Capítulo 2
Nada contra a chuva, tem dias que até gosto de observá-la pela janela ou dormir ouvindo o barulhinho no telhado de casa, mas naquele dia só serviu para me atrapalhar mesmo.
A via principal estava congestionada naquele final de tarde, eu havia marcado um café com Micaela às cinco, e faltava apenas dez minutos. Não gosto de chegar atrasada em compromisso nenhum, por isso paguei ao taxista e resolvi seguir a pé por uma rua interna, com minha pequena sombrinha florida, que estava com um varão quebrado.
No caminho cruzei com uma mulher com feições familiares, tinha a nítida impressão que a conhecia de algum lugar, mas não consegui vê-la direito por conta do guarda-chuva vermelho enorme que ela usava para se proteger dos grossos pingos, que já encharcavam meu All Star branco.
Cheguei no tal café quatro minutos atrasada, toda respingada da chuva e ofegante, mas meu coração se encheu de alegria quando a vi numa mesa ao fundo, com um sorriso aberto para mim. Era apenas nosso quarto encontro oficial, mas eu estava tão apaixonada por essa garota de belos olhos verdes e cabelos azuis que estava investindo todas as minhas fichas, hoje seria tudo ou nada. Joguei a sombrinha no lixo e segui confiante para a mesa.
— Oi, Mica! Desculpe o atraso, essa chuva não estava nos meus planos.
Eu falei sem jeito, e mesmo eu estando meio molhada da chuva, ela me deu um abraço carinhoso, aproveitei a situação e roubei um beijinho.
— Que bom que você veio, Mari. Toma um café quente, você deve estar com frio, quer meu casaco?
— Não, eu vim quase correndo, estou meio que suando.
Conheci Micaela na faculdade, ela cursa Artes Cênicas com meu irmão, eu estou me formando em Economia. Meu irmão foi cupido sem querer, me chamou para uma exposição de fotografias no prédio onde ele estudava, lá me apresentou a colega de cabelos azuis, que me causou certa estranheza no início, mas que depois de meia hora de conversa já havia me deixado caidinha. Na hora da despedida ela me deu um beijo na boca, eu deixei. E gostei muito, mesmo tendo gosto de vinho barato.
E agora eu estava aqui, nesse café tão distante de casa, com os pés fazendo bolhinhas dentro do tênis, tomando um café bem quente. Eu nem gostava muito de café, mas depois de conhecer Mica passei a beber mais café, ela adorava.
— Se eu estiver sendo precipitada quero que seja sincera. — Eu disse com as mãos tremendo e nervosa.
— No que?
Tomei as duas mãos dela sobre a mesa e fiz a proposta.
— Quer namorar comigo?
Ela tinha 20 anos e alguns rolos. Eu tinha 23 e já acumulava um namorado e duas namoradas no currículo.
Micaela me presenteou com um sorriso tão fofo que nem precisaria ouvir seu sim, nesse momento eu percebi que ela também queria. Estávamos ficando há duas semanas e morria de medo dela rir da minha precipitação.
Ela levantou e arrastou a cadeira para meu lado, voltou a sentar e segurou meu rosto, dando um belo beijo.
— Claro que eu quero, Mari.
Fiquei nas nuvens, minha vontade era pedir logo em casamento, mas ela fugiria correndo na chuva, e eu a prefiro molhada comigo.
Eu morava numa quitinete perto da faculdade, com meu irmão. Eu fazia estágio à tarde e ele trabalhava à noite numa lanchonete, nesse dia levei Micaela para nosso cafofo e tivemos nossa primeira noite de amor, que finalizou de forma abrupta com a chegada de meu irmão com dois amigos para jogar vídeo game.
Sete meses depois ela me convidou para ir morar com ela, num apartamento no Centro da cidade, com uma vista maravilhosa da grande janela ao lado da cama. Eu aceitei depois de passar uma semana calculando despesas, prós e contras, medos e inseguranças. Coisa de gente de exatas, ela dizia rindo.
Me formei e comecei a trabalhar no lugar onde estagiava, durante a semana nos curtíamos naquela cama toda branca, nos finais de semana saíamos com nossos amigos ou para algum programa a duas, nossas personalidades eram complementares, era ela agitada, eu era calma. Tínhamos tanta paz.
Ela mudou de curso na faculdade, foi fazer gastronomia, e agora trabalhava numa cozinha industrial. Nossa vida em comum ficava cada vez mais sólida e eu já me preparava para pedi-la em casamento, me preparava inclusive para começar a fala sobre ter filhos.
