Capítulo 35
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 35
Talita entrou no quarto e olhou ao redor, desconfiada.
-- Carolina! -- chamou como se não esperasse encontrá-la -- Droga! Por que será que não estou surpresa?
Esperou, junto à porta entreaberta, que ela voltasse. Mas Carolina não apareceu.
Como uma detetive em busca de pistas, Talita conversou com cada um dos enfermeiros, tentando descobrir o paradeiro de Carolina. As pistas finalmente a levaram a uma cantina no primeiro andar, próximo ao estacionamento, mas Carolina também não estava lá.
Desesperada, Talita voltou para o quarto de Carolina.
Mais uma hora se passou, antes que a porta se abrisse e ela entrasse, com uma expressão de decepção no olhar.
-- Ah, resolveu voltar? -- disse a garota, apoiada em duas muletas.
-- Faço minhas suas palavras -- ela murmurou, num tom baixo e impaciente -- Você deveria estar na cama.
Na sua cama. Pensou Carolina, rindo de seus pensamentos eróticos.
-- Na verdade, meus planos eram de uma fuga estratégica. Porém, meus trajes não convencionais chamou a atenção da general que cuida da portaria.
-- Menos mal -- ela respondeu calmamente, escondendo muito bem a angustia que sentia. Natasha a demitiria na hora caso Carolina tivesse fugido.
-- Então? Conseguiram se entender? Fizeram as pazes? -- ela indagou, embora não fossem essas as perguntas que estavam na ponta de sua língua.
-- Vou responder a qualquer pergunta sua, mas pare de me olhar desse jeito.
Carolina disfarçou, olhou para o teto, para as mãos, depois voltou a olhar para a médica.
-- E o que aconteceu, doutora?
-- Não estamos bem. Trabalhar na ilha é a melhor coisa que me aconteceu até hoje. Estou realizada profissionalmente, financeiramente...
-- Menos sentimentalmente -- completou Carolina -- Eu entendo.
-- Não sei se meu casamento suportará a distância.
-- "A distância não separa o amor verdadeiro". É o que dizem.
-- Não sei de mais nada, enfim, decidimos deixar o tempo falar.
Talita fez uma pausa.
-- Você está liberada para ir para casa.
-- Hú, húúú... -- Carolina comemorou -- Finalmente! -- ela ficou séria, olhou de lado para Talita e sussurrou, baixo -- Não tenho casa.
A médica colocou o jaleco e pegou uma bolsa com roupas de dentro do armário.
-- Recebi uma ligação da Natasha. Você ficará em meu chalé na ilha -- ela pegou algumas peças de roupa e as colocou sobre a cama.
-- Vou morar com você? -- Carolina perguntou, com os olhos brilhantes.
-- Sim. Algum problema?
Tudo o que Carolina pôde fazer foi lembrar-se de respirar.
Uma batida na porta fez Carol dar um pulo na cama. Tinha cochilado um pouco e, perdeu a noção do tempo.
-- Pode entrar -- se sentou na cama, já completamente desperta e esperou que a pessoa entrasse.
A porta foi aberta lentamente e Natasha entrou no quarto.
-- Desculpa acordá-la, mas estava demorando demais, fiquei preocupada.
O olhar, quente e amável, finalmente voltou aos olhos de Natasha e isso deixou o coração de Carol aos pulos.
-- Acho que estava mais cansada do que imaginei. Tomei um banho, cai na cama e não me lembro de mais nada.
Natasha sentou-se na beirada da cama, fitando-a com visível curiosidade.
-- Por que enfrentou a Mariana daquele jeito? Você nem a conhecia.
-- Por tudo o que ela fez com você no passado. Temi que a aceitasse de volta -- Carol ocultou o rosto entre as mãos -- Sei que pode soar um pouco louco, mas fiquei preocupada com você. Desculpa.
-- Não se desculpe, Carol. Mariana merecia uma surra -- A voz de Natasha soava tranquila -- Pena que deu empate.
-- Não deu empate -- ela retrucou -- Venci por pontos.
-- Quem disse isso?
-- O Leozinho.
-- Só podia! -- Natasha sorriu, sem notar a profunda perturbação que Carol sentia -- Ele é bem imparcial.
Carol queria tocá-la, abraçá-la com força, mas tinha certeza de que Natasha estranharia.
-- Está com fome? Claro que deve estar. Não jantou -- Natasha a puxou pelas mãos -- Vamos até o restaurante. Quero que se alimente e depois pode dormir sem hora para acordar.
Carol não protestou. Essa era uma ordem que obedeceria com facilidade. Estava com muita fome.
-- Então me espera um pouco. Vou trocar de roupa e já volto.
