Eu fiquei ali pensando nas coisas que Lucas havia me dito enquanto a chuva caia pouco a pouco, olhei os pedregulhos no trilho imaginando por que dessa relutância e aceitar Fernanda de uma vez. Essa incompetência humana de fugir da felicidade e persegui coisas fadas ao fracasso como um ciclo de sofrimento sem fim. Só queria poder lembrar de tudo no início, na verdade entender tudo em seu histórico completo. Porque Lira me deu somente essas lembranças? Aqui mesmo ela disse que não poderia acontecer nada entre mim e Fernanda, toda a raiva, todo o mistério que circulava esse grupo. Quanto mais eu ia atrás de resposta mais dúvidas surgiam, mais segredos, mais o passado nos alcançava como uma sombra que nos deixava no escuro, perdidos tentando adivinhar com informações fragmentada.

Fernanda havia conseguido as memorias beijando Lilith e eu a confirmação de Fernanda era quem estava na minhas memorias, o que eu precisava fazer para me lembrar? Chutei uma pedrinha e a observei indo longe, estava de novo arrumando motivos pra não ir falar com Fernanda mesmo com o caminho livre agora, estava me agarrando a outras preocupações e porque isso não ia embora? Por que eu simplesmente não pegava o celular e ligava pra ela? Não queria aceitar meus sentimentos mas também não queria fugir deles. Ficava nesse ciclo eterno de sofrimento interno.

Sai andando pelo trilho do trem sem me importa em voltar e procurar meus amigos ou qualquer coisa, repensei sobre as memoria que eu tinha. Ela eram sobre Valentina e Sophia, Jaspion, Dimitri e Lira, duas encarnações diferentes em períodos parecidos.

Nada fazia muito sentindo, Lira vendeu as asas por que? Por que ela matou aquele que mais amava dos irmãos? Fernanda estava naquele período? Se eu era um arcanjo já conhecia Lira antes?

- Rafaela? – Jeh veio correndo pelo trilho no meio dos pingos de chuva que já começavam a ensopar minha roupa – Pra onde está indo?

- Pra casa eu acho – Olhei pra frente e notei que não tinha me afastando muito do lugar onde estava.

- O que aconteceu? – Ela se preocupou – Vamos voltar para o bar e sair dessa chuva.

- Não quero voltar lá – Olhei pra o chão lembrando das mil perguntas que ela faria.

- Quer respostas? – A voz de Jennifer mudou e assustada olhei imediatamente para ela não pude acreditar nos meus olhos.

- Sai dela – Serrei meus punhos encarando a ruiva.

- Não começa – Revirou os olhos passando a mão pelos cabelos e corpo da garota – Gostei desse corpo – Piscou com um sorriso de canto – Já tocou nele? É macio e quente aqui dentro – Era apavorante e provocativo o sorriso da Ruiva – Acho que não teve a oportunidade.

- Lilith saia dela agora – Falei mais alto me aproximando pra encara-la.

- Como você ta chata hein... – Ela colocou a mão na cintura descontente – Falta de ninfa isso ai – Brincou e eu apenas balancei a cabeça reprovando a atitude – Eu não estou na sua amiga idiota, estou na sua cabeça – Apontou pra mim.

- Então sai da minha cabeça – Relaxei o corpo tenso e cruzei os braços.

- Mas a gente pode se diverti tanto aqui dentro – Ela parecia uma criança manhosa enquanto caminhava para enlaçar meu pescoço – Imagina as coisas inomináveis que podemos fazer – Mesmo ela dizendo que estava na minha cabeça era bem real seu toque, seu cheiro e ela em si – Você estava mais divertida quando largo aquela ninfa sonsa – Lilith contornou meu rosto com seu dedo indicador – Quer se lembrar como ela, mas suas memoria estão divididas e existe coisas que a pobre Weldblemel não sabe e existe coisas que ela sabe e você não – Ela se soltou pareceu dançar na chuva como uma criança inocente – Adoro a chuva – Ela parou e me encarou com seriedade – é tudo um grande jogo de xadrez e você está perdendo embora ache que está ganhando... Tem que se lembrar.

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Depois que Lucas foi atrás de Rafaela eu sai do shopping e fui decidida pegar um ônibus e ir para a casa de Bella confrontar Lira. Era logico que ela tinha respostas e deveria agora tentar seguir o que Silas havia orientado, mesmo com minhas memorias completas da minha vida como ninfa, conhecer Khadriel, ter incontáveis versões de nos duas pelos encarnações. Relutância de Rafaela foi percebida até pelo próprio Ômega que ficou surpreso e a mando de volta sem termina, como se ele tivesse reavaliado aquilo que pretendia naquele dia.

Ele escolheu contar para mim e não para ela, o que Lira tinha a ver com isso? Ela não era minha amiga, mas as coisas que ela disse no dia da praça e o rosto gentil com receio de me contar essa verdade. O que tinha escondido, o que estava errado desta vez? Porque estamos acordados nessa encarnação, as perguntava ferviam na minha cabeça sem pausa. Tinha um jogo maior a nossa volta.

Cheguei no portão da casa da garota com alguns pingos de chuva já caindo; Bella abriu o portão estava de pijama e o cabelo preso em um coque. Convidou-me para entrar com um sorriso gentil.

