Desespero
POV ELENA
Louise está me confundindo de uma maneira que ninguém foi capaz de fazer na minha vida inteira. Quando estávamos naquele elevador, fiquei agoniada, estava me dando nervoso, aquelas paredes estavam ficando pequenas, não me importei em pegar sua mão e apertar, precisava de qualquer coisa que indicasse que eu não estava só. E ela fez eu me acalmar de fato.
Mas passou e ficou tudo bem. O jantar com Eva foi adiado de última hora e agradeci demais, não achava uma boa ideia que eu participasse. Os dias estão se passando lentamente, a semana dela estava completamente cheia de reuniões, almoços, jantares. Todos os dias Louise aparece aqui por alguns minutos e muito estressada. Brigamos na maioria das vezes, porque ela sempre acha de descontar em mim e deixei claro desde o inicio que não abaixaria a cabeça para isso.
Sinto que ela está se afastando, não sei que proximidade tínhamos, porém, a sinto estranha comigo, evitando o máximo que pode.
Essa noite minha mãe não voltou, eu não dormi, amanheceu e nada. Roo todas as minhas unhas no caminho de casa até o serviço, não tenho ideia de onde procurá-la, porque nunca a segui para saber onde se enfia. Tem coisas que prefiro não saber, essa é uma delas. A preocupação está me matando.
- Bom dia, Eleninha combinou de chegar junto com Louise? - Elsa fala assim que piso na empresa.
- Não temos intimidade para me chamar assim. - Falo ao me dar conta que Louise de fato está chegando nesse exato momento.
- Credo Louise, está precisando fazer o trabalho melhor, ein. - Resmunga nos dando as costas.
- Com licença. - Peço entrando no elevador.
- Não deixa o elevador sair. - Grita andando em direção a mim. Espero que entre para apertar o botão.
- Será que hoje nos matamos? - Pergunta olhando para frente.
- Não, ainda não. - Suavizo a expressão.
- Porque está assim?
- Nada. - Fico incomodada, ela fica estranha e depois vem toda preocupada.
- Não posso saber? - Se vira pra mim séria.
- Não é nada. Vamos trabalhar. - Saio quase correndo quando o elevador abre.
- Está fugindo de mim? - Para na minha mesa, encostando as mãos.
- Preciso trabalhar, Srta. Poks.
Louise vai para sua sala. Fico irritada com a situação, não deveria ter falado com ela assim, ao mesmo tempo não tenho mesmo que me sentir culpada e sei disso. Tento focar só no serviço, porém, fica impossível com ela me olhando a todo momento.
- Ok, estou fazendo algo errado? - Entro em sua sala fechando a porta, encostando na mesma.
- Oi? - Levanta me olhando confusa.
- Você fica a semana toda sem mal me olhar, depois acha que pode ficar brava porque não te contei algo e não tira os olhos de mim. - Não poupo palavras, prefiro tudo as claras.
- Você não está fazendo nada errado. Não estou te olhando. E, só queria saber, se não pode falar tudo bem. Você está vendo coisas onde não tem, Srta. Law. - Diz se aproximando. Engulo seco, não esperava por isso.
- Certo, então em um dia, como no elevador, você é uma pessoa, no outro você finge que não existo. Vou me acostumar. - Viro abrindo a porta. Não adiantou nada vir aqui.
- Não é assim, Elena. - Toca meu ombro me impedindo de sair. Viro e dou de frente com ela, a menos de um palmo de distância. - Você vai começar a pensar que sou o que falam? - Não se distancia, consigo sentir sua respiração.
- Eu não pensaria tal coisa... - Sussurro e não penso em afastá-la, só consigo olhar em seus olhos, sentir sua respiração pesada.
- Você está certa, tem uma coisa acontecendo. - Me da as costas bruscamente.
- Você pode me contar. - Tento pegar sua mão e desisto no meio do caminho. Não devo fazer isso. Paro.
- Depois que me contar porque está assim. - Dá um risinho vitorioso.
- Minha mãe saiu ontem e não voltou.
- Se precisar de algo, não hesite em me dizer.. - Senta-se em sua mesa e aponta para a sala.
- Vou lá, Srta. Poks. No momento só preciso que ela apareça mesmo. - Suspiro cansada.
Atendo o cliente e logo ele se vai. Ignoro os olhares de Louise sobre mim nessa manha, tento ao máximo me concentrar no serviço, ligo em casa algumas vezes e cada toque do telefone me deixa mais aflita.
- Você não vai comer? - Louise me tira totalmente do que estou fazendo.
- Estou sem fome. - Respondo ainda lendo.
