Capítulo 10
" O que dizemos nem sempre representa nosso pensamento..."
Enquanto Marina caminhava pelo corredor do décimo andar, sentia o cansaço físico e mental do dia lhe pesar os ombros. Sentiu o celular vibrando na bolsa. Era Duarte, que adivinhando sua intenção de falar com ele, se antecipara. Ele passou a informar que tudo estava tranquilo na empresa, mesmo após sua saída brusca e sem explicações assim que soube do ocorrido com Callie. Antes do término do telefonema, Mari aproveitou para pedir a ele algumas informações que deseja e orientá-lo sobre algumas coisas que queria que fossem feitas. Assim que encerrou a ligação, apertou o botão "descer" do elevador e esperou. Chegando ao térreo, Marina se dirigiu a lanchonete. Após adentrar no recinto, a morena visualizou o ambiente: as poucas mesas que haviam estavam ocupadas por funcionários e pessoas que provavelmente tinham algum parente ou conhecido no hospital. Ela se dirigiu ao caixa e fez o pedido de um café e ao recebê-lo girou o corpo observando as mesas, na expectativas de encontrar uma desocupada. Nenhuma. Entretanto, num dos cantos da lanchonete, tinha uma mesa com apenas uma ocupante, uma mulher loira de cabelos presos num rabo de cavalo, sentada e a sua frente, uma cadeira desocupada, Reconheceu a figura feminina como sendo a enfermeira chefe que lhe ajudara com Callie, e justamente a mesma que lhe oferecera o número do celular. O papel fora jogado displicentemente dentro na bolsa sobre os ombros.
- Com licença, posso sentar nesta cadeira? - Marina questionou.
A loira encarou-a por alguns segundos e sorriu discretamente com um brilho no olhar ao reconhecê-la e acenou um "sim" com a cabeça em resposta. Marina puxou a cadeira e acomodou-se, agradecendo, ganhando outro sorriso que não surtiu nenhum interesse nela, pensou intimamente.
- Olá de novo! - Disse a loira de olhos azuis - Marina, certo?
- Sim.... E você é Ágata.
- Isso mesmo.... Que bom que nos encontramos de novo... E sua amiga?
- Está de observação até amanhã e ficará de atestado por recomendação médica.
- É o esperado, mas tudo dará certo - A loira sorriu confiante e tocou na mão de Marina. Ela entendeu a estratégia da outra e retirou a mão - Os médicos da obstetrícia deste hospital são muito competentes. ela está em boas mãos, fique tranquila!
- Obrigada, é bom saber disso - Marina agradeceu e desviou o rumo da conversa, pois não queria aprofundar o assunto. Novamente, a morena percebeu que se fosse noutra circunstância, mas precisamente ante de conhecer Carlota, ela teria aceitado a investida da mulher sentada a sua frente. Notando que ficara em silêncio por muito tempo, observou, olhando em volta: Aqui é um local bem movimentado
- Sim, verdade. É mais prático fazer as refeições aqui. Sabe, foi pura coincidência você ter me encontrado aqui, pois um colega do hospital precisou resolver alguma problema familiar e me pediu para substitui-lo por algumas horas.
Marina assentiu e a conversa findou-se durante alguns minutos. Naquele exato instante Marina, entendeu: só Callie lhe interessava, e isso tornou-se claro enquanto estava sentada diante de uma clara demonstração de interesse da mulher diante de si. Ágata ainda tentou puxar conversa sobre coisas triviais até o fim da refeição de ambas, mas loira percebendo o desinteresse dela, agradeceu a companhia e saiu em direção a porta. Antes de passar por esta, se virou, acenou com mão e dirigiu a Marina um ultimo sorriso, mas desta vez, de constatação que a morena jamais ligaria para ela.
Marina refez todo o caminho de volta até chegar ao quarto, pensando na decisão que tomara. Chegando diante da porta, abriu-a lentamente acreditando que Carlota estaria dormindo. O que se confirmou. O quarto estava na penumbra, com apenas a luz do banheiro acesa. A enfermeira deve der voltado e arrumando tudo. Caminhou lentamente até a cama e observou o sono, agora tranquilo, devido a intervenção médica. Mari ergueu a mão e acariciou os cabelos de Callie. Desejou beijá-la, aprofundar o carinho, mas deixou que a ruiva permanecesse adormecida. Suspirando, a morena se dirigiu a poltrona e acomodou-se. A noite passou com Marina acordada olhando para Callie praticamente todo o tempo, caindo num sono profundo apenas quando o sol começou a clarear a parede do quarto.
Callie acordou meio confusa, até lembrar de onde estava, quase no mesmo instante em que percebe uma Marina completamente adormecida na poltrona perto da cama. Ela havia permanecido como afirmara, o que não era surpresa para a ruivinha. Desde do reencontro das duas, todas aquelas emoções que sentira no dia do baile, estavam voltando e Callie não soube lidar com elas antes, nem estava preparada para lidar com elas agora, nem tão pouco com o fato de não querer ver Marina longe novamente. Passou a mãos pelos cabelos ruivos, agora mais curtos, na altura dos ombros. Callie sabia que esse conflito de emoções teria de esperar, pois apenas a pequena Melody deverá ser o centro de sua atenção. Iria tentar lidar com a morena adormecida na poltrona, um dia de cada vez.
