Capítulo 13
Pietra
O momento havia se perdido, as palavras dura de Clara me trouxeram para realidade. Ela não fazia mais parte da minha vida e principalmente, ela não queria mais. Começou a me explicar os procedimentos e escutei apenas com uma parte da minha atenção, a outra estava nela. Ela parecia extenuada, seus olhos estavam vermelhos e as olheiras estavam evidentes. Quando quase a toquei em um momento de reflexo, o rechaço dela me doeu na alma, ainda assim sua situação me penalizava. Sabia que Ana tinha um bocado de filhos, as vezes cruzava com ela na rua, nos cumprimentávamos de longe, nunca mais havia tido uma conversa com ela, sabia que seria inevitável perguntar de Clara.
Portanto sabia que a casa era apertada e que Clara provavelmente não estava conseguindo trabalhar direito. Assim que terminou a apresentação, falei:
- gostei muito, seu projeto está aprovado.
Ela sorriu largamente, meu coração deu uma disparada. Então suspirei, Clara agora ficaria pelo menos mais quinze dias ali e condoída pela sua posição soltei sem pensar:
- fica lá em casa Clara.
Ela não respondeu de imediato, enrolou a planta e recolocou no tubo, segurou-o no meio das pernas e apoio queixo nele, me encarou curiosa perguntando:
- o que seu pai acha dessa ideia?
Merda, agora que ela o mencionou, tinha que lembrar a Otavio que o nome de Clara não podia ser citado, meu pai enlouqueceria se soubesse que o projeto era dela e com certeza o barraria. Mas para ela apenas disse:
- meu pai não vem mais a cidade.
Ela levantou apenas uma sobrancelha e falou sarcástica:
- estamos sendo rebeldes pelas costas do papai.
Meu sangue ferveu, pelo jeito ela ainda pensava as mesmas coisas sobre mim, meu coração se apertou e meus olhos arderam. Me levantei com raiva e me afastei dela dizendo com dentes travados:
- tudo bem, só estava querendo ajudar. Tenho certeza que os filhos da Ana vão deixa-la trabalhar muito bem pelos próximos quinze dias -usei minha voz autoritária de diretora - bom espero que tudo seja entregue nos prazo, tenha um bom dia Clara.
Me sentei de volta na minha cadeira, olhei direto para o computador, esperando-a sair. Mas passou algum tempo e não ouvi a porta bater, olhei para sofá e Clara ainda me encarava. Tirei meu óculos e a desafiei, não falamos nada por um longo tempo. Se levantou, pegou sua bolsa e colocou o tubo pendurado no ombro e veio em minha direção.
- e seu namorado?
- meu noivo vem apenas fins de semanas.
Me arrependi assim que usei a palavra, Clara fez uma careta e pela primeira vez desde que começamos a digladiar com nossos olhos, os desviou. Depois falou baixo:
- tudo bem, mas só porque preciso fazer meu trabalho do melhor modo possível.
Meu coração disparou no peito, meu sorriso abriu e minha felicidade ficou estampada, passaria quinze dias com Clara debaixo do mesmo teto.
Clara
Ninguém que estava noiva deveria sorrir assim para mim, ainda não conseguia acreditar que ela iria se casar. Tinha um milhão de perguntas, se ela o amava mesmo? Se ela não sentia mais atração por mulheres? Se ela estava casando por causa do pai? Mas eu havia imposto a regra de nada de vida pessoal e não iria quebra-la.
Me despedi dizendo que juntaria minhas coisas e iria para casa dela mais tarde, me garantiu que estaria me esperando.
Deus estava ansiosa, assustada e não vou mentir, um pouco alegre, porque iria dividir a casa com a mulher que arrancou meu coração, despedaçou a minha alma e ainda por cima estava noiva, mas também que amei com todas minhas forças e que me fizera feliz como ninguém.
Ana chegou em casa depois das aulas, eu já estava com minhas malas arrumadas, as crianças estavam gastando a energia delas no parque com o Arthur. Minha amiga me encarou confusa e perguntou:
- deu tudo errado?
A fiz sentar ao meu lado e comecei a massagear seus pés e tornozelos, ela me olhou desconfiada:
-ta, que merd* você fez?
- acho que vou fazer ainda.
- o que Clara?
- consegui o trabalho- ela tirou as pernas de cima do meu colo e me abraçou feliz -Ana eu te amo, amo os meninos, agradeço muito por você ter me deixado incomodar, mas não tenho condições de ficar aqui..
