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Linha Dubia por Nathy_milk

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Palavras: 7419
Acessos: 3997   |  Postado em: 20/05/2018

Capítulo 22

   Capitulo 22 - Caroline


- Precisamos parar de nos pegar, de ficar, ou qual seja o nome que isso tenha Caroline. - soltou isso em um jato de palavras, como se fosse incapaz de respirar ao mesmo tempo.

           - Oi?! Não entendi.

           - Não posso continuar fazendo isso com você Caroline. Olha o estado que você está. Me sinto como a pior pessoa do mundo, brincando com seus sentimentos. Não posso.

            - Que você não pode eu entendi. Eu não entendi o que mudou de ontem a noite pra hoje.

             - Eu já estava achando errado eu tentar enrolar você e tentar te conquistar. Ai Carol, como eu queria que fosse em outro momento da sua vida. Como eu queria isso. Não posso usar esse seu tempo de vida para te conquistar. Você é um ser humano lindo, de luz, você não consegue me dizer não, não sei se por medo de me machucar ou por gostar de mim. Não sei. A questão é que vejo o quanto isso faz mal pra você. Você se sente culpada, pensa que está traindo sua esposa. Seu casamento pode estar ruim, mas pra você ainda é seu casamento. Não posso te forçar a nada.

      - Fer, já pensou que eu quero tentar e não me sinto forçada a nada?

      - Você pode até querer tentar Carol, mas eu não vou me arriscar. Não posso me apaixonar por você. E isso está acontecendo já. Eu já não posso mais ficar longe de você, sem querer e desejar seu colo ou seu abraço. Sem contar a vontade absurda de te amar, no sentido carnal. Mas não podemos. Você precisa definir a sua história com a louca. Talvez você tenha tantas coisas para lidar nesse momento, que nós duas não sejamos algo tao especial pra agora.

       - Não sei o que posso falar.  Nem se quero falar algo.

       - Então vou continuar. Você volta para o Brasil em três semanas. Nesse tempo, seremos apenas colegas de trabalho. Posso ser sua amiga. Vamos nos manter como estamos, mas sem dormir juntas, sem beijos, sem aconchegos.

      - Em que momento sua vontade mudou? Porque ate ontem ou posso dizer até hoje cedo parecia tudo normal. Sei que falei ontem pra você que não temos nada, mas falei da boca pra fora.

      - Não se sinta mal, por favor. Não existe errada neste momento, não mesmo. Apenas estamos em pontos diferentes da mesma linha. Não posso lidar com você chamando a Christiane de madrugada, mesmo que em um pesadelo.

      - Eu falei o nome dela?

      - Sim… várias vezes, antes de descompensar e começar a gritar. Você ainda está ligada a ela. Mesmo que só pelo fim não claro. A verdade é que você nunca me contou o que aconteceu com vocês, e pra ser sincera, nem quero saber. Mas não posso me arriscar a te amar sem saber que você está livre.

      - Fer, eu tenho esse mesmo carinho por você e não tenho direito algum de te machucar. Confesso que estou adorando seus beijos e estar ao seu lado. Mas tudo que você falou é verdade. Me sinto traindo a Chris e sinto como se eu estivesse usando você. Se realmente deseja apenas uma amizade, tudo bem, apenas amigas. Mas não desisti de mim, não por pouca coisa. Eu estou em um período de transição, que espero acabar logo.

     - Acaba logo mesmo. Em 3 semanas você volta pro Brasil e nunca mais vamos nos ver. Já que se estamos tendo essa conversa, é porque você não vai voltar pra Portugal.

     - Eu não sei nada do amanhã Fer. Meu casamento acabou hoje cedo. Acabou e eu não sei lidar com isso. Acabei de receber uma proposta única de uma médica que eu considero muito e que lembra minha mãe. Ainda não sei o que fazer. Eu queria que Portugal me desse essa resposta, mas não está me dando. Portugal está me deixando mais confusa, querendo novos sonhos, mas sem deixar eu apagar os antigos.

     - Por que falou que seu casamento acabou hoje cedo?

      - Quando eu acordei, hoje pela manhã, senti que tinha que ligar para a Christiane. Pensei muito e liguei. Ela deixou bem claro com todas as palavras que eu escolhi vir para Portugal e não ficar com ela. Pra eu parar de drama e assumir minhas escolhas. Ou seja, meu casamento acabou.

     - Por isso a sua carinha de triste mais cedo?

     - Não exatamente. Eu me sinto triste por ser idiota, me preocupar com ela, querer ligar e efetivamente ligar. Eu deveria ser mais forte, me valorizar. Deixei e ainda deixo ela pisar em mim e me usar como bem quer. Isso não é saudável.

    - Não é saudável mesmo Carol. Mas o fato de você perceber isso já é um começo. Já faz você ter por onde melhorar. Essa garota é completamente louca e sem noção.

    - Fer, na vida, apenas somos tratadas como deixamos nos tratarem. Ela só pisa em mim porque sempre deixei. Estou me sentindo triste, um vazio gigante. Mas ao mesmo tempo estou com um alívio enorme. Desde que eu sai de casa esse alivio esta cada dia mais presente. Pareço um asmático depois de uma inalação, como se eu nunca tivesse respirado ou nunca me sentido viva. Ai que droga Fer, desculpa linda. Você não precisa ouvir nada disso.

     - Não preciso, mas quero.  Eu quero você Carol, não se esqueça disso. Talvez não seja esse o melhor momento, mas você me encanta. Eu não deveria, mas confesso que saber que seu casamento acabou me acalma. É como se eu tivesse um pouco mais de chance ou esperança de ter você aqui em Portugal comigo.