Depois de três anos daquele “sim” na cafeteria, arrumei minha mochila e saí de casa depois de uma briga. Não uma briga qualquer, foi a noite em que Mica admitiu ter ficado com outra garota no início de nosso namoro, os boatos que eu teimava em não acreditar, as mentiras que ela me contou por três anos.
— Não faz isso, Mari, eu te amo, eu te amo de verdade!
— Desculpa, não dá, não consigo ficar aqui olhando pra alguém que mentiu por tanto tempo, se você tivesse admitido logo no início isso não estaria acontecendo. — Falei com o rosto banhado de lágrimas, eu não queria deixá-la, mas não estava conseguindo sequer olhar para ela.
— Esquece isso, Mari! Fica comigo.
Com o coração partido deixei nossa casa, fui para o apartamento da minha prima que também morava ali no Centro, ela morava sozinha. Meu irmão morava com outros quatro amigos, seria impossível ter paz lá.
Nove semanas de uma dor constante dentro do meu peito, nove semanas de insônia e saudades dela. Naquela noite chuvosa me vesti e chamei um táxi, era hora de colocar tudo em pratos limpos.
Fim do capítulo
Obrigada por todas os comentários e opiniões, levei em consideração o que a maioria pediu.
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Zaha
Em: 21/05/2018
Oieee!!
Agora sim entendi a bagaça !! Tava perdidinho no 1 cap!! Hahaha
9 semanas Mari, já chega de castigo, vai conversar de coração aberto, mente mais tranquila e escute o que ela temte dizer eé perdo, afinal foi uma mancada no passado, dps disso tiveram uma linda relação! Mas realmente nada de segredinhos de agora em diante!
Êba, acatou o que "pedimos" palmas!!!!
Beijoss
Sem cadastro
Em: 21/05/2018
Oieee!!
Agora sim entendi a bagaça !! Tava perdidinho no 1 cap!! Hahaha
9 semanas Mari, já chega de castigo, vai conversar de coração aberto, mente mais tranquila e escute o que ela temte dizer eé perdo, afinal foi uma mancada no passado, dps disso tiveram uma linda relação! Mas realmente nada de segredinhos de agora em diante!
Êba, acatou o que "pedimos" palmas!!!!
Beijoss
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RosanePatell
Em: 20/05/2018
As vezes as pessoas deixam de ser felizes por teimosia em ficar remoendo e se apegando em coisas do passado que na verdade nem tem a importância que lhes são dadas.
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Lily Porto
Em: 19/05/2018
Que venha a conversa, e que elas consigam se livrar de todos os "pesos" desnecessários para prosseguir com a relação.
Muito bom autora, bjs.
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cidinhamanu
Em: 19/05/2018
Elas se amam, mas para Mari continuar a vivê-lo intensamente, Mica precisa se despir das mentiras que circundam a relação.
Mari está disposta a ouvir toda a verdade.
Mica está segura do seu amor e disposta a enfrentar todos os problemas para permanecer ao seu lado.
Juntas, elas vão descobrir que a verdade é capaz de derrubar barreiras e o amor pode vencer no final.
Perfeito, amei Cris!
Bjus e até o próximo...
Cidinha.
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Rafa Justi
Em: 19/05/2018
Aeee, Mari, conversa com a Mica sim. A Mica vai estar arrependida de ter mentido, aí vc a perdoa e voltam a namorar. :)
Perfeito, Cris. Amei!
Resposta do autor:
Sabe o que é engraçado? Eu perguntei no primeiro capítulo se elas deveriam conversar, e terminei a história omitindo a conversa! hahahahaha
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flawer
Em: 18/05/2018
"... e eu a prefiro molhada comigo." kkkkkk Gostei!
P.S.: Oh Mari, pega leve! Foi no começo do namoro... Tá bom que ela deu o baratino e ocultou... Mas depois disso ficou só contigo! Oxeeee releve ai, menina. kkkkkkk
Diachooooooooo, depois que li, vi que é continuação... Me picando aqui pra ler o inicio de tudo...
Beijinhos autora
Resposta do autor:
Parabens, vc leu a segunda parte e entendeu direitinho o que tinha acontecido na primeira parte mesmo sem ler! rs
Perdoar é algo tão nobre né? Bora abrir o coração oras...
Bjos!
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