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Beautiful and Dangeours por contosdamel

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Palavras: 5085
Acessos: 3524   |  Postado em: 17/06/2018

EPISÓDIO 13 - Disritmia

 

                A varredura na área identificada pelos peritos como a localização das últimas chamadas do assassino da mão em garra foi feita por Fernanda e uma numerosa equipe de policiais, numa ação conjunta entre polícias civil e militar. De posse da foto do suspeito, os policiais abordaram moradores das ruas, donos de estabelecimentos comerciais, porteiros, além de seguranças particulares dos prédios da circunvizinhança.

 

                A operação durou praticamente o dia inteiro, e apesar do esforço conjunto, esta foi para Fernanda e seus colegas um balde de água fria nas perspectivas de avanço na investigação. Frustrada, Fernanda se sentou em um dos bancos da praça, próximo a um ponto de táxi. Sacou o celular do bolso do casaco e sorriu com a mensagem no display:

 

-- “Já escolhi o cardápio e local do jantar, seja pontual, não é de bom tom fazer uma dama esperar. Beijos e até mais tarde, Lê”.

 

                Um senhor de idade, munido de uma bengala, estava sentado ao lado de Fernanda, e como um jeito peculiar deu ares de intrometido ao ver o sorriso largo e belo da morena:

 

-- Ah o amor! Melhora o dia de qualquer um não é?

 

-- Oi? Desculpe-me senhor, não entendi.

 

-- Um sorriso iluminado desses, em uma moça bonita como você olhando um aparelho celular não passa despercebido por olhos experientes de um velho como eu.

 

                Fernanda guardou uma resposta desaforada, em outra circunstância chamaria o idoso de intrometido e abusado, mas naquele dia, estava tudo diferente, ao invés do desaforo, apenas sorriu balançando a cabeça negativamente.

 

-- Já que o senhor é tão observador assim, por acaso não viu esse homem andando pelas ruas desse bairro?

 

                Fernanda mostrou a foto ao senhor, que franziu a testa, apertou os olhos, coçou o cavanhaque grisalho e respondeu:

 

-- Ele não me é estranho. Mas a foto é tão ruim, meus olhos são experientes minha jovem, mas não são mais tão bons como antigamente.

 

-- Faça um esforço senhor, é muito importante. Sou investigadora da civil, esse homem é suspeito de assassinato. O senhor é morador desse bairro?

 

-- Há quase cinquenta anos. Nos últimos doze anos, venho todos os dias para essa praça, acredite, se esse homem morou ou mora nesse bairro, já cruzei com ele...

 

-- Como o senhor se chama?

 

-- Lauro Bonanza, ao seu dispor.

 

                Fernanda sorriu do jeito galanteador do velho senhor.

 

-- Agente Garcia. Senhor Lauro, por favor, tente se lembrar, fique com essa foto, se o senhor vir esse homem passar por aqui, em algum lugar desse bairro, me ligue, esse é meu cartão, tem os telefones da delegacia de homicídios também. Ele tem uma deficiência na mão, os olhos atentos do senhor não deixariam esse detalhe passar despercebido não é mesmo?

 

                O idoso sorriu, e guardou a foto no bolso interno do seu casaco de moleton.

 

-- Fique tranquila minha jovem bela, ficarei ainda mais atento, e assim terei motivos para ver seu belo rosto de novo, ligo se perceber algo.

 

-- Obrigada senhor Lauro.

 

                Fernanda colocou a mão no ombro do idoso. Levantou-se quando o senhor Lauro disse:

 

-- Homem de sorte esse que arrancou seu sorriso com meia dúzia de palavras eletrônicas.

 

                Fernanda sorriu de novo e não conteve a resposta:

 

-- Sabia que o senhor é muito intrometido? Tomara que isso sirva pra nos ajudar a achar um assassino! Tenha uma boa tarde senhor Lauro.

 

******************

 

                Fernanda estava nervosa, vasculhava o guarda-roupas escolhendo a melhor combinação de roupas, e nada lhe parecia a altura de Letícia. Lembrava-se da elegância da ruiva, e quando passava a vista nas suas opções, sentia-se insegura.

