tivemos que fazer terapia e com um psiquiatra, não se lembra? Você tinha pesadelos toda noite... – Gisele foi ficando tímida ao notar que revelava uma intimidade que deveria ser segredo para Dulce.
-- Lógico, como não ficar traumatizada? Aquelas labaredas, o teto desabando, as portas travadas pelos entulhos e as chamas, e a lembrança da Mari presa naquela viga de madeira, desacordada...
Fernanda embargou a voz. Gisele segurou a mão da morena, as três encheram os olhos de lágrimas ao mesmo tempo, como se um filme voltasse à mente, atordoando-as com aqueles flashes traumáticos.
-- Nanda você tentou de tudo para tirá-la, era impossível, até o corpo de bombeiros teve dificuldade para remover o que prendia o corpo da Mari... Ou o que sobrou dele... – Dulce lembrou.
-- Eu não me lembro de quase nada da família da Mari. Éramos amigas, mas encontramos a família dela poucas vezes, ela morava longe da escola, ficava sempre na casa de alguma de nós quando tínhamos que estudar ou fazer trabalho juntas. – Gisele completou.
-- Ela tinha um irmão não tinha? – Fernanda interrogou.
-- Sim, tinha uma irmã também. Mas não cheguei a conhecê-la. Conheci apenas os pais dela, eram pessoas decentes, a mãe era professora numa escola publica do bairro que eles moravam, o pai, era motorista de ônibus. A Mari era bolsista no Nossa Senhora das Graças. – Dulce detalhou.
-- Estou me lembrando agora. Ela era muito estudiosa, morria de medo de perder a bolsa, tadinha. Era uma menina tão tímida, acabamos acolhendo em nossa turminha pelo jeito meigo dela nos ajudar em matemática, a irmã Lourdes nos massacrava! – Gisele recordou. – Acabou conquistando nossa confiança, acho que entre nós era a mais ajuizada. – Gisele deixou escapar um sorriso.
-- O funeral, foi na capela da escola né? – Fernanda indagou- Alguém lembra da família dela, de algo que nos dê alguma pista? Algum parente revoltado? Tiveram notícias da família depois?
-- Nanda tudo que me lembro é que foi caixão fechado. Nada de anormal. – Gisele respondeu.
-- Gente, eu permaneci estudando um mês no Nossa Senhora, depois da tragédia... Vocês duas conseguiram transferência, nem voltaram, mas fiquei um mês ainda... Lembro vagamente de um processo que o colégio estava sofrendo, como não foi ninguém de nossas famílias, deve ter sido alguém da família da Mari. – Dulce completou.
-- É por aí que vamos começar. – Fernanda terminou a dose de whisky.
-- Você disse vamos? – Dulce perguntou animada.
-- É. Não posso chegar interrogando a família da Mari como policial, você é imparcial, se apresenta como amiga da Mari, que quer saber onde ela foi enterrada, sei lá, inventa algo, assim você vai conseguir alguma informação sobre esse processo, o que houve depois, é uma linha de pensamento, acho que essa é a pista certa.
-- E como eu posso ajudar? – Gisele perguntou.
-- Na hora certa vou precisar de sua ajuda, para dar mais elementos a Letícia compor o perfil psicológico do assassino, se estiver certa essa linha de investigação, esse cara está relacionado a Mari.
Gisele se afastou para servir outra dose de bebida para as amigas quando o telefone de Fernanda tocou. No display: Letícia. A morena se afastou para a varanda para atender.
-- Oi Lê... – Fernanda disse derretida.
-- Oi Fê... – Letícia respondeu com um sorriso largo.
-- Tudo bem?
-- Mais ou menos...
-- Aconteceu algo?
-- Ah... O sumiço de uma pessoa está me matando de saudades... – Letícia disse tímida.
-- Já comunicou a polícia o sumiço? – Fernanda dizia sorrindo, mordendo os lábios.
-- Acho que vou esperar para fazer a queixa com uma policial qualificada...
O clima de romance no tom de voz das duas deu a leveza que Fernanda precisava para aliviar a tensão daquele momento crítico da investigação.
-- Vou ter que esperar muito para encontrar essa policial? Você vai demorar a chegar na delegacia?
-- Ah, Lê, nem sei te responder isso, minha cabeça está uma confusão... Estou aqui no apartamento da Gisele, estamos tentando montar um quebra-cabeças com nossas memórias...
-- Você está com a Gisele? Ah sim...
-- É, com ela e a Dulce, chegamos a pouco tempo do sepultamento da Ana Paula, amiga da Dulce, a última vítima.
