Os meses transcorreram tranquilos, Silvana e Tatiana estavam ótimas  e Pedro apenas tinha notícia do jeito que havíamos combinado. Estranhei o fato dele não nos vir perturbar quando soube do nosso noivado. Mas agradeci, talvez ele estivesse sendo responsável por conta da filha.

Silvana entrava no último mês de gravidez, seus tornozelos estavam inchados e sua paciência inexistente. Já morávamos na minha casa, por enquanto Lavínia e Tatiana teriam que dividir um quarto, mas pretendia construir outro, porque elas estariam em fases totalmente diferente da vida. Não que Lavínia reclamasse, essa menina era iluminada demais e estava feliz com a irmã, ela e Eduardo seguiam firmes, Silvana já havia tido a "conversa" com ela, mas Lala ainda veio conversar comigo, fiquei meio atordoada, primeiro porque não entendia nada sobre sex* hétero e segundo não queria muito pensar em Lavínia fazendo isso, mas ela me garantiu que ainda estava longe de se sentir preparada. No final fiquei feliz, porque ela confiava em mim.

Alexia e Camila estavam namorando firme e nunca tinha visto minha amiga mais feliz, ela estava parando de fazer covers e começou a investir na carreira de cantora. Nesse meio tempo me ajudava com os muitos projetos que tinha, Silvana também pensava em largar a recepção e começarmos uma empresa de consultoria de TI. Ela administraria e eu cuidaria do operacional, mas isso era planos para o futuro, nesse meio tempo ainda organizávamos o casamento.

Foi depois de dois dias do prazo que a obstetra tinha dado para o nascimento, que Tatiana resolveu dar as caras.

Estava fazendo mais uma massagem nos tornozelos de Silvana, que parecia mais inquieta que nas outras noites. De repente ela dá um longo gemido e se curva de dor e fala ofegante:

- amor, estou com contrações.

Me levanto perdida e nervosa, havia ensaiado um milhão de vezes o que fazer, mas agora que estávamos na iminência do parto, não sabia nem qual era o meu nome. Silvana calma, tenta me orientar a pegar as coisas, Lavínia dá risadinha da minha confusão e me ajuda. Nos três partimos para o hospital.

Assim que chegamos Silvana foi preparada para a sala de parto, segura minha mão e pede:

- entra comigo amor.

Concordo, sou levada para uma outra sala para me preparar adequadamente, depois sou introduzida na sala, Silvana já está na maca e devidamente medicada. Ela faria uma cesariana, seria mais seguro para ela e Tatiana. Me coloquei ao seu lado e segurei sua mão, ela pergunta um pouco aflita:

- e a Lavínia?

- esta bem vida, ficou lá fora esperando.

O parto não demora muito, e logo estamos ouvindo os pulmões fortes de Tatiana soltando o choro, a obstetra a coloca sobre o peito de Silvana e nos duas choramos junto com ela. Vou bancar a mãe babona, ( todo mundo sabe que os bebês nascem é com cara de joelho, também pudera nove meses amassados), mas nossa filha nasceu linda. E eu me senti realizada, beijei minha filha e minha mulher. Tudo estava perfeito.

Mas desde quando a vida e perfeita? Não a minha com certeza.

Algumas horas depois Silvana e Tatiana já estavam instaladas no quarto, eu e Lavínia fazíamos companhia, ela babava mais que nós duas. Alexia havia mandado mensagem dizendo que só poderia vir no dia seguinte.

Estava com Tatiana nos braços conferindo mais uma vez se ela tinha todos os dedinhos das mãos e dos pés, quando a porta do quarto se abre.

La parados estão meus sogros, o pai de Silvana e tão alto quanto eu, tem um careca proeminente e olhos castanhos atentos, diferente dos olhos da minha sogra que nos fitam duramente e quase beirando ao nojo. Ela e baixinha e parece mais velha que seus 62 anos. Os dois entram e Lavínia vai cumprimenta-los, entrego Tatiana para Silvana e começo a me levantar para deixá-los a sós. Tudo o que não queria e desgastar mais Silvana, que estava bem cansada. Mas ela coloca Tati em um braço apenas e entrelaça nossos dedos e diz serena:

- mãe e pai, essa e minha noiva , Flower.

Digo sem jeito:

- mas pode me chamar de Flor.

Seu Alberto me olha curioso, mas dona Dalva me encara dos pés as cabeças entojada e depois diz amarga:

- ainda continua com esse absurdo Silvana! E desde quando duas mulheres lá podem se casar, isso e contra vontade de Deus!

Fiquei com raiva, Silvana não merecia ouvir idiotices depois de dar à luz , me coloco a sua frente e educada digo:

- Senhora, sua filha acabou de ter sua neta, me faça o favor e seja caridosa ao menos, já que preconceituosa já sabemos que é. Deixe-a pelo menos descansar para começar a com sua intolerância.

Ela me encara agora com fúria escancarada:

- e você pensa que é quem?!

- sou a mulher que ama sua filha mais que tudo, que ama suas netas. Elas são minha família, daria a vida por elas.