 

-- Cacá, socorro!  - Fernanda bradou no celular.

 

-- Gente, você me chamando carinhosamente duas vezes em um mesmo dia? É o fim do mundo!

 

-- Ai porr* Carol me economiza!

 

-- Coé Nanda, qual é a emergência? – Carol disse em meio a uma risada.

 

-- Vou jantar com a Letícia hoje e não tenho uma roupa!

 

-- Ai Nanda como você tá mulherzinha heim...

 

-- Ah vá à merd* Carol!

 

                Carol não continha as risadas do outro lado da linha, fato que só irritou mais Fernanda, que desligou sem avisar, ainda mais nervosa. Vinte minutos depois, a campainha do apartamento da policial toca, impaciente e quase furiosa Nanda abriu a porta disposta a despejar uns desaforos para o síndico, no mínimo seria ele para bater à sua porta sem que o porteiro interfonasse.

 

-- Carol? De onde você saiu?

 

-- Você me pediu socorro, estou aqui, pra que serve a porr* de uma amiga se não for pra isso?

 

                Nanda abraçou a amiga, envolvida em apenas uma toalha.

 

-- Ai menos, você carinhosa assim, só falta chorar emocionada, aí eu vou ter certeza do apocalipse, para com essa merd* e vamos ver o que você tem nesse guarda-roupas.

 

-- Que sacola é essa? – Fernanda perguntou curiosa.

 

-- Umas camisetas de alça de grife heim! Só isso poderia caber em você, quem manda você ter passado na fila dos centímetros três vezes antes de nascer? Nenhum vestido meu caberia em você.

 

                Carol olhou para o caos instalado no quarto da amiga e comentou:

 

-- Jura que tinha tanta roupa guardada? Eu pensei que você só tivesse duas calças jeans um casaco e uns 4 camisas...

 

-- Não tá ajudando Carol... – Fernanda bufou.

 

-- É mais forte que eu, desculpa. Deixe-me ver suas calças sociais ou alguma saia, você tem não é?

 

-- Tenho...

 

                Fernanda revirou pilha de cabides e mostrou a amiga, Não é tão mal, combina com essa blusinha aqui, prove-as juntas. Como se fosse uma menina pirracenta Fernanda apareceu com a calça preta social, justa e a blusa delicada, de costas nuas e um decote discreto, mas com os ombros caídos e bico emburrado, Carol não se conteve:

 

-- Uau! Perfeito! Pronto, resolvida a emergência.

 

-- Não mesmo! E eu vou com os amigos aqui livres, leves e soltos?

 

                Fernanda apertou os seios.

 

-- Nanda, relaxa, tá tudo em cima ainda, e o decote não tá deixando nada demais aparecer. Vamos escolher o que calçar e fazer uma maquiagem pra disfarçar essa sua cara de rata de praia.

 

-- Já começo a me arrepender por ter te chamado...

 

-- Estou me atrasando aqui pra te ajudar, tenho plantão hoje, não torra tá, facilita!

 

                Dito isso, Carol sentou a policial na cama, abriu uma frasqueira e começou a sequencia de pincéis, esponjas e cremes pelo rosto da amiga, que resmungava e fazia careta o tempo todo, especialmente quando a pinça puxava pelos indesejados na sobrancelha negra.

 

                Para a surpresa da própria Carol, em meia hora, Fernanda estava transformada, feminina como a amiga nunca tinha visto, e exuberando sensualidade.

 

-- Agora, pegue aquela única sandália que você tem, nada de botas! E não deixe a doutora esperar, e ah, o perfume.

 

                A escrivã fez menção de retirar um vidrinho da frasqueira, quando Fernanda a interrompeu:

 

-- Não! O cheiro é meu, é desse que ela gostou, não vou mudar.

 

                Carol se limitou a concordar, deixou o apartamento da amiga satisfeita e feliz pelo ânimo da morena, que em muito tempo dava sinais que estava pronta para se apaixonar de novo.