-- Sei... Então, você não volta ao trabalho hoje suponho.
O tom de Letícia já era de decepção, mais sério.
-- Não sei Lê, estou um pouco atordoada com as hipóteses, tenho muito trabalho a fazer, e vou precisar de sua ajuda... Mas, hoje estou sem cabeça para trabalho, entende?
-- Claro, e pode contar comigo, vou ajudar no que você precisar.
Letícia desligou o telefone sentindo nascer no peito uma insegurança aliada ao ciúme, e pior, a frustração por não reencontrar Fernanda naquele dia a exemplo dos quatro dias anteriores.
Fernanda voltou à sala sob o olhar atento de Gisele. A morena emendou um assunto para fugir de perguntas em relação à sua fuga da sala para atender o telefonema.
-- Lembraram de mais alguma coisa? Dulce você pode ir amanhã mesmo na casa dos pais da Mari?
-- Nanda, sou jornalista, tenho minhas fontes, mas vou encontrar uma série de limitações para encontrar o endereço, eu não me lembro ao certo onde a Mariana morava, só sei que era em São Cristóvão.
-- E no arquivo do Nossa Senhora das Graças? – Gisele sugeriu.
-- O que sei é que o colégio faliu... Foi vendido pela ordem das freiras para uma dessas redes de ensino de grande porte... Certamente não guardam registros dos alunos da nossa época. – Dulce informou.
-- Tudo bem Dulce, já sei o que você quer... Vou deixar você acessar os arquivos da polícia, mas sob minha vigilância! A Carol é fera em fuçar os bancos de dados e vai dar uma força também se eu pedir. – Fernanda falou.
-- Então amanhã mesmo entramos em ação! – Dulce disse batendo palmas animada.
-- Menos Dulce, menos... – Fernanda disse mal humorada – Meninas, eu vou indo, preciso de um banho, descansar um pouco...
-- Espera Nanda! Fica por aqui, vamos pedir algo mais tarde para comermos, já estamos bebendo mesmo, relaxa, acho que precisamos uma da outra agora. – Gisele disse.
Dulce pigarreou alertando para sua presença ali.
-- Eu me referi a nós três Dulce... Gisele tentou se redimir.
Fernanda olhou para o copo de whisky à sua frente, e se rendeu, estava exausta, e no fundo, o que uniu as três no passado, voltava com a dimensão trágica que nenhuma podia calcular ainda as consequências. Pensou em procurar Letícia ao sair dali, mas relutou:
-- Ela só se referiu a me ver na delegacia, se quisesse mesmo me ver, teria me feito algum convite, vou esperar ela dar o próximo passo. – Fernanda pensou sozinha.
A personalidade forte de Fernanda impunha por vezes em seus relacionamentos o instinto do desafio, mas naquela circunstância, era mais do que um jogo de sedução, era mesmo insegurança, medo de ir rápido demais, machucar ou se machucar.
-- Tudo bem vai... Vou ficar um pouco mais.
Gisele comemorou. As três se acomodaram na varanda do luxuoso apartamento de frente para a praia de Copacabana, beberam um litro do destilado, e Dulce já começava a berrar cantadas cafajestes aos homens sarados que se exibiam sem camisa fazendo cooper no calçadão.
-- Para de ser manézona, a gente tá no décimo terceiro andar Dulce! Ninguém vai te escutar! – Fernanda dizia em meio a risadas.
-- Ah então eu vou descer! – Dulce fazia palhaçada.
-- O whisky acabou, vou ver o que mais tem no bar... – Gisele disse com embolando a língua.
-- Não, chega de bebida, vamos comer algo. Vocês já estão bêbadas! – Fernanda disse firme.
-- Ninguém aqui está bêbada Nanda, deixa de falar bobagem! – Gisele se defendeu.
-- Mas, eu estou com fome! – Fernanda retrucou.
-- Pode deixar, vou pedir pizza!
Dulce saiu da varanda deixando Gisele e Fernanda a sós.
-- Você lembra que a Mari nos flagrou no vestiário no dia que estávamos fazendo 6 meses de namoro? – Gisele perguntou.
-- Nossa! Estou me lembrando, tadinha, ela ficou tão atordoada que bateu a cabeça na porta de um dos armários, depois a canela em um balde, foi engraçado... – Fernanda disse sorrindo.
-- Éramos loucas... Ainda bem que foi a Mari que nos flagrou, imagina se fosse uma das freiras?
-- É, estaríamos bem encrencadas, você estava sem blusa, e...
-- Sua mão estava por baixo da saia do uniforme...
As duas riram juntas.