Leozinho sorriu. Seria inútil negar o que sentia por Sidney. Ele o havia cativado, e isso era tudo. Por várias vezes, ele o flagrará observando-o com uma atenção diferente. Será que Sidney também se sentia atraído por ele? Será que também estaria se apaixonando?
-- Eu não vou te julgar, Sidney. Não posso fazer isso, seria fácil para mim te julgar quando a verdadeira prejudicada aqui foi a Natasha. Com certeza, ela deve te enxergar com outros olhos.
-- Com certeza bem mais severos que os seus -- ele baixou a cabeça por alguns segundos, agora se sentia culpado e envergonhado.
-- O que vocês fizeram foi cruel. Mesmo que o motivo tenha sido a doença do senhor Fábio, nada justifica tanta desonestidade, falsidade, mentira.
-- Estou arrependido -- Sidney sentia uma mudança em si mesmo. O homem diante de Leozinho não era mais o ator de uma peça, mas alguém contrito e consciente de sua cumplicidade -- A Andreia também arrependeu-se. Mentir dessa forma está indo contra tudo o que ela acredita.
-- Vai falar isso para a Natasha -- Leozinho segurou-lhe um dos braços e o virou de forma que pudesse encará-lo. O jovem tremeu ao sentir aquele toque - Ela nunca vai acreditar.
- E é totalmente compreensivo. Nem eu acreditaria.
Leozinho passou a mão pelo cabelo nervosamente e deixou escapar um suspiro.
- Não sei porque, mas gosto da Andreia. Acredito que ela seja verdadeiramente uma pessoa do bem, que foi influenciada negativamente pelas Bruxas de Salém.
Sidney fez que sim com a cabeça, triste.
-- Promete que vai me visitar na cadeia?
Leozinho deu risada, mas podia perceber que Sidney não estava achando nada engraçado.
-- Não vai né! Logo imaginei.
-- Não é isso, seu bobo -- Leozinho andou até o bar e sacou a rolha de uma garrafa com um estouro, antes de encher duas taças e entregar-lhe uma -- A Natasha não acha que a cadeia seja o suficiente para vocês.
Sidney deu um gole na bebida. Os olhos dele ficaram sombrios.
-- Ela vai nos matar?
-- Não -- Leozinho colocou a taça sobre a mesa e sentou-se confortavelmente no sofá - Na verdade, eu nem sei o que ela vai fazer com vocês. A única coisa que ela me disse é que vai fazer de tudo para que a Andreia se apaixone por ela.
- E depois... - Sidnei tapou a boca com a mão em um gesto de horror.
- Exatamente! Essa é a vingança.
- Tadinha da minha amiga. Ela vai sofrer tanto.
- Não se a gente agir em parceria - Leozinho disse, segurando as mãos de Sidney sobre seu colo.
- Como assim? Não entendi.
- Tenho um plano, mas você vai ter que me jurar que não vai dar com a língua nos dentes.
- Lógico que não! Se for para o bem da Andreia, não abro a minha boca nem sob tortura.
- Ótimo. O meu plano é o seguinte...
Andreia procurou ignorar os olhares que as acompanhavam, à medida que avançavam pelo restaurante.
-- Vamos sentar naquela mesa, Carol.
Natasha escolheu uma mesa afastada, puxou uma cadeira para Carol e sentou-se a sua frente.
-- Hoje vou deixar você escolher a comida.
-- Que bom. Já estava ficando preocupada.
O garçom parou ao lado da mesa com o cardápio na mão. Carol olhou para o solícito garçom e sorriu diante daquela formalidade:
-- Nós vamos comer Salmão ao molho de shoyu assado no papilote.
-- E para beber, chefe?
-- Traga um vinho do Porto. Mas, escolha uma boa safra.
-- Sim, senhorita.
Carol esperou o garçom afastar-se antes de falar.
-- Pensei ter entendido que me deixaria escolher o prato.
-- Verdade. Fica para a próxima.
Carol respirou fundo e forçou um sorriso.
-- Vou fingir que acredito.
Natasha colocou os cotovelos sobre a mesa e apoiou o queixo nas mãos.
-- Lembra de alguma coisa da sua infância?
Carol balançou a cabeça.
-- Não lembro de nada. Não lembro de mamãe e nem de papai. Nem da ilha, nem das montanhas, nem da praia.
-- Claro que não -- disse Natasha, com um sorriso -- As margaridas eram as flores preferidas da mamãe. Ela tinha um canteiro repleto delas -- a empresária fechou os olhos e respirou fundo -- Eu lembro muito pouco de você. Lembro apenas de uma menininha enferrujada e feinha. Desculpa a sinceridade.
-- Que horror, Natasha!