************

 

                A caminho da casa de Letícia, Fernanda recebeu o telefonema de Gisele:

 

-- Oi Gisele.

 

-- Você tá ocupada, ou pode falar?

 

-- Na verdade estou no trânsito Gisele, algo urgente?

 

-- Não... Eu ia te chamar pra comermos uma pizza, beber um chope, algo do tipo, está uma noite tão convidativa para uma caminhada na orla...

 

-- Está mesmo uma noite linda, mas, eu já tenho compromisso, marcamos pra outro dia.

 

-- Ah... – Gisele suspirou decepcionada. – Vai trabalhar?

 

-- Não Gi... Olha eu preciso desligar, tem uns guardinhas chatos ali na frente, a gente se fala, beijo.

                Gisele desligou o telefone amargando a dúvida sobre o tal compromisso da morena. Sua insatisfação estava estampada encarando o celular quando Dulce interpelou:

 

-- Um fora da Nanda?

 

-- Mais um você quer dizer. – Gisele suspirou.

 

-- Gi, pelo que conheço da Nanda, não vai ser tarefa fácil você reconquistá-la, se for essa sua pretensão.

 

-- Acha que ela não vai me perdoar nunca?

 

-- Minha amiga, tem isso, tem o passado, e principalmente, acho que você tem uma forte concorrência.

 

-- De quem você tá falando?

 

-- Não sou lésbica, amém! – Dulce fez um gesto olhando para o céu – Mulher é complicada demais, eu perderia o resto do juízo que tenho... – Mas, eu percebo muito bem as coisas ao meu redor, faro jornalístico!

 

-- Tá, fodona! E o que você percebeu?

 

-- Tem um clima entre a Nanda e a doutora poderosa. Percebi isso nas vezes que nos encontramos, e depois que você me contou que a doutora foi no apartamento da Nanda dar um livro de presente? Ah minha amiga...

 

                Gisele ficou pensativa, ela pensava a mesma coisa, sentia o clima entre a médica e a policial, seu ciúme já fora despertado outrora.

 

-- Dulce será mesmo que eu não sou páreo para aquela água de salsicha?

 

-- Ah para né Gisele! A doutora é escândalo, mas você é Catherine Morgan! Foi o primeiro amor da Nanda, use suas armas! Se tiver uma brasa que seja do passado de vocês, descubra um jeito de acender esse fogo! Mas, deixa eu dizer uma coisa...

 

                Dulce tomou um ar mais sério.

 

-- Ai que medo dessa sua cara... – Gisele disse franzindo o cenho.

 

-- Só faça isso se você tiver certeza absoluta que sente algo mais do que saudade do passado. Você não tem direito de magoar a Nanda de novo, de abandoná-la mais uma vez, se for pra entrar na briga, que não seja por aventura ou capricho, eu posso ficar sem teto, mas vou ficar do lado da Nanda.

 

*****************

 

                Fernanda encarou o retrovisor, deu uma última conferida no visual, esfregou as mãos geladas e suadas pelo nervosismo, puxou a blusa para diminuir o decote, sem sucesso, o colo deixava seus seios bem definidos naquele “V”. Apertou o botão da campainha e em menos de um minuto teve uma das visões mais lindas de sua vida até então: Letícia abriu o portão trajando um vestido com detalhes em renda, “tomara que caia”, os cabelos presos em um coque elegante, com a maquiagem sofisticada como ela.

 

                A policial chegou perder o fôlego. E tudo que conseguiu externar foi um:

 

-- Uau!

 

                Letícia não ficou imune à produção da morena, nunca a tinha visto fora dos seus jeans justos e camisas de botão. Não escondeu a surpresa ao notar o decote da blusa delicada, nem tampouco aos detalhes dos cabelos envoltos em uma trança, ressaltando a sua feminilidade escondida nas suas atividades como policial.

 

-- Uau pra você também. – Letícia disse fechando o portão.

