Boa noite a tod@s.
Chegamos ao final de nossa quadrilogia "Sacrifício" - por enquanto! Espero que apreciem mais esse capítulo.
Aproveito para agradecer mais uma vez aos comentários que deixam aqui, pois eles me servem como termômetro e motivação para persistir nesse pequeno delírio.
Boa leitura e uma ótima semana!
Xeros!
Capítulo 44 Sacrifícios (Parte 4)
Cosima insistia inutilmente penetrar na mente de Delphine, na tentativa de descobrir o motivo que as estavam obrigando a retornar precocemente para Paris. Mas tudo o que conseguiu foram respostas vagas dizendo que algo errado havia acontecido em Paris. Estranhou a mudança súbita no semblante leve e tranquilo, que agora fora substituído por uma preocupação pesada e resoluta, embora a morena pudesse sentir que existia algo muito mais perturbador por trás daquela postura da mulher que tanto amava.
E ali, sentadas no banco de trás da limusine, sendo levadas para o aeroporto de Deli, Delphine estendeu a sua mão para receber a de Cosima que não demorou um instante se quer para lhe retribuir o carinho. Assim que suas peles se tocaram a loura lhe olhou com forçada tranquilidade, mas o que a morena viu por trás daquele fino véu de uma frágil leveza, foi o mais profundo dos temores. Delphine estava com medo.
Chegaram ao hangar e o jatinho já estava pronto e a espera delas. A eficiência de Helena já havia garantido que o plano de voo e a autorização para o mesmo já estivessem prontos, o que possibilitaria a decolagem imediata daquela aeronave. As malas foram levadas às pressas para o compartimento adequado e Delphine subiu na frente, puxando Cosima pela mão.
- Boa noite Srta. Cormier. – O comandante a cumprimentou e acenou para Cosima. – O plano de voo já foi modificado e o nosso pouso em Dublin já foi solicitado.
- Dublin? – Cosima sobressaltou-se. – Pensei que íamos até Paris. – Parou no meio do corredor enquanto assistia Delphine guardar suas bagagens de mão no bagageiro acima. - Del? – Insistiu!
- Vamos pousar em Dublin sim, mas você seguirá para Paris! – O tom de voz indicava que aquela decisão fora tomada e que não caberia um protesto, mas a morena não se daria por vencida e com os braços cruzados diante do peito a encarou.
- E porque achas que eu iria e a deixaria sozinha, para lidar com algo tão sério, que eu não sei o que é, mas que está lhe consumindo por dentro? – Delphine a olhou surpresa. Não esperava aquele questionamento, embora já soubesse que não iria convencer sua amada tão facilmente. Era um traço marcante daquela alma, a teimosia. Virou os olhos e jogou-se em sua poltrona afivelando o seu cinto em seguida.
- Por que são assuntos da Ordem e você ainda não faz parte dela! – Usou a única resposta que pensou ser possível acalmá-la.
- Sinto muitíssimo Srta. Cormier, mas... – Sentou-se na poltrona diante dela. – Mas não irás se livrar de mim tão facilmente assim! – Cruzou braços e pernas e ergueu seu queixo levemente em um sinal de desafio. Delphine cerrou os olhos, divertindo-se com o ar desafiador de Cosima e quase esqueceu da seriedade do problema que estava prestes a enfrentar. Pensou em como poderia convencer-lhe do contrário. A encarou firmemente e admirou seu belo rosto e sentiu seu coração doer com a força do amor que a consumia. E esse sentimento era violentamente potencializado pelo medo absurdo e crescente que estava sentindo naquele instante.
Delphine sabia que se Lamartine utilizou de uma medida tão drástica quanto o sequestro de uma das mulheres membro da Alta Cúpula da Ordem, ele estava desesperado e disposto a fazer qualquer outra loucura. Certificou-se com Helena como estava o esquema de segurança de Cosima. Sua protetora disse que havia um grupo de 10 pessoas em Deli o tempo todo por perto delas e que no voo, a Comissária era membro do Exercito de Ártemis, o que foi uma grata surpresa para ela. Mas nada daquilo conseguia lhe tranquilizar por completa. Não que duvidasse da eficiência de Helena e das guardas de Ártemis, mas temia muito mais a loucura e o sadismo do Martelo.
Sentiu um pesar ainda mais doloroso, pois aos poucos começou a perceber que a deliciosa felicidade e tranquilidade que estava experimentando ao lado de Cosima, poderiam estar seriamente ameaçadas. Recostou sua cabeça e tentou evitar pensar naquilo.
- Está com sono? – Cosima a viu esfregar os olhos e em seguida a testa. – Devias tentar descansar um pouco.
- Minha cabeça está pesada! – Não era mentira. Um pulsar latejante originário da base da sua nuca estava lhe incomodando muito.
- Com licença Comissária... – Cosima parou a jovem que passou por elas. – Terias um relaxante muscular ou um analgésico?
- Está se sentindo mal? – Delphine exasperou-se.
- Não é para mim Del, e sim para você. – A loura a olhou com ternura e logo a moça retornou com um copo com água e um advil. – E nem pense em não tomar.
- Sim minha senhora! – Delphine brincou e aceitou o remédio. – Enquanto o segurou em sua mão e encarou. Só então se deu conta que jamais havia tomado um remédio como aquele, em capsula. E esforçou-se para se lembrar da ultima vez que havia sido medicada.
- Anda Del... Toma esse remédio. – Cosima insistiu. A loura lembrou-se das vezes que viu alguém tomando algo assim e repetiu o gesto. Inevitavelmente se engasgou com o comprimido, chegando a ficar vermelha, o que Cosima achou adorável. – Caramba Del, parece até que você nunca tomou um comprimido. Mas agora vais conseguir descansar. Relaxa um pouco vai. Aproveita que teremos boas horas de voo. – Cosima esticou-se e lhe tocou o joelho.
Ouviu o comandante anunciar que estava na iminência da decolagem então afivelou seu cinto. Decolaram sob a ameaça de uma tempestade que assolaria Deli, mas saíram a tempo. Quando atingiram altitude de cruzeiro Delphine já havia cedido aos efeitos da medicação e cochilava. Cosima se levantou e com cuidado para não acordá-la, reclinou o confortável assento do jatinho até uma posição quase que completamente horizontal. Usou a manta que havia ao lado para cobri-la e com ainda mais cautela, beijou-lhe a face adorada. Ainda retirou um cacho de seu lindíssimo rosto e a viu se mover um pouco. Parecia que ela estava sonhando.
Retornou ao seu lugar e com a luz de leitura acesa sobre si, pegou o caderno com a transcrição e decidiu que continuaria a leitura. Não tinha mais nada para fazer nas próximas horas e não queria ficar especulando sobre o que as esperava em Dublin, então buscou uma posição confortável e logo encontrou a página onde havia parado. Respirou fundo e prosseguiu.
******
Eu ouvia seu coração acelerado e o arfar de seu peito denunciando o quão emocionada você estava. Eu havia lhe mostrado alguns de meus piores pesadelos, coisas que eu jamais havia contado a ninguém e que me atormentavam há todos os instantes, contudo, estar em seus braços, ter ouvido a sua promessa me fizeram sentir algo que eu já nem mais me lembrava. Eu me senti segura! Como se realmente nada pudesse me acontecer enquanto estivesse dentro de seu abraço.
