Capítulo 34 -- Adeus Mariana
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 34
Adeus Mariana
A percepção do que acontecia demorou a atingir Natasha. Não era possível, disse a si mesma, ainda que seus olhos mostrassem o contrário, revelando o que ela não desejava que fosse.
Era Mariana, em carne e osso, sentiu-se atordoada.
Enquanto a observava a distância, Natasha pensava que ela não mudara nada naqueles três anos. O tempo, ao que parecia, não correra nem se arrastara; mantivera-se simplesmente inalterado, para ela.
Era apenas um pouco mais baixa que ela. O vestido cinzento que ela vestia era de etiqueta famosa, assim como as sandálias de salto alto. De cabelos escuros, quase pretos, era de fato uma bela mulher.
Caminhando até onde Mariana estava, Natasha ficou cara a cara com ela.
-- O que faz aqui? Pensei ter dito para você nunca mais aparecer na ilha -- Natasha sentia o coração bater nas costelas.
-- Precisamos conversar, Natasha. Conversar como duas pessoas civilizadas -- Mariana olhou de relance para Leozinho e, ele de imediato, entendeu o recado.
-- Se precisar de mim, chefe, estarei ali fora.
Natasha fez um sinal positivo com a cabeça para ele e voltou a encarar Mariana.
-- Que legal, aprendeu a ser civilizada com os animais da savana africana?
-- Engraçadinha! -- Mariana deu alguns passos para trás, mas Natasha continuou avançando em sua direção com uma expressão maldosa, quase cruel, no olhar.
-- Pois eu continuo a mesma selvagem que você desprezou anos atrás. Ainda tenho o mesmo humor, os mesmos defeitos.
-- O mesmo amor? -- indagou, confiante.
-- Águas passadas, querida -- retrucou ela, ocultando ao máximo o ressentimento -- O que importa é o agora.
-- Hum. E o seu agora, é a sua noiva?
Natasha ergueu as sobrancelhas.
-- Noiva?
Carol passou por uma porta à direita e entrou numa sala enorme. Procurou por Jessye em sua mesa, mas ela não estava. Que estranho! Pensou.
Já estava saindo quando ouviu um cochicho e se virou bruscamente.
-- O que vocês estão fazendo aí?
-- Aiiiii... -- Com o susto, um grito agudo e involuntário escapou da garganta de Leozinho antes que ele pudesse reprimi-lo.
-- Quer nos matar de susto? -- disse Jessye, pálida.
-- Que coisa feia! Vocês estão ouvindo atrás da porta?
Fez-se um silêncio carregado de tensão. Leozinho falou primeiro.
-- Estávamos sim -- ele confessou -- A Mulher capeta está lá dentro com a Natasha.
-- Quem? -- perguntou Carol, franzindo a testa. A voz trêmula de Leozinho a deixou preocupada.
-- A Mariana -- respondeu Jessye.
-- A ex da Natasha? Saiam da frente, deixem-me tentar ouvir.
Carol encostou o ouvido à porta da sala de Natasha, tentando ouvir alguma coisa. Só que não precisou se esforçar muito para ouvir o que conversavam no lado de dentro.
Natasha deixou escapar uma risada de deboche.
-- Quem te falou isso?
-- O Leozinho me contou assim que cheguei -- Mariana passou o dedo indicador sobre o nariz da empresária -- Pensou que eu não voltasse mais?
-- Você por acaso achou que eu ficaria aqui te esperando para sempre só porque você decidiu partir e me deixar? Se você achou que eu ficaria muito mal com isso, fique sabendo que eu não tô nem aí pra você -- disse Natasha, cheia de desdém, mas uma expressão tristonha cobriu seu rosto.
-- Não minta para mim -- disse sorrindo -- Eu vejo em seu olhar que você ainda me ama -- acrescentou incapaz de ocultar o cinismo na voz.
Natasha se virou em direção à porta.
-- Vá se ferrar -- ela rebateu, frustrada por ser tão transparente.
-- Espera!
-- Eu não quero mais ouvir a sua voz -- disse Natasha virando-se para ir embora, mas mudou de ideia e voltou -- Afinal, o que você quer, Mariana?
-- Quero voltar com você, Natasha. Eu ainda te amo. Eu nunca deixei de te amar. Agora eu vejo o quanto fui boba por ter ido embora, o quanto de tempo desperdicei longe de você e o quando fui burra trocando o nosso amor lindo por uma ilusão.
Segundos agonizantes se passaram. Até que a porta se abriu de repente, sem que Natasha tivesse tempo de se afastar, e Carol entrou tão depressa que quase a derrubou.
-- Não caia na lábia dessa mulher, Natasha -- a voz de Carol saiu alta e autoritária, fazendo a empresária encará-la, ainda perplexa.
