EPISÓDIO 7 - Desencontro
As bocas já estavam a uma distância perigosa o suficiente para acender o corpo de Fernanda e Letícia, de uma maneira visceral, peles quentes quase se tocando, respirações cortadas, e quando o inevitável estava para se concretizar enfim, a ruiva e a morena foram arrancadas daquela atmosfera “caliente” pela campainha do celular da policial.
Letícia se afastou abruptamente. Mentalmente, Fernanda já maldizia até a décima geração de seja lá quem fosse que estivesse lhe telefonando naquele exato momento. Quando pegou seu celular e olhou para o display sua raiva só cresceu: Dulce.
-- Fala Dulce!
-- Nossa... Oi né! Que educação heim? Isso é jeito de tratar uma amiga Nanda?
Contendo sua insatisfação, Fernanda repetiu:
-- Deixa de drama Dulce, fala logo.
-- Estou precisando de você amiga, é que... Sabe, eu... Na verdade, foi assim...
-- Quando você fica gaguejando assim, eu sei que você fez uma merd* grande, qual foi dessa vez? – Nanda interrompeu.
-- Estou detida na delegacia... – Dulce falou praticamente sussurrando.
-- Você o que? Você está presa? O que você aprontou ow sua desmiolada?!
-- Juro que não fiz nada demais Nanda, estava só investigando... Mas, o dono da clínica não entendeu bem assim, e chamou a polícia, estou presa por invasão de propriedade privada...
-- Investigando? Clínica? Porr* Dulce, você não consegue ficar longe de confusão!
-- Nanda, não tenho como explicar agora, só podia fazer uma ligação, para meu advogado, como não tenho um... A Gisele está fora do Rio... Ai Nanda me tira daqui!
Dulce explicitou seu desespero. Contrariada, a policial respondeu:
-- Olha o drama! Estou indo... Em que delegacia você está?
-- Na 17ª, em São Cristóvão.
-- Cara tu capricha até na distância! Do outro lado da cidade!
Fernanda resmungou desligando o telefone. Letícia a essa altura, já estava de pé, afastada a uma distância segura da policial, tentando se refazer da intensidade daquele momento frustrado.
-- Eu devo ter feito uma prancha de Body board com a tábua dos dez mandamentos pra merecer a Dulce e as confusões dela na minha vida de novo!
A morena disse se levantando do sofá. Letícia sorriu sem graça, visivelmente desconcertada, e com suas bochechas ainda ruborizadas pelo clima desfeito a poucos minutos. Seu corpo ainda emanava as consequências do beijo não concretizado.
-- Eu preciso ir Letícia. Atravessar a cidade, e nesse meio tempo chamar um advogado para salvar aquela louca do xadrez...
-- Claro... Se eu puder ajudar em algo...
-- Obrigada. Você já fez demais por mim hoje. Muito obrigada pelo brunch, pela vista, pelo sofá, e principalmente por sua atenção e companhia. Você realmente me surpreendeu.
Sem perceber, Fernanda deixou escapar um galanteio que manteve a ruiva ainda mais corada.
-- O prazer foi meu em recebê-la em minha casa Fernanda.
Sem pressa, a morena ajeitou seus cabelos, vestiu seu casaco, alcançou as chaves do seu carro na mesa de centro, e antes de deixar a casa, ainda à porta, seguida pela anfitriã, como se quisesse deixar clara sua vontade guardada, beijou a face da médica, se despedindo:
-- Até qualquer hora, obrigada mais uma vez.
Letícia sorriu discretamente, disfarçando as reações do seu corpo à aproximação da policial.
-- Até mais Fernanda.
A médica fechou a porta e recostou nela, com o coração aos galopes, mãos trêmulas, em sua mente, centenas de indagações pouco condizentes com sua história de vida até então. Seu corpo manifestava respostas que mesmo no seu alto nível intelectual ela não conseguia achar explicações plausíveis. Em mais uma atitude inexplicável, procurou ressentir o cheiro da pele de Fernanda na sua, quando o rosto da morena roçou na sua face naquela despedida, e outra vez sentiu seu corpo estremecer.
