Capítulo 38: LIÇÃO 33: A VERDADE NEM SEMPRE TE LIBERTA
O conselho de Beatriz foi útil, contudo, minha advogada de confiança era a irmã de Clarisse, não sabia até que ponto nosso afastamento poderia afetar meu contato com ela, uma vez que elas eram bastante unidas, naquela situação na qual eu estava, não quis arriscar procurar outra profissional que não fosse a Mônica, contava que ela pudesse me ajudar naquela encrenca injusta.
Marcela ficou apavorada, os áudios do meu suposto assédio chegaram a ela através dos grupos da sala. Apesar da defesa dos seus amigos, que eram ex-alunos mais próximos, o burburinho se espalhou pelo campus.
-- Meu amor, onde você está?
-- Estou indo no centro, vou ao escritório da minha advogada.
-- Vou com você, onde fica?
-- Amor, você tem plantão hoje, não precisa se preocupar, nos encontramos mais tarde lá em casa.
-- Não, Malu, eu vou ficar do seu lado.
Marcela sequer questionou o teor falso das informações, isso me deu um conforto inexplicável no meio daquela ameaça que crescia em minha direção. Ela estava do meu lado, isso era uma prova de que a confiança nela em mim era real, mais que um consolo, aquilo me fortalecia de uma maneira inenarrável.
No escritório da Mônica, adiantei o conteúdo da denúncia, e o que mais temia sobre a aluna, era o fato do poder do seu avô, um magistrado de carreira, não seria algo fácil de enfrentar. Marcela tinha no seu celular o já famoso áudio que circulava pelo whatsapp, e repassou imediatamente para Mônica.
-- Luiza, a princípio, não podemos fazer nada. Apenas aguardar, por que ainda não foi notificada sequer pela universidade sobre abertura de inquérito administrativo, vamos torcer que não ultrapasse essa esfera. Mas, eu vou me antecipar, vou pedir a um amigo meu que tem uma empresa particular de perícia, para analisar esse áudio, e aí já teremos um laudo em sua defesa.
-- Mônica, vão descobrir que é uma fraude, é minha voz, mas eu só falei sobre o trabalho que ela deveria fazer, o restante da fala eu disse em público para a sala e...
-- Calma Luiza, tem falhas no áudio, isso está mesmo parecendo uma montagem, eu confio em você, sei perfeitamente que não faria isso.
Marcela não soltava minha mão, apertava como se quisesse confirmar a todo tempo que acreditava em mim e que não sairia do meu lado.
-- E agora? Eu só espero?
-- Espere ser chamada pela administração da universidade, e se receber alguma notificação do juizado cível, me comunique.
Ainda no elevador do prédio, Marcela me abraçou forte antes que chegássemos ao térreo:
-- Essa mentira não vai dar em nada, ninguém leva essa Tamires a sério, nem mesmo os colegas de sala dela, vai dar tudo certo, meu amor.
A força de Marcela me surpreendeu, se não fosse por ela, minha confiança na justiça estaria abalada, especialmente por que eu precisava terminar o semestre de aulas na turma da tal Tamires. Naquela mesma semana fui convocada pelo RH da universidade para ser comunicada sobre a abertura do processo administrativo, e para mim foi um duro golpe, ser afastada das minhas funções até o esclarecimento dos fatos.
-- Luiza, isso não vai dar em nada.
Beatriz me disse ao me ver recolhendo meus materiais no armário da sala dos professores.
-- Já deu em alguma coisa, estou sendo afastada das minhas aulas, como isso pôde chegar nesse nível? Uma acusação falsa, com fraude sendo espalhada e mesmo assim sou punida.
-- Não entenda como uma punição, acho que vai te proteger. Para não dar mais munição e te tirar desse furacão de fofocas.
-- Mesmo que eu prove minha inocência, isso já se espalhou, Bia.
Apesar das minhas diferenças com Beatriz, ela me surpreendeu ficando ao meu lado, eu reconhecia a sua lealdade ao menos como colega de trabalho.
-- Você tem uma carreira sólida, Luiza. A pós-graduação dessa universidade já te quer com exclusividade faz tempo. Quem sabe isso seja um sinal que está mais do que na hora de você se dedicar somente ao mestrado e doutorado da instituição.
-- Você pode ter razão. Mas, não queria ser forçada a tomar decisão nessas circunstâncias. De qualquer forma, obrigada pela confiança.
Fui para o laboratório passar algumas orientações para Felipe, que me substituiria na direção do GRUFARMA, antes que eu deixasse o gabinete, Clarisse bateu à porta:
-- Posso entrar?
-- Oi Clarisse...
-- Eu fiquei sabendo do que aconteceu, a Mônica me disse que você a procurou também.
-- É... Você parece que adivinhou quando falou sobre os problemas que eu poderia ter em assumir um relacionamento com uma aluna, não é?
-- Não, Luiza... Eu estava errada. Acho que você agora sabe o porquê... Eu só vim para saber se está precisando de alguma coisa...
-- De um milagre! Preciso que essa menina assuma que mentiu, que forjou tudo isso para se vingar por sua reprovação, sei lá!
-- Eu sinto muito, de verdade. Estamos lançando uma moção de repúdio, nós do departamento de ciências da saúde, contra essa acusação, e oficialmente apoiando você, Luiza. A Beatriz propôs e eu levei a proposta para as coordenações dos cursos de medicina, farmácia e fisioterapia.
-- Clarisse, nem sei o que dizer.
