• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Beautiful and Dangeours
  • EPISÓDIO 6 – O direito de permanecer calado

Info

Membros ativos: 9524
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,491
Palavras: 51,957,181
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Thalita31

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell
  • 34
    34
    Por Luciane Ribeiro

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Faxina de Ano Novo
    Faxina de Ano Novo
    Por caribu
  • O
    O Amor Não Existe
    Por Endless

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Beautiful and Dangeours por contosdamel

Ver comentários: 1

Ver lista de capítulos

Palavras: 4343
Acessos: 3581   |  Postado em: 19/05/2018

EPISÓDIO 6 – O direito de permanecer calado


 

                O depoimento de Ernesto dos Anjos entrou pela madrugada após o flagrante na negociação de tráfico de ketamina arquitetado e liderado por Fernanda. O figurinista e auxiliar de farmácia de clínica veterinária, se recusou a responder qualquer pergunta, insistindo que só o faria na presença de um advogado.

 

                O cansaço acumulado da maratona que representou o dia anterior para a agente Garcia pareceu explodir em estresse, quando ela virou a mesa à frente de Angel, assustando o agora enquadrado traficante.

 

-- Cruz credo! Quer me matar de susto? Olha essa mulher, traveco, sei lá o que, está descompensada! Vocês viram isso?

 

                Ernesto provocou ainda mais a ira de Fernanda comentando com sarcasmo o comportamento da policial com seu parceiro na sala.

 

-- Garcia tá descontrolada pow?! Vaza daqui, vai tomar um café, ou melhor, um chá pra espantar esse santo aí de Incrível Hulk, o cara só vai abrir o bico quando o advogado chegar, não é hora de rodar a baiana não... – Ferreira cochichou.

 

                Fernanda saiu pisando firme e batendo a porta da sala de depoimentos com a força do herói verde dos quadrinhos. A sugestão de Ferreira não foi aceita, a policial andava de um lado para outro pelos corredores da delegacia, se sentava em sua mesa, balançando a perna impaciente.

 

-- Porr* Roberto, cadê o advogado daquela biba?! O cara já ligou? Vai ser pra hoje ainda?

 

-- Ei Fernandão, manera aí, sou sua secretária não! O anjinho lá que você prendeu já fez contato, agora, quando a excelência vai chegar eu não sei...

 

 

                A espera pelo advogado de Ernesto só teve fim no início da manhã. A essa altura, exausta daquele plantão, Fernanda cochilava em sua poltrona, recostando seu tronco sobre os papéis na sua mesa. Assustou-se com uma forte batida na mesa que a acordou.

 

-- Agente Garcia! Na minha sala agora!

 

                O delegado praticamente rugiu para Fernanda, que num impulso se levantou, limpando a baba que escorria pelo canto da sua boca e seguiu seu chefe até sua sala.

 

-- Você pode me explicar que palhaçada foi essa? – Welligton indagou irritado.

 

-- Oi?  - Fernanda interrogou sarcástica.

 

-- Poupe-me das suas piadinhas Fernanda! Já me basta encontrar você com essa cara amassada dormindo na própria mesa, diante de qualquer autoridade que por ventura aparecesse aqui! Essa delegacia é o mais novo modelo do estado, tem que ser referência, exemplar em tudo! E você me apronta uma dessas?

 

-- Ah qualé  Wellington, me poupe você desse piti! Tudo isso por causa de uma sonequinha? Passei a noite de plantão! – Fernanda respondeu se jogando no sofá da sala.

 

-- Ah, plantão né? Vamos começar por aí. Você estava escalada para ficar de plantão ontem?

 

-- Não, é que a operação...

 

-- Não! Foi o que eu pensei, quando saí ontem daqui, deixando você, num surto de insanidade, liderar a tal operação para prender em flagrante uma suposta testemunha para nos ajudar no caso dos assassinatos de mulheres que esse departamento está investigando.

 

-- Então, foi o que fizemos, prendemos o Ernesto dos Anjos em flagrante...