     - Não quero que você se prenda a mim de maneira alguma Fer, por favor. Eu vou me acertar quanto a tudo isso. A proposta da Marcela é encantadora e ficar em Portugal com você mais ainda. Mas eu não sei ainda o que fazer,  a Christiane é algo que não me incomoda ou me preocupa mais, apesar de eu saber que o término é só o inicio de um grande problema. Eu nunca deixei meu irmão sozinho, nunca fiquei mais de 2 semanas longe do meu sobrinho, nunca abandonei minha clínica, nunca arrisquei nada, muito menos arriscar tudo de uma vez só. Ter dado uma pausa toda e vindo pra cá já foi um grande começo de mudança, mas não sei se sou capaz de continuar.

    - Nem se eu te oferecer pastel de nata todos os dias, com café quentinho e o pingo te mordendo?

      - Vou sair gorda de Portugal, isso sim. Mas bem que se tiver pastel de nata e vinho eu fico, sem pensar muito.

     - Isso eu posso te garantir, e se você ficar, posso garantir de tentarmos, de verdade.

     - Você me encanta sabia?!

     - Que nada bobona, te encanto em que?

    - No começo eu não suportava olhar pra você. Só tomava patada, você era super grossa comigo. Mas acho que depois daquele parto, a correria, o modo como a população confia em você, seu cuidado em ir me buscar, ai.. não sei, tantas coisas, comecei a me encantar por você. Você é maravilhosa em vários detalhes.

    - Humm, acho que você só esta falando isso porque quer saber onde eu escondo o vinho, não é?!

    - Nossa sua bobona, esquece, nem elogio mais você. - Falei isso e joguei a almofada so sofa nela, sim, apesar de bem brincalhona, ela me encanta.


     O dia passou leve, a maior parte eu fiquei no computador, parei apenas para ligar para o Lucas e para a Clara. Para o Lucas, alem de ver se ele estava bem, eu queria contar sobre a proposta de eu recebi da Marcela e ver o que ele achava.

- Lu, boa tarde. Como vc está?

- Não creio que você está me ligando de novo Caroline, para de me enrolar e vai pegar a menina lá. Você era melhor que isso tempos atras.

- Nossa, seu besta. Liguei pra conversar com você. E fique sabendo que não estou ficando com ninguem.

- Até parece, a tiazinha fica sem roupa na sua frente e voces não estão ficando. Ok, tudo bem, o pior cego é o que não quer ver, mas tudo bem.

- Nem vou dar corda pra você Lucas, se eu der corda vai longe. Te liguei pra te contar uma coisa.

- Que você vai me trazer o que de Portugal?

- Caramba moleque, quantos anos você tem? Deixa eu falar. E outra , onde estou não tem nada pra eu te levar.

- Hahahahha, fica tranquila. Adoro te ver irritada.

- Cacete, acho que todos gostam disso. Enfim, recebi um proposta para ser diretora de um centro de pesquisa em oncologia e diretora da maternidade de Úrros.

- Não creio. Você sabe o quanto merece isso não sabe?!

- Não sei se aceito, eu tenho mais 3 semanas em Portugal para decidir.

- Não acredito que você ainda não sabe se vai aceitar. Carol, esse não é seu sonho?

- Ah, é… eu sempre quis ser diretora, venho me dedicando a anos para isso.

- Então bobona, qual a crise? Aceita logo.

- Não posso largar tudo no Brasil.

- Você está falando da Christiane?

- Não Luc, estou falando da clínica, de você, do meu sobrinho.

- Para com isso Carol, eu tenho 28 anos. Sou cavalo velho. Está mais que na hora de você deixar de se sacrificar por minha causa. Você tem que viver. Não lembro um momento da minha vida que você não estava lá, então está na hora de seguir em frente, assumir seus sonhos, seus desejos.

- Mas é bem isso, nunca fiquei tanto tempo longe de você. Te criei praticamente moleque.

- Exatamente, fez seu papel de irmã mais velha, me criou, me deu uma base sólida. Agora merece viver. Eu sou grandinho já. E seu sobrinho, nada que uma internet não resolva.  E antes que você arrume mais desculpas, já falo. E a clínica? Eu cuido pra você, afinal, ainda sou um dos sócios. Mas e a Clara? A bolsa dela vai continuar, mas e a casa, mas e o carro, mas e a vida. Para de arrumar desculpas para se prender ao Brasil e não se entregar ao novo. Carol, pensa comigo, você não tem nada que te prenda ao Brasil oficialmente. Seu casamento, nada que um advogado não resolva, a clínica estará em ótimas mãos, seus filhos.. ah, não tem filhos. Por que não aceita logo que você pode aproveitar a vida aí, longe de tudo que te empacou todos esses anos?

- Eu travo, você me conhece.

- Para de ser boba Caroline, a mamãe iria te dar um super apoio. O pouco que eu lembro dela tenho total certeza disso. Só tem uma única coisa que te prende ao Brasil e é você mesma. Na verdade nem você fisicamente, você mentalmente apenas. Então segue o jogo, aceita a proposta de emprego, arruma uma casa aí. Ah, e aceita logo a pediatra gostosa.

- Como você sabe que ela é gostosa?

- E eu já vi você pegar mulher feia? Te conheço bem. E você concordou comigo agora, hahaha te peguei.

- Você viria pra cá? Sabe que posso te puxar.

- Carol, um passo por vez cara. Eu ainda estou terminando a residência,  tem minha esposa. Mas nunca diga nunca.