-- Não tem que dizer nada, é nossa parte. Tornaremos público nosso apoio a você, os centros acadêmicos também farão isso nas páginas de redes sociais.
Abracei Clarisse, em agradecimento e também para selar a paz entre nós. Marcela chegou nesse momento e minha amiga demonstrou seu arrependimento:
-- Marcela, eu errei em julgar o relacionamento de vocês, te devo desculpas também.
-- Está tudo bem, você só queria o bem da Luiza, posso compreender.
Em meio aquela tempestade de eventos ruins, a reconciliação com Clarisse, e o apoio dos meus colegas, e logicamente a presença incondicional de Marcela me enchia de esperanças de que aquilo tudo traria um bem no final das contas.
Passar mais tempo em casa, teve uma recompensa: Marcela trouxe roupas, e passou aqueles dias dormindo todos os dias comigo. Não permitia que eu desanimasse, estava sempre promovendo almoços, jantares, hora chamava seus amigos, hora chamava os meus, e quando estávamos a sós, me cobria de carinho e traçava planos para o nosso futuro junto comigo.
-- Acho que no final do ano, vou te apresentar aos meus pais, está mais do que na hora, deles conhecerem a mulher que eu amo.
-- Amor! Marcela, tem certeza?
-- Claro, você já me apresentou os seus pelo Facetime, não demora muito, sua mãe está por aí, então... Acho que está na hora de conhecermos nossas famílias de sangue, não é?
-- É, por que a família de amigos, já temos.
Respondi emocionada.
-- Próximo ano é minha formatura, e aí, não tem mais isso de professora, aluna... Quem tiver alguma dúvida sobre o quanto nosso relacionamento é sério, não terá mais nada a falar...
-- E... Quando você se formar... Estará pronta para outro passo, meu amor?
-- Que passo? – Marcela perguntou com aquele sorriso que me deixava mole.
-- Casar comigo.
-- É assim que você me pede em casamento, Doutora Maria Luiza?
-- Não... Eu só queria sondar... Acho que não suportaria ouvir um não como resposta, quando eu te fizer o pedido.
-- Acha mesmo que eu te diria um não? Eu te amo tanto, quero minha vida com você.
-- Então isso é um sim?
-- Isso é ou não é um pedido?
Gargalhamos juntas. Estávamos abraçadas, nuas na cama, e eu não conseguia enxergar outra forma de pedir que não fosse no nosso lugar mais íntimo e sagrado.
-- É. Quer se casar comigo, Marcela?
Com os olhos marejados, mantendo seu sorriso mais lindo, Marcela ainda respondeu brincando:
-- Assim? Sem cerimônia?
Girei meu corpo e alcancei uma pelúcia da Minie, na verdade era em forma de almofada, dei de presente a Marcela, mas, nos últimos dias, ela deixou na minha cama, dizendo que a Minie me faria companhia quando ela estivesse no hospital, deixando seu perfume impregnado na pelúcia.
-- Abre as orelhas dela...
-- O que você está aprontando?
Marcela abriu o zíper e encontrou um pequeno embrulho de cetim. Dentro, um par de anéis com listras de ouro e prata.
-- Eu queria colocar esse anel no seu dedo, desde que você voltou de férias, mas, tive tanto medo, e a gente teve tanta DR nesse período...
-- Meu amor...
-- Considere nossa aliança de compromisso... Aceita?
-- Você é louca!
-- Não aceita se casar com essa louca, quando você se formar? Sei que não aceitaria antes disso... Mas...
-- Sim, sim! Claro que sim!
Nosso compromisso foi selado, em um contexto de tribulação, mas, entre nós era um dos momentos mais fortes do nosso namoro. Mal podia me conter de tanta alegria, se não fosse a ameaça iminente à minha carreira na universidade.
Mónica nos deu uma boa notícia, o laudo atestou que o áudio era uma montagem amadora, ao menos isso eu tinha para me defender. Apesar disso, recebi a notificação de queixa crime, teria que enfrentar um processo cível. Na universidade, o laudo e os testemunhos foram suficientes para encerrar o processo administrativo, contudo, eu só retomaria minhas funções de sala de aula no semestre seguinte, uma vez que já tramitara o processo na vara cível.
Teria que enfrentar a Tamires cara a cara, a influência do avô apressou a audiência que Mônica tentou sem sucesso anular. Mesmo sendo inocente, a verdade não foi suficiente para me poupar desse constrangimento público.
Fim do capítulo
Hey girls! Pausa no sofrimento da Luiza, curtiram?
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LeticiaFed
Em: 16/06/2018
Oi, Mel! Sumiu, menina....volta! rsrsrs
Sério, estou aqui torcendo pela felicidade do nosso casal sofrido (e matando a saudade da Nat e Di de Leis do Destino, minha história favorita). Volta, por favorzinho ;)
Bom final de semana, beijo!
mtereza
Em: 24/05/2018
Apesar do processo finalmente um capítulo tranquilo na relação delas com direito até a pedido de casamento em amei tb o fato dela ter feito as pazes com a Clarissa e até a Beatriz me surpreendeu agora como foi dito nos outros comentários vamos matar essa Lorena kkkk
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NovaAqui
Em: 23/05/2018
Curti muito muito muito mesmo! Autora, você foi muito legal com elas e com duas leitoras também!
Amei!
Chega de sofrimento, né?
Se bem que ainda falta resolver a questão da Lorena. Mata essa fake. Marcela não precisa saber dessa mulher Paraguaia kkkk
Abraços fraternos procês aí!
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