 

-- Faça-me lembrar agente Garcia, o que se faz quando se prende um suspeita em flagrante?

 -- Apresenta-o a uma autoridade policial... – Fernanda respondeu qual criança arguída pela professora.

 

-- Foi o que aconteceu aqui ontem?! – Welligton insistiu.

 

-- Delegado, eram só umas perguntas que a investigação precisava... Esperar você vir, era perda de tempo, já fizemos isso tantas vezes! Nós mesmos colhermos o depoimento de suspeitos...

 

-- Mas não é o certo! Fazíamos isso por falta de pessoal, o que não é o caso dessa delegacia! Cadê seus conhecimentos de Direito, você se formou não foi? Eu tinha que ser comunicado, esqueceu que preciso enviar o auto da prisão pra o juiz homologar o flagrante e aí sim pedir a prisão preventiva, fundamental para essa investigação. Você simplesmente queimou todas as etapas, meteu os pés pelas mãos Garcia, nem sei por quanto tempo vou poder manter esse homem aqui!

 

-- Você me colocou para chefiar a operação, fiz o que achava mais certo, cada minuto que passa é importante nessa investigação, pode representar a prisão do culpado antes que ele mate outra mulher!

 

-- Ainda não sabemos se estamos lidando com o mesmo assassino! E adiantou alguma coisa você contrariar as regras? Só porque se fazia isso de como praxe, não justifica você não me chamar, ou não esperar para que eu ouvisse o suspeito!

 

-- O cara não falou nada, disse que só falaria com o advogado dele, que até agora não apareceu!

 

                Fernanda falou fatigada, se esparramando no sofá.

 

-- E se ajeite nesse sofá, você não está em casa! Sente-se direito!

 

-- Credo delegado, o senhor está parecendo a minha mãe!

 

                Irritado, Wellington se preparava para mais um discurso de advertências à policial, quando Carol bateu à porta avisando.

 

-- O advogado de Ernesto dos Anjos já chegou.

 

                O delegado foi seguido por Fernanda até a sala de depoimentos, no corredor, se apresentou ao Dr. Evandro Nunes, advogado de Ernesto.

 

-- Posso falar com meu cliente a sós?

 

                Sabendo que este era um direito de seu cliente, o advogado perguntou como se informasse que o faria antes de qualquer depoimento a ser dado.

 

-- Claro doutor, fique á vontade.

 

                Welligton apontou para a porta, autorizando um dos policiais trazerem Ernesto da sela para a sala de depoimentos.

 

-- Odeio advogados! – Fernanda resmungou.

 

                A raiva de Fernanda só aumentou quando no depoimento, Ernesto dos Anjos optou por nada declarar, amparado pela lei e devidamente orientado por Dr. Evandro. Frustrada e cansada, a policial culpou Wellington pelo fracasso no depoimento, o que logicamente representou uma afronta para o delegado.

 

-- Fernanda, chega! Olha você já ultrapassou todos os limites comigo! Exijo que você me respeite como seu chefe e como profissional!

 

                A policial entendeu o limiar que atingira quando ouviu Wellington lhe chamar pelo primeiro nome. O delegado, colega de faculdade de Fernanda fazia questão, desde que assumira o cargo como chefe do distrito, tratar a morena pelo sobrenome, atitude comum entre os policiais, impondo certa distância no relacionamento antes de amizade.

               

                O volume da repreensão ecoou nos corredores da delegacia. Fernanda encarou Wellington surpresa. O clima tenso instalado só se dissipou quando o delegado se afastou para atender seu celular, quando Carol se aproximou de Fernanda.

 

-- Você está em maus lençóis com o chefe heim?

 

-- Você viu? Aliás, você ouviu? – Fernanda indagou caminhando para sua mesa.

 

-- Eu e todo o distrito. Olha só amiga, só uma dica, manera... O delegado é um mala, almofadinha, burocrata, mas não questiona a competência dele, por que é injusto.  O cara foi preso em flagrante, já tem motivo pra ficar preso, mas não tem antecedentes, lógico que ele não vai entregar ninguém porque daqui a pouco ele está livre e vai querer sua clientela livre também!