Falei nervosa, tudo que não queria era magoa-la. Ela apertou minha mão, e sua expressão mostrava que ela entendia, completou com palavras:
- sei disso amiga, mas como vai fazer?
- humm... a Pietra me ofereceu a casa dela.
A cara de Ana foi uma comédia, seus olhos esbugalharam e sua boca abriu em um grande O, piscou atordoada e disse insegura:
- tem certeza?
- que ela me ofereceu a casa? -fiz a desentendida
Ana me deu um tapa no ombro e falou séria:
- que você vai morar com ela.
Me levantei nervosa, aquilo tudo ainda estava me parecendo absurdo, respondi tentando parecer segura:
- não vou morar com ela, Pietra é minha empregadora e está me oferecendo um espaço para fazer meu trabalho. E totalmente profissional.
Ana estreitou os olhos e balançou a cabeça de modo a me faze entender que não acreditava naquela balela, para falar verdade nem eu. Mas repetiria até acreditar. Ela se levantou e me fez parar de gastar o chão dela com meus passos incessantes:
- só quero que você tome cuidado Clara, ouvi pela cidade que ela está noiva. Não quero que você se iluda e acabe magoada de novo.
- eu sei. Ela fez questão de dizer que estava noiva, por isso não há ilusões Ana, vou fazer meu trabalho e depois vou voltar para minha vida. Pietra vai voltar para onde ela pertence, meu passado.
Implorei com o olhar para Ana acreditar em mim, precisava de alguém que o fizesse, senão as emoções que estava tentando a muito custo manter trancadas no fundo do peito emergiriam. Não queria sentir ciúmes, nem dor e muito menos notar que havia algum resquício de amor. Não queria e não podia deixar Pietra entrar na minha vida novamente. Ana apenas me abraça o mais apertado que consegue devido ao barrigão, e entendi desse gesto que estaria sempre do meu lado.
Pietra me esperava sentada na guia em frente ao portão de entrada da casa, confesso achei aquilo fofo. Assim que viu meu carro deu um pulo, e abriu um sorriso tão lindo que senti o meu próprio crescendo, abriu o portão e me convidou a entrar com o carro.
Assim que estacionei veio para perto e me ajudou a transportar minhas coisas para dentro da casa, seus olhos brilhavam de felicidade, me deixando confusa e ansiosa do porquê daquilo. Ela estava noiva! Ela havia me superado e seguido em frente, certo?
Começou a me apresentar a casa, eu havia apenas ido uma vez ali, não me lembrava de nada, exceto do que tínhamos vivido naquela tarde quente. Ela tinha dois andares, embaixo ficava a cozinha parecendo de um programa de culinária, reparei que era usada. Depois me mostrou o escritório que era do pai, e agora dela. A sala que ficava a biblioteca, onde eu iria trabalhar. Tudo era decorado com muitas estampas florais, a cara dela. Depois subimos e ela me mostrou o quarto que eu ficaria, o dela era do lado. Não consegui reprimi o pensamento que no próximo fim de semana, poderia ouvi-la trans*r com o noivo. Isso matou qualquer bom humor que tivesse e acabei sendo mais fria que o normal, quando ela me convidou para jantar, mas aleguei que estava cansada e que me recolheria. Vi a tristeza nublar seu rosto, mas me mantive firme no meu propósito de manter distância.
Pietra
Não vi Clara por dois dias, quando saia cedo para trabalhar ela ainda estava dormindo e quando chegava, estava trancado na biblioteca, depois sumia e se trancava no quarto.
Quando ela havia aceitado viver em casa, achei que poderíamos retomar a nossa amizade, mas algo a fez mudar totalmente e se retrair, e não tinha a mínima ideia do porquê.
No terceiro dia já estava desanimada, cheguei em casa, e a ouvi na biblioteca trabalhando, subi para tomar meu banho. Depois fui fazer o jantar, adorava cozinhar. Descobri isso quando fiquei só nos EUA , e também foi bastante terapêutico. Comecei a cortar o bacon e coloquei a água para ferver, estava com vontade de comer pasta a carbonara. Coloquei no celular minha playlist de Zé ramalho para tocar, sua voz rouca cantando Chão de Giz, invadiu o ambiente. Continuei cozinhando ouvindo as músicas e meus pensamentos há alguns metros dali.
