Claustrofobia
POV LOUISE
Quando a revista caiu nas mãos da minha irmã o barraco foi armado. Cheguei em sua casa e ela estava brigando com todo mundo, dizendo que não tenho vergonha, mesmo.
Sempre esse mesmo lenga lenga e para ajudar, Elsa disse à ela que Elena é minha secretária. Que raiva dessa garota. Sai de casa matando cachorro a grito e quando fico assim sinto necessidade de brigar com alguém.
Elena a foi a escolhida, ela dizia que não desistiria e coloquei isso a teste. Quando reclamei e não ganhei nada de atenção o sangue subiu e ela me enfrentou. Não vi medo em seus olhos e isso só me incentivou. Tive prazer em gritar com ela e vê-la retrucar. Ela é minha melhor escolha até hoje. Mas, mexe com meus sentidos.
Deu atenção ao meu surto sem nem notar e me acalmou também. A tarde não consegui me concentrar, desde o dia em que entrou aqui sempre presto muito atenção nela e nas coisas que diz.
Quando falou comigo da revista, disse: a parte do cuidado é verdade. Porque ela teria cuidado com uma pessoa que ela mal conhece e que os outros crucificam? E a vi disfarçar todas as vezes que olhava dentro de minha sala e eu estava a olhando de volta. Teve um momento que ela até sorriu, tive certeza que não estava mais brava. Quando está brava tem respostas curtas, pude perceber isso.
Trocamos algumas palavras no elevador, agradeci por ela ficado, sem dúvidas eu não queria outra pessoa trabalhando comigo. Se optasse por pedir a conta em algum momento eu entraria em apuros.
Decidi por ir para minha casa. Sou amante de praias e quando tive condições a primeira coisa que fiz foi construir uma casa na praia, sonho de infância. Desde então não importa o quão ruim tenha sido o dia, caminhar na areia vendo as ondas do mar, me acalmava.
Tomei banho e sai, já não estava tão cedo, o vento bagunçava meus cabelos molhados e eu respirava fundo aquele ar.
Não andei muito e vi uma figura loira sentada em um banco, olhando para frente, a expressão séria. Não demorei a reconhecer Elena, fui em passos silenciosos por trás dela e a ouvi recitar um soneto de Vinicius de Moraes que eu amo. Assustei sem querer com a minha presença. Eu estava curiosa para saber o que ela estava fazendo com roupa do serviço ali.
Quando me contou o que havia ocorrido eu quis matar a mãe dela, como assim havia colocado a garota pra fora? E pior, não sendo a primeira vez? Custei a convencê-la a ficar em minha casa.
A deixei sozinha para que não se sentisse incomodada, quando voltei para ver se havia dormido, ela estava sentada lá fora. Os soluços denunciaram o choro quase imperceptível, queria fazer alguma coisa, qualquer coisa na verdade. Mas não podia.
Antes de ir para o quarto, tudo que ela disse foi "obrigada", que respondi com "dorme bem, Elena". Não consegui dormir direito, de madrugada levantei e passei pelo quarto, só para ter certeza que ela estava dormindo e respirei aliviada quando vi que sim.
E hoje acordei cedo, assustada, pois Elena disse dito que iria embora logo cedo, ando pela casa e tudo que encontro é foi um bilhete.
"Vem de noite, vai de dia
É uma alegria
E de repente
Uma vontade de chorar
Elena Law."
Sorrio e guardo o papel dentro da minha gaveta. Contudo o sorriso se desfaz ao pensar em como ela está, se foi para casa, como a mãe a tratou, a preocupação me pega, de verdade.
Tomo café e vou ver para a empresa. A primeira pessoa que vejo ao abrir o elevador é Elena, respiro aliviada. Ela está com outra roupa, maquiada, impecável. Decido não comentar sobre o que houve, não quero que se senta mal.
- Bom dia, Law. - Falo.
- Bom dia, Srta. Poks. Eva ligou, ela quer confirmar o jantar, lembra? - Pergunta e confirmo. - Mas, tem um detalhe. - A vejo corar. - Ela quer que me leve.
- Eva, Eva.. Passo na sua casa 19:50. - Aviso entrando em minha sala, não quero dar a chance de recusar. Lembro da recusa permanente em deixar eu levá-la embora, alguns dias atrás.
Passo o dia com muito serviço, muito serviço mesmo. Depois daquele dia que levei Elena comigo a inauguração, consegui novos clientes e preciso olhar todos os arquivos que vem dos outros escritórios, cobrar o que está faltando e depois passar aos demais departamentos seus respectivos documentos, estou ficando louca.
- Você quer ajuda? - Ouço, Elena está encostada na porta, muito sem jeito.
- Eu ficaria muito grata. - Falo me levantando. - Tem que separar isso, levar isso para os outros departamentos. Ligar e cobrar isso dos escritórios. Tenho que encontrar um cliente. E olha esse tanto de arquivo.
- Calma. - Sorri tocando meu ombro. - Surtar não vai fazer com que nada disso desapareça magicamente.
- Você está certa. - Suspiro.