 

-- Carol não é possível que o Wellington não tenha considerado barganhar com o cara algum benefício, oferecer algo pelas informações dele! Você tem noção do que eu passei pra pegar esse cara e o que está em jogo?

 

-- Eu daria 5 centímetros dos meus cabelos para ver o que você passou pra prender esse cara!

 

                Carol deixou escapar um riso enquanto Fernanda se jogava na cadeira exausta, sem forças para retrucar a provocação da amiga.

 

-- Gente, te olhando agora, estou vendo que você está um caco! Credo Fernanda você está horrível, Barbarella Vitória te daria uma surra por você se apresentar assim nesse estado!

 

                Carol se aproximou da amiga como um cão farejador e exclamou de pronto:

 

-- Nanda você tá fedendo! Que bafo é esse?!

 

                Indignada, a morena levantou os braços, sentiu nas mãos o próprio hálito e respondeu:

 

-- Ah você é muito fresca e exagerada!

 

-- Cara, vá pra casa tomar um banho, descansar, você está um lixo!

 

-- Você está louca? Não posso ir para casa, tenho que aproveitar enquanto esse Angel está preso aqui para arrancar algo dele, antes que transfiram-no pra uma cadeia pública ou o advogado dele consiga uma Habeas corpus. Isso, se, o juiz conceder a prisão preventiva, vai que ele dá liberdade provisória, ferrou tudo!

 

                Enquanto Fernanda desabafava, Letícia adentrou pela delegacia, com sua elegância ímpar, acenou de longe para a policial, que parecia olhar enfeitiçada para a legista. Carol pegou um lenço umedecido em sua bolsa e entregou a amiga.

 

-- Limpa a baba... Você nem disfarça mais...

 

-- Que mané baba! Tá doida garota? Eu vou lá falar com ela, saber se ela descobriu algo...

 

-- Nanda pelo amor! Tome um banho pelo menos no vestiário daqui antes de chegar perto dessa mulher que passou deixando o perfume Calvin Klein por aqui, faz favor de pelo menos aparecer limpa e sem bafo pra falar com ela!

 

                Fingindo contrariedade, disfarçando a preocupação, Fernanda seguiu para o vestiário, lá guardava sempre uma muda de roupas, toalha e itens de higiene pessoal, já que era corriqueiro pernoitar no departamento.

 

                Seguiu para o elevador a fim de encontrar Dra. Letícia em seu escritório. Foi abordada por Beto, que avisou:

 

-- Só pra te avisar, o juiz acatou o pedido de prisão preventiva, Ernesto está sendo transferido para o Centro de detenção provisória, mas... O delegado também conseguiu um mandado de busca e apreensão da casa dele, quem sabe encontremos alguma coisa, agenda, computador, algo que nos leve a uma lista de clientes, o celular dele, já está com a perícia. Estamos indo fazer a busca.

 

-- Vou com vocês! – Fernanda falou animada.

 

-- Foi mal parceira, ordens expressas da chefia, acho que dessa vez você vai conseguir sua suspensão, há anos entalada nos sonhos de Wellington...

 

-- Mas...puta que pariu! Logo agora?!

 

-- Eu te avisei pra pegar leve... Mas, fica sussa... Eu te mantenho informada.

 

                Profundamente decepcionada, Fernanda subiu até a sala de Dra. Letícia, sem saber ao certo qual desculpa usaria para justificar sua presença ali. Bateu educadamente na porta e prontamente Letícia surgiu abrindo-a.

 

-- Agente Garcia! Que surpresa agradável, entre, por favor. Mais algum elemento na investigação que eu possa ajudar?

 

                Fernanda ficou segundos muda, encarando a beleza estonteante da ruiva. O seu perfume marcante pareceu lhe entorpecer. A voz de Letícia soava longe na mente da policial envolvida naquele timbre aveludado. Enfiou as mãos no casaco e respondeu quase tímida:

 

-- Na verdade não... Não tem nada de novo é que...