Estava escorrendo o macarrão quando ela apareceu na cozinha, tomei um susto e acabei queimando os dedos. Clara correu para o meu lado preocupada, procurando o que fazer. Mas apenas sorri e coloquei os dedos na agua fria da torneira. Ela se afastou e disse envergonhada:
- desculpa, não quis te assustar.
- não foi nada.
A olhei por inteiro, estava com uma camisa preta que deixava parte da sua barriga aparecer, uma calça jogger cinza e descalça. Seus cabelos estavam preso em um coque solto com um lápis bem grosso. Estava sexy, o cheiro de sabonete me inebriou, tive que voltar minha atenção ao fogão, não queria que ficasse evidente que estava babando por ela. Clara pegou um copo e começou a encher de água:
- o cheiro ta ótimo.
Acrescentei sal no molho e falei aparentando uma calma que não sentia:
- pasta a carbonara - a mirei esperançosa e perguntei - que jantar comigo?
Pude ver a indecisão percorrendo sua mente, e fiquei decepcionada, mas não desisti:
- vamos Clara, olha nem precisa falar comigo, só comer.
Minha intenção era para ser uma brincadeira, mas acabei soando magoada, desviei o olhar dela, adicionei o molho ao macarrão. Ela pigarreou e perguntou apontando para a parte de cima do armário:
- os pratos ficam aqui?
Sorri , me virei para ela e afirmei com a cabeça.
Ela arrumou a mesa que ficava na cozinha mesmo, logo coloquei a vasilha com a pasta na mesa, perguntei antes de sentar:
- nossa comida vai com um vinho branco, aceita?
- claro.
Corri até a mini adega e escolhi um Sauvignon, voltei para cozinha, abri e servi para nós duas taças. Quando sentei a mesa, começamos a nos servir, e fiquei ansiosa quando Clara deu a primeira garfada, ela fechou os olhos e soltou um gemidinho que não devia, mas me excitou, enfiei o vinho goela abaixo e me servi de mais, enquanto perguntava:
- estou aprovada?
- nossa Pietra, está delicioso. Quando você aprendeu a cozinhar assim?
Ela sorriu, e essa foi a primeira vez que me perguntara algo pessoal, fiquei mais do que feliz em responder:
- morando só.
- e verdade, não vi nenhum empregado.
- não tem mesmo, apenas uma equipe de limpeza que faz uma faxina a cada quinze dias e o jardineiro que cuida tanto do jardim quanto da piscina. Cuido do resto sozinha.
- deve dar um trabalhão.
- nem tanto, me viro.
Ela provou o vinho e estalou a língua, disse bem feliz:
- combinação perfeita.
Levantei minha taça em agradecimento e comecei a comer, para não deixar o conversa morrer contei um pouco da minha vida:
- quando estava nos EUA, nas férias da faculdade fui para Califórnia, mais precisamente para um cidadezinha chamada Santa Ynes, que tem uns vinhedos maravilhosos, acabei fazendo um curso de sommelier, só eu mesmo, sair de férias e acabar estudando mais, pelo lado bom, bebi muito vinho e comecei a descobrir as texturas, os gosto e claro como combinar com a comida.
Falava para dentro do prato e quando a olhei, Clara me dava um sorriso fantasma e parecia que não prestava a atenção em nenhuma palavra, acho que a estava entediando. Mas antes que pudesse soltar alguma frase ácida, seu celular tocou em cima da mesa e não pude me conter , espiei o visor. Meu coração afundou no peito quando o nome Estela brilhou por alguns segundos, Clara o pegou, pediu licença saindo para atender. Podia apenas ser uma amiga, mas o modo que ela levantou rápido para atender longe da minha presença, dizia outra coisa, Clara tinha uma namorada. De repente a comida ficou com gosto de papelão.
Clara
Estava me escondendo há dois dias de Pietra, vergonhoso sei. Portanto estava vivendo a base de água e bolachas, e almoços pré-cozidos, tipo miojo. E teria fugido o terceiro, se não estivesse morrendo de sede, sabia que ela estava na cozinha, ouvia Zé ramalho cantando e Pietra um pouco desafinada cantando junto. Quando apareci na cozinha ela se assustou e queimou os dedos, fiquei preocupada porque os vi ficarem bem vermelhos. Quando me aproximei o cheiro me atingiu em cheio, meu estomago roncou, ela me convidou para jantar e mesmo meu estomago se revoltando, não iria aceitar, mas quando falou parecia tão magoada que me senti uma estupida. Puta merd*, afinal ela havia aberto a casa para mim, poderia ser educada pelo menos.
