Quando cheguei em casa, Lavínia brincava de taco na rua, mas percebi que a todo momento olhava para a casa preocupada com a mãe. Quando me viu relaxou visivelmente, fiquei consternada, ainda é tão nova, não deveria ter preocupação dessa natureza. Isso só me fez ter mais certeza que estava no caminho certo em ajuda-las.

Encontrei a residência às escuras e estranhei, fui até o quarto de Silvana e ela dormia, aproveitei para fazer o jantar, algo bem leve e saudável.

Passado algum tempo deixei a comida pronta e corri até em casa para tomar banho, assim que voltei chamei Lavínia, que disse que já vinha, o que quer dizer que demoraria mais meia hora, depois arrumei a comida de Silvana.

Bati na porta para acorda-la e entrei com um sorriso e o coração cheio de alegria, tudo morreu ao me deparar com a expressão chorosa dela. Imediatamente me preocupei, coloquei a bandeja no criado-mudo me sentando ao seu lado, mas quando fui pegar sua mão , me rejeitou, não aguentei e falei atordoada:

- mas o que há?

Ela secou mais duas lagrimas teimosas que caíram e olhando para o edredom disse triste:

- vou chamar minha mãe para ficar comigo esse mês, não quero atrapalhar sua vida Flower.

Me levantei aturdida, algo de muito errado mesmo estava acontecendo, a última pessoa que Silvana queria ver era minha ex sogra. Passei a mão nervosa nos cabelos, apertei a ponte do nariz , tudo isso para não explodir. Silvana não me olhava, então tive que me fazer vê. Engatinhei na cama e sentei bem a sua frente, ergui seu queixo e falei com toda calma que consegui reunir:

- dá para você me falar o que foi que aconteceu em menos de duas horas. Se e sobre meu encontro, disse que conversaríamos Sil.

Ela sai do meu agarre e dobra as pernas até onde consegue, pois sua barriga de 5 meses já estava grandinha, me estende o celular, pego sem entender nada. Mas assim que vejo o que há nele, tudo fica claro como água.

Passei as fotos embasbacada, nelas estávamos Camila e eu e pelo ângulo que as fotos foram tirada, parecia que estávamos em um encontro amoroso e não que estava apenas consolando minha amiga. As fotos havia chegado pelo Whatsapp e nem precisava saber o remente.

Minha vontade era jogar o celular longe e exigi de Silvana porque aceitava mensagens do escroto. Mas então fiquei assustada, esse cara estava louco e me perseguindo, levantei e comecei a caminhar como uma leoa enjaulada. Posso entender que tudo o que Silvana sentiu foi ciúmes, ela não se tocou que Pedro estava passando dos limites.

Ela me olhava sem falar nada,  via em seu semblante apenas pesar, respirei fundo, não podia esquecer da sua condição e falei:

- primeiro porque você está com esse cara no seu zap ainda?

Silvana responde sem hesitar:

- tinha excluído, mas me esqueci de bloqueá-lo, e ele não me mandava mensagem pelo aplicativo, até hoje ...

- hoje ele me perseguiu e tirou fotos sem minha permissão, você tem noção do quanto isso é invasivo Silvana? Esse homem não está em seu juízo perfeito.

Foi só então que ela se deu conta do que ele fez, ficou assustada também e se levantou, logo a empurrei de volta:

- senta, por favor Sil, você precisa se acalmar. Só falei isso para você para de dar trela para esse cara.

- tem toda razão o Pedro está muito perturbado, mas te vi com ela e apenas senti dor e sei que  não tenho direito de dizer nada Flower, estraguei tudo e você tem todo o direito de ser feliz - dessa vez as lagrimas descem rápidas -quero que seja feliz, agradeço mesmo tudo o que fez por nós, mas não vou atrapalhar sua vida.

Me sento ao seu lado novamente e seco carinhosa  seu rosto e sincera digo:

- essas fotos não representam o que aconteceu, estava consolando a Camila, justamente porque não quero ter nada com ela Sil. Entende o Pedro só que ver o nosso mal, quando veio hoje , deve ter achado que voltamos e está querendo te envenenar.

Ela me olha esperançosa, mas ainda estou zangada e digo séria agora:

- vamos esclarecer as coisas, não estou com a Camila e nenhuma outra mulher, mas ainda não estou pronta para voltarmos o que éramos. Então chegou a hora da decisão Silvana, você me quer aqui, para te ajudar como sua amiga?

- quero - ela diz conformada

- mais uma questão, como o Pedro fará parte de nossas vidas?

Ela encara o chão agora e diz ficando vermelha:

- por mim nunca mais olharia na cara dele, mas infelizmente ele pai do bebê.

