Capítulo 33 -- Quem Resiste?
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 33
Quem resiste?
Natasha rapidamente abriu a porta de sua suíte e entrou. O coração disparou quando Carol surgiu de súbito e jogou-se em seus braços chorando compulsivamente.
Atônita pela súbita aparição de Carol e pelo seu estado incrivelmente desesperado, Natasha ficou sem ação. Ela estava decidida estrangulá-la, mas ao revê-la, suas defesas desabaram.
-- Oh meu Deus -- Carol sussurrou, sua voz rouca de tanto chorar -- Natasha, você está bem? -- ela mal conseguia pronunciar as palavras em torno de seus soluços.
-- Eu estou bem -- disse ela, em voz baixa, lutando para manter o controle -- Não foi dessa vez, minha querida irmã -- ela se afastou rapidamente daquele contato tão íntimo.
Ao ver a expressão de frieza no rosto dela, Carol deu um passo para trás, seus olhos brilhando enquanto a encaravam.
-- O que você está querendo dizer com isto? -- os olhos castanhos da ruiva estavam alertas como sempre acontecia quando ficava surpresa.
-- Sabe muito bem! -- sinais de cansaço apareceram na voz da empresária -- Caso eu tivesse morrido, você se tornaria a única herdeira da família Falcão.
-- Oh, você ... Você acha realmente que eu, em algum momento pensei nisso? -- Carol perguntou sem disfarçar um tom de tristeza na voz.
Natasha não teve pressa em responder. Deu alguns passos e se virou lentamente para olhar um porta-retratos que estava na estante.
-- Sinceridade? Acho -- afirmou Natasha, com convicção.
Carol pareceu ficar ofendida com as palavras ditas pela empresária.
-- Conte-me o que está aborrecendo você -- Carol cruzou os braços, fazia tempo que ela não se sentia tão perdida em uma conversa.
Natasha conteve a vontade que sentia de amassar aquela carinha de doçurinha que ela tinha. Em vez disso, ela pegou o porta-retratos e segurou bem em frente ao rosto. Aquela foto aumentou a intensidade da dor que sentia. Idiota, ela se xingou em pensamento.
-- O que está acontecendo, Natasha? Eu te amo, nunca desejaria o seu mal.
-- Ha, ha, ha... "Eu te amo" -- Natasha acrescentou, imitando a voz dela.
A voz grave e debochada dela irritou Carol.
-- Você está errada -- disse com voz fraca -- Entendo que você teve um dia difícil e deve estar cansada agora, depois de tudo o que aconteceu. Por isso, vou deixá-la descansar -- ela sacudiu a cabeça. Nunca se sentira tão esgotada emocionalmente -- Eu te amo.
Natasha precisou se controlar muito para fitá-la. O desgosto e a tristeza contidos nos olhos de Carol, agora pareciam incomodá-la.
-- Vou me deitar -- foi o que ela fez, sem dizer mais nada.
Cansada, foi para o quarto e deitou na cama, olhando séria para o teto. As palavras de Elisa e Carol martelavam sua cabeça durante todo o tempo.
"Não devemos retribuir o mal com o mal" -- havia afirmado Elisa.
"Eu te amo" -- a falsa Carolina, afirmou sem o menor constrangimento.
Natasha jogou longe o cobertor, pulou da cama e se encaminhou para a porta.
-- Por que não pensei nisso antes? -- indagou ela com ironia e, dando um riso debochado, saiu de sua suíte e foi até o apartamento de Elisa.
A senhora atendeu embasbacada.
-- Não tem vergonha de andar pelo hotel de pijama? Ainda mais com essa estampa ridícula.
-- O hotel é meu e eu ando do jeito que bem entender -- Natasha entrou e se jogou no sofá -- Você está muito desatualizada. Essa estampa é da Patrulha Canina. Marshall, seu lema é: "Pronto para um resgate". Essa frase não te lembra alguém?
-- Parece-me que você perdeu totalmente o senso do estrambólico, Natasha -- Elisa bocejou e sentou-se no sofá -- Teve um pesadelo e ficou com medo?
-- Tá me estranhando? Na verdade, tive uma ideia -- apoiou o rosto entre as mãos sorrindo -- O seu, fantasminha camarada tem razão.
-- Mais respeito com o meu Mentor Espiritual, por favor.
-- "Amparador espiritual", "espírito guia", "anjo da guarda", "seres de luz". Seja lá qual for a expressão, quero dizer que ele está corretíssimo.
-- Com relação a que?
-- Não devemos retribuir o mal com o mal.