- Mesmo que eu aceite tudo isso, tenho que voltar pro Brasil um tempo, para acertar tudo ai, e …

- E se divorciar?

- Provavelmente.

- Você falou com a Christiane por esses dias?

- Falei com ela hoje cedo Luc. Acho que foi um ponto final de algo lindo. Mas só posso aceitar isso ouvindo isso dela, pessoalmente, olho no olho.

- Se eu não conhecesse seu caráter, e soubesse o quanto pra você isso é difícil, diria pra você acertar isso a distância. Não sei bem se a Christiane merece seu deslocamento de Portugal até aqui apenas para um ponto final. Mas você sim merece um ponto final, olhando nos olhos dela. Por mais que minha vontade seja jogar ela pela janela, só vontade mesmo.

- Chega Lucas, eu me viro com a Christiane. Acho que preciso disso para acreditar que acabou mesmo. Sabe são tantos anos com ela, tantos anos sendo felizes juntas, nos amando, protegendo.

- Carol, eu sei o quanto você ama essa garota. O quanto ela foi importante pra você. Mas infelizmente, as coisas às vezes tem fim.  Não que tenha dado errado, apenas que tenha tido um final. Você vai ter que encarar isso para aceitar.

- Eu sei, e é isso que me preocupa. Se quando eu encarar, vou conseguir aceitar que realmente acabou.

- Vai doer, porr*, vai. Mas nada que o tempo não cure, ou amenize. Agora para de bobeira, que deve ter muita coisa gostosa para comer nesse lugar e você toda fitness nem deve estar comendo.

- Nossa, nem me fale, não corro a quase 2 meses. To sofrendo com esse frio daqui.

- É frio aí? Tá nevando.

- Neve não, mas é frio cara. Durante o dia dá pra ficar só de casacão. Mas de noite tem que ter aquecedor. Noite passada eu dormi com varias cobertas e o aquecedor ligado. Foi dificil. Bem diferente do Brasil.

- Caraca, eu bem que ia gostar disso. Não gosto de calor, gosto daqueles ar condicionados congelando, no ultimo.

- Acredite, mesmo assim não bate o frio do inverno desse lugar, serio.


O dia foi esvaindo-se e o frio cada vez chegando mais, minha vontade mesmo era esquecer essa história de não “nos pegarmos” e ficar abraçadinha com a Fer me esquentando, mas ela manteve uma distância saudável.  Quando deu por volta de umas 17 horas, a ela foi se ajeitar para irmos na tal festa da fazenda ao lado da que estávamos. Segundo a pediatra, não precisava super se arrumar, só uma roupa normal já seria o suficiente. Ainda bem, porque não trouxe roupa de gala para Portugal, não pretendia nem sair do alojamento da clinica durante esse mes em Portugal.

Ela subiu primeiro para o quarto para se arrumar, nem 2 minutos depois me chamou, pedindo para eu subir rapidinho. Assim que eu subi, ela estava em frente a porta do quarto ao lado do dela, e pediu para que eu entrasse.

- Carol, pedi para a Dona Antonia arrumar esse quarto pra você. Aqui você vai ficar mais acomodada. Amanhã já vamos voltar para Úrros mesmo.

- Não acredito que você vai mesmo me expulsar do aconchego do seu quarto?

- Nós falamos de dar um espaço, deixar você se acertar primeiro. Não rola isso no mesmo quarto, juntas.

- Por que não? - Falei isso chegando mais pertinho dela, tentando abraçar

- Ora pois, por isso, você me encanta e eu quero, se ficarmos juntas, perco o juízo.

- Será que não é isso que eu queira? - Continuei abraçada com ela, agora dando alguns beijinhos em seu pescoço.

- Chega. Vou me arrumar para ir a festa. E você se arruma também. Distância, lembra? - Falou me empurrando como podia, ela estava tentando ser forte e não atropelar as coisa.

Fiquei olhando a Fernanda entrar no quarto dela, me mantive com cara de pidona, como se fosse um absurdo ela sair sem me dar um beijo. Sei que ela está certa, mas no fundo, queria mesmo era que ela forçasse a barra e me atacasse.

Entrei no chuveiro e deixei a água cair no meu corpo, não estava quente como eu gostava, mas isso seria impossível, nesse lugar gelado. A água escorria na minha pele enquanto minha mente viajava no dia de hoje. Tantas informações, christiane, marcela, Lucas, Fernanda. Cada pessoa que tive contato hoje me mostrou tanta coisa. E a christiane?! Confesso que nunca esperei isso, de certo modo eu achava que essa viagem para Portugal seria mesmo um tempo para o meu casamento e para nós duas, mas eu apenas estava acreditando em algo falido há anos. Nem sempre foi falido, mas acabou. E quando eu voltar para o Brasil para resolver esse problema, não sei como vou reagir, apenas não sei.

Quando finalmente tive coragem de sair do banho, procurei uma roupa entre as que levei, não teria muitas opções. Escolhi uma calça jeans bem grossa e coloquei mais uma peça por baixo, para tentar me aquecer. Nos pés, calcei uma bota, sem salto, de couro, que por sorte trouxe do Brasil. Por cima, encontrei algumas blusas quentes na minha zona, não era o melhor modelito, mas eu estava quase quentinha. O meu cabelo foi moldado no meu clássico coque, na verdade é um amarrado nele mesmo, que deixa ele meio ondulado, meio solto. De um jeito simples, mas bonitinho. Escolhi um brinco para completar. Como não sabia bem como seria a festa, não conheço nem a região, nem as pessoas, então resolvi não me arrumar muito, apenas o apresentável. Passei no rosto uma maquiagem leve, na verdade apenas um lápis, rimel e baton. Olhei rapidamente e gostei do que vi, a tempos não me olho no espelho, não presto atenção em mim mesma.