E ainda bem que fui, que macarrão delicioso, tive um "orgasmo gastronômico" com o sabor, a palavra orgasmo me fez ter pensamentos mais impuros. Ela usava um vestido sem mangas que ficava acima das coxas, o decote ousado me deixava ver o começo dos seios, cabelos amarrados em um rabo de cavalo e os óculos, vê-la com eles estava me deixando com tesão. Experimentei o vinho e ela sabia mesmo o que estava fazendo, foi quando ela começou a falar das suas experiências fora do país que me peguei pensando que havia vivido aquilo porque não me escolhera.
Cheguei à conclusão anos depois, que fui egoísta ao pedir que ela abandonasse tudo para ficar comigo, que éramos jovens e que se ela tivesse consentido meu desejo , poderia não ter ido a vinhedos, nem conhecido outra cultura, estudado em uma faculdade ótima e obviamente não seria a diretora da fábrica.
Mas também tenho essa certeza quase premonitória, que se tivesse me escolhido, estaríamos juntas até hoje, talvez ela pudesse ter descoberto seu caminho, um que não fosse traçado pelo pai, que teríamos compartilhado uma vida de coisas boas e ruins, talvez até seriamos uma família. Que estaríamos ainda felizes e cheia de tesão uma pela outra.
O toque do meu celular me despertou do devaneio, o peguei rápido, me senti incomodada que Pietra pudesse ter visto quem me ligava, o que era totalmente absurdo. Não devia nada a ela.
Ainda assim sai pela porta dos fundos, que dava para a piscina que me chamava o dia todo enquanto estava trancada na biblioteca, atendi:
- fala gostosa.
A risada rouca de Estela invadiu meu ouvido:
- oi linda, estou aqui com meu chuveirinho pensando em você.
- gata, você não presta.
Nossa conversas geralmente tinha conteúdos proibidos para menores de 18 anos, continuei sacana:
- e o que eu estava fazendo?
- me ch*pando deliciosamente, aiiii Clarinha que saudade dessa sua língua.
Olhei para trás me certificando que Pietra não ouviria a conversa, falei com a voz sexy:
- e minha língua está com saudade de te lamber todinha.
- aiiiiiiii.. meu pai g*zei.
Dei uma gargalhada alta e falei alegre:
- gozou nada.
- não mesmo tesão, diz ai quando volta?
- daqui alguns dias.
- e vou fazer como até lá?
- com o chuveirinho e seus dedos amor.
- e você não está subindo pelas paredes?
- estou ótima.
- ai, mulher mais sem coração.
Ela estava brincando, mas aquilo me fez perceber que meu coração despertou após tanto tempo, depois que cheguei a cidade. Merda!
Estela e eu ficávamos muito, falavamos muita putaria, mas ela era minha amiga também e quando percebeu meu silêncio , ficou séria e perguntou preocupada:
- esta tudo bem Clara?
- ta sim amor. Escuta estou um pouco ocupada agora, te ligo mais tarde.
Não queria conversar sobre Pietra.
- ta bom tesão. Se toca pensando em mim hoje antes de dormir.
- humm.. vou pensar no seu caso.
- menina má.
Desliguei e entrei na casa ainda sorrindo, mas qual foi minha surpresa quando voltei a cozinha, Zé ramalho se calara, não tinha mais nada sobre a mesa, e Pietra lavava a louça. Fiquei sem jeito, aquilo era uma mensagem clara que nosso jantar tinha acabado. Ainda me aproximei dela, que não me olhou e perguntei:
- quer ajuda?
- não precisa.
Ela respondeu parecendo puta, não entendi nada, e acabei saindo da cozinha agradecendo o jantar e desejando boa noite, não obtive reposta. Acabei ficando meio puta também, que merd* nem tinha acabado meu macarrão!
Fim do capítulo
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perolams
Em: 17/05/2018
Pietra ouviu a conversa e deu chilique, paciência. Quando o noivo voltar vai ser a vez de Clara ter o coração partido, um quarto do lado é fod@, capaz dela escutar os dois transando mesmo.
Resposta do autor:
Pietra e fora da casinha e muito perdida ...Mas Clara esta ai para finalmente mostrar o caminho!
Pois e...bem ao lado..vamos torcer para q esse noivo nao volte logo!.hahaha
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