-- Hum, enfim algo de bom entrou nessa sua cabecinha.
-- Acho que a morte seria pouco para essa quadrilha. Pensei em algo bem mais cruel.
-- Retiro o que acabei de falar -- ela suspirou fundo antes de falar: -- O que está planejando fazer?
-- Vou retribuir o mal com o amor. Entendeu?
-- Não?
-- Burra!
-- Natasha! -- ela deu um tapa na cabeça da empresária -- Sua malcriada!
-- Desculpa, pensei em voz alta -- Natasha se revirou no sofá e olhou para ela -- Vou ser mais clara.
-- Por favor -- Elisa pediu entediada.
-- Vou fazer a Carol se apaixonar por mim -- Natasha olhou para o rosto de Elisa, esperando ver qual seria a sua reação.
-- Você está louca -- disse Elisa, indignada -- Ela é a sua irmã.
-- Irmã um ca...ramba -- Natasha se levantou, e agitada, caminhava pela sala -- Ela vai ficar louca por mim, vou fazê-la pagar por ter me feito de boba. O plano é simples e ela vai sofrer uma decepção amorosa tão grande, que nunca mais se envolverá com outra pessoa.
-- O que te garante que ela vai se apaixonar por você?
-- Ah, babá. Olha pra mim, quem resiste?
Carol sentia que algo estava errado, mas não conseguia entender o que. Será que essa era a verdadeira Natasha? Aquela que todos conhecem, menos ela?
-- Por favor, Nani. Prepara um drinque para mim? -- sorriu para a moça.
-- Pode ser um Sex on the Beach? -- perguntou a barwoman -- Gelo, Licor de pêssego, Suco de Cranberry, Suco de laranja e Vodka.
-- Pode ser.
-- Ei sumida!
Carol assustou-se, voltando-se para aquela figura sorridente com um copo de bebida na mão.
-- Sofia! -- ela abriu os braços, e a amiga saltou neles -- O que faz aqui sua louca? -- perguntou ela, apertando a amiga entre os braços. Quando se afastaram, estudou-a com olhar curioso.
-- Eu é que pergunto -- Sofia encostou-se ao balcão sem desviar os olhos da amiga -- Você não estava estudando no exterior?
Carol olhou em direção a amiga e suspirou.
-- Tenho tantas coisas para te contar, amiga. Acho que um dia inteiro não será o suficiente.
Sofia olhou para ela, intrigada e sorriu.
-- Minhas férias começaram hoje e as suas?
-- Não estou de férias -- Carol deu mais um suspiro profundo -- É uma longa história.
-- Então, teremos muito tempo para conversarmos -- Sofia sorriu, estava muito feliz em encontrar a amiga -- Mas, que grande coincidência. Você parece bem íntima do lugar.
-- Você não faz ideia de como -- o rosto de Carol tinha uma expressão triste, mas ela forçou um sorriso -- Vamos terminar os nossos drinques, depois subimos e eu te conto tudo.
Leozinho entregou um copo com Dry Martini para Sidney, depois sentou-se de frente para ele.
-- Adoro sobrancelhas bem-feitas. Mas, eu tenho um problema sério para ajeitar as minhas. Elas são muito finas e muito claras. Tenho pouco pelinhos e elas tem o início menos centralizado, se é assim que posso dizer.
-- Eu já fiz sobrancelhas de henna duas vezes e, nas duas, ficou muito estranho -- Sidney bebericou o drinque e se inclinou para a frente -- Carol me contou que você está interessado em administrar o parque temático.
-- Natasha já me deu carta branca. O próximo passo será escolher o terreno.
Relutantemente, Sidney desviou o olhar do copo e fitou o gerente a sua frente.
-- Queria te pedir uma coisinha. Pode ser?
Leozinho piscou. Uma. Duas vezes. Depois, balançou a cabeça.
-- Claro. Pode pedir.
-- Me leva contigo para trabalhar no parque.
-- Por que levaria você para trabalhar comigo?
-- Trabalhei muitos anos em um parque aquático. Tenho muita experiência no ramo de entretenimento.
-- Sério? Fazia o que lá? -- perguntou Leozinho curiosíssimo.
-- Trabalhava na bilheteria.
Sofia, levou as mãos à cabeça e exclamou alarmada.
-- Meu Deus. Isso é inacreditável!
-- Pois acredite. É verdade -- Carol foi até o bar e voltou trazendo uma garrafa de vinho branco.