Me envolvias com delicadeza, embora eu também poderia sentir o quão forte eras, algo para além da força física e aquilo me tranquilizou. Permanecemos sem quase movimento algum até que meus soluções cessassem por completo e então senti uma de suas mãos acariciar meus cabelos enquanto a outra subia e descia em minhas costas, mal a tocando. Lentamente eu ergui meu rosto e procurei uma melhor posição em seus braços e quase deitei minha cabeça em seu ombro e rocei meu nariz em seu pescoço e dali, bem de perto, via a sua pulsação acelerada sob a pele e fui invadida por seu perfume inesquecível.
Então, as mesmas sensações que me acometeram na noite em que dançamos juntas voltaram a me assombrar. Um frio em meu estômago, como se algo dançasse ali dentro e me fizessem respirar com certa dificuldade. Arrepios subiam e desciam por minha espinha, sempre que um de seus dedos tocava a pele de minha nuca e tudo aquilo parecia ser direcionado para um único ponto em meu ventre. Não... Um pouco mais abaixo. Um latejar quase dolorido. Um pulsar ansioso e quase desesperado e esse desespero começou a me consumir por completa.
Sem ter a real noção do que eu fazia, dei o primeiro passo para trás, não para fugir, pois não me desvencilhei de você. Dei o segundo passo e então me olhastes com certa dúvida. Com o terceiro passo eu consegui atingir a porta e me encostei nela, ainda abraçada a você. Foi então que senti algo antes inimaginável para mim... Você colou e pressionou seu corpo contra o meu e com cuidado, retirou seus braços de trás de minhas postas e espalmou ambas as mãos nas laterais de minha cabeça. A sua estava baixa, como se quisesses evitar me encarar e sua respiração estava ainda mais ofegante que antes.
Lhe toquei o queixo gentilmente e fui erguendo seu rosto. Tinhas os olhos cerrados e mordias o lábio inferior. Estavas definitivamente tão afetada quanto eu.
- Abra os olhos! – Sussurrei com um filete de voz. – Olhe para mim Eve. – Eis que você os abriu e vi e senti algo semelhante ao que vivenciei quando encontrei com Atalanta sob a escuridão e fiquei cara a cara com a mais selvagem das expressões. Seus verdes olhos estavam completamente turvos as maças de seu rosto adquiriram um tom rosado que lhe denunciavam.
Eu sabia e você também sabia o que estava prestes a acontecer ali e, meu amor... Como eu queria e ao mesmo tempo não queria aquilo. Olhei para seus lábios e a vi umedecê-los... Engoli em seco e comecei a estremecer, e quase morri ali mesmo quando a vir se mover, vindo em minha direção.
Já podia sentir as ondas de seu hálito quente caírem em meu rosto como ondas me aquecendo de cima abaixo. Foquei em seus lábios entreabertos e quando segurei o ultimo fôlego pronta para recebê-la, você desviou e se aproximou de minha orelha.
- Ainda não... Não a quero assim! – Você sussurrou em meu ouvido e voltou a me encarar, contudo a luxuria de antes não estava mais em sua face, e em seu lugar havia ternura e até certa agonia. – Boa noite Melanie... – Você abriu a porta atrás de mim e quase cai para trás. Pensei em protestar, pois estava completamente atordoada com aquela sua reação.
Confesso meu amor que fiquei decepcionada e me sentindo um lixo após ter sido recusada por você. A vi me olhar com certo pesar antes de fechar a porta e me deixar encarando a madeira. Retornei para o meu quarto lhe xingando em todos os poucos palavrões que eu até então conhecia e passei a noite insone repassando aquele nosso breve encontro. E ao final dela eu decidi que iria ignorá-la da mesma forma que você fizera comigo.
“Também sei jogar esse jogo Srta Evelyne Chermont!” Pensei.
Levantei com um estranho e pouco usual mau humor e percebi que cheguei a ser grossa com algumas das mulheres que me cumprimentaram ao longo da manhã. Até mesmo com Manu eu troquei poucas palavras, me enfurnando na sala secreta para estudar, pois não estava a fim de ver nada nem ninguém. Contudo, a única pessoa que eu estava de fato evitando era você. Entretanto, mal sabia eu que nada que eu pudesse fazer, poderia evitar o seu poder sobre mim. E quando eu estava quase me esquecendo da noite anterior e de tudo que me causaras, eu lhe ouvi em minha mente.
“Pensas mesmo que podes fugir de mim?” Estremeci e olhei assustada ao meu redor. A escuridão me envolvia e eu havia perdido a noção das horas, até por que não havia janelas ali e toda a ventilação vinha por um engenhoso sistema de tubulações de cobre e aço.
“Saia da minha cabeça!” Eu lhe respondi com fingida segurança. A verdade era que tê-la em minha mente era completamente diferente da conexão que eu tinha com a Manu. Com ela sempre era calmo e tranquilo, como se ela fosse uma guia para mim. Já com você era inquietante, perturbador e incrivelmente tentador. Pois eu sabia que poderias ver meus mais profundos pensamentos e desejos e, desde que você começou a fazer parte de minha vida, passou a dominar cada recanto de minha mente e de meus anseios mais íntimos.
“Pare de me convidar à sua mente então!” Eu novamente a ouvi. Voltei a olhar ao meu redor, embora soubesse que ela não estava ali.
“Não estou lhe convidando coisa nenhuma!”
“Sempre que pensas em mim Melanie... Estais me chamando, me convidando!” Aquela revelação me causou tamanha surpresa, mas essa logo deu lugar a um grande constrangimento, pois eu tive a certeza de que você realmente estava visualizando minhas fantasias. “E por eu estar a apenas poucas paredes de você, nossa conexão se torna ainda mais intensa.”
"Então recuse meus convites!” “Pare de ouvir!” Levei ambas as mãos a minha cabeça. Estava me sentindo invadida, pois nem em meus pensamentos eu teria privacidade. Junteis minhas anotações e livros e me retirei da sala. Pensei em sair do castelo, ir para o jardim ou para qualquer lugar onde o seu alcance fosse mínimo. Outra ilusão, pois estavas em mim. Já fazias parte do meu ser.
Quando subi as escadas, resmungando algo quase cai para trás quando ergui a cabeça e lhe vi sentada no topo dela. Estavas com uma maça nas mãos e uma faca a descascando. Vestias um vestido marrom, com detalhes em dourado, mas nada chamativo demais. Pela posição que estavas sentada, estava com as pernas levemente afastadas e as pontas da saia erguidas até o topo de seus joelhos. Deixando a mostra grande parte da extensão de suas pernas. Segui o traçado desde seus joelhos até seus pés e vi que não calçavas nada e havia um pouco de terra e pedaços do que julguei ser grama neles, pois a pouca iluminação de minha vela, não me ajudava muito. Quando alcancei seus olhos, vi satisfação neles e então a olhei com dureza e você me encarou com aquele seu ar de soberba que, naquele instante, me irritou profundamente. Ainda tivestes o disparate de me oferecer um pedaço de maça, o qual eu recusei.
