Música do Capítulo: Secret Smile- Semisonic
Capítulo 18 - Confiando em mim
Tomamos café na casa da Maya, arrumamos uma mesa na varanda onde bebemos o espumante e depois ela foi se arrumar. Ainda teríamos que passar na minha casa para que eu me arrumasse também. Depois que ela estava pronta, no meu carro. E foi só lá que expliquei pra ela a segunda parte da história:
-- Maya? -- Disse entrelaçando meus dedos nos seus. Ela me olhou esperando que eu continuasse. -- Tem outra coisa que não te contei sobre mim. -- Respirei fundo com os olhos concentrados na curva que fazia. -- Meu pai namora com a mãe de Maria Luiza e... Com licença -- Fui interrompida pelo meu celular. Encostei o carro e .
Oi, Math.-- Atendi sorrindo. Desviei os olhos para o rosto de Maya. Ela parecia paciente.
-- Oi, Al. Parabéns, pirralha. Daqui a pouco vai ser gente, hein. O que vai fazer hoje? Tenho que entregar seu presente. -- Esse jeito de implicar comigo me fazia ver Math cada vez mais como um irmão. Eu quase não lembrava olhá-lo de outra forma senão com esse carinho absurdo que me transbordava o peito.
-- OBAAAAAAAA PRESENTE! E pirralha é sua cara, palhaço! Almoço hoje na casa da Fernanda ou o bar onde a Maya toca mais tarde, sem desculpas arrume um jeito de ir me ver em um lugar ou em outro. --- Esperei ele parar de rir e responder. -- Maria Luiza não vai arrancar sua cabeça, provavelmente ela estará distraída. -- Olhei pra Maya que arregalou os olhos. -- Tchau, Math! -- Desliguei.
-- Sua ex vai estar distraída arrancando minha cabeça? Era isso que estava tentando me contar? -- Maya perguntou com uma sobrancelha em riste. - Ela vai estar lá, é isso?
-- Bom, é que o almoço está sendo oferecido pela mãe dela. - Soltei de uma vez. - Não posso prometer que Maria Luiza vai se comportar, mas ainda assim quero sua companhia. Eu te protejo, sei lidar com Luiza. - Ela apenas assentiu e apertou minha mão. Estávamos quase em casa.
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Maria Luiza
Desde terça-feira não saí mais de casa. Pensei sem parar na reação de Alice quando perguntei e do seu tom carinhoso ao telefone, ela não falava assim. Nunca. Então obviamente, ela conheceu alguém. No domingo, ela parecia tão arruinada como de costume, então foi algo depois do nosso encontro no parque. Como alguém conseguiu romper todas as suas barreiras tão rápido? O que aconteceu de tão diferente assim pra ela abaixar a guarda desse jeito? Isso não era Alice! Ela estava feliz, eu adorava isso. Sua expressão parecia a mesma de séculos atrás, antes de tudo ruir. Ela estava feliz com outra pessoa e eu odiava isso mais que amava sua felicidade. Eu a queria de volta. Aquela droga de sorriso era meu e eu nem sei quem se apropriou dele, mas pode se preparar pra voltar para o buraco de onde nunca devia ter saído!
Fiquei tentando com toda a minha força ser superior e tirar meu time de campo para Alice ser feliz, mas eu não conseguia. Isso estava me correndo, me sentindo miserável nos últimos tempos e queria que ela se sentisse assim também. Minha mãe comentou que faria um almoço para Luiza na sexta, mas não exigiu que eu ficasse, como também não me convidou. Acho que foi só um comunicado mesmo. Estava com medo de brigarmos no meio da confraternização. A sexta-feira chegou lenta e nublado. Decidi que ficaria em casa, mas não participaria do almoço, Al provavelmente ainda estava irritada comigo e, além disso, precisava pensar no que faria de hoje em diante. Se houvesse a menor possibilidade de conseguir minha preta de volta eu me agarraria a ela.