 

                Sorriram juntas, tímidas. Meio desconcertada, Fernanda abriu a porta do seu carro para a médica que deixou um sorriso no canto dos lábios escaparem. Dentro do veículo, Fernanda perguntou:

 

-- Então, onde vamos?

 

-- Vamos na direção do Aterro do Flamengo.

 

                Fernanda acenou em acordo, ligou o som do carro e deu partida em na direção indicada por Letícia. O pen drive tocava alguma música lenta, Letícia não conseguia identificar, educadamente pediu:

 

-- Posso aumentar o volume, ou música enquanto dirige ainda te incomoda?

 

                Letícia disse fazendo alusão à primeira vez que entrou naquele mesmo carro e Fernanda implicou com o gosto musical da médica.

 

-- Pode ficar à vontade, eu adoro música, ao contrário do que te fiz pensar subindo a serra...

 

                As duas sorriram juntas. A ruiva aumentou o volume e se surpreendeu com a letra da música, sendo invadida por cada estrofe, e aquela canção começou a se configurar em um momento sensual:

“Eu quero me esconder debaixo
Dessa sua saia pra fugir do mundo
Pretendo também me embrenhar
No emaranhado desses seus cabelos

Preciso transfundir teu sangue
Pro meu coração, que é tão vagabundo
Me deixe te trazer num dengo
Pra num cafuné fazer os meus apelos!
Me deixe te trazer num dengo
Pra num cafuné fazer os meus apelos!

Eu quero ser exorcizado
Pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografado
Mas pelas retinas dos seus olhos lindos

Me deixe hipnotizado pra acabar de vez
Com essa disritmia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Vem logo, vem curar
Vem curar teu nego que chegou
Que chegou de porre lá da bo, lá da boemia
Vem logo! Vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da bo... lá da boemia
Vem logo, vem curar
Vem curar teu nego que chegou
Que chegou de porre lá da boemia

Eu quero ser exorcizado
Pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografado
Mas pelas retinas dos seus olhos lindos
Me deixe hipnotizado pra acabar de vez
Com essa disritmia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Vem logo, vem curar
Vem curar teu nego que chegou
Que chegou de porre lá da bo, lá da boemia
Vem logo! Vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da bo... lá da boemia
Vem logo, vem curar
Vem curar teu nego que chegou
Que chegou de porre lá da boemia

Me deixe hipnotizado pra acabar de vez
Com essa disritmia
Me deixe hipnotizado pra acabar de vez
Com essa disritmia
Me deixe hipnotizado pra acabar de vez!

(Zeca Baleiro)

 

            Imaginando-se diante de Fernanda, hipnotizando-a, sentiu a disritmia do seu próprio coração, Letícia controlou a ânsia de beijar a morena ali mesmo, tomar a “nêga” dela e curá-la tal como a música pedia.

 

            Fernanda parecia entender o que o brilho do “olhar infindo” de Letícia traduzia. Sentiu o mesmo desejo, de ser hipnotizada e se jogar na cura que a médica podia lhe proporcionar. Mas a canção terminou e o clima romântico se desfez pela sequência da playlist que emendou:

 

“Ela não anda, ela desfila, ela é top, capa de revista...”

 

            Fernanda arregalou os olhos e mudou rapidamente a música, mas Letícia já se perdia em uma gargalhada silenciosa, enquanto a morena sorria sem graça.

 

-- Não sei como essa música foi parar aí...

 

            Fernanda comentou desconcertada. Letícia fingiu acreditar, mas no fundo sabia que aquela música era bem mais a cara da policial despachada.

 

-- Consertou o ar condicionado do carro? – Letícia lembrou-se de perguntar ao notar o clima ameno no carro.

 

-- Na verdade nunca esteve quebrado, não liguei naquele dia só pra implicar com você mesmo e ver seus cabelos se assanharem.

 

                Fernanda confessou recebendo uma tapa no braço em troca.

 

-- Aii! Aê, é a terceira vez que você me bate hoje! Vou apelar pra Maria da Penha viu?