Agarrada ao volante do carro, Fernanda por sua vez, se perdia na recente lembrança da presença de Letícia, seu perfume, sua voz macia, toda delicadeza e educação da legista naquela tarde, e principalmente no contato de seus corpos que apesar de fugaz, foi suficiente para confirmar o que a morena desconfiava: desejava Letícia ardentemente, contrariando todas as regras que se impusera nos relacionamentos com mulheres. Prometera a si mesma, que nunca seria a primeira mulher na vida de outra, experiências anteriores deixaram marcas, as quais a custa de muita luta e determinação como lhe eram peculiares, tratou de esquecer.
A policial voltou seu pensamento à sua tarefa naquela tarde, resgatar a amiga de infância de mais uma trapalhada. A caminho da delegacia de São Cristóvão, ligou para um ex-colega de faculdade, advogado de sua confiança para representar Dulce, encontraram-se no 17º distrito uma hora depois.
-- Nanda como você demorou! – Dulce se queixou.
-- Vai te catar né! Atravessei a cidade pra te livrar do xilindró, e é assim que você me agradece?
-- Você não imagina o que eu passei naquela cela!
-- Ah, menos tá Dulce, você não ficou nem uma hora direito lá! Sua honra e heterossexualidade estão a salvo. Vamos embora, e você vai me explicar direitinho essa história de invasão de propriedade privada!
-- Sério Nandinha? Estou livre?
-- Você além de chamariz de confusão é também sortuda! O delegado é primo do advogado que chamei, que foi meu colega de faculdade. Odeio esse tipo de ajeitadinho, mas pelo menos você não vai ficar fichada! Ficou tudo na base de um grande mal entendido...
Dulce pulou no pescoço de Fernanda, como a diferença de altura entre as duas era grande, ficou praticamente pendurada na policial, beijando suas bochechas.
-- Ai para! Você tá parecendo o Pluto do Mickey! Tá me babando toda! - Fernanda disse limpando o rosto.
-- Vai me dar uma carona?
-- Meu dia já está uma merd* mesmo... Vamos lá!
-- Ai Fernanda como você é chata! Um favorzinho de nada, você fica nesse mau humor? Você tem TPM durante todo o mês?
-- Ai não abusa tá Dulce? Vai desembuchando logo! Que propriedade foi essa que você invadiu e que investigação é essa?
Fernanda disse quando chegavam ao carro.
-- Bem... Eu consegui entrar pelos fundos da clinica que o Angel trabalha...
-- Você o que? Dulce como você não me disse nada?
-- Ah Nanda! Você ia me impedir, ou melhor, tentar me impedir, você não liberou uma informação sobre a prisão do cara...
-- Porque não tinha nada a ser falado! O cara não abriu o bico, aliás, nem poderia estar te dizendo isso! Aquela confusão que você me meteu naquela boate de quinta, só me rendeu uma suspensão! Estou fora do caso até o delegado resolver me colocar de volta, ou não!
-- Ai amiga, calma... Eu só quis ajudar... Então a informação que obtive lá, não vai adiantar muita coisa né?
-- Que informação? Dulce desembucha!
Fernanda freou bruscamente o carro ouvindo imediatamente buzinadas de carros e motos que vinham logo atrás dela. Soltou meia dúzia de palavrões para quem lhe ultrapassava enquanto Dulce respondia:
-- Passei por bluetooth um vídeo pro meu celular, da câmera de segurança de lá...
Fernanda nem esperou Dulce concluir a frase, rapidamente tomou o celular que a jornalista segurava e praticamente ordenou:
-- Mostra logo!
-- Ei! – Dulce tomou o aparelho de volta – Calma ai! Não é bem assim que as coisas funcionam não! Você acabou de me dizer que não conseguiu nada com a prisão do Angel, eu tenho alguma coisa aqui... – Dulce apontou para o celular – Então vamos negociar!
-- Você tá surtada né? Acha que você está em condições de negociar? Ah Dulce! Acabei de te livrar do xadrez e ainda mais de uma ficha na polícia e vem me falar de negociar? Tenha dó! – Fernanda respondeu impaciente.
-- Ah você já me livrou! Agora eu tenho algo que você precisa. Precisa para sua investigação, ou melhor, para voltar à investigação que era sua...
A morena rugiu apertando as mãos no volante.
-- Ai Dulce, como eu te odeio!
-- Então, vamos ou não negociar Agente Garcia?
-- Fala, fala o que você quer?!