Alice
Passei em casa e me arrumei rapidamente. Bom, o mais rapidamente possível. Coloquei uma calça jeans escuro, bem justa, blusa social verde clarinho e no pé, como de costume, scarpin. Fiz uma maquiagem um pouco mais elaborada e um coque no cabelo, pois não teria tempo de arrumá-lo. Apresentei Maya a Fátima, que estava voltando do mercado, e tentei de todas as formas convencê-la a ir com a gente, mas não houve jeito. Quis ficar em casa. Antes que eu saísse, ela me presenteou com uma correntinha de Nossa Senhora. Não sou religiosa e muito menos católica, mas respeito todas as religiões. Agradeci a Fátima com um beijo e guardei meu presente na minha caixinha de joias e a minha foto com Maya coloquei na minha mesinha de cabeceira. Fernanda já me ligou e eu lembrei que tínhamos que correr.
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Chegamos até a casa em Botafogo, mais depressa que eu gostaria. Não estava muito certa que trazer Maya a casa de Fernanda tinha sido a melhor ideia. Eu não problematizei o assunto. Não queria me separar dela, então a arrastei comigo. Como seria a reação de Pierre, Fernanda e principalmente, de Luiza resolvi pensar depois. Mas o depois já era agora. Maya apertou minha mão passando segurança. Estacionei, demos um selinho rápido e descemos do carro. Caminhamos lado a lado em passos lentos. A porta estava encostada então nem bati como de costume. Chamei por Fernanda e me dirigi à varanda na parte de trás da casa. Os encontrei lá. Pierre, Fernanda e... Vovó e vovô? Que maravilha. Vovó fuzilava Maya com o olhar, o que me levou a crer que minha condição sexual havia sido discutida entre as duas serpentes. Dei um boa tarde geral e vovô se aproximou de mim sorrindo de abraços estendidos.
-- Licinha, quanto tempo! Você está linda demais, minha neta! -- Meu avô era sempre carinhoso nas poucas vezes que nos víamos. Mas não nos víamos muito pois ele e Pierre não se davam bem, o que me fazia gostar dele. Pierre era o filhinho da mamãe de quem puxou todo seu caráter. Abracei meu avô com vontade pela primeira e então me permitir sentir seu carinho. -- E que amiga bonita você trouxe. -- E se direcionou a Maya que sorriu docemente quando ele beijou sua mão.
-- Oi, vô. Bonitão está você, hein. -- Notei que o surpreendi não só com a frase, mas com o carinho em sua barba branca. Ele sorriu radiante acho que por notar minha mudança desde a última vez que me viu. O enlacei pela cintura e ele beijou minha testa ao que Pierre e a mãe reviraram os olhos simultaneamente. Eu apenas sorri, já vovô endureceu o olhar. Só nós dois vimos a reação deles.
-- Parabéns, minha querida! -- Fernanda disse me abraçando. A abracei de volta e a apresentei a Maya. Como era de se esperar Fernanda foi muito simpática. Se cumprimentaram e Maya sorriu pra ela também. Como não fiz menção de me dirigir a Pierre e a mãe dele, ouvi sua voz absurdamente desagradável.
-- Boa tarde, Alice. Não vai saudar sua avó? -- Agora fomos eu e vovô que reviramos os olhos. E depois ele sorriu de canto pra mim. Pierre se irritou, mas não ousaria dizer nada para o seu pai. -- E também pode nos apresentar sua amiga.
-- Boa tarde mais uma vez! Maya, esse é o Pierre e aquela é a Dona Arlete Bittencourt, mãe dele. -- Disse e ela entendeu que eram meu pai e avó. Os dois ficaram possessos com minha fria apresentação.
Havia uma mesa de aperitivos na varanda, onde eles estavam. Meu avô e Maya conversavam animadamente o que me fez sorrir. Meu olhar perguntou a Fernanda onde estava a pessoa que estava faltando ali. Ela olhou para escada. Compreendi. Me dirigi ao meu avô:
-- Vô, cuida dessa moça bonita pra mim por um instante? -- Ele sorriu e assentiu. Peguei a mão de Maya. -- Já volto. -- Ela concordou.
Saí da varanda e caminhei em direção a sala. Lá notei algumas pessoas arrumando a mesa onde iríamos almoçar. Eles e tudo mais eram espécies de borrão, meu foco era Maria Luiza. Subi as escadas devagar, deslizando a mão pelo corrimão. Fiz o caminho já tão conhecido e parei de frente pra porta do quarto dela. Bati duas vezes. Não respondeu. Achei que tivesse saído sem Fernanda notar.