 

-- Ora que grosseria a minha, entre, por favor, agente Garcia.

 

-- Doutora, já combinamos que não precisa me chamar assim...

-- Lembro-me desse acordo, mas só vale se você não me chamar de doutora ok?

 

                Fernanda sorriu e acenou em acordo enquanto adentrava o escritório da médica.

 

-- Sente-se, por favor, você me parece cansada, ouvi rumores sobre a noite passada, conseguiram prender um traficante de ketamina não foi? Isso ajudou na investigação?

 

-- Na verdade não. –Fernanda demonstrou sua frustração. – A gente nem ao menos sabe se nosso suposto assassino é cliente desse cara, você imagina a quantidade de clínicas veterinárias que podem comercializar isso? Acho que fui muito ingênua acreditando na pista da desmiolada da Dulce.

 

-- Agente... Desculpe-me, Fernanda, vocês tinham que seguir alguma pista, começar de algum ponto, tenho certeza que seus instintos policiais não te enganariam tanto. Considerando o que você passou para conseguir prender esse traficante.

 

                Letícia segurou o riso.  Fernanda que habitualmente se irritaria, ao contrário ficou tímida, e igualmente conteve um riso no canto dos lábios.

 

-- Essa delegacia está pior que reunião de família, a fofoca impera!

 

-- Confesso que fiquei com uma pontinha de inveja das suas amigas que testemunharam sua performance no palco...

 

-- Doutora até você?! Foi mal... Letícia! Aquele não era ambiente para você, nunca te levaria na aventura de uma transloucada como a Dulce.

 

                Letícia estreitou os olhos e rebateu:

 

-- Por que você me julga tão conservadora assim? Acha que não sei me aventurar, nem correr riscos?

 

-- Letícia não me leva a mal, mas olha sua pose, toda certinha, você tem cara de que nunca comete um deslize, tudo é devidamente calculado, o que vai fazer durante o dia, deve ter até uma agenda com seus horários, deve ter até uma previsão do que vai vestir durante cada dia da semana, o que vai comer no almoço, no jantar... Seus planos devem estar traçados até sua aposentadoria... – Fernanda sorriu.

 

-- Acho que você vai se surpreender comigo. – Leticia fez cara de mistério, se sentindo provocada.

 

-- Taí uma coisa que eu pagaria pra ver... A Dra. Letícia me surpreender...

 

                Letícia nesse momento levantou-se da poltrona, encostou à mesa diante de Fernanda, deixando a mostra suas pernas por baixo do jaleco entreaberto, e perguntou:

 

-- É verdade o que comentam por aí sobre sua suspensão?

 

-- Ainda é extra oficial, o Wellington não me informou pessoalmente. Mas qual o motivo da pergunta?

 

                Letícia empurrou o telefone da sua mesa e empurrou na direção de Fernanda, e orientou:

 

-- Confirme agora, ligue para o escritório dele. Assim você tira logo essa dúvida.

 

                Intrigada com o empenho da médica nessa questão, Fernanda discou o número do ramal do escritório do delegado, e prontamente foi atendida.

 

-- Dra. Letícia! Que prazer, no que posso ajudar? – Wellington atendeu animado.

 

-- Sou eu chefe, agente Garcia, o Beto me adiantou sobre as ordens de eu não participar do mandado de busca e apreensão na casa do Ernesto, estou suspensa de fato?

 

-- Mas o que você faz importunando a Doutora Letícia?

 

-- Não estou importunando ninguém, estou trabalhando...

 

-- Então pare agora o que você está fazendo, você me desacatou agente Garcia, está formalmente suspensa, vá imediatamente para casa, só volte quando eu determinar o término da sua suspensão, nem preciso dizer que isso constará na sua ficha.

 

                Sem responder, Fernanda bateu o telefone com violência. Resmungando meia dúzia de palavrões ao chefe.

 

-- Acho que você teve a confirmação que precisava não é?

 

                Fernanda respondeu com um gesto a indagação da médica.

 

-- Pela sua cara de cansaço, imagino que não tenha comido nada ainda hoje, acertei?