Quando desci as escadas, a Fernanda já estava pronta, conversando com a Dona Antônia na beirada da cozinha e com o Pingo deitadinho perto da pia. Posso dizer pra vocês, meu irmão tem razão, sem nunca ter visto a pediatra, que mulher linda. Estava com o cabelo moreno solto, escorregando pelos ombros. Vestia uma calça preta, uma bota também, e uma jaqueta marrom, acho que de couro ou algum material do tipo. Quando ela olhou pra mim e sorriu, caraca, meu mundo caiu. Ela estava com uma maquiagem bem delineada, que fazia ela ficar mais jovem e de certo modo madura. Que mulher encantadora, acredito que apesar de eu ter tentado disfarçar, minha cara de boba deve ter sido percebida até pela senhora ( Dona Antônia), que deu uma risadinha e falou algo para Fernanda que não fui capaz de ouvir.

- Caroline, Caroline, como é capaz de ficar tao linda com esse coque no cabelo hein mocinha? Assim fica bem dificil eu aguentar ficar longe de você.

- Apenas não aguente. -  E dessa vez o sorriso de molhar calcinhas veio de mim. Posso estar parada a anos, mas acho que dessa arte eu ainda sei brincar - Vamos? Não quero que você me culpe pelo atraso.

- Não é nenhuma festa formal, sem problemas atrasar. Mas tudo bem, vamos princesa - Antes de mesmo do meu protesto ela já soltou - E não reclame de eu ter te chamado de princesa. Adoro te chamar assim, vale para muitas entonações.

          Em um clima bem leve e descontraído entramos no carro dela e seguimos por uma estradinha de terra, ao contrário da que entramos no dia anterior.

- Fer,  a festa tem algum motivo especial? é do que?

- Em comemoração a colheita das oliveiras.

- Oliveiras?

- Azeitonas, de fazer azeite.

- Ah, nem sabia que tinha plantação disso por aqui.

- Não tem muito, em geral as fazendas daqui são mais destinada a cabra e leite ou queijo, mas algumas tem a terra boa para oliveiras.

- Fica longe essa fazenda? - olhei rapidamente para a estrada, estava escuro, mas dava para ver pequenas árvores - Essa plantação já é da festa?

- Não Carol, essa parte ainda é da minha fazenda, a colheita será apenas em 3 meses mais ou menos.

- Sua fazenda? Estamos andando a mais de 5 minutos, esse pedaço é todo seu? - não pude deixar de ficar espantada.

- Sim - ela falou com um tom totalmente leve, como se fosse a coisa mais normal do mundo - Achou que fosse só a casinha que estamos?

- Sim - sendo sincera, achei mesmo - Pensei que fosse sei lá, sua casa de campo.

- Quase isso, tenho algumas pessoas que gerenciam a fazenda e a colheita pra mim, eu venho apenas visitar de vez em quando. Fico mesmo é em Urros, atendendo a população. - eu deixei ela sem resposta, e meu pensamento foi longe. Quem troca esse espaço lindo, uma fazenda enorme, que convenhamos deve render um bom dinheiro, para viver em uma vila, sem internet, sem luz, sem nada? Acho que a Fernanda tem mais coisas a me contar que apenas os motivos dos pesadelos dela.

Não demorou muito tempo e chegamos a um portão de madeira, bem polido e desenhado. Apesar da estrada de terra escura, o portão e a entrada estavam bem iluminados. Fernanda desceu, em silêncio, e abriu o portão, logo depois voltou para o carro, ultrapassou o acesso e em seguida parou.

- Deixa que eu desço pra fechar Fer.

- Fecha as duas alavancas de trás. -  desci do carro, também em silêncio, senti o frio absurdo desse lugar. Fechei o portão delicadamente e retornei ao carro. Assim que entrei no carro a Fernanda sorriu pra mim, em agradecimento por fechar o portão, e voltou a dirigir. Colocou a mão sobre a minha perna, mas acredito que mais como um reflexo que efetivamente como um desejo.

Percorremos mais alguns minutos, por uma estrada de terra, já dentro da fazenda, até que ao fundo, as luzes foram ficando mais fortes e logo uma casa foi avistada, a música começou a surgir. Em um canto da casa, havia vários carros estacionados, Fernanda embicou o seu e estacionou. Antes de descermos me chamou:

- Obrigada por você ter vindo comigo Carol, de verdade. Não deixe nada te abalar nessa festa. E aproveita, aqui você realmente vai se sentir em Portugal. -  eu ouvi atentamente cada palavra dela e concordei com um sorriso simplório. Não gostei dela não ter me contado da fazenda, mas não poderia nem posso exigir nada dela. Descemos do carro, e eu a uma relativa distância, mas lado a lado, acompanhei a Fernanda.

Assim que cheguei ao lugar específico da festa, pude entender porque ela disse que eu me sentiria em Portugal. A cena era uma típica festa portuguesa, mulheres vestidas de fado, dançando, ao lado havia homens tocando uma música deliciosa de ouvir. Havia uma mesa grandona, com vários preparados, não sei exatamente o que, mas pude ver que era comida. Em um outro pedaço da festa havia um porco ou leitão, não sei bem ao certo, rodando no rolete, assando. No meio desse espaço todo havia uma fogueira, isolada por tijolos, tinindo de fogo. Havia mulheres tipicamente portuguesas, vestindo véu ou lenço na cabeça e seus vestidos longos até os tornozelos, os senhores estavam com boinas. Realmente, aquele era um pedacinho de Portugal que eu ainda não havia visto ou sentido.