- Com licença... – Pedi com firmeza. Você me olhou e indicou uma passagem mínima ao seu lado. Cerrei meus olhos, pois para passar por ali eu teria de inevitavelmente encostar em você. Continuei subindo. – E, por favor, saia da minha mente. – Lhe demandei assim que estava ao seu lado. Você não me olhou, mas eu gelei quando você segurou minha mão.
- Desculpe-me Melanie! Isso é novo para mim também! – Lhe olhei de cima para baixo e tinhas súplica no olhar. Pensei tratar-se de uma armadilha sua e decidi não ceder.
- Novo? Pensei que você fosse a mais experiente aqui... Como é mesmo que lhe chamam? Deusa da Perdição! – Você bufou, pois detestava aquele apelido e então se ergueu, ficando muito próxima a mim devido ao pequeno espaço entre as paredes da escada.
- Me refiro a essa conexão! Só a tive antes com a minha mãe... E é completamente diferente com você. E preciso lhe confessar algo... – Me olhaste com serenidade e seriedade. – Preciso fazer um imenso esforço para não deixa-la entrar em minha mente a todo instante.
Eu não esperava uma confissão como aquela! Parecia que você estava sofrendo, de alguma maneira e aquilo me causava sentimentos paradoxais. Uma intensa felicidade e um pesar profundo.
- E também preciso me desculpar por ontem à noite. Percebi que você ficou chateada com algo que fiz ou... Deixei de fazer! – Meus pés pareceram sair do chão quando senti seus dedos acariciando meu rosto. – Minha pausa de ontem em nada tem haver com falta de vontade Melanie! – Meu coração acelerou a um ritmo que eu imaginava ser impossível. Engoli em seco. – Muito pelo contrário! Desde que a vi eu a quis para mim! E acredito que sabes a que me refiro, afinal de contas... Andas com as mulheres da Ordem, - Você sorriu sugestivamente e quase desfaleci. – Desejo, com todas as minhas forças tê-la em meus braços. Não penso em mais nada além disso. Precisava estar em outro lugar nesse exato momento, mas não consigo ficar longe de você. – Eu só conseguia tremer de cima a abaixo e isso ficava evidente pelo tremular da luz da vela. Soltaste a maça e a faca e tomaste o castiçal de mim com a sua m e o ergueu, próximo aos nossos rostos.
- Mas... ? – Foi tudo o que eu consegui balbuciar, tal era a minha situação.
- Mas sinto que não é o momento. – Parecia que eu havia sido puxada violentamente para o chão, de volta a brusca realidade. – Vi em sua mente... Em suas memórias... Oh doce Melanie... És tão pura, tão inocente. Intocada... – Vi seus olhos descerem por meu corpo e se demorarem um pouco mais no colo de meus seios. E lá estava a luxuria emanando de você novamente.
- E se eu lhe disser que... – Você ergueu os olhos com intensa atenção. – Que também... Quero o mesmo? – Mordi o lábio inocentemente e percebi que foi a sua vez de estremecer. E como num ato de descontrole você lançou-se sobre mim parando com seus lábios quase tocando os meus, mas apenas encostou sua testa na minha, ofegante.
- Vou esperar por você Melanie... A farei minha... E serei sua... Mas não quero uma noite apenas, como estou habituada. – Entronchei o lábio e você sorriu do meu gesto bobo. - Tão linda! – Sorri embevecida. Contudo, uma dura e violenta realidade me atingiu.
- Mas estou prometida a alguém. Ao Duque... – Disse entre dentes. Você se afastou um pouco e me olhou com uma firmeza que quase me assustou.
- Ele não a terá Mel... Eu lhe prometo isso! – Segurou meu rosto entre suas mãos com ternura e segurança.
- O que está acontecendo aqui? – A voz de Manu nos trouxe de volta. Eu me afastei e fiquei grudada contra a parede oposta enquanto você não moveu um músculo, apenas permaneceu encarando-a com firmeza e ela lhe devolvendo o mesmo olhar. Contudo, algo inesperado aconteceu. Você baixou sua cabeça para ela. Até a própria Manu pareceu não acreditar naquilo, ela me olhou com seus lindos olhos azuis arregalados e deu um aceno de cabeça quase imperceptível. E saiu com uma expressão séria.
- Venha... – Você estendeu a mão para mim. A seguimos para a sala de jantar em silêncio. Nenhum de nós três voltamos a falar sobre aquele breve encontro por um bom tempo e a partir daquele dia e nos que se seguiram a ele, não nos desgrudamos um só instante, contudo você manteve sua promessa. Não ousou avançar os limites que, a cada dia pareciam mais seus que meus, pois ao mesmo tempo que era prazeroso ao extremo estar com você era igualmente torturante.
A cada dia, cada hora, cada segundo a certeza de que era você quem eu queria ao meu lado, quem eu queria para me guiar pelos caminhos do prazer sexual... Essa certeza só crescia, mas você continuava esperando e eu a provocando de todas as formas que conseguia imaginar. Eu sofria a mais deliciosa das torturas e o que me acalentava era assistir o seu sofrimento que parecia ser ainda maior do que o meu.
Lembra-se da vez que estávamos em seu quarto estudando e eu literalmente comecei a me acariciar tendo você dentro de minha mente? Saístes correndo do quarto e foste beber alguns litros de água, fazendo questão de deixar boa parte daquele líquido escorrer por seu corpo. Causando risos nas mulheres que assistiam a sua doce agonia.
Todas assistiam o seu “doce martírio” divertidas e completamente encantadas com a forma como, segundo elas, eu estava conseguindo dobrá-la. A própria Manu certa noite veio me agradecer, enquanto lhe assistíamos tocar o piano magistralmente, pois por minha causa estavas ficando em casa muito mais do que costumavas ficar. E jamais esquecerei da frase que ela me disse naquela ocasião.
- Obrigada por estar devolvendo a alegria à minha filha! – Aquelas palavras me tocaram tão profundamente que mal consegui conter o transbordar da alegria que preenchia meu ser.
Lembras também de quando tocamos piano juntas, naquela mesma noite, após todas terem ido se recolher e o roçar de nossas peles pareciam causar choques em nós duas? Eu lhe empurrava contra sua promessa e você resistia bravamente, embora eu via em seus olhos o quanto sofrias e me querias.
Aquele nosso pequeno joguinho durou até aquela fatídica manhã, quando cavalgávamos pelos arredores da propriedade Chermont. Você em Atalanta e eu em Penélope, uma égua jovem, filha de Minerva com o potente Apolo, o alazão de Izabelle. Eu a havia ganho de presente, sob o argumento de que não poderia mais montar a sua égua nas próximas competições da Ordem, pois eu teria de defender o meu título e para isso, eu teria de ser iniciada na Ordem o mais breve possível. Meu coração estava aos pulos, pois a minha celebração estava marcada para a noite do Solstício de Verão, que iria acontecer em poucas semanas.
- O que está achando da Penélope? – Você me perguntou assim que a alcancei na corrida.
- Ela é muito boa... Embora precise aprender algumas coisas antes de se tornar uma grande corredora.
- E quanto a sua iniciação? Ansiosa? – Você desmontou Atalanta e fiz o mesmo com Penélope. Sentamo-nos sob um imenso pessegueiro, nos abrigando do calor.