- Precisa comer. - Diz colocando o dedo em meu queixo me fazendo olhá-la.
- Eu vou quando estiver com fome. - Mantenho nossos olhares, sinto que quando se conectam são poucas as coisas além de nós mesmas que podem quebrar tal contato.
- Ok, tchau.
- Bom almoço.
A olho sair, ainda dou tchau quando entra no elevador me olhando. Louise é a mulher mais linda que já vi, exala elegância. Volto ao meu serviço e novamente afundo-me em papeis e informações tentando conter qualquer outra coisa que me deixe em desespero.
- Você não desistiu ainda? - Ouço uma voz conhecida.
- Eu deveria desistir? - Pergunto vendo Ingrid na minha frente.
- Levando em consideração a arrogância em pessoa que Louise é, todos sempre desistem. - Debocha e a dou atenção.
- Comigo ela é simplesmente a Srta. Poks. Talvez ela seja arrogante com quem merece. Posso ajudar?
- Você é igual ela, por isso se dão bem agora, mas mais tarde vão acabar se matando. - Fala e se senta a minha frente. - E sim, você pode me ajudar. Quero jantar com ela.
- Vou ver com ela quando ela pode.
- É você quem controla a agenda dela garota, eu sei disso.
- Sim, sabendo que ela não morre de amores por você, não vou marcar. Liga pra ela, manda e-mail, vem aqui em algum momento em que ela estiver. - Respondo nem olhando para a minha agenda.
- Louise deve estar te mantendo aqui porque é bonita, não é possível que ninguém tenha reclamado da sua falta de educação! - Fala se levantando.
- Não sou mal educada com os clientes. Você não é cliente. - Mantenho o sorriso no rosto e a sobrancelha arqueada.
- Quero ver quando souber a verdade se vai continuar aqui. - Se dirige a saída.
- Que verdade?
- Nem tudo é o que parece, Elena Law. - Diz com a porta do elevador se fechando.
Fico pensando nas palavras dela, que verdade Louise precisa me dizer? As horas passam e nem vejo.
- O que Ingrid queria? - Louise me assusta entrando.
- Um jantar com você. - Respondo olhando a agenda. - Que eu marquei para..
- Você marcou? Está louca? - Arregala os olhos e rio.
- É brincadeira. Não marquei. Mas ela me disse algo interessante.
- O que?
- Desculpa a pergunta, mas você esconde algo, Srta. Poks? E o que ia me contar mais cedo? - Pergunto sendo direta. - Algo que me faria sair daqui?
- Eu.. - Ela começa, mas sua voz falha.
Vejo meu celular tocar e fico em duvida entre atender ou não. Porém, é o número da minha mãe. Peço licença e atendo, aqui mesmo.
- Quem fala? - A pessoa pergunta.
- Elena Law, esse celular é da minha mãe, quem é? - Pergunto estranhado.
- É do hospital. Você pode vir aqui.
Acredito que perdi a cor. Anoto o endereço com dificuldade, minhas mãos estão tremendo, meu coração está quase saindo pela boca. Que merd* minha mãe fez dessa vez.
- Você está tremendo, quem era? - Louise diz me analisando.
- Do hospital, eu preciso ir. Minha mãe está lá, não sei o que houve. Só preciso ir. - Falo desligando o computador.
- Calma, olha esse endereço é longe. - Toca minha mão pegando o papel onde anotei.
- Vou andando, correndo, de qualquer jeito. É minha mãe, preciso saber o que houve. - Minha voz já está falhando.
- Eu te levo. - Fala apagando as luzes e desligando seu computador.
- Você tem uma reunião, Srta. Poks. - Lembro-a das datas.
- Não me importo, vamos. - Vou em direção ao elevador.
Não questiono, saímos junto o que sempre atrai os olhares de todos na empresa, ela dirige rápido, não me pergunta nada, não diz nada o caminho inteiro, o que eu agradeço. Sabe quando você tem um nó na garganta, que você sabe se falar algo vai desatar a chorar e talvez não consiga parar? Sou eu.
Quase saio correndo do carro e entro no hospital.
- Eu preciso saber sobre Mary Margareth. - Encosto-me à recepção.
- Não temos ninguém com esse nome. - A moça me responde.
- Não sei como a nomearam, me ligaram falando que ela esta aqui. - Eu falo de modo difícil, pois, estou nervosa.
- Eu falo com ela. - Um enfermeiro toca meu ombro. E Louise encosta ao meu lado. - Sua mãe, Mary como você disse, foi encontrada próxima daqui, num banco. Ela está machucada. Você pode me dizer o que houve ontem? - Ele pergunta e meus olhos lacrimejam.