Acompanhei a Fernanda, não estávamos de mãos dadas ou abraçadas, nada do tipo, apenas a uma considerável proximidade. Ela foi em direção a um senhor, de bigode bem formado, robusto, que deveria ter por volta de seus 60 anos. Ele vestia boina, um colete bem arrumado, estava ao redor da fogueira, conversando alegremente com os demais convidados da festa. Eu imaginei que ele deveria ser o dono da fazenda ou o responsável pela colheita, algo do tipo, pela maneira respeitosa com que todos conversavam com ele.

- Fernanda, que bom que viestes menina. Como estas? E Antônia, não quiseres vir com tu? - Falou isso abraçando a Fer, com um sentimento paterno, como se realmente tivesse um grande apreço por ela.  - E esta menina linda, quem és?

- Sr. José, essa é a Caroline, trabalha comigo lá no hospital. Está fazendo um estagio em Úrros, vendo se gosta do nosso projeto.

- Seja bem vinda. Espero que goste de Úrros. É um lugar bem carente de atendimento e de profissionais  - ele falava com um sotaque portugues muito intenso, que estava bem dificil de entender - Não vou mais importuná-las. Aproveitem a festa.. Ah, Fernanda, avisasse Milena que vinhas? Ela estás a pegar vinho na adega, logo retorna.

- Tudo bem Sr. Jose, fique tranquilo. Daqui a pouco  converso com ela. - Disse ela acenando para o tal senhor e delicadamente se afastando. Comprimentou mais algumas pessoas e senhoras, e acabou por parar próximo a fogueira. Parei ao lado da Fernanda, ela se manteve impessoal, sem me abraçar ou tocar na minha mão. Ficamos em silêncio por alguns minutos, ela viajando mentalmente enquanto olhava o fogo e eu tentando absorver ao máximo o calor daquela madeira em combustão. Por baixo da minha luva, meus dedos deveriam estar roxos. Como essas senhoras nativas são capazes de estarem de vestido e com um pedaço da perna de fora, não sou capaz de processar essa informação.

- O senhor que você estava conversando é quem? -  tentei puxar algum tipo de conversa, ela estava estática na frente do fogo.

- Ele é um dos sócios dessa fazenda, meio que o dono mesmo, tem mais ações se não me engano. Ele que comanda o plantio e a colheita, cuida da fazenda de um modo geral. Caroline, vou pegar vinho, você quer?

- Que formalidade Fernanda. Quero sim. Só não esquece que você está dirigindo.

- Qualquer coisa você me salva na estrada - Ela sorriu pra mim e saiu em direção a mesa que tinha bebidas. A Fer estava estranha desde que chegamos a fazenda, mas quem sou eu para perguntar alguma coisa não?!

Alguns minutos depois ela voltou com 2 taças na mão. Eu estava olhando ela a uma certa distância e percebi que ela encheu a taça dela, bebeu em quase um gole único e depois encheu de novo. Voltou sorrindo e me entregou uma taça. De certo modo, percebi que alguém estava ou iria meter o pé na jaca.   

- Fer, esse vinho deve estar uma delicia. Não quer ir comigo pegar um pedaço daquele porquinho que está rodando no fogo?

- Fefa? Tu viestes? Não imaginei que fosses sair daquele vilarejo. Como estas? - Uma menina, menina não, mulher. Por volta de uns 30 anos, acho que um pouco menos na verdade, alta, 1,75 - 1,80, alta quando comparado comigo ou com a Fernanda. Loira com algumas mechas castanhas, com o cabelo longo na altura do meio das costas, levemente ondulado, mas bem natural, que estava finamente bagunçado por causa da brisa lusitana. Não fui capaz de ver a cor dos olhos até ela chegar mais perto, era uma mistura de castanho com verde, algo que não sei determinar. Ela estava com um brinco delicado, verde, acho que de esmeralda, junto com um colar discreto da mesma pedra. Vestia uma calça jeans colada no corpo, com uma bota de salto. Uma camisa clara com uma jaqueta de linho também delicada, mas quente. Demonstrava ser uma menina delicada, mas bem mandona, que sabia bem o que queria e como queria. Em um chute não muito difícil, acredito que ela seja filha do Sr. José.

- Milena? Quando seu pai me disse que estavas aqui eu não imaginei.

- Surpresa em me ver?

- Claro que estou. Como estava a Inglaterra? Volta quando pra lá? - Juro que minha vontade era interromper a conversinha fiada das duas. Eu realmente estava de escanteio jogada. Muito bem, a Fernanda mandona, forte e poderosa havia sumido, e eu estava vendo uma menina frágil, perdida e tremendo.

- Não me vê a um tempão e me pergunta quando vou embora? Caramba Fefa. - a garota olhou pra mim, que estava de estátua na conversa e soltou: E você quem é?

- Essa é a Caroline, trabalha comigo.

- Em Úrros?

- Sim, em Úrros. Milena vamos conversar em outro lugar? A Carol não precisa ouvir nossa lavação de roupa.

- Humm, Carol. Vejo que.. - Antes da garota terminar a frase dela, a Fer pegou no braço dela e puxou. Elas entraram na casa.

Lindo, lindo, que bonito. Estou eu com frio, longe de casa, numa festa onde não conheço ninguém, largada de canto. Chuto quanto que essa loira é algum caso antigo  e inacabado da Fernanda? Caraleo, isso só pode ser brincadeira. Minha cara me meter com gente envolvida com o passado. Minha cara.