- Bastante. Mas confesso que tenho receio ainda. Li que nenhuma outra mulher foi aceita tão rápido assim e foi direto para a Cúpula. Além de você! – Fiz questão de ressaltar.
- Eu não conto, pois nasci na Ordem! – Você se deitou com as mãos sob a cabeça, a apoiando.
- E realmente não quer reconsiderar a sua participação nela? Mesmo comigo fazendo parte? – Você desviou o olhar e fechou os olhos. Já havíamos conversado sobre aquilo e você parecia resoluta em não fazer parte da Ordem nem tão pouco de assumir o seu lugar de direito.
- Eu... Agora não sei... – Abri um sorriso esperançoso e antes que você pudesse concluir sua fala, galopes rápidos se aproximaram, assustando Atalanta e Penélope que comiam grama ali perto.
- Izabelle? – Dissemos ao mesmo tempo. Contudo ela não estava sozinha. Alba estava com ela.
- Venham rápido. Recebemos um informe de que uma dura perseguição está acontecendo na Normandia. O Martelo está executando mulheres sem nem se darem ao trabalho de um julgamento. Você se ergueu de pronto e percebi seu maxilar trincar e seus pulsos cerrarem.
- Alba... O que você está fazendo aqui? Só lhe esperávamos daqui duas semanas. – Minha ama me olhou com pesar.
- Menina Mel... Tens de sair daqui imediatamente. O seu pai está vindo para Paris atrás de você. Diz que quer conhecer essa Madame Degrasi. Ele deve chegar hoje à tarde. – À medida que Alba falava, meu coração gelava. Senti sua mão segurando a minha com firmeza. Logo estávamos as quatro retornando para o castelo e assim que chegamos lá percebemos que ele estava em polvorosa. Manu no centro do imenso salão demandando ordens e definindo o que deveria ser feito.
- Que loucura é essa mamãe? – Você disse a interrompendo.
- Foi o que a Izabelle lhe disse. Nossas irmãs na Normandia nos avisaram. Estão quase chegando nelas. Precisamos ir para lá imediatamente com os nossos juristas. Já mandei chama-los. Quanto a Melanie... – Manu segurou minhas mãos. – Terás de ir imediatamente para minha casa no centro de Paris.
- Isso é um absurdo! Ela não irá! – Você urrou e literalmente todas as presentes ali estremeceram menos Manu.
- Evelyne... Temos dois problemas para lidar agora e acredite ambos são importantíssimos, mas precisamos ser inteligentes. Nossas irmãs precisam de nós da Normandia. – Você bufou e quase esperneou, pois sabia que Manu tinha razão. E o que quer que estivesse acontecendo lá, seria muito útil a sua presença. – Enquanto isso, Armand está vindo... Isso só pode significar que ele desconfia de algo e precisamos mantê-lo ignorante de onde estamos. – Ela gesticulou com ambos os braços indicando todo o castelo. – Você me olhou com pesar. – Sendo assim, Josephinne irá com ela e se passará pela Madame Degrasi, enquanto eu, Izabelle e as demais, iremos para a Normandia. E... Serias muito benvinda se quiseres. – Ela lhe estendeu a mão com certo temor.
- Mas eu não posso deixar a Melanie sozinha... Eu fiz uma promessa... – Todas se olharam surpresas, inclusive Alba que percebeu que algo havia acontecido nos dias que passou longe de sua senhora.
- Minha querida Eve... – Virei-me diante de você, ignorando todas as pessoas que estavam ali. – Sabes e sentes o que tens de fazer. Eu ficarei bem... Além do mais a Alba está comigo. – Pisquei um olho para a minha ama. – Acredito que ele apenas quer me ver. Não se preocupe comigo. – Tentei parecer segura e confiante, mas sentia em meu intimo que algo ruim estava prestes a acontecer.
Seguimos todas as ordens de Manu e em poucos minutos eu já estava numa carruagem rumo ao centro de Paris, tendo as companhias de Alba e Josephinne. Ainda pude lhe ver ao longe, enquanto os cavalos e as carruagens eram preparados para a partida de vocês. Agarrei-me às suas ultimas palavras.
“Nos veremos muito em breve!”
Vi no semblante de Alba a exasperação e isso ficava evidente na forma como ela exigia que o cocheiro fosse rápido. Para a nossa sorte não tinha chovido há a alguns dias e a estrada estava firme, possibilitando que alcançássemos uma boa velocidade. Chegamos logo após o almoço ao palacete Degrassi e entramos as pressas.
- Corra para o quarto Srta Mel... Precisa se lavar, pois estais suada e tens grama e areia pelo corpo. – Josephinne demandou enquanto anunciava às surpresas governantas o que estava acontecendo ali. Alba veio comigo e tratou de preparar o meu banho que teria de ser com água fria. Não me importaria. Enquanto me despia eu pude ver pela janela a aproximação de duas carruagens que desciam a travessa Du Valle.
- Ele está chegando! – Corri até o lavabo e me joguei na banheira, com a minha roupa de baixo mesmo.
- Termine seu banho minha senhora, eu vou descer e recebe-lo. Deixei um vestido aqui na sua cama! – Alba me disse já saindo pela porta. Mal percebi o choque da água quase gelada provinda dos poços profundos daquele palacete. Apressei meu banho e pude ouvir a voz irritante de meu pai no andar de baixo. Ele parecia mais exaltado do que o normal. Terminei meu banho de forma improvisada e quando eu me vestia ouvi o barulho de algo caindo ao chão sendo quebrado.
Seguiram-se gritos estridentes que eu identifiquei ser da Josephine depois o silêncio brutal. Senti um pavor absurdo ao ouvir passos vindo em direção ao meu quarto. Eu segurava meu vestido, pois não conseguia fechá-lo sozinha. Num rompante, meu pai invadiu meu quarto seguido por Françoise e mais dois de seus homens.
- Papai! – Me sobressaltei olhando ao redor.
- Olá minha filha. Saudades? – Ele sibilava e destilava seu veneno.
- Que surpresa papai. Não o esperava... – Não sabia se deveria ou não mentir.
- Poupe-nos... Sabias muito bem de minha vinda. Aquela sua ama veio correndo lhe avisar... Contudo, de nada vai adiantar, pois vamos retornar a Nice de qualquer maneira.
- Vamos? – Estremeci.
- Sim... Vim busca-la. E... Nem pense em resistir, pois vais por bem ou por mal! – Ele se virou e me encarou com firmeza.
- Não irei a lugar algum com você! – Juntei coragem e deixei as formalidades de lado. – O meu lugar não é mais em Nice com você. – Tentei fingir tranquilidade enquanto fechava minha roupa. – E só para constar... Eu não vou mais me casar! – Disse com desdém.
Após um breve silêncio eu ouvi um dos piores sons e aquele que tinha o poder de me aterrorizar. A gargalhada dele. Ele ria loucamente do meu desafio.
- Menina tola... Pensas que tens vontades? – Ele estalou os dedos e seus dois homens partiram para cima de mim e me agarraram pelos braços. Com uma habilidade que eu até então não havia utilizado, me desvencilhei de ambos, deixando um delas desacordado ao chão. Mal tive tempo de me vangloriar, pois senti algo sendo pressionado contra a minha boca e nariz. Françoise me segurava por trás e esfregava um tecido embebido em alguma substância que roubou parte de minha consciência, me fazendo não ter mais noção de meus movimentos.