- Entra antes que a chuva aumente – Entrei e um grande cachorro de pelos amarelos pulou sobre mim animado e latindo – Brida para – Gritou a morena com cachorro que foi para cima dela lambendo e latindo abanando seu rabo longo que parecia um chicote – Ai que carência Meu Deus, Para Brida – Falou mais severa e a cachorra parou de pular e apenas ficou com sua língua para fora olhando com brilho nos olhos – Vamos lá para meu quarto.

Chegamos ao quarto da morena que estava com o computador ligado ouvindo algumas música, o quarto em si era pequeno se comparado ao meu, as paredes meio amarelados com alguns poster de rock, fotos dela mesmo em eventos de Anime, uma guarda–roupa de casal no canto, duas camas, uma normal e a outra beliche. Sentei-me na beliche e ela na outra cama me fitando curiosa.

- Aconteceu alguma coisa? – Ela falou sem rodeios.

- Na verdade não, quero falar com Lira – Fui direta.

- E eu achando que era uma visita casual – Ela ironizou a própria inocência diante da nova realidade – Lira está ausente à dias.

- Que previsível – Cocei a cabeça irritada – tem algum jeito da gente chama ela?

- Posso pedir para Brigith arrasta ela pra cá – Deu de ombros – Mas tem certeza disso?

- Bella você sabe que tem alguma coisa errada com Rafaela – Dividi minha preocupação – E Lira é a única que pode ter as respostas.

- Eu sei, Rafaela parece estar escondendo alguma coisa mas as vezes parece que nem ela sabe o que é – A garota olhava para um ponto fixo e isso começou a me assustar – Brigith encontro Lira, tome cuidado – A garota virou os olhos e corpo caiu sobre a cama, pensei em levantar e ver se estava tudo bem mas o medo foi maior.

Poucos segundos depois ela levantou e olhar de insatisfação e superioridade preencheu aqueles olhos que antes eram meigos e infantis.

- O que você quer? – Disse ríspida.

- Temos que conversa – Eu retribui o tom seco.

- Sobre o que? – Ela levantou colocando a mão na cintura.

- O que fez com Rafaela? – Fui direta.

- Nada – Ela não demostrou nenhuma reação.

- Lira por que ela está com um escudo? – Lira se movimentou incomodada Bingo.

 - Que escudo? – Ela cruzou os braços.

- Silas mencionou que ela está com um escudo na alma, ele me disse para perguntar a você.

- Ômega está querendo causar intriga garota – Ela respirou fundo desviando olhar.

- Por que vendeu suas asas? – Questionei me lembrando do que Lucas havia me contado sobre ela.

- Não te interessa – ela falou alto e irritada – Acha que essa sua bondade, esse jeitinho de boa samaritana pode desfazer a aberração que Miguel te tornou Weldblemel?

- Ao menos eu mantenho minhas asas e não precisei matar ninguém por ciúmes – Levante-me para encarar o rosto de indignação – Matou o irmão que mais amava porque não soube diferenciar o carinho de irmão que ele tinha por você – Um estalo ecoou pelo quarto, meu rosto ardeu.

- Não sabe do que está falando, não sabe nada sobre mim – Seus olhos eram frios – Você tem todas as memorias e mesmo assim continua uma idiota – Ela agarrou meus braços com força – Você estava prometida a Jaspion mesmo sem ele saber ainda, o que acha que ia acontecer quando os gêmeos colocassem os olhos em você? Eles se matariam, tomei todo o fardo sobre mim e fiz o que era necessário, pode entender? Pode protege-la dela mesmo quando corre o risco de perde tudo? Pode ter asas agora Weldblemel mas não sabe nada sobre ser um de nós, nunca sacrificou nada, todos se curvam para você e tornam sua existência mais fácil – Ela cuspias as palavras me encarando com desprezo – Khadriel não vai ficar com você nessa vida nem nas outras mais, então sugiro que volte para a mamãe de onde não deveria ter saído – Ela me jogou contra a beliche e olhou o impacto sem demostrar um pingo de emoção – Estou lhe avisando garota se continuar nessa busca por Rafaela vai acabar trazendo mais dor pra ela.

Os olhos de Bella viraram com um sorriso que aos poucos foi morrendo, passei a mão pois sobre os braços olhando as marcas vermelhas que ficaram, as palavras de Lira entraram na minha alma como facas afiadas rasgando e dilacerando-me por dentro pouco a pouco.

- Você está bem? – Os olhos sério e preocupados me davam a ideia de conhecido – Lira é mesmo muito instável – Ela se aproximou e me ajudou a sentar na beliche – Não deve dar ouvidos ao que ela fala.

- Me pareceu que deveria sim – Desviei o olhar – Miguel me deu asas mas a verdade é que isso não faz de mim um anjo, me faz uma aberração da natureza que nem natural é – Eu sorri com a ironia da situação – Ela tem razão, nada eu fiz por meu mérito... Foi Miguel quem me acolheu com sua filha quando deixe Gaia, foi Khadriel que arriscou tudo para ficar comigo e eu apenas venho aceitando tudo sem dar nada em troca e agora venho cobrando algo de Rafaela sem ao menos conhece-la, venho tentando reviver os dias do Jardim sem notar que esse ciclo de encarnações vem mudando ela, é como se eu estivesse perdendo ela pra alguma coisa e eu nem posso salva-la.

- Não é verdade Weldblemel, se existe alguém pode salvar Khadriel é você... Ela está perdida e isso é claro, mas confie que ela encontrara o caminho até você – Ela segurou minhas mãos com carinho – Estamos todos em um jogo maior.

Continua...

Fim do capítulo