-- Quero que você aceite como uma parceira nessa investigação, eu proponho troca de informações em tudo, assim nos ajudamos, e quando esse assassino for preso, terei meu furo de reportagem para alavancar minha carreira, ou quem sabe, ser uma escritora de sucesso como a Gisele...
-- Ow, o que te deram pra fumar naquela carceragem? Não posso fazer isso! Você sabe quantas regras eu violaria pra aceitar esse acordo? Sem contar que nunca aceitaria você como parceira, a não ser que eu quisesse que minha carreira na polícia virasse uma pegadinha do Silvio Santos!
-- Ah Nanda, você está se lixando pra regras! Pensa que eu não te conheço? A prova disso foi nossa primeira experiência como parceiras nessa investigação! Eu não seria louca de publicar nada antes de chegar ao assassino, só quero chegar à frente, no jornalismo isso é tudo! E tem outra coisa: se você não aceitar meu acordo, fica sem essa provinha aqui, e eu vou continuar minha investigação por conta própria, e aí, você sabe como me meto em confusão...
-- Definitivamente eu te odeio!
-- Estou esperando... Tic tac...
-- Tá bom! Cara eu sei que vou me arrepender amargamente por isso todos os dias da minha vida! Agora me mostra o que você tem!
Dulce comemorou, e em seguida, exibiu o vídeo no seu celular. As imagens revelavam um homem alto, com deficiência na mão, que lembrava a mão em garra vista no primeiro vídeo filmado por Dulce em Itatiaia. Eram trinta segundos de filmagem, na qual, Ernesto dos Anjos trocava um papel com o suposto Capitão Gancho e fazia sinal para que ele saísse do estabelecimento rapidamente.
-- Eu te disse que eu tinha algo!
-- É você tem. Mas não posso usar esse vídeo. Mas, posso pedir ao delegado que solicite um mandado de busca e apreensão nessa clínica e confiscar essas fitas.
-- É bom que se apresse, as fitas são apagadas periodicamente pelas empresas de segurança, não sei por quanto tempo ficarão armazenadas.
-- Posso saber como ficou sabendo exatamente que fita procurar quando você invadiu a clínica? Não acredito em tanta sorte assim...
-- Eu procurei apenas nas datas de uma semana anterior a morte da primeira vítima. Eu passei a madrugada lá Nanda, foi um bom tempo, o problema foi que me animei tanto quando encontrei esse vídeo, que na saída me esqueci da droga dos sensores e o alarme disparou, não consegui escapar.
Fernanda deixou Dulce no apart hotel de Gisele e imediatamente ligou para seu colega na investigação compartilhando a novidade, já que ela não poderia levar ao delegado tal informação.
-- Diga que você recebeu esse vídeo de uma fonte secreta. Seja rápido, antes que percamos essa prova da ligação do Ernesto com nosso suspeito! Acharam algo na casa dele?
-- Nada ainda, mas apreendemos notebook, agenda, está tudo aqui na delegacia sendo analisado pelos peritos.
-- Beto, por favor, me mantenha informada! Estou enviando para seu celular o vídeo.
-- Deixa comigo “parça”!
**********************
A noite pareceu não ter fim para Fernanda. A vista da sacada do seu pequeno apartamento não se comparava ao que viu na varanda da casa de Letícia, mas, era uma bela visão da noite carioca em Ipanema.
O pensamento em Letícia não lhe deixava em paz, nem seus pensamentos, nem muito menos seu corpo. Acomodou-se em uma cadeira de balanço de palha sentindo a brisa litorânea, enquanto sorvia uma cerveja, como se aquele líquido gelado pudesse acalmar o calor que sentia se espalhar por sua pele ao se recordar do perfume da ruiva.
Em outro canto da cidade, Letícia caminhava por sua casa trajando uma fina e delicada camisola de seda, bebericando um cálice de vinho tinto. A paisagem da sua varanda parecia contribuir para perpetrar em sua mente a lembrança de Fernanda ali, á vontade, seu sorriso contagiante, seu jeito despachado, sua presença incomum.
A médica se via em um dilema imprevisível. Dividia-se entre a frustração pelo clima romântico que não teve seu desfecho, e a culpa por desejar tanto que tal desfecho abrisse espaço para um beijo, dois, e tudo mais que seu corpo pedia naquele instante com a policial. Sentia-se na obrigação de impor a si mesma, limites, usar de toda sua racionalidade para ponderar aquelas sensações, como se precisasse ouvir sua razão, falou em alta voz:
-- Contenha-se Letícia, contenha-se! Ela é uma mulher!