-- Seríamos culpadas por mínimo um infarto da irmã Maria do Rosário. – Fernanda comentou.
-- Foi um tempo maravilhoso Nanda.
-- Nem tanto não é Gi?
-- Não seja injusta, fomos muito felizes juntas, e foi fantástico para mim, descobrir com você o amor...
Gisele disse isso aproximando-se de Fernanda que estava sentada.
-- É, foi sim...
Fernanda disse sem conseguir se esquivar da aproximação de Gisele que olhava para a boca da morena com desejo.
-- Eu estou com saudades sabia?
Gisele disse encostando os lábios nos de Fernanda. A policial virou o pescoço para os lábios se desencontrarem esse levantou rapidamente, ao sentir seu coração acelerar e uma vontade de saborear de novo o que despertou seu corpo e seus sentimentos na adolescência, na intensidade do primeiro amor.
-- Será que a Dulce se lembrou de pedir pizza sem cebola?
Fernanda deixou a varanda e encontrou Dulce jogada no sofá, dormindo com o telefone na mão.
-- Acho que nossa pizza vai demorar um pouco...
Fernanda apontou para o estado da jornalista, Gisele sorriu.
-- Eu mesma peço. – Gisele se adiantou.
-- Peça só para vocês, isso, se a Dulce acordar... Eu estou indo embora.
-- Mas, Nanda você disse que estava faminta!
-- Como qualquer coisa em casa, depois de um bom banho.
-- Nanda, você bebeu, e se te pegarem numa blitz?
-- Gisele eu sei me cuidar, estou bem, só preciso descansar.
Fernanda disse pegando o casado jogado em cima de uma poltrona.
-- Sempre que falo em nós, da nossa história você foge, por que Nanda? – Gisele disse impaciente.
-- Você está falando bobeira Gisele... Primeiro que não estou fugindo, estou indo para minha casa porque estou exausta, tenho muito trabalho amanhã e milhões de hipóteses nessa investigação para organizar. Segundo que não tem mais nós Gi, o nosso “nós” hoje é um assassino que mata mulheres por algum motivo do nosso passado, e por falar em passado Gi, nossa história é passado, não preciso fugir do meu passado.
-- Incrível Nanda, incrível como você deixa exposta essa sua mágoa por mim quando toco no assunto. Está tudo aí nas entrelinhas do seu discurso.
--Entrelinhas? Na boa Gisele, não sou uma personagem dos seus romances, não tem linha nem entrelinha nenhuma aqui... Estou deixando tudo claro, nossa história está no passado, eu te amei, mas a vida e as suas escolhas se encarregaram de deixar o que vivemos lá no passado, não interfere na minha vida agora, não tenho mágoa nenhuma, só tenho memória.
Fernanda disse caminhando para a porta.
-- Você está fugindo de novo, eu te conheço. Você deve ter um monte de coisa engasgada aí por anos para despejar em mim, eu tenho certeza, você insiste em dizer que não tem mágoas de mim para não ter que enfrentar o que está aí guardado dentro de você, por que eu escolhi ir embora ao invés de ficar com você e seguir nossos planos.
-- Ah quer saber Gisele, você quer mesmo ouvir? Eu queria te poupar, mas vou te falar e encerrar esse assunto de uma vez por todas.
-- Estou esperando. – Gisele cruzou os braços sentindo um frio na espinha.
-- Eu não consigo mesmo olhar para você sem me lembrar daquela maldita tarde que você apareceu no meu quarto comunicando sua decisão de ir embora com seus pais. Não consigo não sentir vontade de ficar longe de você só pra não ter que rememorar seu ar superior me dizendo que só estava sendo sensata, que seria o melhor para nós duas, e que nosso namoro poderia suportar a distância, se, SE, eu te amasse de verdade.
Fernanda pausou jogando o casaco na poltrona novamente. Gisele já deixava uma lágrima descer pelo rosto.
-- Eu te pedi pra que você não me deixasse. E como me feriu a sua certeza de que isso era o que você faria. Você nem ao menos relutou, nem ao menos disse “Nanda eu não sei se vou conseguir, mas eu acho podemos tentar”, você afirmou categoricamente, que ia me deixar. Toda firmeza que eu esperava que você tivesse em relação ao nosso amor, você teve para me deixar. Então Gisele, é por isso, que não quero falar da nossa história, porque depois de seis meses esperando que você se arrependesse e voltasse para o Brasil e para nossos planos, eu decidi que você ficaria no meu passado e nunca mais deixaria que alguém me fizesse sofrer como você fez.
