Capítulo 2
Clara
Os dias da semana que trabalhava na loja eram os piores ( preferia quando era escalada para o fim de semana), nunca vinha ninguém, e quando vinha era os idiotas que infelizmente passava boa parte do meu dia. Você deve estar se perguntando como consegui esse emprego, a dona está pouco se lixando quem trabalha para ela, já que não é da cidade e só vem na loja de quinze em quinze dias, e foi nesse golpe de sorte que acabei sendo entrevistada por ela, que me contratou, mesmo achando meu estilo estranho, disse que poderia chamar mais adolescentes estranhos (ela nos considerava todos iguais). Mas tenho que falar que a gerente, essa sim morava na cidade , não gostou nem um pouco da surpresa. Ainda não sei porque estou empregada, com certeza ela reclamou, mas tenho a teoria que ninguém quer trabalhar nessa loja por esse salário de merd* que pagam. Assim como meu pai que também não é mandado embora, já que ele era o mecânico da fábrica antes de tudo acontecer e conhece aquele maquinário como ninguém, e se ele fosse despedido, ninguém faria o mesmo trabalho pelo salario dele.
Janice lixava as unhas no balcão , e eu entediada ouvia Led zeplin pelo fones discretamente na porta da loja ,enquanto observava o único corredor da pequena galeria em que ficávamos situados. Tinha uma loja de sorvete, uma cartomante e uma livraria que só deus sabia como se mantinha de pé ainda.
Foi assim que fui a primeira a vê-la, ela entrava distraída olhando as outras lojas, estava sozinha. Mais uma vez um livro na mão, a mochila no ombro, estava de óculos de grau, e por incrível que pareça conseguia ficar mais bonita, deixava aqueles olhões azuis maiores. Ela estacou quando me viu, nossos olhares se encontraram e starway of haven se tornou a nossa trilha sonora.
Ela desviou os olhos e entrou na livraria ,eu...fiquei idiotizada por ela.
Entrei para loja, não conseguia mais pensar em nada, era a primeira vez depois de um mês que ela voltara, que nos olhávamos, que nos reconhecíamos. Meu coração disparou, minha mãos suaram, vejo Janice me olhando feio, e já sei que é cliente. Tiro os fones , respiro fundo e me viro para atender mais um cliente "gentil" dessa cidade do inferno. E fico petrificada, ela está parada na entrada, parecendo indecisa se entra ou sai. Nossa como ta linda , a saia que usa e daquele tipo hippie, sabe florida e rodada, caindo até quase os pés, uma blusinha de alça branca deixando mostra o decote, me forço a olhar para seus rosto. Janice cochicha nervosa, detesta falar comigo:
- vai atender a menina caramba.
Eu saio do lugar, tento sorrir mas parece mais uma careta, desisto. Chego perto, consigo sentir o perfume doce dela, detesto cheiro doce, mas naquele momento parece o melhor cheiro que já senti, pergunto com a voz baixa desviando o olhar:
- boa tarde, como posso ajudar?
Ela demora a responder, mesmo assim não olho.
- oi Clara.
Não sei como descrever a emoção que sinto naquele instante, meu nome falado naquela voz suave, fecho os olhos por um momento e depois a encaro, ela está sorrindo tímida. Os dentes brancos e alinhados, eu não consigo sorrir, apenas aceno com a cabeça. O dela vacila e se apaga. Então decidida ela entra na loja, começa a percorrer as prateleiras, onde tem de tênis esportivos a sandálias. A loja e a única da cidade, e isso foi um fator positivo para manter meu emprego também, por mais que eles detestassem ser atendidos por mim, não se dariam ao trabalho de viajar duas horas até a próxima cidade. Ela continua a busca não sei do que, e eu continua minha busca por ela. Reparo que ainda sou mais alta, mas dois centímetros no máximo, se nos beijássemos não precisaria abaixar a cabeça. Afasto imediatamente aquele pensamento, ela se vira e pergunta :
- pode pegar o numero 37 por favor, quero verde se tiver.
Me aproximo novamente, ela aponta uma sandália de dedos, bonita e que combina perfeitamente com ela, balanço a cabeça assentindo. E saio para o deposito para buscar a sandália, mas não deixo de notar o espanto de Janice quando Pietra havia pedido por favor. Ninguém se dirigia a mim com tanta educação.
Tirei alguns minutos para me acalmar, achei o número e a cor, quando voltei Janice apenas pegou a bolsa e saiu para o almoço, me deixava só no caixa porque havia uma câmera, é claro.
Ela estava sentada em dos pufes que havia no meio do salão, seus olhos percorriam o livro que ela deveria ter comprado na livraria , espiei a capa. Era um clássico, Orgulho e Preconceito da Jane Austen. Me ajoelhei para colocar a caixa no chão e não sei como as palavras saíram da minha boca:
- não se cansa nunca dele, lembro que seu antigo exemplar vivia amassado.