Seu tom não convencia nem a si mesma, era quase jocoso. Riu de si mesma mordendo os lábios, ingerindo num gole só o resto do vinho daquela taça.
**************
Beto acordou Fernanda com uma ligação:
-- Nanda, eu mostrei ontem mesmo ao delegado o vídeo, ele já solicitou um mandado de busca e apreensão para clínica que Ernesto trabalha, com a fita em mãos, será a vez de fazermos uma visita ao nosso Angel na carceragem.
-- Valeu Beto! Quem sabe ele não nos dá um nome ao menos, agora temos o que negociar, se ele não quiser ser acusado de cumplice de assassinato!
-- É isso aí minha irmã! Agora... Tu sabe que o Welington não engoliu a história que recebi o vídeo de um informante meu... Ele perguntou quanto tinha de dedo seu nessa história.
Os dois gargalharam.
-- Wellington de bobo não tem nada! – Fernanda disse
-- Por isso mesmo acho que sua suspensão não vai durar muito tempo, mas segura a onda até lá, não vá se meter em encrenca, deixa que a gente investigue e te mantenho informada ok?
-- Beleza Betão, fica sussa, vou curtir minha folga forçada. Correr na orla, jogar um vôleizinho na praia...
-- Manda ver, mas não vai se acostumando não viu?
E como planejara, Fernanda saiu de casa em direção à praia de Ipanema. Encontrou alguns amigos de vôlei, e depois da partida, percebeu Gisele, sentada em um dos bancos do calçadão observando-lhe, não demorou para ir ao encontro da amiga:
-- Gi? Ué o que faz aqui? A Dulce me disse que estava fora do Rio...
-- Cheguei faz pouco tempo, fui a São Paulo, para um encontro com meu editor.
-- E passou direto para Ipanema? Você não está hospedada em Copa?
-- Passei no seu prédio, e o porteiro me disse que você tinha saído com roupa de praia, deduzi que estivesse aqui.
-- Algo tão urgente para falar comigo? Veio até arrastando bolsa de viagem...
-- Não, só me preocupei com você, a Dulce comentou que você foi suspensa no trabalho... Pensei que você estivesse mal, sei lá, precisando de uma companhia. Mas estou vendo que você está muito bem.
-- Ah, estou chateada, é um caso importante, estou me dedicando muito, mas tenho que reconhecer que pisei na bola... Vamos tomar uma água de coco?
Gisele acenou em acordo. Saborearam a água gelada em um quiosque da orla.
-- Eu me senti meio culpada quando a Dulce me contou da sua suspensão. Esse empenho todo em resolver esse caso, tem o fato de eu estar envolvida, e meu livro inspirando esse psicopata...
-- E... Para com isso Gisele! Você está viajando legal! Se isso te deixa com a consciência mais leve, saiba que não é porque você está envolvida no caso que estou me dedicando tanto, eu dou meu sangue em todas as investigações que lidero. Esqueceu que a segunda vítima foi minha namorada? Eu tenho mais que motivos para prender esse doido! E eu te falei que seria a melhor policial, se lembra? Meu negócio é prender bandido!
-- É, você é uma mulher de palavra, ninguém pode duvidar disso. – Gisele falou com um tom decepcionado.
Fernanda fingiu não entender a observação da amiga, não queria remexer em histórias do passado que as envolvia.
-- Quer almoçar comigo? Tem um restaurante ótimo aqui pertinho, não é cheio de frescuras, mas tem um peixe delicioso! Tomo uma chuveirada ali e vamos!
-- Tentador seu convite, mas infelizmente tenho que recusar, meu pai está aqui no Rio, e meu tio está oferecendo um almoço pra ele...
-- Titio secretário de segurança? – Fernanda fez careta.
-- O próprio!
-- Por isso você está toda na estica né?
-- Ah Nanda, para de exagero...
Conversavam enquanto aguardavam para atravessar a rua, e para surpresa de ambas, um motoqueiro ultrapassou em alta velocidade os carros quando o sinal verde abriu, espalhando a lama de uma poça, cobrindo Gisele e Fernanda.