-- Nanda, você sabe que não tínhamos maturidade para uma relação tão séria naquele momento de nossas vidas, alguém precisava ser racional. – Gisele soluçava.
-- Gisele, eu te disse o que tinha guardado. Isso nunca seria dito se você não insistisse tanto em falar do nosso passado e me acusar de fugir dele, de fugas quem entende é você. Eu segui minha vida depois de amargar a certeza de que o amor que você dizia sentir por mim, não resistiu à primeira tentação de uma vida tranquila cheia de vantagens que seus pais te ofereciam, a certeza de que eu e o que tínhamos não era suficiente. Você tem razão, éramos imaturas, até concordo com você hoje, de que realmente era o melhor a ser feito. Você alcançou seu sucesso profissional, eu o meu, era o que você queria, então, não tem mágoa a ser debatida aqui, assim como também não tem história pra ser relembrada.
Fernanda pegou mais uma vez o casaco, jogou os cabelos de lado e com uma expressão cansada finalizou:
-- Não quero mais falar nisso. O que temos foi bonito, especial, mas está no passado, misturado com toda magia do primeiro amor e a realidade da primeira decepção e primeira dor de amor também. Mas, está resolvido Gisele. Vamos nos preocupar agora em achar esse assassino, ironicamente o passado parece está nos unindo, mas isso não quer dizer que a gente precise reviver tudo que foi já foi superado.
-- Ao contrário do que você pensa ou insiste em fingir Nanda, nosso reencontro e essa conversa só confirmou o que eu já tinha certeza: nossa história não acabou, e vou te mostrar isso, por que o que sinto por você está mais que claro para mim, está vivo e vou lutar para que você me perdoe.
Fernanda balançou a cabeça negativamente e saiu pela porta sem dizer mais uma palavra. Dulce que já estava acordada a um certo tempo, ouvindo a discussão, se sentou no sofá e disse:
-- Deita aqui no meu colo vem...
Gisele assentiu, e chorou deitada no colo da amiga, se dando ao direito de nada falar, apenas deixou seu lamento ser expressado pelas muitas lágrimas que teimavam em molhar seu rosto.
Fernanda sentiu o peso daquele desabafo no momento que entrou no elevador. Não conteve as lágrimas. Não amava mais Gisele, isso ela tinha certeza, todavia, a mágoa que estava muito bem escondida escancarou-se naquele diálogo, expondo outra fragilidade da morena. Tomou seu banho como se quisesse deixar escorrer naquela água o sangue que jorrou pela ferida aberta, e finalmente se entregou ao cansaço, dormindo depois de muito chorar relembrando a partida de Gisele a mais de dez anos.
*************
Fernanda chegou a delegacia com o mau humor conhecido pelos colegas, óculos de estilo aviador cobrindo as marcas de uma noite mal dormida. Reuniu-se com o delegado, Beto e Ferreira na sala de Wellington para expor as hipóteses e a nova linha de investigação a seguir, tendo descoberto o que as vítimas tinham em comum.
-- Agente Garcia, o certo seria afastar você das investigações, mas sei, que esse vinculo que você tem com o caso vai ajudar a elucidar o caso, entretanto... – Wellington pausou cruzando os braços – Quero que você me mantenha informado sobre absolutamente tudo, ao menor sinal que você e suas duas amigas estão na mira desse psicopata, o Ferreira assume a liderança do caso e vocês ficam sob proteção policial, e isso não é negociável.
Wellington disse antes que Fernanda contra argumentasse. Beto e Ferreira seguiram para o setor de inteligência a fim de localizar algum dado relacionado ao incêndio do Nossa Senhora das Graças, a exemplo de Dulce, que fazia isso em um dos jornais mais antigos da cidade.
Fernanda tentava se concentrar na busca de alguma informação que levasse ao endereço da família de Mariana, esperando Carol chegar para ajudar nisso, foi quando viu, Letícia sair do elevador, linda, com uma saia justa na altura dos joelhos, blusa delicada que ressaltava seu belo colo, os cabelos vermelhos soltos e um óculos de grau elegante no rosto.
A morena chegou a perder o fôlego. Tudo mais em volta não tinha importância, a médica parecia andar em câmera lenta, numa imagem daquelas de cinema onde a estrela reina impecável. E no momento que os olhos se encontraram, Fernanda não escondeu a saudade, a vontade de correr para os braços de Letícia. Um cumprimento formal, foi tudo que a ruiva deu a policial, que de tão hipnotizada praticamente não retribuiu, acompanhou com o olhar a legista entrar na sala do delegado e esperou ansiosamente sua saída, calculando os dez minutos uma verdadeira eternidade.