Fui sendo arrastada pelas escadas e a realidade ia e vinha como se a claridade sumisse e voltasse. Quando passamos pela sala eu tive a terrível visão que me estarreceu. No chão jaziam as duas governantas e a Josephinne, em meio a uma poça de sangue. Era uma verdadeira cena de carnificina. Aquela visão me vez desmaiar e mergulhar na inconsciência definitivamente.
******
- Srta... Gostaria de mais um travesseiro? – Cosima se assustou com o leve toque da comissária em seu ombro. Estava tão compenetrada na leitura que nem percebera que estava numa posição desconfortável. A morena piscou os olhos várias vezes e olhou ao redor. O silêncio do voo indicava que ainda estava longe do pouso. Apenas aceitou a oferta com um sorriso educado e virou para focar na mulher que repousava diante de si.
Delphine dormia pesadamente, indicando que estava realmente cansada e precisando daquelas horas de descanso. Pensou em sentar-se perto dela para lhe acompanhar num cochilo.
- Quanto tempo ainda nos resta? – Questionou à Comissária.
- Pouco mais de quatro horas. O tempo não está muito bom em Dublin. – Ela a informou. Agradeceu e recusou qualquer outra coisa que ela me ofereceu. Não estava com fome nem com sono de fato, era apenas uma espécie de fadiga mental. Pensou que fosse devido a pesada e densa leitura, mas descartou aquela hipótese, contudo tinha a ver indiretamente com ela, pois a carga emocional demandada por ela era grande demais e a sua conexão com toda aquela história lhe impelia.
Voltou a olhar para o sereno rosto da mulher que amava diante de si. Deixou seus olhos viajaram pela face de traços perfeitos e harmônicos. Como se houvessem sido esculpidos por deuses. Contemplou a força e a delicadeza contrastante que provinham de Delphine. Sua altivez, certa soberba e aquela pitada de arrogância que compunham sua peculiar personalidade. Sorriu de canto de boca e voltou-se para o livro em sua mão. Não continuou de onde estava, pois procurava outra coisa, uma passagem mais no inicio daquele relato. Mais precisamente no dia em que Melanie viu a Evelyne Chermont pela primeira vez. E lá estava uma descrição que caberia muito bem a sua Del. Arregalou os olhos e permitiu que uma ideia delirante viesse à tona.
“Parecidas demais!” Pensou levando uma das mãos a boca. “Loucura Cosima... Pare de pensar bobagens...!” Riu de si mesma e recostou-se em sua poltrona. Agradeceu mentalmente a gentileza da comissária, pois suas costas já estavam prestes a protestar pelas horas em uma posição desconfortável. Voltou para o ponto da leitura onde havia parado, pois estava ansiosa demais em saber o que havia acontecido com Melanie, após ser levada por seu maldito pai.
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Quando recobrei a consciência vi que já era noite e que eu estava deitada em meu quarto em Nice, deitada sobre o colo de Alba. Isso me causou um profundo alivio, pois eu temia pela vida dela já que havia visto que as mulheres do palacete Degrasi foram mortas.
- Alba... O que está acontecendo? – Só então vi que ela possuía hematomas no rosto e um dos braços estava pendurado por um lenço que pendia de seu pescoço. – Você está bem?
- Não é nada criança. Nada com que eu não esteja acostumada. – Ela riu sem vontade.
Eu ainda me sentia nauseada devido à substância que havia inalado e minha cabeça latej*v* como se fosse explodir. Levantei-me com cuidado para não magoar os ferimentos da Alba. Odiei ainda mais o meu pai, pois ele voltou a machucar a Alba e aquilo havia sido por minha causa.
- Mas... Porque ele agiu dessa maneira? Alba... Ele matou aquelas mulheres? – A outra desviou o olhar e focou a janela, com os olhos marejados.
- De alguma maneira ele descobriu que você estava com a Ordem. – Aquela informação me preocupou demais. – Acredito que ele deve ter espiões em Paris. Contudo, acho que não sabem do Castelo Chermont nem tão pouco de Manu, mas...
- Mas? – Senti meu estômago revirar com a ansiedade da resposta que estava por vir.
- Não sei como... Mas acho que ele sabe do seu... Envolvimento com a Evelyne. – Minha cabeça girou e precisei me recostar na cama.
- Como?
- Logo após chegarmos, ele me... Questionou sobre e eu neguei – Ela me olhou sugestivamente, indicando que aqueles machucados foram o resultado desses questionamentos. – Porem, ouvi uma das outras Amas sussurrando para ele o que havia ocorrido no Lys Blancs e ele surtou.
- Merde! – Levantei-me da cama desesperada. Eu temia que com aquilo, ele não me deixasse mais sair de casa tão facilmente assim, e só em cogitar a ideia de ficar longe de você me fazia perder a noção.
- E tem mais... – Alba prosseguiu. Eu a olhei apreensiva e engoli em seco. – Ele marcou o seu casamento para daqui há três dias, ou seja, na próxima sexta. – Eu cambaleie para trás e me apoiei em minha mesinha. Minha cabeça girava mediante o terror daquela notícia. Sei meu amor, que não deveria me desesperar, pois em meu intimo eu confiava na promessa que me fizeras, mas estavas tão longe que me permiti consumir pelo desespero de imaginar estar com o Duque e jamais voltar vê-la. Não poderia deixar aquilo daquela maneira. Não aceitaria sem lutar. Sai de meu quarto a procura de meu pai, mesmo sob o protesto de Alba. O encontrei na sala, conversando com Françoise e outros homens que eu não conhecia. Todos contemplavam uma das amas que tocava cravo para eles trajando roupas pouco convencionais.
- Papai... Não vai haver casamento! – Irrompi na sala sem dar importância alguma a quem estivesse ali. Ele ergueu a cabeça e me olhou sorridente.
- Vejo que já está recuperada! Fico satisfeito! – Ele sorriu cinicamente.
Ah, como eu odeio esse sorrido dele!
- Mas acredito que lhe eduquei de forma decente para que cumprimentes os meus convidados. Esses são... – Eu estava tão alterada que confesso não ter registrado na hora os nomes deles, mas se tratavam dos irmãos Manfred e Hans Hoff, aqueles que conhecemos como “Os Gêmeos Sagrados”, o braço do Martelo na Alemanha e Balthazar Turner, arcebispo inglês e um dos responsáveis pela famigerada perseguição às nossas irmãs no Reino Unido.
- Deixarei as formalidades para um outro momento. – Fiz questão de ignorá-los. – Meu assunto é com o senhor. Quem lhe deu o direito de me raptar de onde eu estava em perfeita segurança e por vontade própria? – Percebi o sorriso se fechar no rosto dele e a minha súbita coragem pareceu titubear.