Seus olhos se abrem em surpresa, não sei se porque me dirigi a ela espontaneamente ou pelo o que falei, imediatamente minha cara queima de vergonha. Tiro as sandália da caixa e as entrego para que ela experimente. Me levanto e me afasto , enquanto ela começa a desafivelar a sandália que usa, e não posso deixar de notar os pés lindo que tem , ela fala:
- dei o meu de presente, precisava de outro. E não, nunca me canso dessa história, ela é perfeita, a autora descreve o amor tão puro e cheio de reviravoltas.
- e não se esqueça da crítica social é claro.
Ela me olha de novo surpresa:
- você leu?
Sim eu tinha lido, mas menti:
- assisti ao filme.
Ela deu um sorriso zombeteiro, e mais uma vez se concentrou no que estava fazendo:
- claro, ler ainda não é sua praia.
- não é.
Era verdade, eu só havia lido os títulos que me lembrava que ela tinha, me fazia sentir mais próxima dela, e com a voz tentando parecer desinteressada pergunta:
- e qual sua praia hoje?
- sobreviver mais um dia.
Também não era mentira.
Ela se assusta com a resposta, acho que ela queria saber o que eu gostava de fazer, mas para que?! Para no dia seguinte ela me ignorar de novo. Preferiria manter as coisas como estavam.
Ela se levanta e vai até o grande espelho que tem na loja, levanta a saia quase até as coxas para admirar o calçado, não posso deixar de notar que tem pernas finas, mas bem torneadas em um tom de dourado. Percebo que ela me pegou olhando para as pernas dela, de novo minha cara arde.
- gostei, vou leva-las.
Devolve as sandálias para a caixa, e enquanto recoloca as suas , vou fazer todos os tramites para ela pagar. Agradeço internamente a comissão, aquele era um dos modelos mais caros. Quando entrego a sacola, nossas mãos se encostam. Eu sinto um choque, estranho. Quando éramos mais novas nos encostávamos a todo momento, mas aquele toque parecia novo. Tento perceber na expressão dela, se sentiu o mesmo, continua calma, quase indiferente. O caso e que não sei se Pietra e lésbica também, ou apenas fui uma fase para ela. E tenho certeza que nunca vou descobrir.
- obrigada, até mais.
- volte sempre
Minha resposta automática, ela não diz nada, mas percebo decepção, queria o que afinal, amanhã tudo voltara como antes.
Ainda que meu mundo tenha ganhado um pouquinho de cor naquela tarde cinza.
PIETRA
A sacola bate nas minhas pernas enquanto ando até em casa, me lembrando de que adquirir uma par de sandálias que não precisava. Minha respiração ainda está acelerada, e não e só pela caminhada, mas pelo o que tinha feito, porque cruzara o limite que havia com tanto custo mantido intacto por um mês inteiro. Um mês repleto de solidão, Clara parecia muito mais feliz apenas com sua única amiga , do que eu com minha legião "amigos" ,detestava a todos. Malditos hipócritas, apontavam nos outros suas próprias falhas, falavam mal sem vergonha , eram mesquinhos. Minha mãe havia telefonado uma semana depois que voltei, estava no Afeganistão, cobrindo a guerra, temia sempre por ela. Mesmo ela tentando me acalmar, não tocamos no assunto da minha volta e nem no nome de Carolina. Conversamos amenidades, ela me contou como era vida lá , eu menti como era minha vida aqui. Meu pai tinha duas semanas que não aparecia em casa, como dono da fábrica que empregava a cidade quase toda e lhe dando sustento, lhe tomava muito tempo, nada que não estivera acostumada.
Chorei quase todas as noites , sentiam saudades de escola, do amigos feitos e de Carolina, apesar de não ama-la. Sentia saudades do seu sorriso enquanto trans*vamos, das suas mãos suaves na minha pele, da sua tagarelice depois de uma aula. De como liamos todos os livros e depois discutíamos sobre, as vezes concordávamos, mas a maioria discordávamos.
Agora lia sozinha, comia sozinha , assistia sozinha , vivia sozinha.
Talvez seja por isso que entrei na loja depois que a vi, talvez quisesse algo real, Clara era isso.
A camiseta laranja com o logo da loja era horrorosa, mas ela ainda assim conseguia deixar mais aceitável, sua maquiagem estava menos pesada de quando vai para escola. Quase conseguia perceber seus olhos castanhos esverdeados, a boca com um batom nude, deixando-os simplesmente convidativos. Eu ainda me lembrava do seu gosto.