 

-- Em cheio, nem jantei ontem, estou me dando conta da minha fome agora, mas como estou indo pra casa mesmo, por tempo indeterminado... Vou ter muito que fazer comendo e assistindo sessão da tarde esses dias...

 

-- Se eu não te conhecesse um pouquinho, acreditaria nesses seus planos preguiçosos... Mas, tenho certeza que você ficará ligando para seus colegas a cada meia hora para acompanhar a investigação... – Letícia sorriu.

 

-- Medo de você... Já me conhece assim?

 

-- Sou uma cientista Fernanda, sei observar as pessoas, traçar perfis e pressupor suas atitudes...

 

-- Meu medo só aumenta, detesto ser previsível. Bom, como eu não posso estar aqui, vou me mandar, e deixar você trabalhar nos seus cadáveres.

 

-- Não tão rápido Fernanda...

 

                Enquanto Fernanda se levantava, Letícia a fez sentar de novo, empurrando seus ombros contra a poltrona.

 

-- Como observei e confirmei, você ainda não comeu nada hoje, tenho umas dívidas de refeição com você por assim dizer. Calculo que pelo horário e pelo tamanho da sua fome, um brunch seria uma boa opção para eu te oferecer.

 

-- Um o que?

 

-- Um café da manhã reforçado, ou um almoço menos tradicional, refeição típica nos Estados Unidos.

 

-- Que fina! Não sei o que é isso, mas qualquer rango vai cair bem.

 

-- Então, acompanhe-me.

 

-- Mas você não tem que trabalhar?

 

-- Você nunca fugiu do trabalho?

 

-- Eu sim, várias vezes, mas você não parece ter esse perfil...

 

-- Então você terá a primeira surpresa vinda de mim, vamos.

 

                Saírem juntas da delegacia, geraria um burburinho nada agradável para ambas, assim, Letícia desceu depois de Fernanda, que a seguiu em seu carro.

 

                Para surpresa de Fernanda, Letícia não residia em um apartamento luxuoso, nem tampouco um condomínio fechado ostensivo. A médica estacionou em frente a um antigo e charmoso sobrado em Santa Teresa. Abriu o tradicional portão estreito de ferro, e aguardou a policial se aproximar a convidando para entrar.

 

                Um pequeno jardim antecedia as escadas que davam acesso à casa. Os móveis clássicos e requintados não surpreenderam a morena, a elegante decoração da sala anunciavam a característica da mulher que ali morava.

 

-- Posso te oferecer algo para beber enquanto preparo nosso brunch?

 

-- Oi?  - Fernanda respondeu saindo da sua distração observando os quadros pendurados na parede.

 

-- Deseja beber algo? Uma água, um chá? Enquanto preparo o lanche que te prometi?

 

-- Você vai mesmo para cozinha cozinhar?

 

-- Não entendo o motivo da pergunta, acha que não sou capaz? Disseco corpos humanos todos os dias, e não seria capaz de preparar uma refeição?

 

-- Ai precisava nem me lembrar isso... – Fernanda fez uma careta de nojo. – E, não é que eu ache que você não é capaz, mas, quando você me convidou, imaginei que você fosse pedir a algum empregado para preparar algo, sei lá... Não imagino você de avental numa cozinha, de jaleco sim, mas avental... – Fernanda fez outra careta balançando a cabeça negativamente.

 

                Letícia sorriu em desacordo, e como se acabasse de ser desafiada, respondeu:

-- Se duvida, venha comigo...

 

                A ruiva fez sinal para a policial segui-la pelo corredor. Apesar de pouco se importar com detalhes arquitetônicos ou decorativos, Fernanda não deixou de prestar atenção no primor de cada arranjo, cada peça que compunha aquele cenário, mas, principalmente, não conseguia desviar a atenção do caminhar delicado da médica, e se sentir inebriada pelo seu perfume que parecia encher seus sentidos, despertando sensações singulares.