- Eu tenho o direito sobre você! Sobre o seu corpo e o darei a quem eu bem entender! – Ele se levantou da cadeira e deu dois passos em minha direção. Tentei manter a minha firmeza. – E irás se casar com O homem que eu desejar! – Ele disse cada palavra com denotada intensidade, atribuindo-as o significado desejado. – Casarás sob as leis de deus! – Ele apontou para o alto e eu revirei os olhos... – Pois filha minha, carne de minha carne, não pode ser uma... Uma... ABERRAÇÃO! – Ele cuspiu aquela ultima palavra e eu soube exatamente a que ele estava se referindo. – E vamos discutir em outro lugar. Meus convidados não precisam ser expostos aos seus caprichos. - Ele cerrou o maxilar.
Girei e dirigi-me para a sala de pintura e costura que ficava na lateral. Eu estava tão irritada que a abri com violência, mergulhando ali dentro tendo um nó pressionando minha garganta, mas eu não pretendia chorar diante dele. Mas meu pavor me traia e lágrimas começaram a despencar. Ele veio atrás de mim, ainda mais irado, pois eu o havia feito passar vergonha diante de seus amigos. Contudo, se eu já estava afundada naquela situação, o que mais tinha a perder.
- Quer dizer então que sou uma aberração papai? – O provoquei.
- Se depender de mim nunca serás... É por isso que jamais irás encontrar com aquelas mulheres outra vez! – Havia desdém na voz dele. Aquela ameaça real me apavorou. Eu não saberia mais viver longe da Ordem e muito menos longe de você. – Especialmente com aquela abominação... – Ele gesticulava e bufava como um louco.
- Essa “abominação” a que o senhor se refere tem um nome. Evelyne Chermont! – Então eu o vi estremecer. Foi de leve, quase imperceptível, mas eu vi. Ele tinha medo de você e aquilo me encheu de uma profunda esperança e alimentou a minha coragem. – E é com ela que passarei o resto da minha vida! – Disse em um único fôlego.
-Heresia! Aquela mulher é uma devassa, uma pecadora! Fique longe dela! – Ele estava possesso e eu repleta de uma coragem nunca antes provada por mim.
- Ela é a minha vida! Eu a amo! – Disse sem pensar, apenas sentindo. E aquelas palavras o atingiram com violência, deixando-o incrédulo. Pude ver o tom vermelho do rosto dele se acentuando e então ele partiu para cima de mim, com a clara intenção de me bater, mas não recuei e então senti o ardor da pele fria da mão dele contra o meu rosto.
******
- Como isso é possível? – Cosima se questionou em voz alta. Acabara de ler mais uma passagem do diário com a qual já havia sonhado. E fora aquele estranho sonho em que pareceu sentir o calor do tapa que Melanie recebeu. Sua confusão era evidente.
- Está tudo bem Cos? – A conhecida voz de Delphine lhe chamou a atenção. Ela acabara de acordar após o anuncio de que estavam prestes a aterrissar e que enfrentariam uma série de turbulências. – Algum problema com a leitura? Algo não ficou claro? – Se preocupou. Cosima olhou para o diário em mãos e depois para sua amada. Ponderou por alguns instantes se realmente deveria contar-lhe o que estava acontecendo, sobre seus sonhos e sentimentos. Cogitou a loucura que parecia, mas ao mesmo tempo, pensou em tudo de extraordinário que estava vivenciando.
- É que esses relatos... Essas memórias... – Delphine enrijeceu sua postura, certa que o tão aguardado momento estava prestes a chegar. – É como se eles fossem... Meus! – A emoção atingiu a loura em cheio e lágrimas começaram a se formar em seus olhos.
- Cos... – Subitamente as luzes da cabine do jatinho se apagaram e uma brusca queda fez com que Cosima soltasse um gritinho assustado. Os raios dos relâmpagos clareavam o interior do avião e os trovões causavam um tremor na pequena estrutura.
- Apertem os cintos Srtas. O tempo não está muito bom em Dublin. Parece que suspenderam os pousos. Teremos de ficar aqui em cima um tempo. – Anunciou a comissária.
- É sério? – Cosima arregalou os olhos após ajustar os óculos no rosto.
- Calma Cos! – Delphine saiu de seu assento e sentou-se ao lado dela. - Logo logo essa tempestade irar parar. Não se preocupe. – Segurou a mão dela na sua e olhou pela janela. – Mas tens de admirar a beleza da tempestade Cos.
- Oh... Eu admiro, mas não estando no meio dela e a milhares de metros de altura em um avião. – Cosima respondeu com seu senso de humor peculiar. Mas de fato a tempestade estava intensa e elas precisavam pousar com urgência, tanto devido ao combustível, quanto pelo que as esperava em solo.
- Então veja... Perceba que os trovões e raios estão ficando mais espaçados. – Cosima contava mentalmente e sua amada estava certa. E logo as densas nuvens começaram a se dissipar. Ela se virou para encarar Delphine e essa estava com um olhar concentrado, mas com um leve sorriso nos lábios.
- Você não... – Cosima não conseguiu concluir seu questionamento, pois fora interrompida pela voz do comandante anunciando que estavam com o pouso prioritário autorizado. A morena achou aquilo estranho, mas resignou-se, pois percebeu a mudança no semblante de Delphine. A viu respirar fundo e se recompor, como se estivesse se preparando para enfrentar algo.
Sem mais demoras, pousaram em Dublin sob uma pesada garoa e Cosima pode ver pela janela que o avião taxiava para dentro de um hangar mais afastado do prédio do aeroporto e luzes vermelhas piscavam lhe alertando.
- É uma ambulância? – Questionou retoricamente.
- Infelizmente sim. – Delphine respondeu já se pondo de pé e com o semblante preocupado. A porta foi aberta e logo ela desceu, contudo parou na metade da escada e virou-se para Cosima. – Preciso que me espere no avião. – Ela falava muito sério.
- Você só pode estar brincando comigo! Não a deixarei passar por nada disso sozinha. Vejo que é algo muito ruim e quem eu seria se não estive ao seu lado para apoiá-la? – Delphine a olhou de baixo pra cima, completamente comovida e grata por ter Cosima em sua vida. Finalmente seu grande amor estava ali, diante dela e sob a forma mais extraordinária possível. E como ela iria participar muito em breve de tudo aquilo, mais cedo ou mais tarde ela iria lidar com situações como aquela. Que seja mais cedo então. Estendeu sua mão e tomou a dela, a puxando com cuidado.
Ambas caminharam em direção a um pequeno tumulto de pessoas. Havia duas ambulâncias paradas ali e outro jatinho, que servia como ambulância também estava lá e com as turbinas desacelerando ainda, o que indicava que havia acabado de chegar. Ao longe Delphine avistou Siobhan e Genevieve e elas conversavam com outra mulher.
- O que porr* ela está fazendo aqui? – Delphine praguejou e partiu para cima de Joana assim que a identificou. A mulher negra assustou-se e recuou alguns passos completamente subjugada pela imponência colérica da loura.
- Calma Delphine. Ela está conosco. – S intercedeu, antes que a loura pudesse perder a cabeça e o controle.
- Como assim? – Olhou confusa para S.
- Foi isso que você ouviu e eu também duvidei a princípio. – Helena se aproximou delas. Tinha uma bolsa de gelo pressionada contra o rosto e sua mão esquerda estava enfaixada.
- Helena! O que aconteceu com você? – Delphine tocou os dois braços de sua protetora com carinho e desespero. – Alguém, por favor, poderia me dizer que merd* aconteceu? – Todas ali se olharam, só então se deram conta da figura que as observava mais afastada. Cosima apertava uma mão contra a outra e balançava uma das pernas, num característico sinal de nervosismo.