Depois que Carol serviu a bebida para ambas, Sofia agradeceu e deu um gole antes de falar:
-- Vou ser franca. Estou pasma. O que levou você a fazer isso? Está louca, Andreia? Isso é crime -- Sofia comprimiu os lábios -- Você deve conhecer a fama da Natasha Falcão, se ela descobrir, vai acabar com vocês.
Carol fez uma careta.
-- Acabei de conhecer essa Natasha.
-- Cai fora enquanto pode, amiga. Vocês podem acabar na cadeia ou, até mesmo, coisa pior.
-- Não tem mais volta, Sofia. Estou devendo uma fortuna para o hospital -- Carol sentou-se na cama, as mãos entrelaçadas sobre os joelhos e, desolada, olhou envergonhada para a amiga -- Estou errada, estou muito errada, eu sei. Porém, ou participava dessa trama ou meu pai morreria sem realizar a cirurgia. Não conseguiria viver com essa culpa.
Sofia sentou-se ao lado da amiga e estendeu as mãos para ela.
-- Bem, depois não diga que não avisei -- sorriu de forma amável ante a expressão assustada da amiga.
Carol sorriu de volta. Antes de ir estudar nos Estados Unidos, Sofia era a sua melhor amiga e confidente, por isso, contou para ela sem medo algum.
-- Me fale sobre a Natasha -- Sofia deu uma risadinha e balançou a cabeça -- Ela é gostosa?
Carol deu um sorriso, enquanto olhava para o copo em sua mão.
-- Ela é linda, seus olhos são como cristais e quando ela sorri surgem duas covinhas nas bochechas -- Carol perdeu-se em divagações sobre Natasha -- Ela é do tipo, mulher poderosa, sabe. Mas, quando uso a palavra "poderosa" estou falando de uma mulher forte que não permite que ninguém tenha controle sobre ela e sabe se defender quando os outros passam dos limites.
-- Entendo. Independente da beleza física -- comentou Sofia.
-- Isso mesmo -- após um longo suspiro e uma pausa demorada, Carol voltou a falar -- Até ontem ela me tratava de forma carinhosa, atenciosa e gentil. Porém hoje, as suas atitudes mudaram. Ela foi fria, irônica e até mesmo grosseira.
Sofia aproximou-se, preocupada.
-- Será que ela descobriu a farsa?
-- Não acredito -- tomou o resto do vinho e serviu-se de mais -- Penso que a reação dela teria sido bem pior caso tivesse descoberto. Amanhã vou procurá-la, espero que tenha sido apenas coisa de momento.
Leozinho bateu à porta do quarto de Natasha o mais forte que ousou e ficou esperando, aflito. Por algum tempo, nada escutou. Depois, ouviu uma voz sonolenta.
-- Hoje estou morta, e só levantarei da minha cama no horário do meu sepultamento.
-- Abre, Natasha! Emergência código vermelho.
Natasha abriu a porta e puxou Leozinho para dentro, sem a menor gentileza.
-- O meu assunto é emergência código laranja -- disse com um forte sotaque micaelense -- É muito mais importante.
-- Impossível -- Leozinho se sentou na beirada da cama -- O que tenho para contar é algo horrível.
-- A Carolina que está aqui no hotel, não é a Carolina.
-- O que? -- ele perguntou quase berrando, assombrado -- Como assim a Carolina não é a Carolina? É impossível.
-- É tudo mentira, uma grande armação -- inquieta, Natasha andava pelo quarto -- Andreia, Marcela, Sidney...
-- Sibele -- completou o gerente.
-- Verdade. Não havia pensado nela -- Natasha olhou para ele e sentiu algo se revirar em seu íntimo. Sim, ela estava triste. Triste por perceber que até a sua amiga de tantos anos havia lhe traído -- Tudo por causa do dinheiro. A ganância é um desejo maligno que destrói as pessoas.
-- Estava começando a ficar fascinado pelo Sidney -- fitou as próprias mãos, e naqueles segundos reviu mentalmente a aparência arrebatadora daquele rapaz -- As unhas eram tão limpas e bem tratadas. Porém, os lábios dele foram o que mais me chamou a atenção. São os lábios mais sensuais que eu já vi.
-- A pessoa pode até ser feio, mas se tiver um bom coração... continua sendo feio, porque uma coisa não tem nada a haver com a outra - viajou Natasha.
Ficaram se olhando em silêncio. Natasha, parada, pensando em Sibele. Leozinho pensando em Sidney.
-- Ah! Mas, no meio de tudo isso tenho uma notícia boa -- Natasha sentou-se ao lado dele, sorrindo -- Encontrei a verdadeira Carolina.
