Clara

– Olha só quem voltou para almoçar. Achei que fosse ficar mais tempo com o Cadu – abri a porta sorrindo, achei que fosse a Agnes, mas, me enganei e muito. – Mamãe, papai, – abracei-os – como vão?

– Bem filha! Com saudade de você – sorriu.

– Como vai meu amor? E a nossa netinha, como está? – minha mãe perguntou enquanto beijava o meu rosto.

– Estou bem. E ela, – alisei a barriga sorrindo bobamente – bom, está cada dia melhor, ganhando peso e ficando mais linda.

– Filha, está esperando alguém? – olhou ao redor como se procurasse sinais de outra pessoa na casa – Você falou o nome de alguém quando abriu a porta, estamos atrapalhando alguma coisa? Eu disse a sua mãe para avisar que estávamos vindo.

– Você disse? Não me recordo disso! Foi você quem sugeriu a surpresa até – mamãe disse divertida, o fazendo gargalhar. – Mas diga amor, atrapalhamos alguma coisa?

– Melhor conversarmos sobre isso mais tarde. – Era um assunto que não pertencia apenas a mim, precisava saber a opinião da Agnes quanto a contar sobre o nosso “relacionamento” a eles, antes de fazer isso. – Vocês já almoçaram? – segui para a cozinha – Estava terminando de arrumar a mesa, venham.

– Será que ela está escondendo um namorado, Cássia?

– Eu ouvi isso papai! Estou esperando vocês.

– Se é um namorado, eu não sei. Mas que ela tá misteriosa e, um tanto quanto diferente, isso está. – minha mãe chegou a cozinha falando.

Em meio ao almoço eles tentaram sondar o que estava acontecendo comigo, e quem eu esperava. Demorou, mas consegui mudar o “rumo” da conversa. Logo estávamos na sala assistindo “Extraordinário”, regado a um bom chocolate quente, e aproveitei para matar a saudade no colo da mamãe. O que me fez lembrar o tempo em que morava na casa deles, bateu uma certa nostalgia. Que bom que eles estão aqui comigo, não me atrevi a perguntar quando vão embora, espero apenas não assustar a Agnes.

O filme terminou e acabei cochilando, estava sonhando com uma menina linda puxando minha mão, quando ouvi uma voz familiar. Levantei olhando ao redor, meus pais não estavam ali. Quando passei pela porta da sala avistei a Agnes na porta, minha mãe perguntava alguma coisa a ela, aquela mão no cabelo mostrava sua inquietude. Me aproximei perguntando:

– Algum problema?

– Ah filha, que bom que acordou. Estava dizendo a moça que você tinha adormecido, que era melhor ela voltar em outro momento.

Sorri cumprimentando-a, e perguntei a minha mãe: – Cadê o papai?

– Foi ao mercado, pedi para que comprasse algumas coisas para o jantar.

– Mas tem tudo ai mamãe. Não precisava.

– Precisava sim. Você tá muito magrinha, tá precisando se alimentar.

Agnes apenas ria da minha conversa com minha mãe. Segurei gentilmente em seu braço e disse sorrindo: – Mamãe, essa é Agnes, minha – ela me olhou e balançou a cabeça em sinal negativo, entendi o que quis dizer e apenas completei – chefe. Agnes Bartolli, essa é Cássia, minha mãe.

– Meu Deus, você é a famosa neta do Giovani! – abraçou e beijou a mulher ao meu lado – Entre, que falta de educação a minha, nem perguntei seu nome. O Heitor vai adorar te conhecer. O Giovani fala tanto de você.

– Sou sim. Espero que o vovô tenha falado coisas boas ao meu respeito – sorriu. – É um prazer conhece-la, dona Cássia. Não se preocupe com isso, foi uma visita rápida. Vim saber como a Clara estava, melhor eu ir.

– Nem pensar! – disse a puxando para dentro – Precisamos conversar, e não vamos mais adiar essa conversa. – Virei para minha mãe que tinha um olhar desconfiado, dizendo: – Mamãe, preciso conversar com a Agnes, se precisar de alguma coisa, estarei no meu quarto.

Quando fechei a porta do quarto ela perguntou assustada:

– Que conversa é essa que quer ter, que não pode esperar seus pais partirem?

– O que você quer comigo? Ontem deu a entender que queria algo sério, mas hoje quando acordei encontrei apenas isso aqui – sacudi o bilhete que ela tinha deixado pela manhã – no travesseiro ao lado. Vai ser assim? Você dorme aqui uma vez por semana e foge no meio da madrugada?

– Clara, eu... Nossa, desculpa. Meu avô não está na cidade e precisei sair as presas para resolver alguns problemas da vinícola. Não quis te acordar, por isso deixei o bilhete.

– Fica ainda mais linda quando está envergonhada, – me joguei em seus braços beijando seus lábios – não precisa se desculpar. Eu entendi que estava com problemas, além do mais, você avisou que passaria na casa do Cadu, antes de vir para cá. Só não contávamos com a chegada dos seus sogros.

