Capítulo 5 - Marco inicial
A casa estava num silêncio quase sepulcral, Murilo acordou com dores nas costas por ter passado a noite no sofá pouco confortável da casa de Lívia.
Imaginou que a mulher deveria estar bastante irritada com ele, por não ter o acordado e o chamado para a cama. Como bebeu toda a garrafa de vinho sozinho, dormiu ali mesmo esperando Lívia voltar para casa, embriagado de mais para se importar com qualquer coisa.
Ao lembrar da conversa que tiveram ontem, - antes dela sair sem dizer para onde iria -, lembrou do motivo da 'briga' que tiveram e não se conformava, como ela queria permanecer em Sent'Cler? Onde nada acontecia? Ele definitivamente não entendia.
Decidiu subir e ir até ela, estranhou não ter barulho algum, já que o relógio marcava 09h15min da manhã, outro dia ela já estaria quase pronta para sair.
Quando entrou no quarto, se deparou com uma morena quieta e bem coberta encolhida na cama. Seu rosto era de uma tranquilidade profunda e isso o fez sorrir. Mal sabia ele, que por trás daquele rostinho calmo, a mente dela fervilhava... Não exatamente naquele momento, pois ela dormia como um anjo.
Murilo se aproximou e passou os dedos no cabelo castanho que caia sobre o rosto dela, ação simples, mas que a despertou.
Piscou os olhos algumas vezes, tentando o enxergar melhor.
-Bom dia! - Ele disse calmamente.
-Bom dia... - meio grogue, ela mexeu no cabelo e olhou em volta.
- Achei estranho você ainda está dormindo. Não vai trabalhar hoje?
Ao dizer isso, ele despertou a morena completamente, que procurou apressada o celular pela cama. Estava descarregado.
-Caramba, não despertou! - Levantou, passou por ele e foi direto para o banheiro.
-Chegou tarde ontem...? - Murilo perguntou curioso e intrigado, sentando na cama.
-Você não viu? - Ela gritou lá de dentro.
-Estava dormindo, eu acho, não te vi chegar.
-Acho que nem eram 01h00 da madrugada ainda.
-Eu poderia saber onde você estava? - O barulho do chuveiro deve ter abafado a pergunta, pois ela não respondeu.
Ele então, ficou sentado em silêncio esperando ela sair.
Ao terminar o banho, ela saiu e se vestiu rápido, pegou um casaco e uma touca vermelha, que não usava a tempos. O frio e a cor cinza do céu pela janela dizia que o dia seria chuvoso.
Ela percebeu que ele a observava constantemente, mas não dizia uma palavra se quer.
-Algum problema? - Perguntou pegando uma mochila, no lugar da bolsa, já pronta para para sair.
-Você acha que está tudo bem?
-Não, Murilo. Não acho, mas também não quero falar disso agora. Estou atrasada, tenha um bom dia.
Ela saiu em seguida deixando o quarto e um homem confuso e chateado para trás.
Ela não queria tratá-lo daquela forma, com toda aquela frieza, mas ainda estava irritada pela conversa de ontem, e não só isso; Também não sabia mais se realmente queria manter a relação.
Isso foi uma das coisas na qual passou a noite pensando. Mas não a mais intensa e perturbadora.
Os olhos azuis, o beijo macio, o sentimento estranho e desconhecido... Nada saia da cabeça dela na noite passada.
Ela voltava a lembrar de tudo que aconteceu, de como foi bom passar a noite na varanda de Lara, como a vista era maravilhosa e como ela se sentia viva. A companhia da loira era tão intensa e importante para Lívia, que ela não saberia explicar, no entanto, em relação aos sentimentos e o acontecido de ontem, preferia pensar que foi tudo culpa do vinho.
Na verdade, não.
No fundo sabia que era madura o suficiente para assumir o que fazia, o álcool apenas facilitava a realização das vontades que reprimia.
Mas... Essa era a questão que ela não conseguia entender.
Como assim tinha esses tipos de vontade com relação a Lara? Quando foi que a Loirinha misteriosa começou a atraí-la?
Era só uma simples atração que conseguiu extinguir a hétero convicta que ela achava que vivia dentro dela?
Pensava que se fosse algo simples, iria conseguir ignorar e esquecer. Era o que ela deveria fazer. Fingir que esqueceu. Afinal, estava bêbada e poderia muito bem não lembrar de muita coisa, não é?
Não podia se deixar levar por um sentimento desses, que chegava a assustar de tão intenso. Naquele momento, tinha receio que ele a consumisse.
Inebriada pela quantidade de pensamentos que fervilhavam em sua mente, ela se quer sentiu a distância da sua casa até a delegacia, que pelo que ela percebia, já estava funcionando.
Saiu da viatura rápido, pois a chuva já começava a cair fraquinha. Ao entrar, retirou a touca e o casaco, empilhando na mesa de trabalho, soltou a mochila também de qualquer forma.
Cumprimentou alguns funcionários da delegacia, mas não via uma em especial. A sua assistente.
-Você viu a Lara? - Perguntou curiosa para um policial barbudo e rechonchudo, o Messias.
-Ela veio abrir a delegacia e foi ao posto médico, não estava se sentindo bem, mas disse que chegava antes da hora do almoço se melhorasse. - Respondeu ele.
-Nossa, o que será que ela tem? - Lívia ficou preocupada. - Obrigada, Messias.
Sentindo-se quase aliviada por não ter que enfrentar aqueles olhos azuis assim tão rápido, sentou-se e começou a trabalhar, mas agora se sentia preocupada. Desejava vê-la logo e saber o que ela tinha.
Fim do capítulo
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