- Olá Srta Niehaus! – Siobhan a cumprimentou e voltou seu olhar reprovador para Delphine, como se a questionasse silenciosamente o que a outra fazia ali.
- Não se preocupe. A Cosima está aqui com a minha autorização. – Usou um tom que não permitia mais nenhum questionamento e com um gesto, a chamou para mais próximo.
- Olá Sra. Sadler. – Respondeu gentilmente e acenou timidamente para as outras.
- Lamento, mas as apresentações terão de esperar. – Siobhan retomou a fala.
- Muito bem. Na ligação a Helena me disse que algo havia acontecido com a Susan... – Delphine deu inicio a fala que as levou até ali e interrompeu o seu final de semana com Cosima.
- Isso mesmo Del! – Helena confirmou e olhou de canto de olho para Cosima. Ainda não tinha certeza se ela deveria ou não estar ali. – Joana, aparentemente é uma informante da S! – Cruzou os braços e fez questão de não olhar para ela. – E nos procurou trazendo a informação de que Susan fora sequestrada por Paul e os homens do Martelo, no sábado, durante a Ópera.
- SÁBADO?! E eu só sei disso hoje? – Delphine exaltou-se e a garoa lá fora se converteu numa tempestade torrencial. Todas se calaram, completamente acuadas por ela, exceto S.
- Eles fizeram parecer que ela estava bem Delphine. E de fato só soubemos que ela estava em poder deles há três dias, quando a Joana me procurou. – A poderosa Mestra da Ordem andava de um lado para o outro e bufou ao olhar para Joana. – Depois eu explico isso, o que importa agora é a Susan. – S disse com pesar.
- Onde ela está? – Delphine a questionou. S indicou uma das ambulâncias com o rosto.
- Venha! – S a guiou e ela gesticulou para que Cosima fosse junto. Ela foi, mas preferiu não se aproximar tanto da ambulância. Assim que Siobhan e Delphine subiram no veículo, a loura levou ambas as mãos á boca.
- Pelas deusas! Susan! – Sentou-se ao lado da maca e com a mão tremula tocou o braço da mulher que estava deitada. O corpo repleto de machucados e queimaduras e vários pontos machados de sangue. O rosto estava praticamente irreconhecível, devido aos inchaços e aos hematomas. Ela estava com uma mascara de oxigênio e gemia. – O que fizeram com você minha irmã? – Acariciou o cabelo branco dela que estava bastante sujo de sangue. – Porque S? Porque fariam algo assim com a Susan? O Lamartine perdeu completamente a noção!
- Você realmente não faz ideia do por quê? - S a questionou com firmeza. Delphine inclinou a cabeça de lado e abriu a boca, mas nada saiu de lá.
- O Lamartine a interrogou... Ele estava desesperado para saber algo dela... Algo relacionado a você e a ele. – Joana se aproximou da porta da ambulância. – Delphine baixou a cabeça e cerrou os punhos sobre as próprias pernas.
- Não se preocupe Delphine. A Susan conseguiu me dizer que não contou nada a eles sobre A Profecia!
- Que profecia? – Cosima questionou do lado de fora da ambulância. Helena, Genevieve e Siobhan focaram em Delphine.
- Eu não tive tempo de conta-la. – Disse de cabeça baixa, com a testa apoiada nas mãos. O som descompassado do medidor dos batimentos cardíacos de Susan alarmou todos.
-Temos de leva-la para o hospital. – Disse o socorrista, mas após olhar para Delphine ele ficou enrijecido e concordou com um aceno de cabeça. – Sim Sra. – E dirigiu-se até o volante do veículo.
- Eu vou aqui com a Susan, venha comigo S. – Delphine anunciou. – Helena leve a Cosima e a Genevieve com você. Exceto a Joana! – A mágoa e a desconfiança ainda faziam-na não acreditar tão facilmente na bondade daquela mulher.
- Tudo bem! Preciso retornar antes que desconfiem ainda mais de mim. – A morena disse já se afastando e tocando o braço de Helena, que o puxou em seguida.
- O que de fato aconteceu S? – Delphine questionou assim que as portas se fecharam e ambulância deu partida.
- De alguma maneira, o que quer que esteja acontecendo com você também está acontecendo com ele.
- Você se refere à imortalidade? – Disse em tom de cochicho.
- Isso mesmo Delphine. A Maldição e a Profecia os ligam de uma forma única. Então eu presumo que, ao contrário de você, ele não deve estar muito contente com isso. E quer, a todo custo, saber o que está acontecendo. Está tão desesperado que ousou algo que poderia ser impensável. Atacou diretamente um membro da alta cúpula da Ordem. – Delphine ouvia a tudo consternada. Sua cabeça estava mergulhada em um verdadeiro caos, porém, algo gritava mais alto que toda a confusão dentro de si. A preocupação com Cosima.
- Ela está correndo perigo S! – Ela disse com um filete de voz.
- Sempre esteve minha querida! – S a tocou gentilmente. – Mas acredito que ainda possamos protegê-la, pois ele não conseguiu informação alguma com a Susan. – Ambas olharam para a mulher deitada diante delas que parecia agonizar, então perceberam que ela tentava erguer a mão e leva-la até a boca. Como se quisesse retirar a mascara.
- Calma querida. Tenha cuidado. – Delphine inclinou-se sobre ela, - Deixe-me ajuda-la. – Retirou a máscara para que ela pudesse dizer algo.
- Me... Me... Pe... Perdoe... Minha... Senhora... – Ela balbuciava com extrema dificuldade.
- Não se esforce Susan. Vai ficar tudo bem. – S tentava tranquiliza-la. Mas a mulher estava se agitando.
- Não se desculpe Susan. Descanse agora. – Delphine disse.
- Me... Perdoe por não ter sido forte o suficiente. – As palavras pareciam que sugavam suas forças. S e Delphine tentavam controla-la, mas ela não parou. – Profecia... Não falei...
- Eu sei Susan... Você foi muito corajosa! – Delphine acariciava sua cabeça. Lágrimas escorriam pelo deformado rosto da mulher.
- Mas... Mas... Amor! – Delphine sentiu seu sangue gelar e setas lhe cortarem as entranhas. – Eu falei... Grande Amor... – E com essa ultima fala o bipe constante da máquina indicava que algo de ruim estava acontecendo.
Delphine a soltou e se afastou para que a socorrista que ia ali com elas fizesse seu trabalho, tentando traze-la de volta. Contudo, Delphine assistia toda aquela cena como se ela se desenrolasse em uma outra dimensão, pois só conseguia pensar nas palavras finais de Susan. “Grande Amor”!
- Delphine! Delphine! – S chamou sua atenção e ela se virou e encontrou o rosto de sua irmã de Ordem com lágrimas que escorriam copiosas. Focou na socorrista que acenou negativamente com a cabeça enquanto guardava as pás de choque.
- Não! Não! Não! Susan! – Debruçou-se sobre ela.
Susan havia partido no exato instante em que chegaram à sede da Fundação Ártemis.