- Ela saiu e não voltou. Eu preciso vê-la.
- Então. - O enfermeiro fica um tanto sem jeito. - Ela não está pouco machucada, ela está muito machucada, o braço quebrado, precisa de cuidado e esse hospital só pode fazer qualquer coisa, caso haja pagamento.
- Você está me dizendo que ninguém tocou nela? - Pergunto abismada sentindo minhas forças me deixando.
- Eu pago. Quero que cuidem dela, agora. - Louise diz e o médico concorda saindo.
Não sei o que fazer ou falar, quero matar um, pois, ela está sofrendo, quero gritar com aquelas pessoas desumanas, me enfiar em um buraco e esquecer tudo.
- Elena. - Louise me chama colocando a mão em meu ombro. - Vamos sentar, vai ficar tudo bem. - A acompanho e me sento.. - Eu já volto, ok?
Quero pedir que fique, porém, não posso. Concordo e afundo a cabeça nas mãos nessa sala de espera, tentando não surtar. Lágrimas descem de meus olhos, não é primeira vez. Dessa vez não a vi ainda, mas, quando tinha uns dez anos ela chegou em casa muito mal, meu pensamento "ela quer me assustar" dói deixado para trás e o desespero me toma.
Perdo-me em lembranças, quanto mais penso, mais me afundo nelas.
- Ver você assim, me da um nó na garganta. - Louise confessa se sentando ao meu lado.
- Você deveria ir pra sua reunião. - Respondo dando de ombros.
- Não deveria, não. - Ainda não a olhei ou levantei a cabeça, sinto que vou chorar a qualquer momento.
- Deveria sim, eu me viro sozinha desde sempre.
- Eu me importo com você. - Sua voz ativa ativa algo que fez meu coração acelerar de tal forma.
- Não deveria. - Digo mesmo assim, sempre odiei me sentir um peso na vida das pessoas.
- Talvez não mesmo. - Mudou a voz ganhando minha atenção.
- Não vai. - Levanto o olhar, a encontrando na porta. - Desculpa, Louise. - A olho e bato a mão em algo do meu lado, uma sacola.
- Você não almoçou. Come.. - Pede permanecendo na porta.
Louise comprou um suco e sanduíche, exatamente o que eu compraria. Como um tanto rápido, não dei dado atenção a minha fome. A ouço desmarcar a reunião e não foi uma conversa fácil. Sinto-me mal novamente.
- Quer que eu vá, Law? - Pergunta séria. Me levanto indo até ela. Meu coração está tão acelerado, é coisa demais na cabeça, coisa demais para sentir.
- O que você não me contou que me faria sair da empresa? Ou porque estava estranha esses dias? - Pergunto com as palavras de Ingrid na minha cabeça.
- Oi? - Pergunta desentendida.
- Não desconversa..
- Algo sobre mim. - Desvia o olhar do meu, ligeiramente desconfortável. - E estou estranha porque estou sentindo coisas que não deveria e estou tentando esquecer.
- Você matou alguém? - Pergunto mantendo a distancia entre nós.
- Credo, não Elena! - Diz e dá um sorrisinho.
- Já sei, você roubou?
- Não, vai tentar adivinhar mesmo?
- Essa espera me deixa nervosa, preciso pensar em outra coisa.. Você abusou de alguma secretária?
- Law, está pensando que sou o que? - Arqueia a sobrancelha se afastando.
- Eu não sei! Ai que está o problema, alguém me diz "Quero ver quando souber a verdade se vai continuar aqui", então Louise, se você não mata, não rouba, nem abusa de pessoas, qual o problema?
- Eu sou o problema.
- Não fala um absurdo desses Louise, tenho certeza que nada que você me diga vai me fazer sair do serviço.
Louise abre a boca para falar, a vejo corar, porém, o médico chega, posso entrar e ver minha mãe. Minhas mãos gelam.
- Vou com você. - Louise avisa.
- Você não pode entrar lá, mas pode olhar pelo vidro. - O médico diz apontando para o quarto no fim do corredor.
Minha mãe está deitada, com aqueles aparelhos. Meus olhos lacrimejam à medida que a estudo naquele quarto. O rosto tem marcas fortes, um braço está estendido e o outro sobre o corpo, com marcas também. Que dor vê-la assim.
- Vem.. - Louise me chama e eu não entendo, só me viro para ela e vejo suas mãos segurem em meu braço e me puxarem contra si. Não reajo, só fico encostada em seu corpo até me acalmar, até conseguir olhar por aquele vidro e não me desesperar.
Fim do capítulo
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