Uma hora depois, sim, uma hora depois, a Fernanda e a cara deslavada dela apareceram na porta da casa. Não conheço a Fer tanto assim, mas posso apostar que ela havia chorado. Estava com os olhos inchados, vermelhos. Ela me enxergou de longe e deve ter bem visto minha cara de puta da vida. Passou na mesa que tinha vinho e pegou uma garrafa e duas taças, pelo visto, nem reparou na taça que ela colocou na minha mao tempos atrás.

- Acho que desculpas é pouco pelo meu sumiço.

- Não tenho nada a ver com isso Fernanda, você faz o que quer. Eu sou apenas sua colega de trabalho que você arrastou para uma festa x e largou.

- Você sabe que não é apenas isso, sabe disso desde o treinamento em Tras os montes.

- Não sei de nada Fernanda. Mas talvez eu deva te deixar uma coisa bem clara. Você não me conhece bem o suficiente, mas fica o recado, dá mais um perdido desse, hoje ou em qualquer momento, que eu saio e te largo onde você estiver.

- Mas iria sair a pé? Sozinha, onde nem conhece?

- Não duvide de mim, nem por um segundo.

- Não vai mais se repetir Carol desculpa. Sério.

- Quem é a garota? Chegou aqui, te estremeceu, arrancou você e sumiu.

- Ela é a Milena, filha do Sr. Jose, meio que digamos herdeira da plantação de oliveiras mais eficiente e promissora de Maçores.

- Ah, ótimo, isso eu nem estava imaginando. A minha pergunta não foi essa princesa.

- Hahahaha, me chamou de princesa?! Isso tudo é porque está brava comigo ou rolou um ciuminho? - Ela falou isso rindo da minha cara. Encheu mais uma taça de vinho até o gargalo e virou em dois goles. No tempo em que ela ficou dentro da casa deve ter rolado álcool, impossível ela estar bêbada como está apenas com as taças do começo da festa.

- Não vou discutir como você Fernanda. E para de beber garota, hoje não estou aqui para ser sua médica.

- Não temos nada né?! Como consegue sempre jogar isso na minha cara? -  pegou a garrafa de vinho e a taça e saiu andando, quase cambaleando para um tronco de árvore que havia em uma das laterais da casa, mas ainda na festa. Sério, eu não tenho cara de babá de uma marmanjona de 35 anos. me poupe disso Fernanda, não vou correr atrás, nem me estressar.

Continuei sentada no banquinho que eu estava, perto da fogueira, olhando de longe a Fernanda beber mais e mais. Belisquei algumas das comidas que estavam sendo servidas, mas se no normal eu já não tenho apetite, imagine irritada e com ciúmes.

- Estas “pilando boia”?

- Oi?! - apenas olhei para a voz que tentava puxar conversa.

- Pilando boia que vocês falam - puxou a Milena, num sotaque português intenso e bem forte.

- Filando boia você deve estar querendo falar. E eu não estou filando boia, a Fernanda que me trouxe.

- O que você é dela?

- Em respeito a sua casa, melhor não termos essa conversa ok?!

- Estas comendo ela?

- Um, mulher ninguém trata bem pra “ comer”, pelo menos não no meu caso. Dois, Eu sou colega de trabalho dela, como ela disse.

- Colega de trabalho que ela trouxe para Maçores. Sabia que ela nunca fez isso?

- Sério, que pena. Esse lugar é lindo. -  pude perceber que a Milena também estava alcoolizada, melhor não dar corda, mesmo.

- Se é colega de trabalho dela, naquele muquifo que ela chama de hospital, você está no alojamento então?

- Milena, estamos na sua casa e em uma festa muito bem planejada pelo seu pai. Vamos parar a conversa por aqui. Depois você conversa com a Fer e se acerta ok?!

- Que lindo. Você chama ela de Fer. Cada uma dá um apelidinho fofo pra ela. Quem sabe não faz ela esquecer o Fefa! Qual seu nome mesmo?

- Não interessa meu nome, fica na sua por favor.

- Vou te deixar uma coisa bem esclarecida dra -  falou o doutora como se cuspisse na minha cara - eu voltei, posso ter deixado ela, mas estou em Maçores de novo, não vou perder ela de novo. Você está entendendo?

- Como não entender Milena, seu bafo de álcool deixa tudo nítido.

- Te meto a mão na cara agora garota.

- Xuxu, pega leve. Não faz show na festa do seu pai. Ele parece uma pessoa muito boa. Vamos fazer assim, eu vou embora e levo a Fernanda, amanhã quando o álcool passar vocês conversam. Tudo bem?

- A Fernanda vai ficar aqui essa noite. Ela não vai embora.

- Que pena te desapontar Milena, mas eu vim com ela, se ela ficar eu fico também. E isso não vai ser legal - juro que eu estava tentando me manter calma com todas minhas energias internas. Até que estou conseguindo, a um certo tempo atrás já teria empurrado essa bêbada e puxado a Fernanda.

- Milena, não se atreva a falar com a Carol. Você me escutou?! - Sim, essa é a Fernanda, mais bêbada que a outra garota, tentando me proteger. - Carol, me da a chave do carro e “vamo” embora, não “guento” mais esse lugar. Chega!

- Vai achando que vai dirigir. Já estou com suas coisas, vamos.

- Me dá a chave Caroline.

- Você não sai daqui Fernanda - Ai me poupem de mais problemas, vocês duas. Eu me mantive o mais em silêncio que consegui. Elas não estavam gritando, apenas esbravejando uma com a outra.