Na entrada principal, algumas mulheres as esperavam e assim que as portas da ambulância se abriram e S saiu balançando a cabeça negativamente, a comoção atingiu a todas.
Poucos instantes depois o carro de Helena parou ao lado da ambulância e assim que as três desceram viram aquela cena. Cosima correu até a porta da ambulância e encontrou Delphine lá, com o olhar perdido. Deu espaço para que retirassem a maca com a Susan e a levassem, mesmo sem vida, para o interior daquele casarão. Subiu na ambulância e sentou-se ao lado de seu amor. Segurou-lhe a mão, na tentativa de que com aquilo, pudesse partilhar ou aliviar um pouco da dor que ela pudesse estar sentindo naquele momento.
- Sinto muito! – Disse gentilmente. Finalmente Delphine piscou duas vezes e a olhou nos olhos. A abraçou com intensidade e chorou copiosamente. Era o mais doloroso dos choros, contudo ele não se devia apenas a morte de sua irmã... Esse fato a estava dilacerando por dentro, contudo, o que a estava levando a beira do desespero era o que ela previa. O que estava por vir.
Desceram da ambulância e seguiram o silencioso cortejo para dentro da Fundação. Foi então que aquele silêncio sepulcral fora quebrado.
- Delphine! Delphine! – Uma doce e infantil voz, chamou a atenção de ambas às mulheres. E assim que passaram pela porta viram uma pequena figura loura correndo, vindo em direção a elas. Era Manu, que se jogou nos braços de Delphine e quase a sufocou com um apertado abraço. – Eu estava morrendo de saudades. Porque você nunca mais veio aqui? Quando vou á Paris com você? Ei, porque você está chorando? – A energia daquela criança não havia diminuído em nada.
- Oi Manu. Não é nada! – Enxugou as lágrimas. De fato, aquele abraço acolhedor pareceu um sopro de alivio sobre um ferimento aberto. – Também estava com saudade de você. O que tens feito por aqui? – Delphine a colocou no chão e abaixou-se diante dela.
- Estudado muito. Passo muito tempo na biblioteca. Acredita que aprendi a falar latim e inglês? Ah... Também tô aprendendo a andar de cavalo. Mas... – Olhou por sobre o ombro de Delphine e alcançou Cosima, que estava mais atrás e assistia aquela inusitada cena encantada. – Quem é ela? – Contornou Delphine e parou diante da outra mulher a encarando com seriedade. – Eu a conheço! – As duas mulheres se olharam surpresas!
______
- Grande Amor! O que porr* significa isso? – Lamartine urrava em meio aos seus homens que acabaram de ser escorraçados por ele após terem permitido que um pequeno grupo de mulheres invadisse aquela instalação e resgatasse sua prisioneira. – Tudo o que consegui dela foi essa frase maluca e vocês me perdem aquela que poderia me falar mais? – Outro pobre coitado foi lançado longe sem se quer ser tocado por ele.
- Elas tiveram ajuda de dentro, só pode senhor! – Ferdinand tentava se desculpar, pois foram seus homens que fracassaram mediante a investida das mulheres da Ordem.
- Está querendo tirar o seu da reta Ferdinand? – Paul divertia-se com o fracasso do outro.
- CALADOS! – Lamartine urrou enquanto assistia as cenas das câmeras de segurança que mostravam como seus homens foram facilmente dominados por Siobhan e Helena. – Eu preciso descobrir o que essa merd* de Grande Amor significa. Onde diabos você estava Joana?
- Já lhe disse senhor, em Lisboa seguindo uma pista fria da Helena. Ela não estava lá. Como podemos ver! – A mulher indicou a imagem na tela.
- Isso é o que você diz. – Paul duvidou dela. – Até onde sabemos você bem que poderia ser uma espiã aqui dentro.
- Quer que eu lhe mostre as passagens? – Defendeu-se.
- Não será necessário! – Lamartine intercedeu. – BOSTA! Precisamos descobrir o que essa porcaria de Grande Amor quer dizer. E não poderemos mais nos dar ao luxo de tentar capturar outra delas. Agora elas estão alertas. – Olhou com desgosto para Ferdinand.
- Acho que teremos de lançar mão do SEU informante papai. – Paul anunciou, o que deixou Joana completamente atenta. Então havia um informante de Lamartine próximo a Delphine.
- É... Não vejo outra solução. – O homem parou no meio da sala e segurou seu celular em mãos. Enquanto buscava o numero desejado, caminhou até uma cadeira e sentou-se cruzando as pernas. – Após vários toques, a ligação foi atendida. – Pensei que não atenderia minha ligação!
- De maneira nenhuma Senhor, eu estava no banho. – A pessoa do outro lado da linha respondeu.
- Bom, chegou a hora de você me ser mais útil do que nunca! Preciso que me digas quem é o Grande Amor de Delphine Cormier! – Desligou.
Do outro lado da linha uma mão tremula segurava o celular enquanto a tela se apagava. Um pedido havia sido feito. Havia uma dívida de vida ou morte em jogo e uma decisão precisava ser tomada.
Jogou o celular no sofá justamente quando ele recomeçou a tocar, sobressaltou-se, achando que poderia ser o seu senhor lhe ligando novamente. Olhou com receio, mas para a sua sorte não era. Viu a foto de um querido amigo na tela e o atendeu.
- Alô Marc, o que mandas para hoje?
- Apronte-se, pois estarei passando ai em instantes para cairmos na noite. – Ele disse do outro lado da linha. Pensou que seria boa aquela distração para lhe ajudar a pensar um pouco.
- Não sei Marc...
- Nem pense nisso. Precisas esquecer aquele cara que não te valorizava. E Louis, não aceito recusas! Até já!
Fim do capítulo
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Maisqnada
Em: 08/05/2018
Mentira!!!!!Um dos amigos de Cos é informante???
E essa Manu, vejo grande importância nela ..
Amando a Fic ...
Eu nunca tinha visto a série, fui procurar saber depois de começar a ler aqui rsss.
Resposta do autor:
Ola... fico muito feliz que tenha despertado em você o desejo de ver a série por causa de minha história. Sou muito fã dela, embora tenha pego pouquissimas referencias para a fic.
Caso querias conversar sobre a fic ou sobre a série, sinta-se a vontade para me add no face, Segue o link
https://www.facebook.com/profile.php?id=1223930183
Xeros
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Flor de Liz
Em: 08/05/2018
Genteeee vou ter uma crise de ansiedade até o próximo capítulo!
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Gabii
Em: 07/05/2018
Estou em choque com esse final. Agora as coisas vão começar a ficar sérias. Tô até com medo dos próximos capítulos.
Só agora eu me dei conta de que a menina Manu pode ser a mãe da Delphine. Posso estar errada, mas ela sabe de tanta coisa, tem um poder sobrenatural, tem grande estima pela Delphine e agora reconheceu a Cosima.
Fico imaginando se ela também irá se juntar com a Delphine para lutar contra o Lamartine. Não sei, mas seria interessante uma ''criança'' superpoderosa derrotando os inimigos kkk
Resposta do autor:
Realmente esse final nos deixa imaginando mil coisas e temendo tantas outras... Afuardemos.
Quanto a pequena Manu, sim... Ela tem relação com a Manu original... E de fato ela é poderosíssima. Vejamos o que nos espera.
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