O movimento de Callie na cama fez Marina acordar. Os olhos das duas se encontram fazendo o coração de ambas disparar, sendo que a ruiva fora a primeira a desviar, devido a uma pequena batida na porta, seguida da entrada do médico no quarto. Ele vinha acompanhado de uma enfermeira e alguns aparatos sobre um carrinho.
- Bom Dia Carlota, Como se sente hoje?
- Bem melhor, obrigada.
O homem se aproximou da cama e com o auxilio da enfermeira, começou com a avaliação e perguntas de rotina. Durante todo processo, Marina permaneceu quieta, o tempo todo sentada na poltrona, observando tudo. No fim, após aferir a pressão e anotá-la num histórico médico da paciente, balançou a cabeça um tanto preocupado e disse:
- Apesar de você estar se sentindo bem, sua pressão ainda permanece no limite tolerável, Vou indicar alguns exames para você refazer e gostaria que levasse a sua médica com certa urgência para que ela possa melhor reavaliar seu caso. Estou sugerindo a ela que você fique de repouso até o nascimento da criança, creio que ela irá concordar comigo.
Callie ia contestar, mas Marina interferiu.
- Ela fará tudo conforme a decisão da médica dela, não se preocupe - o Médico assentiu e prescreveu todos os exames, e em seguida, se aproximou e entregou tudo a Marina, orientando-a:.
- Vocês podem se arrumar para deixar o hospital, a alta da Sra Carlota será formalizada quando chegarem a enfermaria do terceiro andar. Não esqueça, faça os exames e retorne a sua médica. Tenha um bom dia!
Assim que o Médico e enfermeira saíram, a ruivinha olhou seriamente para a mulher sentada na poltrona.:
- Marina, você não tem o direito de dec.... - Marina se ergueu, o que fez a ruiva se interromper. Então a morena começou a falar serenamente... E a cada frase, Callie se viu sem argumentos.
- Tem razão, não tenho direito algum. Mas pense na Melody. Eu gostaria de esclarecer algumas coisas que aconteceram, mas noutro momento, pois agora o mais importante é a saúde de vocês duas... Concorda? - A ruiva assentiu calada e contrariada - Vamos aos fatos: Você não está morando com Roger, certo? E não tente mentir, ok? - Callie se remexeu na cama incomodada e assentiu novamente - Marina continuou - Mas isso também não vem ao caso agora e pelo que andei me informando, o endereço que está na sua ficha no recursos humanos da empresa não é da residência da casa dos seus pais, então deduzo que você ou more sozinha ou com alguma colega - Callie negou e ela taxativa questionou: Como você fará repouso tendo que cuidar de tudo sozinha? - Marina caminhou até a janela e ficou de costa para a gestante, e concluiu: Você ficará comigo até a Melody nascer.
Callie sabia que a mulher morena a sua frente estava certa, mas isso não a impediu de justificar e questionar calmamente:
- Nós não somos sua obrigação. Você não nos deve nada. Por quê está fazendo isso?
- Carlota, não sei como nem o porquê o destino ter nos colocados uma diante da outra novamente, mas desta vez eu não vou me afastar. - Disse Marina sem se virar.
- Isso não justifica... Repito, nós não... - Callie se interrompeu quando Marina se virou lentamente e caminhou em direção a ela. O brilho intenso no olhar da outra, fez com que a ruiva engolisse seco.- "A ultima vez que vira aquele olhar fora naquela noite fatídica..." - A ruiva balançou a cabeça para espantar os pensamentos e, quando deu por si, Marina estava sentada na cama e apoiada nas duas mãos, colocadas estrategicamente nas laterais do corpo dela. Sem desviar o olhar negro, a morena inclinou-se o suficiente para que os rostos das duas ficassem bem próximos...
- Callie - o apelido dito de forma suave e carinhosa fez o corpo da ruiva se aquecer - Fique comigo até Melody nascer.
Callie nunca havia escutado Marina se dirigir a ela assim e não conseguia evitar de desviar o olhar dos olhos para a boca dela. Estava paralisada. Nem sabia se estava respirando! Queria se afastar, mas não conseguia. Tivera certeza, até segundos atrás, que seria beijada, mas não acontecera... Embora percebesse o brilho de desejo, Marina apenas parara. Seu semblante era indecifrável. Callie estava confusa sobre o que sentia: decepção ou alívio? Não sabia dizer. Um beijo não prova nada, foi o que dissera a ambas no passado... Um dia de cada vez!
Marina viu o turbilhão de emoções em Callie. Paciência, repetia a si mesma. E continuou a duras penas parada enquanto aguardava a resposta...
Callie finalmente entendeu a contradição, a única maneira de afastar Mari agora seria concordando... em tê-la por perto. Sem alternativas, no momento, concordou, mas precisava impor limites.
- Está bem, Marina - Diferentemente do tom carinhoso usado por ela, ouviu seu nome de batismo ser pronunciado ao invés do apelido, e de forma até seca. Ela ergueu uma das sobrancelhas e sorriu. Callie queria impor distância. Batalha um, vencida. Hora de recuar... Mediante a resposta positiva, a morena se afastou da cama e começou a arrumar as coisas da gestante, em seguida pegou o celular para solicitar um taxi.
Naquele mesmo dia, Callie se mudaria para o apartamento de Marina.
CONTINUA....
Fim do capítulo
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