 

-- Por que você implicou tanto comigo Fernanda?

 

-- Ah sei lá, você toda perua dizendo “Ai meu Dior”, não gosto dessas frescurites. – Fernanda fez uma expressão caricata relembrando o primeiro encontro delas.

 

-- Sei, não gosta, mas está usando uma peça Calvin Klein da coleção de verão.

 

                Fernanda pareceu confusa, alheia à descrição, pudera, a tal peça, nem era dela, era da amiga Carol.

 

-- Não gosto mesmo. Chegamos no Aterro, e agora, onde é o restaurante? – Mudou de assunto.

 

-- Conhece o Museu de Arte Moderna?

 

-- Oi?

 

                Fernanda perguntou fazendo uma expressão de interrogação cômica.

 

-- O Museu de Arte Moderna, você conhece?

 

-- A gente não vai jantar? Ah não Leticiaaaa, vai me levar pra ver ferro retorcido e achar bonito?

 

-- Para de falar bobagem! – Letícia sorria divertida. – Tem um restaurante lá, o Laguiole, você vai gostar, não é o dogão do Aguiar, mas é algo diferente do trivial, vale a pena experimentar, o chef foi eleito como o chef revelação do ano passado.

 

            Fernanda não gostou da escolha da médica, torceu os lábios. Entristeceu a ruiva que falou constrangida:

 

-- Eu sou um fracasso em encontros, sempre fui... Eu só tinha que escolher um lugar para jantarmos e escolhi errado né?

 

            Fernanda se arrependeu no mesmo momento da expressão que fez.

 

-- Não Lê! Eu sou uma desengonçada grossa mesmo, o lugar é lindo! Tenho certeza que a comida é maravilhosa! E só de estar ao seu lado vai ser perfeito, mesmo com as frescurites... – Fernanda mexeu as sobrancelhas.

 

-- Vamos á uma pizzaria então, tem uma aqui perto...

 

            Fernanda segurou o queixo da ruiva e girou seu pescoço dando um selinho em Letícia, calando-a.

 

-- Sossega, está tudo perfeito do seu lado, e vou me comportar como uma mocinha, você não vai pagar mico comigo, não se preocupe, não vou te envergonhar!

 

-- Nem brincando diga isso! Nunca me envergonharia de estar com você nem nenhum lugar!

 

            Letícia foi firme, dando a Fernanda a segurança que ela precisava para adentrar no lugar sofisticado, longe da sua realidade. Desceram do carro, Fernanda primeiro que insistiu em fazer o papel de cavalheiro para o divertimento da médica.

 

-- Você leva mesmo a sério as coisas heim?

 

-- Estou tratando você como uma dama, esse título você mesma se deu na mensagem, não está lembrada?

 

-- Menos Fernanda! Somos duas damas, você, a mais bela dessa noite por sinal.

 

            A morena ficou tímida. Letícia percebeu e continuou:

 

-- Vou te tratar como uma dama também, com a delicadeza que você merece.

 

            Letícia sorriu e fez um gesto com a cabeça para que Fernanda a seguisse. Apresentou-se na recepção do restaurante solicitando a mesa que reservara mais cedo. O ambiente requintado intimidou a morena, que se esforçava para se equilibrar no salto e não bater nas mesas no caminho. O maitre puxou a cadeira, primeiro para Fernanda, depois para Letícia. A ruiva não demorou a fazer o pedido depois que Fernanda a autorizou a escolher por ela:

 

-- De entrada vamos querer  terrine de foie gras com pão de especiarias, e o prato principal : cavaca grelhada com risoto de quinoa e gelatina de limão.

 

-- Para beber senhora?  - O maitre perguntou.

 

-- Pode ser um vinho tinto. Concorda Fernanda?

 

-- Claro, pode ser. Marques de Borba, 2008, você tem?

 

-- É uma de nossas novas aquisições senhora, boa escolha.

 

            O maitre se afastou enquanto Letícia encarava Fernanda com certo espanto no olhar.