Natasha engoliu um palavrão. Que absurdo! A mulher que a enganara ainda se achava no direito de invadir a sua vida como se fosse a defensora dos oprimidos. Pensou irritada.
Mariana arregalou os olhos ao contemplar a beleza ruiva parada à sua frente.
-- Quem é essa? -- Mariana colocou as mãos na cintura, assumindo uma postura petulante -- Então, essa Curupira é a sua noiva?
-- Curupira? -- Carol plantou os pés separados e rangeu os dentes -- Vou te fazer engolir os dentes, sua Vassoura de piaçava.
-- Eu deveria matá-la -- Mariana berrou enlouquecida. O ímpeto de raiva era tão forte que ela mal conseguia respirar.
Cega pela raiva, Carol agarrou a morena pela alça do vestido e atirou-a de encontro a parede.
Completamente fora de si, as duas começaram a puxar os cabelos uma da outra.
-- Eu vou matá-la, sua ch*pa cabra desnutrida e não sentirei sequer um instante de remorso -- disse Carol.
Mariana caiu no chão como uma boneca de pano e Carol pulou em cima dela.
-- Meu Deus! -- Leozinho estava horrorizado -- Não vai fazer nada?
Natasha meteu as mãos nos bolsos do jeans e deu de ombros. Depois olhou para o rosto preocupado de Leozinho.
-- Você foi o culpado. Quem mandou inventar que eu tenho uma noiva -- ela fez uma careta engraçada e deu-lhe as costas -- Agora, se vira.
Talita desligou o telefone, tirou o jaleco branco e ajeitou o vestido.
-- Preciso que você fique sozinha por algum tempo. Tudo bem?
Em resposta, Carolina simplesmente sacudiu os ombros.
-- Vai aonde? -- não conseguiu segurar a curiosidade.
-- Meu marido está na recepção me esperando.
Talita parecia nervosa. Carolina percebeu isso pelo modo desajeitado que ela dobrava o jaleco para guardar.
-- Apesar de achar que eu estou muito debilitada e não posso ficar muito tempo sozinha...
-- Carolina, por favor. Não venha com chantagem emocional.
No mesmo instante Carolina fechou a cara. Irritada com o olhar crítico que Talita lançou para ela.
-- Então vai, e por mim, não precisa mais voltar.
Talita sentou-se numa cadeira e ficou olhando para ela com aqueles olhos escuros indecifráveis.
-- Você está sendo infantil, Carolina. Eu preciso conversar com meu marido. Enquanto estiver casada, devo-lhe respeito e satisfação dos meus atos.
-- Eu estava apenas brincando -- disse a garota de modo abrupto, exageradamente abrupto.
Merda, ela estava agindo como uma idiota de novo. Pensou. Ciúme e possessividade, uma péssima combinação. Não tinha nenhum direito sobre ela, compreendia muito bem, mas, sentia-se péssima.
-- Desculpa, vai lá. Pode até ir a um motel, se quiser.
Talita se levantou respirando fundo e tentando se acalmar.
-- Não preciso ir à um motel. Minha casa fica há dez minutos daqui.
-- Hum. Que bom para vocês -- lá estava ela agindo como uma chata, novamente. Irritou-se consigo mesma por ser tão irracional.
Talita resolveu não discutir mais com Carolina. Não adiantaria. Ela é uma Falcão.
"Há pessoas que parecem não saber que a terra gira em torno do Sol, e não em torno delas. Não entendem que a vida não gira só ao seu redor, que seu umbigo não é o centro do mundo nem das pessoas que o rodeiam. Por isso se autoproclamam importantíssimos, gerando com seus comportamentos uma fortíssima rejeição social.
Como consequência, mantêm comportamentos egocêntricos e enchem nossos ouvidos de mensagens e comportamentos que chamam a gritos por atenção. Gritos que são tão ensurdecedores que nos saturam e esgotam com facilidade".
-- Comporte-se, hem, Carolzinha. Vou tentar dar uma, bem rapidinha -- provocou.
Assim que ela saiu, Carolina começou a se livrar dos cabos que sustentavam a sua perna.
-- Comporte-se, hem, Carolzinha -- ela imitou com ironia, os olhos castanhos claros brilhando, vingativos -- Quero ver o que a Natasha vai fazer com você, quando souber que eu fugi.
Sidney colocou cubos de gelo em uma toalha e entregou para Carol.
-- Olhe para você. Cheia de arranhões, luxações, torções e hematomas. Onde estava com a cabeça?
-- Com certeza a cabeça estava em cima do pescoço, pois o cabelo foi o primeiro alvo atingido pela Marivaca -- Leozinho passou a mão pelos cabelos da ruiva e sorriu -- Mas, o importante é que você venceu. Por pontos, mas venceu. Aquela Sanguessuga psicopata levou o que merecia. Amei. Você fez o que eu sempre sonhei fazer.