– Você ainda me mata do coração com essa seriedade fictícia, – respirou fundo – melhor eu ir. Não quero atrapalhar vocês.

– Para de bobagem, não precisa ir embora. Sem falar, que a dona Cássia não vai te deixar ir, antes de jantar. Falando nela, quero saber de uma coisa.

– O que eu poderia saber da sua mãe, que por sinal, acabei de conhecer?

– Não é dela. E sim com relação a ela. Porque não me deixou te apresentar como minha namorada?

– Ah, é isso! – disse divertida – Simples, a filha dela não me pediu em namoro. E não conversamos sobre isso ainda.

– Não seja por isso. – segurei sua mão e tentei ajoelhar, ela percebeu o que faria e me segurou pelos ombros me ajudando a levantar – Droga, eu ia fazer o pedido. Você nem deixou, tá achando que vou desistir, né! Fique sabendo que não desisto facilmente. – dando selinhos em seus lábios, perguntei: – Você aceita ser minha namorada?

– Preciso pensar! – a olhei séria, e ela gargalhou me apertando em seus braços – Claro que aceito namorar contigo. É agora que eu saio correndo e conto a novidade aos seus pais?

– Fique a vontade!

– Sério?

– Claro. Eu teria conversado com eles assim que chegaram. Mas queria saber sua opinião antes de ter essa conversa com os dois.

– Tem certeza que quer mesmo fazer isso agora?

– Tenho sim. Você tá achando que eles não vão gostar, é isso?

– Não sei o que pensar. Só não quero estragar a visita deles.

– Eles já te amam, por ser neta de quem é! E vão amar mais ainda quando souberem o anjo que você foi e, – levei a mão dela a minha barriga – continua sendo para nós.

– Vocês merecem muito mais que isso, meu bem.

Me beijou de forma apaixonada, e por muito pouco não saiamos mais do quarto. Mas, ela lembrou que meus pais estavam em casa e que precisávamos conversar com eles. E assim fizemos.

Eles ficaram meio surpresos no primeiro momento. Foi só eu contar tudo o que a Ag fez por mim desde que eu soube da gravidez, que eles compreenderam o quão verdadeiro era o que estávamos vivendo. Mas eles se renderam mesmo aos encantos da minha amada quando ela narrou em detalhes como se apaixonou por mim e o quanto já ama a minha pequena. Meus olhos ficaram rasos d'água. Faltou pouco para eu beija-la ali mesmo na mesa do jantar. Sou uma mulher de muita sorte e agora oficialmente tenho a melhor namorada do mundo. Terminamos o jantar com ela e meu pai falando de futebol.

– Filha, acho que você corre um sério risco de perder a namorada amanhã a tarde. Seu pai não vai deixa-la em paz enquanto o bendito jogo não acabar.

– Fazer o que, né, mãe. Seremos trocadas por um jogo qualquer.

– Não é bem assim. Estaremos aqui assistindo o jogo, vocês podem nos fazer companhia.

– Isso mesmo, seu Heitor. Será uma honra para nós – sorriu.

– Com essa, vou até deitar. Boa noite!

– Boa noite, filha! – disseram juntos.

Agnes se despediu deles também e fomos para o meu quarto, conversamos sobre a desconfiança e preocupação dela com o sumiço do avô. E namoramos um pouquinho, até eu adormecer em seus braços.

Agnes

Depois do final de semana prolongado e de certa forma agitado, afinal, nele fui pedida em namoro, conheci meus sogros, passeamos com eles e jantamos com o meu amigo e a nova namorada. Sem falar, que passei o final de semana com a minha namorada, isso soa meio estranho ainda, preciso me acostumar.

– Resolveu aparecer, seu Giovani! Posso saber onde esteve?

Coçou a barba e tirou os óculos escuros revelando um olho esquerdo roxo. Ao ver minha cara, disse sentando: – Estive ocupado.

– Estou percebendo. O senhor caiu da escada, ou deu de cara com uma porta?

– Quanto sarcasmo. Nem uma coisa, nem outra.

– Então, o senhor se envolveu em uma briga?! Como isso aconteceu e onde esteve esse tempo todo?

– Poderia me dizer porque está na minha sala primeiro? Devo admitir que essa cadeira combina muito com você.

– Estou aqui porque tinha um monte de homens e caminhões no pátio da empresa esperando a liberação da carga para trabalhar. Me ligaram as cinco da manhã para resolver isso, e até agora eu estou aqui sentada, esse telefone não para e não consegui nem tomar café da manhã ainda. Ah, e o meu chefe estava sumido.

– Cadê a administradora da empresa? Achei que na ausência do dono, ela resolvesse essas pequenas pendências.

– Ela resolveria, se não tivesse consulta médica hoje pela manhã.

– Vejo que anda sabendo bastante da vida dela. Tem alguma coisa que eu deva saber? – me olhou desconfiado.

– Não fuja do assunto, vovô. Primeiro, explica esse olho roxo. Depois eu conto como anda a minha relação com a Clara.