-- Que loucura! -- Leozinho estava boquiaberto -- Como foi isso.
-- No dia da tempestade...
Naquela manhã Carolina sentia-se bem melhor. Elas tinham conversado sobre tudo, exceto sobre o que a garota achava ser o mais importante para ela. Os seus sentimentos.
Ela estava sentada na cama, com a perna fraturada para cima, mantida por um sistema de sustentação formado por um cabo, três roldanas e um peso. Era desconfortável, mas necessário.
Talita desligou o celular e olhou séria para Carolina.
-- Natasha as vezes me surpreende -- a médica se levantou e foi até a janela -- Pensei que quando ela soubesse de toda a verdade, teria um surto psicótico e acabasse com a raça daquela gente. Só que não. Sabe o que ela acabou de me pedir?
-- Não.
-- Que deixemos tudo como está. Ela quer segredo absoluto, inclusive sobre você.
-- Estranho. Ela não disse o motivo?
-- Disse apenas, que resolveria a seu modo. Vai entender.
-- Bom, resumindo: Continuarei me escondendo.
Natasha caminhava em direção ao seu escritório com Leozinho ao seu lado.
-- Vamos chamar a polícia, poderosa? -- indagou Leozinho.
-- Não. Tenho planos para todos eles. A Justiça brasileira tarda, e tarda muito. Por aqui, entre o início de uma ação e a sentença podem se passar anos, ou mesmo décadas. Então, prefiro eu mesma punir os meliantes.
-- Senhorita Natasha -- chamou a secretária assim que ela passou pela antessala.
-- Agora não, Jessye -- ela respondeu, acenando com a mão.
-- Mas... -- insistiu a moça.
Ao abrir a porta, Natasha precisou se abaixar rapidamente para se desviar de um objeto lançado em sua direção. Ela olhou para as canetas e lápis espalhados no chão ao seu redor e depois para a mulher agora imóvel ao lado de sua mesa.
-- Sua sem vergonha! -- berrou a invasora.
Natasha piscou algumas vezes até conseguir focar direito o olhar.
-- Mariana?
-- Ah, chefe - disse Leozinho - Lembra da emergência código vermelho?
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 06/05/2018
Massa essa vingança que Nat vai impetrar. Se Segura Andrea, vc ja ta morta de apaixonada pela Nat, como vai se segurar? Hehehe. Cruel a Nat. Poderosa, louca e agora tera que segurar essa mariana maluca que se acha.Bjs
Resposta do autor:
Olá Patty.
Próxima missão: dar um jeito em Mariana. Veremos como a empresária se sai.
Beijão!
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brunafinzicontini
Em: 06/05/2018
Olá, Vandinha!
Emocionante o resgate! Não tive tempo de comentar o capítulo passado e você, agilmente, já postou mais um... Que delícia!
O que ia pedir no capítulo anterior era que você fizesse a Carol já confessar toda a trama de sua "gang" para Natasha, antes que esta a "matasse" ou revelasse que já havia descoberto tudo. Imaginei que Andreia poderia expressar seu afeto pela empresária e seu arrependimento pelo golpe. Mas você encontrou um caminho melhor! Adorei a ideia de Natasha seduzir a falsa Carol! Essa mulher é demais! Reverterá o jogo em grande estilo!
Talita e Carol terão que se manter "escondidas", o que propiciará maior contato e cumplicidade entre as duas, numa história paralela muito interessante!
Também estou ansiosa para ver como Nat enfrentará o ataque dessa bruxa sem noção - Mariana. Que garota idiota! Merece uma boa lição!
Parabéns, autora! Sua história está ótima!
Abraços,
Bruna
Resposta do autor:
Olá Bruna.
Obrigada Bruna. Beijão!
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Mille
Em: 06/05/2018
Kkkk Leozinho é bom de recado
Natacha não sabe que a Andreia já está apaixonada por ela.
Bom eu imaginei que a Nat não iria estrangular a falsa irmã esse plano não vai dar bem no final os sentimentos de ambas será o mesmo.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Beijos Mille. Até mais.
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NovaAqui
Em: 06/05/2018
O feitiço vai virar contra o feiticeiro, senhorita Natasha kkkk vai ser engraçado ver isso rsrs
Como Leozinho descobriu?
Abraços fraternos procês aí
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
A pergunta é, como o Leozinho descobriu que Mariana estava na ilha?
Se for, a resposta está no capítulo anterior. Mariana o procurou em seu escritório e eles conversaram por algum tempo.
Espero ter respondido.
Beijos!
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