Ela se senta no chão sobre uma folha e começa a separar enquanto ligo cobrando as coisas. Ao falar com as pessoas, a observo, calça social preta e blusa 3/4 branca com um botão aberto. A expressão serena, ela é linda. Olho seus dedos em busca de aliança e não há. Se não namora os garotos ou garotas estão perdendo muito.
Tento desligar meus pensamentos, porém, é impossível. Ela separa muitas coisas em pouco tempo, ora ou outra a vejo lendo a lista de documentos pertinentes a cada departamento e conferindo.
- Srta. Poks. - Chama e me viro notando sua presença em frente ao minha mesa. - Precisamos almoçar. - Está com um sorriso pequeno. - Vou descer com essas coisas e já fico por lá, tudo bem?
- Ok. - Elena pega as coisas e sai.
As vezes acontece de eu responder de modo seco e nem me dar conta disso. Pego meu celular e desço alguns minutos depois. Não vou ao restaurante da empresa a muito tempo para comer. Na verdade nem lembro se já fiz isso.
Mas cá estou eu, meus saltos ecoam no salão e muitas pessoas me olham, algumas me cumprimentam olhavam e outras baixam a cabeça. Faço meu pedido e encontro quem procuro. Os olhos claros me olham curiosamente.
- Seus funcionários te olham torto. - Elena comenta quando me aproximo.
- Já tive problemas com muitos. - Dou de ombros.
- Louise, você vai comer aqui? - Elsa passa perguntando. - Fato histórico minha gente.
- Tchau Elsa. - Reviro os olhos e Elena ri.
- O que está engraçado, Law? - Pergunto com a expressão fechada, começando a me arrepender.
- Porque está aqui? - A pergunta é curta e direta.
- Pra comer? - Falo como se fosse óbvio.
- Sendo um fato histórico, não creio que faça muito isso. Porque está aqui comigo, Srta. Poks? - Incrível como me faz perder a linha.
- Não sei. - Essa é minha melhor resposta.
Trouxeram nossas comidas e o silêncio se acomoda entre nós. Sinto os olhares nos perfurando sem disfarçar. Quase ninguém sabe sobre mim, bem poucos mesmo. Quero saber se Elena sabe. O que pensa.
- Minha mãe está bem. - Quebra o silêncio olhando o prato vazio. - Eu disse que ficaria.
- Achei que ganharia companhia essa noite de novo, droga. - Brinco para não ficar um clima pesado e ganho um sorriso lindo. O melhor que ela deu nesses poucos dias. Poucos dias em que quanto mais a conheço, mais quero conhecer.
- Você deveria ter um cachorro. - Me tira dos pensamentos.
Voltamos para a sala juntas, o último andar, várias pessoas no mundo elevador, parando uma em cada andar. Vamos lado a lado, não falamos nada. Olhamos juntas as pessoas saírem, o elevador esvaziar. Até o penúltimo andar, onde um senhor do departamento pessoal sai e bate a mão em meu braço sem querer.
- Droga. - Resmungo vendo meu celular ir ao chão, abrindo lindamente. Como se não bastasse o elevador fecha a porta e dá um tranco. Desequilibro, todavia antes que me corpo se choque na parede do elevador, Elena me segura, novamente. Ou me puxa. Não sei. Meu corpo para junto ao seu, uma foto disso com certeza renderia mais. Um centímetro e talvez algo grande aconteceria
- Cuidado. - Fala me soltando, encostando no outro lado.
Dou um passo até ela, não penso em nada, Elena não tira os olhos dos meus. Outro tranco no elevador e nos afastamos.
Desço para pegar no mesmo instante em que ela também resolve fazer tal coisa. Vamos direto no celular, minha mão fica sobre a sua por breves segundos. Nos olhamos e me falta o ar. O que quer que esteja acontecendo tem que parar.
Levanto desnorteada com o celular na mão, Elena pega a capa e a bateria que saiu e se levanta. Estendo minha mão com o celular em cima e coloco as coisas.
- Nem parece que caiu. - Tenta soar calma. - Demora para arrumar?
- Não, quando o elevador para o manutenção é acionada na hora.
E o silêncio preenche o elevado, porém, Elena mexe nos cabelos, passa uma mão na outra, bate os pés no chão, anda de uma parede até à outra, brinca com as unhas na parede.
- Você tem claustrofobia?
- Nunca fui confirmar. Mas odeio lugares fechados, me dá agonia.
- Estou vendo. Calma. - Encosto ao seu lado, como se isso fosse mudar algo.
- Quero sair, Louise. - Diz de modo quase inaudível.
- Suas amigas sabem que você ainda não desistiu? - Tento distrai-la.
- Ruby ainda não se conforma, ela até me perguntou o você me deu para beber, porque eu te defendi. - Seu olhar passeia pelo elevador.
- Me defendeu? - Arqueio a sobrancelha.
- Ela te chamou de coisas e você não é.. Ela ficou louca.
Alongo o assunto e noto ela se acalmar. O que eu não notei foi em que momento nossas mãos se encontraram. Em que momento demos as mãos. Porque quando o elevador se abriu nossos dedos se desentrelaçaram e neu coração acelerou. Não posso permitir isso.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]