-- Você tornou-se uma mulher muito linda -- disse ela com sinceridade -- É tudo original?
-- Claro que é, bobinha.
-- Eu pergunto isso, porque conheci uma menina com os cílios postiços tão grande, que quando ela piscava me abanava.
-- Pare, pare! -- interrompeu Carol com uma gargalhada.
-- Um dia ela disse para mim: "Essa roupa tá me deixando gorda, Nat!" E eu disse: É só você parar de comer essa roupa...
-- E ela?
-- Depois desse dia não vi mais ela.
O garçom trouxe os pedidos. Serviu vinho para ambas e retirou-se.
Carol provou um pedaço do salmão, sorriu e olhou para o prato, e novamente para Natasha.
-- Eu não costumo comer peixe com muita frequência.
-- Não gosta?
-- Não muito, porém, esse está divino -- ela pousou o talher na mesa, bebericou o vinho e olhou para Natasha, fascinada. Era tão agradável conversar descontraidamente com ela -- Não pensa em ter filhos um dia? -- perguntou receosa.
Natasha balançou a bebida no copo antes de olhar para ela e responder:
-- Eu gostaria de ter um filho um dia... dois dias, no máximo -- brincou.
-- Fala sério, Natasha.
-- Prefiro mudar de assunto -- ela deu um sorriso que deixou Carol derretida - Esse papo de filhos me deixa nervosa só de pensar.
Carol assentiu. Não pretendia estragar o clima tão agradável.
-- Está certo -- ela estendeu a taça vazia para Natasha enchê-la, lutando com os pensamentos inoportunos que passavam por sua cabeça. Ela limpou o canto da boca e depois pousou o guardanapo na mesa, ao lado do prato.
Natasha comeu o último pedaço de salmão antes de continuar:
-- Tenho percebido que vocês estão muito entusiasmados com a ilha. Dessa forma, decidi que é o momento de você começar a cuidar pessoalmente de sua ilha. Quero que abra o seu próprio caminho, como eu fiz. Se você tiver peito para isso, vai merecer o meu respeito.
Carol levantou as sobrancelhas.
-- Não entendi.
-- Eu e meu avô desbravamos essa ilha. Era mata virgem e nós com muita luta transformamos em tudo o que ela é hoje.
-- Deve ter sido maravilhoso -- comentou Carol.
-- Não, não foi. Na verdade foi uma merd*, foram os piores dias da minha vida! -- ela deu uma risadinha -- Muita cobra, onça-pintada, lobo-guará, morcego orelhudo...
Carol estava horrorizada. Natasha continuou:
-- Sem contar os insetos: A mutuca ou butuca que é um inseto voraz que se alimenta de sangue. A coceira é aterrorizante. Os mosquitos, pernilongos, borrachudos, carrapatos e inúmeros outros bichos que devem ter na Ilha Carolina.
-- Você vai mandar a gente para lá? -- ela perguntou num fio de voz, assombrada, enquanto servia-se de mais vinho.
Natasha balançou a cabeça afirmativamente.
-- Eu gostaria de ir com você, maninha, mas tenho muito trabalho pendente aqui na Ilha do Falcão.
Os olhos de Carol estavam abertos, cheios de desespero e de surpresa. Armando-se de coragem, perguntou:
-- Quem vai comigo?
-- Hum, vejamos... -- ela apoiou o queixo na mão, olhou para Carol e fingiu que estava pensando -- Você, a Marcela, o Sidney, a doutora Sibele e uma equipe escolhida por mim.
-- Por que a Sibele? - perguntou, cheia de curiosidade.
-- É sempre bom ter um médico por perto -- Natacha serviu mais vinho para ambas -- Vai que alguém seja atacado por uma onça ou, picado por uma cobra.
Não entre em pânico, não entre em pânico. Carol repetia a si mesma. Mantenha a calma, seja controlada.
Fim do capítulo
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NovaAqui
Em: 17/05/2018
Como Natasha é malvada kkkkk
Vamos ver o que Sidney e Leozinho vão aprontar
Acho que Natasha poderia deixar andrea alegrinha e Andrea atacar sua não irmã.... rsrs só uma ideia para Natasha começar a enxerga-la como uma mulher de verdade
Abraços fraternos procês aí
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Mille
Em: 17/05/2018
Ola Vandinha
Nossa a Nat colocou todos no mesmo lugar vai fazer que nem o big brother quem mais irá reclamar é a Marcela.
Pois é fiquei com saudades de Dani e cia, mais eu sei que você irá retornar tudo ao seu tempo.
Parece bobo mais gosto de lembrar as autoras que quando elas somem sentimos falta não só da história mais a presença delas. E por isso comento e deve servir para anima--las a voltar.
Bjus e até o próximo capítulo
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