 

                Letícia não vestiu avental, pelo contrário, tirou uma peça de roupa, seu terninho. Arregaçou as mangas da camisa literalmente, lavou suas mãos, enquanto Fernanda observava com atenção e certo riso nos lábios, recostada à parede. A cozinha seguia o padrão clássico dos demais cômodos, era uma casa antiga, bem conservada, os eletrodomésticos mais modernos contrastavam com os azulejos artesanais e os armários em madeira.

 

                Enquanto a médica manejava os ingredientes habilmente, como se aquela tarefa lhe fosse corriqueira, não deixava de notar a vigilância de Fernanda diante de cada gesto seu. Saber disso e sentir o olhar da morena, deflagrava em seu corpo e em seus pensamentos desejos inéditos.

 

                Não demorou muito para Letícia preparar waffles, mini sanduíches, omelete, suco, com maestria, para o deslumbre de Fernanda. A ruiva foi acomodando tudo em duas bandejas, e perguntou:

 

-- Pode me ajudar aqui?

 

-- Finalmente pediu minha ajuda doutora!

 

-- Acompanhe-me, está um dia lindo, vamos lanchar na varanda.

 

                Letícia fez sinal com a cabeça convidando Fernanda a segui-la. A paisagem da varanda da casa era de tirar o fôlego. O bairro de Santa Teresa guardava essa peculiaridade, por se localizar na parte mais alta do Rio, permitia uma visão incrível de alguns dos principais atrativos turísticos do país, o Pão de Açúcar e a Baía de Guanabara.

 

-- Uau! – Fernanda não se conteve. – Estou vendo agora o quanto você mora bem Letícia!

 

-- É mesmo divina essa paisagem. Já me ofereceram fortunas por essa casa, mas nada compra dar dois passos da sala de casa e se encontrar com um quadro desses...

 

-- Deve ter comprado por outra fortuna suponho... – Fernanda disse jogando um sanduiche na boca.

 

-- Sabe Fernanda, acho que você tem uma ideia muito errada sobre mim. Acha que sou uma deslumbrada, rica, fútil, esnobe, que trabalha por hobbie...

 

                Fernanda fitou Letícia por alguns segundos, intimidada pelo olhar firme da ruiva, especialmente porque a sua autodescrição pela ótica da policial, lhe parecia até então verdadeiras.

 

-- Errei em algum adjetivo? – Letícia perguntou mantendo a firmeza no olhar.

 

-- Você se esqueceu de “metida”. –Fernanda brincou piscando o olho.

 

-- Fugindo pela tangente agente Garcia?

 

-- Não doutora, não costumo fugir de nenhuma pergunta. Você acertou em parte sobre o que penso a seu respeito.

 

                Fernanda tentou imitar Letícia no jeito de falar e prosseguiu depois de deixar escapar um riso.

 

-- Pensei isso quando derramei bebida no seu Dior. E pensei a mesma coisa quando fomos apresentadas. Também pensei isso quando subimos para Itatiaia para investigar a primeira vítima. Mas, comecei a mudar de opinião quando te vi traçando um “dogão do Aguiar” com toda aquela fome...

                Fernanda disse divertida arrancando um sorriso de Letícia. A morena continuou sua análise, com a médica mais à vontade.

 

-- Hoje então, você melhorou muito no meu conceito. Imaginava que você morasse nesses duplex metido a fresco em Copacabana, Barra ou Leblon... Tudo bem que esses sanduichinhos aqui cortados milimetricamente em diagonal me fez pensar que seu caso de frescurite fosse crônico...

                Outra vez Fernanda sorriu exibindo o sanduíche, Letícia não se conteve e bateu na policial com o fino guardanapo que segurava.

 

-- Não foram cortados milimetricamente... Para de implicância!

-- Tá bom vai, estão uma delicia, e se você não comer logo, vou devorar todos, nem eu sabia que estava com tanta fome assim.

 

-- Prove a omelete, gosta de mel no wafle? – Letícia fez menção de servir Fernanda.

-- Calma doutora! Vou provar de tudo, mas que pressa? Estou suspensa do meu caso, você tá matando trabalho, mas quem liga, o delegado faz tudo que você quer! E olha essa vista! Vamos com calma...