- vamos combinar assim  - levanto o queixo dela e continuou mais amena- enquanto eu estiver aqui, o Pedro não entra mais nessa casa e só terá notícias da filha  e nada mais. E promete que nada do que ele te falar , vai acreditar, precisamos de confiança para mim conseguir cuidar de você.

- tudo bem Flower, realmente não tinha me ligado em como ele conseguiu essas fotos, apenas quando vi fiquei arrasada.

- você não pode se deixar abater Silvana, tem essa criança ai dentro...

Coloco a mão sobre a barriga dela e pela primeira vez sinto a bebê se mexer, abro um largo sorriso e toda a preocupação some, apenas aquela vidinha é importante, completo emocionada e encarando-a nos olhos:

- ...tem que ser manter saudável, para a nossa bebê nascer bem. Tudo bem?

Silvana se esconde no meu pescoço e seus braços abarcam minha cintura, responde:

- tudo bem amor, me desculpa.

- chega de desculpas Sil, vamos apenas cumprir o combinado.

E mais uma vez a menininha se mexe, Silvana diz brincando:

- ela gosta da sua voz.

Então faço algo que jamais imaginei, me agacho de joelhos no chão e converso com a barriga e pior fazendo voz de neném:

- princesa cresce bem direitinho, estamos te esperando aqui fora.

Silvana dá uma sonora gargalhada e depois acarinha meu rosto, beijo sua palma e fico mais tranquila.

Mas aquele cretino ainda iria me ouvir.

E não demorou muito tempo, no dia seguinte fui até a empresa levar o atestado de Silvana, ela ficaria em casa pelo menos dois meses. E aproveitei e fiquei esperando o escroto, não demorou para ele aparecer no estacionamento. Estacou assim que me viu em frente ao seu corsa, seus punhos se fecharam e cuspindo maribondos veio para cima de mim  dizendo:

- veio tirar satisfação sua sapata , pela fotinhos que enviei? E bom mesmo que a Silvana saiba que tipo de piranha você é, quem sabe assim não para dessa besteira...

Não o deixei continuar, assim que ele pisou no meu espaço pessoal o peguei pela gola da camisa e o atirei sob o capo do carro, sei que como mulher tenho menos força física que um homem, mas Pedro era mais baixo e se duvidar era até mais magro que eu, e tinha o fator mais importante, Pedro era covarde.

Sendo assim, tentou proteger o rosto achando que iria agredi-lo novamente, mas apenas queria calar aquele privada dele, falei com uma calma assustadora:

- escuta imbecil, chega dessa homofobia!

- me solta - ele choraminga.

- solto, mas vamos conversar feito pessoas civilizada, tenho certeza que consegue.

Ele me encara puto mas assente, o solto, mas saio do seu alcance, ele se apruma e fala com os dentes travados:

- diz logo o que quer?

- vim aqui em nome da Silvana,

- mas o que...

- dá para calar sua boca um segundo.

- você não tem o direito de falar por ela Flor!

- tenho sim, porque ela me deu esse direito, vou explicar a situação apenas uma vez. A Silvana passou mal no sábado e precisa de toda a calma possível para ter uma boa gestação.

Dessa vez vejo a preocupação em seus olhos, não que isso me diga nada, tinha impressão que Pedro programava as emoções para sentir nos momentos corretos:

- ela está bem?

- agora sim, mas se você ficar a provocando, pode ser que a situação mude. Juro por tudo que é sagrado Pedro, se ela perder essa criança por sua causa, pode se esconder nos quintos dos infernos, vou te achar.

- que merd* você ta falando, até parece que o filho e seu! Escuta sua sa...- estreitei os olhos para ele e me aproximei antes dele completar a palavra, ele a cortou no meio e continua - e obvio que não quero que nada aconteça ao meu filho!

- ótimo, nisso concordamos. A partir de hoje, a Silvana só vai conversar com você por mensagem, não quero saber de você mandado zaps ou coisa parecida que não seja sobre sua filha, se fizer , ela corta totalmente o contato com você.

Ele arregala os olhos e diz sorrindo, aquilo me mata, mas estava fazendo o melhor na atual situação:

-e menina?

Respondo a contragosto:

- sim, então estamos entendidos.

- tudo bem

- e Pedro...

Ele me olha a contragosto e continuou:

- se eu souber que você anda me seguindo , a policial irá saber!

Dessa vez ele se abstém de falar, me olha furioso começando a entrar no carro. Eu fico desconfiada dele aceitar tudo fácil assim, mas talvez ele esteja mesmo preocupado com a filha. Só o tempo iria dizer se estava certa    

Fim do capítulo