Seu Alberto segura no braço da esposa e pede:

- deixa disso Dalva, vamos conhecer nossa neta.

Ela ainda me olha como se pudesse me pulverizar e depois se aproxima de Silvana, que antes de mostrar Tatiana diz séria:

- quero que saibam que a Flower será minha esposa, e que minhas filhas serão dela também, somos família.

- filha vamos conversar sobre isso depois.

- não há depois pai, isso já está decidido.

- isso é uma insanidade Silvana, cadê o pai dessa criança afinal de contas?

Então como se tivesse sido invocado, o escroto aparece. E diz raivoso:

- estou aqui, que palhaçada é essa da minha filha nascer e ninguém me avisar.

Quando ele termina de falar Tatiana dá um grito e começa a chorar , Silvana tenta acalma-la e eu dou um passo à frente e digo tentando manter a calma, a bebê está sentindo aquela atmosfera hostil:

- nós iriamos avisar Pedro, ela praticamente acabou de nascer.

Silvana diz cansada, depois que Tatiana se aquieta:

- como ficou sabendo?

- sua mãe me avisou.

Nós duas olhamos a Dalva, que não fica nem vermelha por ter sido pega, Pedro passa por mim e vai para junto da cama, e um sentimento horrível me invade, os vendo ali ao redor delas, me sinto excluída. Lavínia vem até a mim e segura minha mão, como dizendo que estava comigo, Silvana me encara cheia de amor, então sentimento vai embora. Pedro poderia ser o doador de esperma ou ser o socialmente aceitável. Mas aquela era minha família e nunca abriria mão dela.

Aperto mais uma vez a mão de Lala e a levo para junto de Silvana, passo pela minha sogrinha e empurro Pedro dizendo:

- a visita acabou, as minhas meninas estão cansadas.

Pedro perde a compostura quando ordeno a saída dele e diz quase aos berros:

- você está louca se pensa que vou sair daqui, essa é minha filha porr*, não tem o direito de me expulsar.

- Pedro sai agora.

Isso foi Silvana, ele a encara magoado e ameaça:

- estou sabendo que vocês acham que vão casar! Pois fiquem avisadas que se isso acontecer vou para o juiz Silvana, minha filha jamais será criada por duas anormais, que valores vocês darão a ela?!

Vejo pelo canto de olho que Dalva concorda com ele, isso me enfurece, chego a dar um passo em direção a Pedro, mas Alberto e mais rápido. Segura pelo colarinho da camisa e começa a arrasta-lo para fora do quarto. Eu os sigo e vejo quando meu sogro o joga quase o derrubando no chão, e sem levantar a voz nenhuma vez diz:

- nunca mais se refira a minha filha e a sua noiva dessa forma grosseira. Essa menina - e aponta para mim- ainda não conheço bem, mas baseado que minha filha a ama e que minha neta a idolatra, posso ter certeza que é uma boa pessoa. Quanto a minha netinha, ela será uma criança de sorte, pois vai ser criada por Silvana, que tem valores que foram passados por mim.

- Seu Alberto... - o escroto até tenta se defender, mas meu sogro está arrasando com ele.

- vá embora agora, se acha que deve entrar na justiça o faça, mas não volte aqui ou na casa da minha filha até se tornar um ser humano decente.

Ele dá um passo para cima de Pedro, que coloca o rabo entre as pernas, me lança um olhar assassino e vai embora.

Seu Alberto apenas assente para mim, depois entra e se despede de Silvana e Lavínia e arrasta a aquela esposa dele para longe. Entro e encontro Tatiana se acabando de comer nos seios da minha mulher, Silvana pergunta:

- o que houve amor?

- seu pai deu uma lição no escroto.

Ela apenas assente triste, sei que ainda se culpa por trazer esse traste para nossas vidas, mas eu já não me sinto assim. Afinal Tatiana foi uma ótima consequência, Lavínia questiona assustada:

- ele pode mesmo tirar a Tati da gente?

Me sento ao seu lado e olho para Silvana respondo acalmando-as:

- e impossível algum juiz tirar o filho de uma mãe sem um motivo sério. E nosso país ainda pode ser intolerante, mas nosso casamento não justifica como motivo, em todo caso vou falar com a Camila.

Dessa vez ganho uma careta de Silvana, mesmo dizendo a ela que Alexia e Camila praticamente estavam casadas, minha gata selvagem ainda tinha ciúmes, mas acabou falando:

- ta certo amor e melhor prevenir do que remediar. Meu Deus nossa filha nem nasceu e já está enfrentando tudo isso.

Me levanto e vou até ela, beijo a cabecinha de Tati e depois os lábios de Silvana e digo com toda certeza do mundo:

- nada vai acontecer a nossa família vida, vou proteger vocês.

Silvana me puxa e me beija profundamente, Lavínia solta uma tosse de mentira e pirraça:

- mas que exemplo que vocês estão dando paras as crianças hein, se beijando assim na frente delas!

Silvana solta uma gargalhada, que é acompanhada por mim e Lavínia, depois a chama e nos quatro nos esprememos na cama. Sentindo apenas amor entre nós e tendo a certeza que tudo daria certo.

Fim do capítulo