-- Putz...
Fernanda só conseguiu dizer isso quando olhou para Gisele. As roupas da escritora, antes alvas como as nuvens do céu naquele final de manhã, pareciam uma pintura de arte moderna com respingos e manchas por todos os cantos.
-- Filho da mãe! E agora?! Vou me atrasar para o almoço, isso é uma gafe imperdoável para meu digníssimo pai!
-- Calma Gi, menos drama. Você não tem nada aí nessa bolsa da viagem que dê pra você trocar?
-- Ah! Tenho, mas, está amassada, usei ontem...
-- Não seja por isso, vamos lá em casa, você passa a roupa e se arruma lá, é pertinho daqui. Não é um flat luxuoso, mas dá pro gasto!
E assim fizeram. Fernanda emprestou um roupão a Gisele enquanto tratava de tomar banho, uma vez que ela fora acometida pelo incidente da mesma forma. A escritora pouco familiarizada com tábua e ferro de passar, arrancou boas gargalhadas da policial.
-- Cara, deixa que eu faço isso pra você!
-- Sai pra lá, vá tomar seu banho, eu sei fazer isso, só faz tempo que não faço, mas dou de conta.
Pouco convencida disso, Fernanda deu de ombros e seguiu para o banheiro. Enquanto estava no banho, a campainha tocou:
-- Gi, atende aí, deve ser o zelador com as correspondências, eu me esqueci no balcão. – Fernanda berrou.
Gisele atendeu à porta, e de pronto recepcionou a visita da amiga:
-- Doutora Letícia! Que surpresa!
Visivelmente surpreendida Letícia, apenas sorriu, como se lhe faltasse a voz. Seu constrangimento só aumentou quando à sala, Fernanda surgiu envolta apenas com a toalha de banho.
-- Pode deixar na mesinha Gi...
Fernanda também foi perdendo a voz, quando se deu conta que não era o zelador com a correspondência, e a julgar pelo desconcerto da médica, o cenário naquela sala traduzia o que a morena não queria que Letícia concluísse.
-- É a doutora! Vai entrando doutora, não sou a dona da casa, mas, fique à vontade... Eu preciso terminar uma coisinha... – Gisele foi dizendo apressada, voltando para a área de serviço, sem perceber o clima estranho instalado.
Segundos de silêncio, os olhares se cruzaram atordoados, até Letícia quebrar o jejum de palavras:
-- Seu prédio não é muito seguro, não tinha ninguém na recepção, e entrei tranquilamente junto com outro morador.
-- Ninguém desconfiaria de você como uma criminosa... – Fernanda tentou brincar.
-- Não quero atrapalhar nada, vim apenas deixar algo que ontem mencionei que tinha para lhe dar, como você saiu intempestivamente não me deu chance de te entregar.
Letícia estendeu o embrulho, Fernanda se desfez da embalagem ainda constrangida. Tal desconforto ficou ainda mais evidente com a observação que a ruiva fez quando a policial se deparou com o livro “A nova face da morte” de Catherine Morgan.
-- Achei que podia te ajudar no caso, mas vejo que é desnecessário, você tem a própria autora aqui.
Fernanda esboçou uma explicação, mas Letícia não oportunizou isso, interrompendo a morena:
-- Era só isso que eu tinha mesmo a fazer. Desculpe-me a deselegância, deveria ter ligado antes de vir.
Letícia saiu sem olhar para trás, e Fernanda meio atordoada com a situação tentou segui-la, mas foi impedida por Gisele.
-- Ow sua doida, vai sair só de toalha?
Fernanda parecia ter se esquecido desse detalhe, parou à porta.
-- O que a doutora queria? Olha meu livro!
Gisele disse ao perceber o exemplar nas mãos de Fernanda.
-- Nanda você me quebrou um galhão! Agora tenho que ir, se não chego atrasada. Nanda?
-- Oi?
-- Estou indo, a gente se fala mais tarde, quem sabe jantarmos?
-- É, pode ser...
-- Vai querer que eu autografe sua cópia, olha que se leiloar vai ganhar uma grana heim?!
-- Oi?
-- Xi... Tá difícil estabelecer um diálogo com você. Ligo mais tarde.
Gisele deu um beijo no rosto da amiga se despedindo, batendo a porta do apartamento.
Fim do capítulo
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