 

-- Pensou que eu só entendesse de cerveja não é? – Fernanda indagou com jeito amolecado

 

-- Bom, se entendesse só disso, já é uma boa especialidade, não é todo mundo que entende de cervejas, eu pelo menos não entendo. Mas, sim, me surpreendi, principalmente com seu excelente gosto, adoro vinho português.

 

-- Você ainda vai se surpreender muito comigo doutora. – Fernanda piscou o olho, charmosa.

 

 Letícia retribuiu com um sorriso, mas, no seu interior se enchia de um sentimento dúbio, de medo e encantamento. Medo da intensidade das sensações e sentimentos novos que eram despertados, medo de dar vazão à vontade de esquecer a racionalidade e só se entregar como Fernanda a aconselhara na noite anterior. Todavia o encantamento pelas diversas facetas da forte e apaixonante personalidade de Fernanda transportava a médica para um mundo que ela ansiava descobrir e mergulhar.

 

                O vinho chegou, e logo o prato de entrada. A sofisticação do local parecia não mais incomodar Fernanda. A morena decidiu tacitamente fixar-se no seu alvo: Letícia. Tudo mais era coadjuvante. Não se tratava só de seduzi-la, surpreendê-la, mas sim conhecê-la. Aquela elegante mulher ainda era um mistério para ela, percebeu que nunca permitira que Letícia falasse sobre sua vida, estava sempre preocupada em implicar com a legista como uma forma de mantê-la distante, no estereótipo da perua do Dior, assim, era mais seguro, não se envolveria. Contudo, naquele momento, depois do que experimentou na noite anterior nos braços de Letícia, e de todo aquele turbilhão de emoções despertas nas últimas semanas com a chegada da médica na sua vida, Fernanda se deu conta que distância era a última coisa que desejava de Letícia e assim, tomou a iniciativa:

 

-- Além de saber que você tem um Dior, mora muito bem em Santa Teresa, estudou lá nos “estates”, adora remexer fígados, e que sabe fazer sanduíches milimetricamente cortados em losangos, não sei nada de você Letícia. Fala aê... Quem é a doutora Letícia?

 

-- Se você quer saber quem é a doutora Letícia, eu te dou o link do meu Currículo Lattes, lá tem todos os meus trabalhos publicados, empregos anteriores, premiações, títulos... Isso é de domínio público. Mas, se você quer saber quem é a Letícia, bem, isso será mais delicado de descobrir, afinal, conhecer uma mulher não é coisa pra uma noite só, não acha?

 

                Letícia destilava charme encarando Fernanda, sorvendo um gole de vinho.

 

-- Ao contrário de você, que não deve ter conferido meu currículo, por que se tivesse lido, saberia que não estudei nos Estados Unidos, fiz doutorado em Oxford, lecionei em Cambridge, em Boston eu fiz carreira como legista dividindo-me com a carreira acadêmica por opção e fui como você define uma espécie de CSI em Nova Iorque, eu li sua ficha Fernanda. Sei que você é advogada, mas que nunca atuou como uma. Vi os números de casos que você liderou, e quantas prisões você fez, seu trabalho minucioso em cada investigação.

 

-- Então você conhece a Agente Garcia, e muito pouco. Minha ficha não diz quase nada sobre a profissional que sou.

 

-- Concordo, estou testemunhando todos os dias que sua ficha não faz jus ao seu brilhantismo.

 

                Fernanda ficou tímida, sorveu um gole de vinho, o silêncio foi quebrado com a entrada do prato principal.

 

-- Até agora, seus pratos afrescalhados até que dão pro gasto, vamos ver essa se essa suvaca é boa.

 

                Letícia gargalhou.

 

-- Cavaca, cavaca Fernanda.

 

-- Isso aí... Parece lagosta, isso num é lagosta não?

 

                Fernanda olhou para o prato estranhamente.

 

-- É parecido, mas é mais suave o sabor, e a carne é mais macia.

 

-- Isso é coisa de gringo né? Só gringo mesmo pra inventar de misturar lagosta com gelatina de limão!