Ela não me olhava, e isso me deu raiva, falei seu nome, vi quando fechou os olhos como se sentisse dor, quase estendi a mão para toca-la, mas percebi a outra menina nos observando. Eu não queria cair na boca do povo, me forcei a parar, mesmo que houvesse me angustiado.
Ela me olhou, mas seus olhos eram indiferentes, quase mortos. Não consegui mais encara-la, vislumbrei as prateleiras sem notar, o coração confrangido, e me perguntando o que eu queria ali. Porque me torturava. Olhei o preço da sandália, e percebi que era uma das mais caras. Então a ideia me invadiu, tinha certeza que ela ganhava uma merreca, por ser menor de idade e por ser ela, mas com certeza teria comissão.
Pedi um par, não eram feias, mas não me chamaria atenção se não fosse o preço.
Aguardei calada, a outra moça não tinha me caído bem, o pensamento irônico não me passou despercebido, enquanto todos a desprezavam eu desprezava a todos. Eu notei quando ela se agachou, e a vi espiando meu livro, havia dado meu exemplar para Carol, para ela sempre se lembrar de mim. Então a voz rouca saiu, me arrepiei com ela tão próxima, imaginei dizendo meu nome no meu ouvido, me forcei a prestar a atenção nas palavras, me surpreendi por ela se lembrar. Sua cara se coloriu adoravelmente, respondi com a verdade.
Ela me criticou é claro, eu gostei ,quase éramos pessoas normais, então perguntei, a curiosidade me vencendo, queria saber mais dela, sentia uma necessidade. A resposta dela me assustou, a sua magoa reverberou em mim. Como odiava aquela cidade, e estava condenada a ela. Clara também. Queria ficar mais, mas não podia, a resposta dela me lembrou que não era apenas eu que sofreria as consequências de algo mais, mesmo uma amizade.
Quando ela me estendeu a sacola o choque que senti foi surpreendente, já havia lido sobre isso, quando duas peles se encostam e saem faíscam, mas nunca ousara imaginar que sentiria alguma vez, mantive a expressão neutra, vasculhei a dela, parecia intrigada. Ela havia sentido também. Tinha que me afastar imediatamente, agradeci com palavras que queria dizer outra coisa, ela apenas foi automática. Não poderia culpa-la, mas ainda assim doeu. Cheguei em casa, as sandálias foram para prateleira, talvez as usasse afinal, me lembrariam dela.
Clara
Quando cheguei no portão do colégio, Ana praticamente saltou sobre mim, enganchou o braço no meu e nós duas entramos na escola. Com ela cochichando no meu ouvido:
- tenho uma coisa muiiitoo importante para te falar.
Ana sempre que ficava ansiosa esticava palavras, olhei para o relógio e depois para ela:
- terá que ser na hora do intervalo.
- também sempre chega atrasada.
Ela me censurou, dei um sorriso culpado e tentei me justificar:
- trabalho, estudo , cuido da casa.
Ela balançou a cabeça em negação não caindo na minha desculpa, o fato que eu acordava tarde mesmo.
Paramos no corredor, minha sala era mais a frente, a dela era subindo escada para o outro andar, ela me solta e fala:
- que pena que não temos aulas juntas, poderia te contar, ao invés de ter que esperar.
Agora estava ficando curiosa de verdade, Ana tinha uma certa mania para dramatizar as coisas, mas realmente parecia apreensiva, mas brinquei com ela:
- sorte a minha, não me deixaria estudar nunca.
Ela faz uma careta e aperta meu nariz, dou um tapa na sua mão, ela sabe que detesto isso, mas sorrio para ela, a empurro para a escada, ela me mostra a língua e começa a subir. Acompanho ainda um instante a olhando, depois me volto para o corredor e me deparo com Pietra, ela me encara com testa franzida como se tivesse tentando solucionar algum problema. Eu começo a andar para sala, ela parece que vai falar alguma coisa, mas eu fujo do seu olhar e entro.
Me escondo na primeira carteira como sempre, abro meu livro e me abstraiu da sala começando a encher de alunos. Um papel amassado me acerta na cabeça, e ouço a risadas deles, principalmente de Rogério que ria como um burro relinchando. Continuo com cara de paisagem, pego o papel que caíra sobre meu livro aberto e o coloco no peitoril da janela, volto a leitura. Logico que meu sangue ferve, mas já estou acostumada com isso, que não me dou ao trabalho nem de olhar para eles, e depois um pensamento me assalta, e se Pietra também estivesse rindo? Sou impedida de analisar mais profundamente os sentimentos que isso causaria com a entrada da professora de história. Ela é uma senhora de uns 50anos, cabelos brancos curtos, óculos de grau grossos, muito severa. Por isso assim que entra na sala, eles param de falar e esperam a aula começar. Da minha parte continuo minha leitura , afinal estou mesmo lendo o livro da aula. Então a professora retira da gaveta várias cartelas com o tamanho de cartas de baralhos, são números plastificados.