Carol apenas balançava a cabeça. Estava com tanta dor, que não conseguia falar.
-- E a minha amiga? Olhe o estado dela.
-- Ela também levou o que merecia -- Leozinho colocou a mão sobre a boca, se deu conta que havia falado demais -- Não devia ter se metido com a cacatua. E as unhas? Não me diga que quebraram.
Carol estendeu as mãos para mostrar as unhas intactas, depois se levantou.
-- Vou tomar um banho -- ela disse -- Não vou demorar. Depois conversamos.
Assim que Carol deixou a sala, Sidney virou-se para Leozinho.
-- Não pense que me enganou. O que quis dizer com: Ela também levou o que merecia?
-- Quem deve saber é você.
-- Eu não sei de nada -- disse Sidney, virando o rosto para o lado.
-- Não acredito -- insistiu Leozinho -- Eu sei que sabe.
-- Não sei de nada -- ele começou a chorar -- Não sei de nada.
-- Sidney, por favor! -- comovido, Leozinho afundou as mãos no cabelo do rapaz -- Você não faz ideia de como isso é importante para todos.
-- Eu não posso -- ele gritou e, desatou num choro convulso. Sentiu que o gerente o abraçava. Sentiu um perfume suavemente e marcante. Pensou que talvez Natasha já soubesse de tudo. E seu choro tornou-se ainda mais amargo -- Tá bom, vamos conversar, mas não aqui.
Leozinho pegou em sua mão e caminharam juntos até a porta.
--Venha, vou te levar a um lugar bem legal.
Natasha parou diante de Mariana e balançou a cabeça de um lado para o outro.
-- A que nível você chegou. Olhe-se no espelho -- ela murmurou, num tom baixo e áspero -- Aquela moça é a minha irmã e não a minha noiva.
-- Jessye me contou -- Mariana se levantou e serviu-se de uma taça de vinho -- Desculpa, mas foi ela quem agiu como se fosse.
-- Ela agiu daquela forma porque conhece a nossa história infeliz. Queria apenas me defender de você.
Mariana deu uma gargalhada.
-- Natasha Falcão precisando de alguém para defendê-la? Eu pareço esse monstro? Que injustiça!
Mariana a olhou por um momento. Ela vestia jeans surrado com um blazer de grife famosa. Não tinha mudado; continuava com o mesmo jeitão lindo de sempre.
-- Natasha.
-- Sim! -- ela cruzou os braços.
-- Sinto muito -- ela disse, num sussurro -- Sinto muito. Eu nunca deveria ter trocado o nosso amor pelo meu trabalho. Nunca deveria ter ido embora para a África. Você me perdoa?
Natasha ficou em silêncio por um instante. Depois, ergueu a cabeça para responder.
-- Acho que nunca mais nos veremos -- disse ela, melancólica -- Mas isto não quer dizer que não a perdoei. Ao meu ver, não faz sentido odiar alguém de quem de certa forma, se tem pena. Vá embora, Mariana. Essa ilha é pequena demais para o tamanho do seu ego.
O silêncio caiu entre ambas, fazendo Mariana pensar em coisas terríveis. Por fim, ela falou:
-- Ainda nos veremos, Natasha. Pode ter certeza disso.
Espero que não, Natasha concluiu, em pensamento.
Créditos:
https://amenteemaravilhosa.com.br/pessoas-acham-mundo-gira-seu-redor/
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 10/05/2018
Eita a andrea morreu de ciumes e partiu a cara da jararaca. Esta ainda se acha. Ainda q a nata mandou ela pastar.Sidney vai contar tudo pro leozinho. Bjs
Resposta do autor:
Bom dia Patty.
Mariana ainda está jogo. Essa cobra ainda vai aprontar, pode ter certeza.
Beijos.
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NovaAqui
Em: 09/05/2018
Eita que Andreia partiu para dentro Kkkkkk
Por que Carolina é rebelde? Ah! Por ser uma Falcão kkk
Você não vai participar do desafio literário do Lettera?
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
Sabe que você me deu uma boa ideia. Acho que vou participar do desafio literário.
Essa noite vou trabalhar nisso.
Obrigada pela dica.
Paz e luz.
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Mille
Em: 09/05/2018
Olá Vandinha
A Andreia colocou a Mariana para correr.
E a teimosa da Carolina vai fugir do hospital só por causa do ciúmes da Talita.
E a conversa do Leozinho e Sidney será que o amigo vai ajudar em algo.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Bom dia Mille.
Nunca deixaria de atender a um pedido seu. Pode ficar tranquila, assim que as coisas aliviarem no meu trabalho, eu retorno a história Entre Lambidas e Mordidas.
Beijão!
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