– Falando como uma verdadeira mulher de negócios, sem rodeios. Bom, eu vou casar!

– Como surgiu essa história?

Ele gargalhou e enquanto brincava com a caneta respondeu divertido:

– Você queria saber o motivo do meu olho roxo. Acabei de dizer. Agora, quero saber o que tem com a Clara.

– Vô, acho que não percebeu, mas me deu uma resposta pela metade. Explica o que esse casamento tem a ver com o olho roxo, e ai conversávamos sobre mim e a Clara.

– Vou precisar desenhar pra você, é isso?

– Muito bem-humorado o senhor está. Vamos lá, quando quiser começar a explicar, eu agradeço.

– E eu achando que você estava entendendo as coisas de uma forma mais ampla.

– Não ache que vou desistir de saber apenas pelo momento enrolação.

– Tá bom, filha, tá bom. Vejo que nada a fará desistir. Eu estou namorando a alguns meses, geralmente eu viajava no final de um dia e voltava no outro dia cedinho. Mas, com o final de semana prolongado, e tudo tranquilo por aqui, resolvi viajar. Não imaginava que você fosse aparecer lá em casa, e nem que iria ganhar esse presente – apontou para o próprio olho. – Mesmo assim valeu a pena a minha ida, ela aceitou o meu pedido de casamento e o outro cara ficou pior que eu.

– O senhor saiu na mão com alguém, é isso mesmo?

– Mais ou menos. Tinha um outro cara cortejando a dama que eu pedi em casamento. Eu fui mais rápido no pedido, mas, na linguagem dele, eu sou um forasteiro. E quando nos viu juntos no sábado, partiu para cima de mim. O resto, você já sabe.

– Não, o resto eu não sei. E nem vou me ousar a perguntar. Vou deixar que o senhor explique quando se sentir a vontade – peguei algumas pastas que estavam sobre a mesa e levantei dizendo: – Meu sogro deixou lembranças para o senhor, disse que da próxima vez que vier a cidade irá visita-lo.

– Seu sogro, quem seria? – perguntou admirado.

– Seu Heitor Vidal – sai da sala sorrindo.

– Agnes Bartolli, volte aqui e explique essa história direito – olhei para trás e ele estava vindo atrás de mim, as pessoas passavam pelos corredores nos cumprimentando. – Quero saber quando isso aconteceu. Você tinha me feito uma promessa.

Encontrei a Clara em um dos corredores e a abracei, enquanto beijava seu rosto perguntei:

– Como foi a consulta? E como estão as minhas meninas?

– Ótima, meu bem – sorriu. – Porque seu avô está acenando para cá? Ele parece nervoso, o que você aprontou?

– Eu, nada! Já ele, vai casar.

– Oi?

– Isso mesmo que ouviu. O seu Giovani, vai casar.

– Você não me ouviu chamar? – perguntou ao nos alcançar. – Bom dia, Clara!

– Bom dia. Melhor deixar vocês conversarem a sós.

– Não. Pelo o que entendi, você agora faz parte da família. Me acompanhem, por favor!

– Ele é sempre assim? – perguntou baixinho.

– Tem dias que é pior, – sorri sendo acompanhada por ela – vai por mim.

Ele nos guiou até a minha sala, e foi dizendo:

– Avisei a você para não se meter – apontou para mim, e para ela, continuando: – com ela. Vejo que não deu certo. Já que fui o último a saber desse namoro, quero deixar claro – abriu um largo sorriso nos abraçando: – que gostei muito dessa união. Quando será o casamento? Clara, você é uma mulher maravilhosa. Minha neta tem muita sorte em ter você ao lado dela.

– Menos vovô, bem menos. Estamos namorando ainda, casamento é coisa séria.

Clara me olhou intrigada perguntando: – Sou um passatempo para você, é isso?

– Não, meu bem. Não foi isso que quis dizer. Tá vendo ai vô, o problema que me arrumou.

– Pede a moça em casamento, e tudo se resolve.

– Calma, seu Giovani, tá cedo para isso, não é meu bem – sorriu me abraçando, e o olhou dizendo: – O senhor precisa cuidar desse olho, tá estranho. E quanto a senhorita, eu vou almoçar com a Liu hoje, ela quer me contar alguma coisa. Me liga se precisar, tá. Até mais, chefes – saiu sorrindo.

– Isso porque fui eu quem cheguei animado. Até que fim se livrou da Carolina, agora tenho certeza que você casa. Faço muito gosto nesse casamento.

– Agora que já estamos atualizados sobre os nossos respectivos relacionamentos, vamos trabalhar. Temos uma reunião em meia hora.

– Certo chefe! Te encontro na sala de reuniões. Ah, e antes que eu esqueça, na semana que vem a minha noiva virá jantar conosco. Ela quer te conhecer, leve a Clara. Até daqui a pouco.

Porque todo mundo resolveu me deixar “voando” nos assuntos hoje? Estou vendo que meu dia será bem longo...

Fim do capítulo