 

-- Olha o preconceito! O prato é do chef daqui, que é brasileiro. Prove primeiro.

 

                Fernanda fez uma careta, mas assentiu.

 

-- Hum, isso é bom, pow, isso é bom mesmo! Quem diria que um dia eu iria comer suvaca e ainda mais achar bom!

 

                Letícia se divertia com o jeito despojado e jocoso de Fernanda. Enquanto degustavam o prato, continuaram a conversa em um tom mais informal.

 

-- Então, você na verdade estudou na Inglaterra, foi pras “Oropas”, ui que metida! – Fernanda brincou.

 

-- É, fui para lá ainda criança. Meus pais foram fazer doutorado lá, na verdade, a mamãe. O papai era jornalista, acabou aceitando a proposta de ser correspondente de uma rede de TV lá, e nos mudamos, depois que a mamãe terminou o doutorado, recebeu proposta de continuar lá por mais alguns anos, quando decidimos voltar a morar no Brasil, bem, a violência nos mandou de volta para Europa.

 

-- Como assim? Não entendi.

 

-- Podemos falar nisso outra hora? A noite está tão agradável, não gostaria de trazer à tona memórias tristes.

 

                Letícia ficou mais séria, depois baixou os olhos.

 

-- Claro, falaremos nisso quando você quiser, ou só se você quiser. Peço outra garrafa de vinho?

 

-- Oh! Já tomamos uma? Surpreenda-me, escolha outro vinho...

 

-- Ah meu Deus, fui descoberta, sou uma fraude! – Fernanda revirou os olhos.

 

-- Do que você está falando?

 

-- Meu conhecimento sobre vinhos, eu só conheço essa safra, essa marca. Decorei só para impressionar as “gatinhas”. – Fernanda fez pose.

 

-- Ah! Então não fui a primeira que você tentou impressionar com conhecimentos de um somelier?

 

                Fernanda riu, balançou a cabeça negativamente e respondeu:

 

-- Lê, eu sou bem menos cafajeste do que você possa ter julgado, ou que eu queira aparentar. Essa parada do vinho, bem, eu aprendi com meu pai.

 

-- Ele é um enólogo ou um somelier?

 

-- Não, imagina... É pinguço mesmo. – Fernanda sorriu – Estou zuando... Ele não é um especialista, mas é um apreciador. Sempre gostou, e depois que se aposentou, viajou com a mamãe pra Europa, especificamente para os países onde tinham vinhedos famosos, e voltou empolgado, até montou uma adega lá em casa... Bom, confesso, sei de mais alguns vinhos, eu e papai já nos embebedamos juntos algumas vezes nessa apreciação dele...

 

-- Então você tem uma boa relação com seu pai?

 

-- Ah sim, acho que sou o filho que ele não teve! – Fernanda sorriu. – Os meus irmãos são todos uns almofadinhas, exatamente o que minha mãe quis criar... Mas eu, sou a ovelha negra dela.

 

-- Você como sempre fazendo graça, não aparenta ser uma menina revoltada com a mãe.

 

-- Ah não sou mesmo, amo minha mãe, sou louca por minha avó, mas o que mamãe queria de mim era que fosse uma advogada de terninho em um grande escritório de advocacia, nunca uma policial de jeans e colete a prova de balas... Ou que eu seguisse os passos de meu pai, que foi juiz.

 

-- Entendo... Seus irmãos, seguiram a carreira de seu pai?

 

-- Só um, mora em uma cidade do interior, é juiz lá, é o mais velho. O outro, é engenheiro, casou-se com a filha do patrão que tem uma construtora, pode imaginar não é? É o orgulho da mamãe! Se não fosse o fato da minha cunhada ser uma perua deslumbrada e mandar no meu irmão deliberadamente. – Fernanda sorriu e foi acompanhada por Letícia.

 

-- Então seu pai se orgulha da sua escolha? Isso te incentiva?

 

-- Ah claro que incentiva, mas, mesmo que ele não me apoiasse, eu seguiria a mesma carreira Leticia, eu decidi isso desde criança.