Quando eu ia me virar a porta abriu. E a imagem me transportou para dois anos atrás quando acordávamos juntas a maioria dos dias da semana. Luiza com cara de sono, cabelo despenteado e sorrindo. Mas nenhum dos sorrisos que estava habitando seu rosto ultimamente. Nem o cafajeste, nem o ressentido, irônico. Aquele sorriso de dois anos atrás. O sorriso que era meu. Não tenho certeza, mas acho que sorri de volta. Sua mão chegou a minha cintura e me puxou pra um abraço apertado. Meu rosto reconheceu aquele ombro, afinal, eles já foram almas gêmeas. Minhas lágrimas já o tinham lavado várias vezes. Luiza me segurou ali e sussurrou um "parabéns" ao meu ouvido. Depois entrou no quarto e eu a segui lutando para ignorar as reações que a proximidade dela despertou no meu corpo. Ela sentou na cama e eu na cadeira do computador de frente pra ela. No computador, estava tocando uma música bem baixinho. O refrão não poderia ser mais adequado:
"Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
So use it and prove it
Remove this whirling sadness
I'm losing, but you can save me from madness
Nobody knows it, nobody knows it
Nobody knows it but you've got a secret"
-- Maria Luiza, vim porquê precisamos conversar. -- Introduzi o assunto tentando deixar minha voz o mais firme possível. Não sei se fui bem sucedida.
-- Ela veio com você? -- Luiza me perguntou e eu assenti. Ela não parecia brava e entendeu que dessa vez eu não estava tentando provocá-la. Sua atitude era tranquila, mas havia uma certa determinação em seus olhos. -- Tudo bem, Al. Sabíamos que estávamos correndo esse risco. Mas antes, eu quero te dizer uma coisa.
-- Diga. -- Inexplicavelmente eu estava nervosa. Não esperava encontrar essa Luiza e sim a que encontrei terça-feira. Não sabia o que viria.
-- Entendo agora que eu nunca estive pronta para o nosso amor. Éramos muito novas e bagunçadas para um amor desse porte, um amor que eu sei que é para toda vida. Até para outras vidas. Só que diferente de você, fui covarde. Fui abusiva física e psicologicamente e isso é inadmissível. Nenhuma mulher merece passar por isso e é ainda pior quando vem de outra mulher. -- Eu já chorava em silêncio e os seus olhos estavam presos nos meus. -- Você me provava seu amor diariamente admitindo o inadmissível, mas ainda assim eu duvidava. Depois disso, eu te traí e te abandonei. Esses seriam motivos pra eu te deixar ser feliz com essa pessoa que encontrou, mas você é minha. Fiz um acordo comigo mesma. Se você não viesse aqui em cima, se não se dispusesse nem a subir essas escadas por mim, eu desistiria. Mas se você viesse, eu iria lutar por nós. E diferente do que você pensa há sim pelo que lutar. -- Ela levantou e ajoelhou na minha frente. Não notei o quanto chorava até que ela secou minhas lágrimas. Ela me abraçou e eu deixei. Me permiti aceitar.
-- Como vou saber? -- Não completei, ela entenderia e eu não tinha voz.
-- Confiando em mim. Não tem outra garantia. -- Como de costume, as estacas me dilaceraram. -- Eu vou procurar ajuda pra lidar com minhas emoções. E com meus ciúmes. Sei que as coisas não vão ser tão simples. E você, Al, independente de acreditar em mim ou não, precisa se livrar dessa mágoa no seu peito. Eu sei que ela te corrói e que nunca vai esquecer o que viu naquela droga de banheiro. -- Pareceu se odiar por aquilo. -- Mas você precisa. -- Ficamos em silêncio por um tempo. Luiza respirava cansada, entretanto aliviada. Como alguém que vagou por séculos com um enorme peso nas costas e agora se livrou dele. De repente, seu semblante ficou sério, ela tentou sorrir, mas não chegou aos olhos. -- Agora seu presente. -- Abriu uma gaveta com chave e tirou uma pasta com uns papéis.
-- O que é isso? -- Perguntei tentando entender sua expressão. Ao abrir vi que eram cópias dos arquivos do caso da minha mãe. Gelei. Ela conseguiu. -- Você leu? -- Fez que não.