Minha paciência se esgotou com as duas, peguei no braço da Fernanda, sem machucar, mas firme e puxei ela. Ela esbravejou uma ou duas vezes pra eu soltar ela, mas a minha cara feia fez ela ficar quieta. Entrou no carro, no banco do passageiro com um bico do tamanho de Portugal.

- Fernanda, qual o caminho até a sua casa?

- Se vira gostosa. Não queria dirigir?

- Me fala a porr* do caminho Fernanda, sério, você esgotou minha paciência hoje.

- Me dá um beijo que eu te conto o caminho.

- Não vou te beijar, me fala o caminho.

- Vou adorar passar a noite perdida com você. -  Puxei o carro de ré e segui mais ou menos por onde eu lembrava. Assim que passamos pelo portão delineado da fazenda, segui para a direita, espero que seja esse o trajeto.

Pensa como foi difícil dirigir: um carro que não é meu, em um país estranho, em uma estrada de terra, a noite, com a Fernanda tentando me agarrar e tirar a minha roupa. Foda define o trajeto até a casa dela. Hoje posso comemorar como minha memória é boa, a trancos e barrancos eu consegui chegar a casa que estávamos, a casa dela na verdade.


Assim que estacionei o carro, pulei para fora e tentei ajudar a bebada e tarada a sair da lataria que ela chamava de carro.

- Fer, vem cá. Segura no meu pescoço pra sair do carro. Vem.

- Não quero sair do carro, quero que você me “beija”.

- Sai do carro que te beijo, vem.  - A essa altura, Dona Antônia já havia escutado as gritarias da Fernanda e saiu para ajudar a tirar a bebada do carro. Quando a dona Antônia chegou, a Fernanda parece que tentou ficar séria, como se fosse sua mae te vendo bebada.

- Menina, ora pois, pra que fostes beber a este ponto?


Com muito trabalho, conseguimos carregar a Fernanda do carro até a porta da casa. Eu na verdade, a Dona Antônia ficou apenas “ajudando” a pediatra a não cair. Consegui entrar com ela na sala, sem nenhum acidente. Quando cheguei na frente do sofá, a Fernanda simplesmente se jogou. Eu sabia que ia ser difícil tirar ela de lá.

Respirei fundo e busquei uma água, enquanto a Antonia tentava tirar a blusa de frio da Fernanda. Eu enchi de açúcar na água e dei pra ela beber.

- Fernanda, bebe um pouco disso aqui!

- Eu não quero. Quero essa sensação de cachaça.

- Bebe isso aqui, se beber um gole te dou mais um pouquinho de vinho de vinho. Fechado?

- “Que isso”?

- Só bebe. -  Ajudei ela a virar o copo, lentamente, evitando mais bagunça.

Dona Antônia apareceu com uma roupa larguinha para tentarmos colocar na Fernanda. Por mim ela dormia assim mesmo. Com muito custo conseguimos trocar ela, a velhinha queria por todo santo colocar a menina no quarto, andar de cima. Pensa minha cara de feliz em carregar a bebada pela escada. Não eram nem 15 degraus, mais foram bem difíceis de subir. Com muita ajuda e paciência, um degrau por vez, um passinho por minuto, a Fernanda chegou ao quarto dela e se jogou na cama.

Assim que caiu na cama, fechou os olhos e apagou. Com muito custo consegui colocar as pernas dela pra cima e jogar a coberta sobre ela. Respirei fundo.

- Obrigada Dona Antonia. Não teria conseguido trazer ela para o quarto sem sua ajuda.

- Queres um café? Passo um rapidinho para a menina.

- Não precisa, já está tarde. A senhora pode descansar.

- Nada disso, já percebi o quanto gostas de um café quentinho, para acalmar as ideias.

- Isso é verdade. Eu adoro um café fresquinho. Ainda mais que esquenta o corpo. Acho que vou aceitar.

- Claro que vai. Venha. Vamos lá para baixo, é o tempo de eu preparar um.

Desci as escadas com a Dona Antonia, enquanto ela seguiu para a cozinha, parei na sala para tirar minha blusa de frio e aquela bota completamente desconfortável. Tinha sido presente de natal da Christiane, mas que incomodava as laterais do pé.


- Filha, tem pastel de nata. Aceita? Tu comestes algo na festa?

- Comi um pedacinho de carne só, não sou muito de comer.

- Isso eu pude perceber também, olha como es magrinha. Para ser médica deves ser forte, firme.

- Que nada Dona Antônia, se for muito forte não consigo operar ninguém.

- O que você opera? - a senhora foi conversando comigo enquanto esquentava a água para o café e colocava pastelzinho de nata sobre a mesa. Apesar de estarem “velhos” do começo do dia, quando dei a primeira mordida percebi o quão faminta eu estava.

- Estão uma delícia Dona Antonia, de verdade.

- Que nada menina. Amanhã faço biscoitos frescos para você. Vais ficar quanto tempo aqui em Portugal?

- Ainda não sei. A princípio mais três semanas, mas recebi hoje cedo uma proposta para cuidar de uma maternidade que está sendo construída em Úrros. Talvez eu fique mais tempo.

- A Fernanda vai ficar bem feliz se você morar aqui. -  Me entregou uma caneca de café fumegante e sentou na minha frente.

- Eu nem sei Dona Antonia. Ela ficou lá na festa brigando com uma tal de Milena. Deve ser alguma ex namorada dela.

- A Milena estava na festa? Essa menina tinha ido para a Inglaterra.

- Pois é, pelo visto voltou e estava na  festa. Puxou a Fernanda e ficou conversando com ela um tempão. Depois disso a Fer voltou bebada, discutiram. Um barraco só.