 

-- Algo que motivou esse sonho de criança? As meninas sempre sonham em ser professoras, veterinárias...

 

-- Médicas não é?  -Fernanda sorriu – Algo me motivou sim, perdi um tio muito querido, irmão de meu pai, ele era como um pai para mim, e foi assassinado em um assalto, apesar de toda influência de papai no meio jurídico, o bandido nunca foi preso, foi ali que decidi, que eu ia crescer e prender bandidos, e seria a melhor nisso.

 

                Letícia soltou os talheres, olhou fixamente para o castanho dos olhos da policial e disse:

 

-- Você conseguiu então. É a melhor policial que conheço.

 

                Nem um pouco modesta, Fernanda acenou em acordo.

 

-- Eu sei. – Gargalhou.

 

-- E mesmo sendo uma excelente investigadora, nem desconfiou que te fiz comer fígado hoje.

 

-- O que?! – Fernanda segurou o guardanapo como se quisesse expulsar o que tinha na boca nele. – Tinha que desconfiar de uma suvaca!

 

-- Não está nesse prato. Estava no prato de entrada Fernanda, o terrine de foie gras... Foie gras é fígado de pato.

 

                A cara de nojo que Fernanda fez despertou uma gargalhada em Letícia.

 

-- Acabei de perder o apetite. – Fernanda disse emburrada. – Vou encher a cara agora!

 

-- Mas, e a sobremesa?

 

-- E eu vou confiar em você pra pedir alguma coisa a mais pra eu comer essa noite? Não mesmo! Não quero comer cérebro de lula caramelado...

               

                Letícia continuou gargalhando.

 

-- Então vamos deixar a sobremesa para outra culinária, discuti-la intimamente.

 

                Letícia sentiu o pé de Fernanda subindo por suas panturrilhas, por debaixo da mesa, corou-se imediatamente. Despertada a excitação a ruiva mal conseguia segurar a taça de vinho sem evidenciar o tremor de suas mãos.

 

-- Por favor a conta.

 

                Fernanda pediu quando o garçom se aproximava para anotar o pedido da sobremesa. O clima de romantismo e sensualidade estava instalado, na troca de olhares, e mesmo que as peles estivessem distantes uma da outra pela distância da mesa, a transparência do desejo estava exposta na expressão de cada uma. Sem demoras, saíram do restaurante, e ainda no carro, como se o desejo estivesse prestes a explodir, Fernanda puxou o pescoço de Letícia antes de dar partida no carro, beijando-a com o apetite que lhe faltou para um doce exótico do cardápio.

 

                Letícia deixou um gemido escapar naquele beijo e retribuiu com outro beijo deixando suas mãos deslizarem pelo decote da blusa de Fernanda.

 

-- Lê, para... Se não eu não vou me controlar e vou querer a sobremesa agora mesmo, aqui...

 

                Leticia beijou o pescoço de Fernanda, se perdendo no perfume da morena, quase cedendo ao desejo incontrolável de amar Fernanda ali mesmo, conseguindo provocar a morena que já excursionava com suas mãos por baixo do vestido da ruiva, sentiu a umidade abundante e enlouqueceu.

 

                E quando Fernanda pedia espaço com os dedos para afastar a calcinha de Letícia e alcançar o sex* em toda sua extensão, o celular da policial tocou.

 

-- Brincadeira... Nem fudendo atendo essa porcaria... – Fernanda pensou.

 

 A insistência das chamadas irritou Fernanda que pegou o celular a fim de desliga-lo, quando o celular de Leticia começou a tocar também.

 

-- Fernanda, são chamadas da delegacia, melhor atendermos.

                Primeiro Fernanda atendeu, contrariada.

 

-- Garcia falando.

 

-- Nanda, é o Beto, falhamos, o Capitão Gancho fez sua terceira vítima.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 13 - EPISÓDIO 13 - Disritmia :
patty-321
patty-321

Em: 20/06/2018

Pqp.

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