 

-- A vista é linda sim, mas não é bem assim, eu tenho obrigações no trabalho, e o delegado não faz tudo que quero não!

 

-- Ah sei... Conta outra Leticia, o cara baba em você! Não se faz de desentendida, toda mulher sabe quando o cara está dando mole, homem não sabe disfarçar isso!

 

-- E mulheres sabem? – Letícia indagou com os olhos fixos na morena.

 

-- Alguma sim, outras não se incomodam de deixarem claro o que querem.

 

                A resposta de Fernanda foi quase reflexiva, ela se julgava como as mulheres da segunda categoria, as que deixam claro o que querem, mas com Letícia, ela nem ao menos sabia o que sentia, ou que queria da médica. O sentimento que lhe preenchia, mesclado aos seus desejos e vontades se confundiam de tal forma, que a policial se sentia pela primeira vez em sua vida adulta, insegura diante de alguém. Antes que a conversa evoluísse nesse contexto, Fernanda se encarregou de mudar de assunto.

 

-- Comprou essa casa quando retornou ao Brasil?

-- Não, já é minha há algum tempo, na verdade desde que nasci. Herança dos meus avós para meu pai, e do meu pai para mim.

 

-- Então se trata mesmo de uma casa antiga, mas muito bem conservada, seus avós tinham muito bom gosto.

 

-- Minha mãe fez reformas e decorou tudo do jeito dela, mas nada que alterasse a arquitetura original, papai era taxativo quanto a isso. Morei pouco tempo aqui no Rio, meu pai trabalhava no Ministério das Relações Exteriores, e logo foi transferido para os Estados Unidos, vivi muito pouco aqui, viemos poucas vezes em férias para cá, e depois do que aconteceu a minha irmã, não retornaram mais.

                Leticia baixou os olhos, explicitando que se tratava de algo delicado, íntimo e triste da sua história.

 

-- O que aconteceu com sua irmã?

-- Não gostaria de falar nisso, se não se incomoda Fernanda.

                Fernanda acenou em acordo. Ficaram por horas ali, mesmo após se saciarem com o lanche, servido na hora do almoço. Fernanda dava sinais do cansaço do seu corpo da maratona das últimas horas, bocejando, enquanto emendavam assuntos amenos no sofá da sala, com as portas para varanda abertas.

 

-- Eu preciso ir Letícia, não estou me aguentando em pé...

-- Entendo. Antes de ir, espere, tenho algo a te dar.

 

                Leticia deixou a morena sozinha na sala, enquanto buscou um embrulho em seu quarto. Qual não foi sua surpresa quando retornou, e encontrou a policial forte e vigorosa, encostada no assento do sofá dormindo. A ruiva sorriu com a cena, Fernanda, roncava em sono profundo. Com delicadeza, a médica acomodou-a melhor no sofá, colocou sua cabeça sobre uma almofada e lhe trouxe um cobertor leve.

                Horas depois, voltou á sua sala, e encontrou Fernanda ainda dormindo, roncava, o que provocava risos silenciosos da médica. No entanto, a imagem da policial ali, proporcionou para Leticia um momento único até então: o privilégio de contemplar o rosto da morena calmamente, seus belos traços, sua pele viçosa e bronzeada, sem saber o porque, a médica ficou ali por minutos, e num impulso incontrolável, acariciou o rosto de Fernanda, retirando mechas de cabelo que caiam sobre sua face.

                Como se fosse uma extensão do seu sonho, Fernanda despertou, encontrando sobre seu rosto a mão delicada e alva de Letícia, e seus olhos verdes cintilantes lhe encarando, sem nada dizer, Fernanda abriu os olhos e aproximou seu rosto de Letícia como se adivinhasse o que a ruiva desejava ardentemente mesmo sem entender a dimensão daquele desejo.

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 6 - EPISÓDIO 6 – O direito de permanecer calado:
patty-321
patty-321

Em: 19/05/2018

Hum...lindas.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web