- Sabe menina, a Fernanda já sofreu muito nessa vida, muito mesmo. Quando ela chegastes com você eu pensei que poderia ser um novo começo. Há muito tempo ela não traz ninguém para essa casa. A última que trouxe foi a Milena mesmo, mas ela não conta, praticamente cresceu aqui. Pude ver nesses dois dias, o quanto a menina estava encantada por você. Não posso forçar nada, pra mim o espírito ruim do pai dela ainda ronda por aqui, mas eu faço votos que de certo as coisas para vocês. E eu adoro quando as pessoas gostam das minhas receitas.

- Eu estou em um momento bem difícil dona Antonia, estou me separando. Não quero forçar a barra com a Fernanda e machucar ela, não tenho esse direito.

- Exatamente por teres esse cuidado com ela, que ela merece você menina. Alguém que deseje cuidar dela, que não pretenda jogar o amor fora em nome de um sonho.

- Eu acabei de fazer isso com o meu casamento. Joguei fora pelo sonho de conhecer Portugal, de gostar daqui.

- Pelo pouco que conheço ti, não acredito que tenhas sido isso. Não tens cara de quem joga tudo fora assim, muito menos um amor ou um casamento. Não quero te dar falsas esperanças, mas acredito que a Fernanda deva estar pronta para… Que barulho foi esse?

Não fui capaz de pensar no barulho, pulei da cadeira e segui correndo para o andar de cima. Enquanto eu subia correndo a escada, ouvi o grito da Fernanda. Abri a porta correndo e enxerguei ela caída no chão com a mão banhada de sangue. Cacete.

- Fernanda, o que aconteceu? Você tentou levantar sozinha?

- Queria ir ao banheiro.

- Levanta, vem aqui. Deita na cama. Deixa eu ver. -  Acendi a luz do quarto e pude ver com mais clareza de onde vinha todo o sangue. A Fernanda ao tentar levantar da cama, toda bêbada e sem coordenação, meteu a cabeça na quina da penteadeira. -  Você arrancou um talho. Por isso o sangue todo.

- Vai ter que dar ponto  - acreditem, falou isso como se fosse uma menininha de 5 anos com medo de agulha.

- Preciso limpar primeiro pra ver. Vou pegar minha maleta. Me espera?

- Espero. -  Falou isso com um bico lindo. Ainda tem bastante álcool nesse sangue, mas pode até ser que esteja começando a melhorar. Corri até o quarto ao lado, “ meu quarto”, por sorte nunca saio sem minha maleta de atendimento. Isso foi algo que a vida me ensinou. Voltei correndo para o quarto, Dona Antônia já estava lá.

- Dona Antônia, preciso de um pouco de água morna para limpar esse corte aqui. -  Enquanto a ancia providenciava, eu fui começando a limpar com gaze e soro o corte na testa dela. Estava quase no couro cabeludo, um lugar que ficaria com uma cicatriz bem escondida.  - Fer, olha pra mim linda, eu vou precisar dar uns pontinhos ai. Você consegue ser forte e ficar comigo?

- Não. Vai doer isso!

- Vai sim meu amor. Mas prometo fazer um curativo que vai esconder tudo depois ok?! -  Segurei a mão dela e tentei acalmá-la da maneira que pude. Quando dona Antonia retornou com a água, limpei bonitinho o corte que estava na testa da Fernanda, sendo delicada, mas efetiva.

Não costumo atender pessoas que eu conheça, tenha sentimentos, mas quanto mais rápido eu suturar (costurar)  e pele,melhor será o efeito estético, então tenho que ser rápida e não tremer.

Com muito cuidado apliquei um anestésico na pele da Fernanda, tentado ser leve na dose, mas eficiente no controle da dor. Alguns minutinhos depois, com ela mais calma, segurando a mão da Dona Antonia, comecei a suturar a testa dela. Seriam 2 ou 3 pontos, o suficiente para fechar aquele corte. A cada agulha que eu passava pela pele dela, sentia como se uma agulha passasse na minha também, quando dei o primeiro ponto senti um aperto no peito. Nunca, definitivamente senti isso. Quando comecei o segundo ponto, mais uma pontada no meu corpo. Quando o último e terceiro ponto foi dado, eu já estava chorando, com todo o cuidado do mundo para não cair lagrima no corte, mas chorando. Limpei a ferida, com todo o carinho que pude e fiz um curativo com gaze em cima do corte.

Recolhi minhas pinças e materiais que estavam em cima da cama, coloquei em cima da minha maleta. Levantei para lavar minha mão, quando voltei para pegar minhas coisas, senti a mão da Fernanda me segurando, bem baixinho ela disse:  Fica aqui comigo, por favor. Não fui capaz de recusar. Apenas peguei a maleta, tirei da cama. Dei a volta e deitei com ela. A Fernanda apoiou a cabeça no meu braço e se aninhou, em posição fetal, ao meu corpo. Com uma das mãos puxou a minha e pediu carinho. Não sou capaz de dizer não, não sou capaz de ir embora desse quarto, de Úrros ou de Portugal. Não sou capaz de deixar a Fernanda.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 22 - Capítulo 22:
rhina
rhina

Em: 17/02/2020

 

Oi

Boa noite

Conhecendo as coisas da Fernanda.

E acho que ainda tem montão.

Ela são uns xuxuzinhos juntas.

Rhina

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Elizaross
Elizaross

Em: 21/05/2018

Carol, pfv escute pelo menos 1 vez na vida e vai ser feliz.... 

torcendo por vc e Fer..

Eu quero a Cris e a milena bem longeeeeeeeeeeeee

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