--Só o suficiente pra saber se era o caso mesmo. Lê depois, aproveita seu dia. Seja o que for da pra esperar até amanhã. -- Assenti. -- Estão te esperando pra almoçar. -- Levantei e graças ao minha maquiagem à prova d'agua, meu rosto não estava destruído. Antes que eu saísse Luiza me chamou. -- Ei, preta, volta pra sua namoradinha. Deixa ela aproveitar o pouco tempo que tem antes de eu te roubar de volta. -- E gargalhou daquele jeito que me levava junto. Bufei e fechei a porta. Encostada nela me permiti sorrir de volta e um risinho escapou também.
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Depois de guardar a pasta no carro, voltei à varanda e me aproximei de Maya me desculpei ao que ela sorriu e disse que não demorei tanto. Olhei o relógio e me surpreendi ao notar que passou pouco mais de 15 minutos. Foi uma conversa tão emocionante que tive a impressão de ter ficado lá mais de uma hora. Conversei um pouco mais com Vovô e com Maya até Fernanda anunciar que o almoço seria servido e este seguiu sem problemas.
Depois do almoço recebi alguns presentes. Fernanda me deu uma viagem pra Itália ao que agradeci empolgada, para um estudante de história da arte é uma dádiva conhecer a Itália. Ela disse que o presente era dela e de Pierre. Minha avó me deu uma jóia de família que parece ser bem valiosa. Agradeci polidamente e a distância. Meu avô foi o último e eu não sabia o que viria quando ele começou a falar:
-- Alice, tenho duas coisas pra você hoje. Um presente e uma proposta. Não sei se você sabe, mas tenho um apartamento aqui no Rio, bem próximo à galeria que eu costumava usar. Agora já quase não saio de Petrópolis então à partir de hoje é seu. -- Eu e Pierre protestamos ao mesmo tempo por razões diferentes. Me calei e deixei que ele falasse.
-- Mas pai... -- Vovô o cortou na hora.
-- Guarde sua indignação pra quando eu parar de falar. -- Meu querido pai obedeceu. -- Não aceito não como resposta, Alice. E agora seria especialmente útil você morar perto da galeria. E é aí que entra minha proposta. O seu pai tem uma procuração para cuidar da galeria, mas ela é minha. Não acho que ele tenha falado. -- E não tinha falado mesmo, meu queixo caiu. O hotel eu sabia que vovô era o acionista majoritário, mas Pierre tinha grande parte também. Mas a galeria eu achei que fosse um dos outros negócios que ele abriu com o dinheiro do hotel. -- Você teve uma reunião de negócios com alguns amigos meus e eles foram só elogios a você. Com isso, resolvi ir lá e fiquei muitos satisfeito. Enfim, lá vai minha proposta: quer ser minha sócia? Você continua trabalhando lá e eu continuo investindo e emprestando meu nome ao negócio. Quando for mais madura ela será sua. E caso algo aconteça a mim, isso já está em meu testamento. -- Disse olhando em volta.
-- Isso é um absurdo, papai! Essa menina é muito imatura, me matei de trabalhar todos esses anos o senhor nunca me deu a galeria! -- Ele estava vermelho de raiva. Me fuzilava com seus olhos verdes.
Pra ser sincera eu estava radiante! Sairia da casa de Pierre e praticamente não o veria. E além de tudo a galeria seria minha. Eu iria recusar por pura educação, mas irritar Pierre estava legal demais. Abracei vovô bem forte e agradeci. Ele me deu as chaves e o endereço do apartamento. Saí puxando Maya pra irmos até lá depois de me despedir de todos. Antes de sair olhei para escada uma última vez. Lá em cima, Maria Luiza sorria feliz por mim.
Fim do capítulo
Eu não sabia se valia a pena continuar a história. Recebi um email hoje me perguntando se ela cocontinuariaAqui está a resposta. Não sei em que ritmo, mas continua.
Obrigada pelo estímulo!
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Julia_Mira12
Em: 23/05/2018
gostei de ver como a Luiza mudou so não vai vacilar de novo não viu...
Alice socia e de apartamento novo que presente hein, quem me dera eu ganhar esses presentes kkk
Maya a Alice gosta mas não ama então aproveite enquanto pode rs
esperando o próximo cap ansiosamente ^^
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