Letícia saiu enfim da sala de Wellington. Caminhou para o elevador e foi seguida por Fernanda. A morena ignorou o fato de mais pessoas estar naquele cubículo. Comeu, devorou Letícia com os olhos, que já ruborizava, conhecendo o olhar de desejo de Fernanda.
Quando chegaram ao sétimo andar, Fernanda continuou a seguir Letícia, que caminhou com passos rápidos até sua sala, Fernanda entrou em seguida, a médica trancou a porta e caminhou até o centro da sala, cruzou os braços e disse séria:
-- Você não pode fazer isso aqui!
-- Isso o que Letícia?
-- Estamos em um local de trabalho!
-- E o que tem isso? Tem medo do almofadinha do Wellington ficar decepcionado com você?
-- Meu medo é outro!
-- De que? De manchar sua reputação? O que foi que eu fiz afinal que não posso fazer em um local de trabalho?– Fernanda perguntou irritada.
-- Você não pode me olhar assim como você me olhou no elevador! Tenho medo!
-- Medo de que Letícia? Fala!
Letícia caminhou até sua mesa, se apoiou nela e respondeu:
-- Medo de não resistir, e querer me entregar a você no mesmo momento...
Fernanda se desarmou, e com o mesmo olhar faminto encarou Letícia dos pés à cabeça.
-- Pra que resistir? – Fernanda perguntou com malícia.
Leticia recostou-se na sua mesa, abriu mais um dos botões da sua blusa, levantou a saia até metade das suas coxas, deixando evidente o convite à Fernanda.
A morena não se fez de rogada. Caminhou até Letícia, subiu suas mãos levantando ainda mais a saia justa pelas coxas da médica e arrancou sua calcinha. Suspendeu o corpo da ruiva sentando-a sobre a mesa, abriu as pernas da legista para dar mais espaço para o encaixe do seu corpo e tomou a boca de Letícia num beijo sôfrego.
Fernanda aproveitou o encaixe para provocar ainda mais Letícia. Suas mãos permaneciam excursionando os pequenos lábios úmidos que se encharcavam naquela carícia, o gemido da ruiva ao ouvido da policial era a resposta que ela precisava para adentrar naquela cavidade pulsante. Fernanda penetrou dois dedos no sex* de Leticia que gem*u cravando suas unhas na nuca da morena.
-- Entra mais...
Letícia pediu, e Fernanda atendeu. Foi suave, delicada, explorou cada ponto com suas digitais, fazendo a ruiva se contorcer. Cada vez que um grito de prazer ameaçava explodir, Fernanda calava a ruiva com um beijo ardente. O gozo da médica entre os dedos da morena proporcionava uma satisfação inenarrável, sorriu ao saborear isso, enquanto abraçava Letícia que tremia depois do ápice atingido.
-- Seria muito cafajeste da minha parte, se eu te dissesse que tenho que ir agora?
Fernanda brincou recolhendo a calcinha de Letícia no chão. Encabulada, a ruiva recolheu a calcinha, baixou a saia, tentando se recompor.
-- Eu tenho mesmo que ir Lê, tenho muito trabalho, mas não ia conseguir trabalhar com a saudade que estava de você.
-- Estava? Já matou as saudades? – Leticia perguntou séria.
-- Pelo menos amenizou... Não?
-- Você sumiu esses dias, mal apareceu, falou tão rápido comigo... Ai Fê, eu estou me sentindo uma adolescente, perdoe-me, que ridículas essas cobranças!
-- Ei! Para com isso... Não estou me sentindo cobrada, não tem nada de ridículo no que você está dizendo, sumi mesmo, mas isso não quer dizer que não estava pensando em você.
-- Jura?
-- Claro que sim Lê! Acho que a gente precisa conversar né?
-- Não estamos conversando? – Letícia brincou.
-- Tá querendo me enrolar doutora?
-- Mesmo que eu quisesse não conseguiria. Precisamos conversar sim, eu estou completamente perdida, você está me tirando do meu estado normal!
-- Você não tá perdida, você tá comigo.
Fernanda deu um beijo em Letícia que sorriu.
-- A gente se fala mais tarde.
A morena deixou a sala com um sorriso sincero nos lábios, deixando um semelhante no rosto de Letícia.
Fim do capítulo
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LeticiaFed
Em: 05/01/2019
Oi Mel. Eu ainda por aqui escrevendo em todas as tuas histórias e esperando atualização. Volte, por favor. Ou dê um sinal explicando o que aconteceu e se está bem. Um beijo!
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