Ela sempre os distribui quando tem trabalho em duplas para fazer, não gostava que eles escolhessem suas próprias duplas e não tinha paciência de separa-los ela mesma. Notem o detalhe do pronome aqui, disse eles, porque eu não fazia trabalho com alguém há muito tempo, e vocês podem adivinhar quem fora a minha última dupla. Mas não fico triste, mil vezes ficar só do que ter que de repente aguentar o Rogério.
E sorte a minha que com os números de alunos sempre dava ímpar, quem tirava um número compatível com meu, ficava com quem sobrava. O sistema da professora sempre mudava, os pares poderia ser formados por números em sequencias, pelo último e o primeiro e assim vai. Ela me entrega o cartão com o número 1 , e começa a distribuir o resto. Depois que ela distribui todos fala:
- hoje seremos números pares com pares e bom o resto vocês sabem.
Um idiota qualquer pergunta:
- não entendi professora.
Algumas cabeças balança em concordância, reparo que a professora tenta muito não revirar os olhos, pega o giz e escreve bem grande na lousa.
Duplas
Ex: 1 com 3
Ex: 2 com 4
assim por diante ...
Às vezes acho que esse povo nasceu sem cérebro, depois que observo alguns instante eles tentarem se organizarem, coloco meu número na carteira e volto para minha leitura. E talvez por isso levo um tempo para me tocar que tem alguém do meu lado, levanto a cabeça e meu coração dispara, Pietra está em pé me olhando. Percebo que hoje ela está com o cabelo preso em uma trança jogado sobre o ombro, não havia reparado antes, está com a camiseta do uniforme do colégio, uma bermuda branca que vai até abaixo dos joelhos, a mochila nas costas, o livro de hoje e Os Maias de Eça de Queiroz.
Meu olhar para no dela, continuo com a mesma expressão indiferente, e levanto uma sobrancelha questionadora ( preciso fazer um adendo aqui... treinei exaustivamente para poder fazer isso, inclusive tenho uma história que envolve pelos arrancados e durex, mas fica para outra hora... e não me julguem, não tenho muito que fazer por aqui) mas em todo caso Pietra não parece ficar impressionada com minha habilidade de levantar apenas uma sobrancelha, então falo:
- que foi?
Ela não responde, apenas mostra o número 3, levo alguns segundos até lembrar que pelo sistema ela minha dupla, surpresa falo sem pensar:
- não precisa fazer comigo, tenho certeza que a professora não se importaria de você fazer em trio.
Ela abaixa os olhos para o chão e meu olhar acompanha o seu , noto que ela usa a sandália que comprara na loja, me volto surpresa para seu rosto e vejo que seu queixo começa a tremer ligeiramente.
Merda , eu conhecia aquele tremor, ele aparecia muito quando ela falava da mãe, Pietra está prestes a chorar, e não tenho a menor ideia do porquê. Então a professora olha acintosamente para nós e diz seca:
- se todos já se resolveram, sente-se agora.
Com a voz baixa eu peço:
-senta ae.
Ela não me olha , senta na carteira que fica vazia ao meu lado. Joga a mochila no chão, tira o caderno e o abre, começa a escrever furiosamente nele. Só então noto que a professora está explicando o trabalho, agradeço internamente que ela está prestando atenção.
Dobro os braços deito minha cabeça neles e olho para frente, sem realmente ver nada.
Estou atordoada, de repente sou lançada ao passado quando Pietra era minha amiga, quando fazíamos essas coisas nem sem pensar. Era fácil e natural, ela sentar do meu lado e escrever coisas idiotas no meu caderno, ou cochichar tirando sarro de algum professor. E inevitável meu olhar voltar para ela, que permanece quieta, concentrada no que a professora fala, e canhota então tem que apoiar o caderno de lado para escrever. Vejo a letra dela elegante, do jeito que me lembrava. Subo para seu rosto, está sério, o queixo parara de tremer, mas as vezes morde o lábio inferior. E isso me causa um arrepio de excitação, desvio os olhos e eles cai no nossos números, e me pergunto há quanto tempo que não existe um número ao lado do meu, dessa vez são meu olhos que ardem. Me incorporo rapidamente a assustando, levanto a mão e professora já prevendo meu pedido , apenas aponta para a porta sem parar de falar. Levanto e ainda sinto o olhar dela em mim quando saio para o banheiro.
Eu não aguentava mais ficar naquela sala, estava me sufocando, as lembranças, a vontade de toca-la, a vontade de substituir aqueles dentes. Quando chego no banheiro, jogo agua gelada no rosto tentando me acalmar. O caso e que só beijei duas meninas , e foi tão rápido que sinceramente nem me lembro direito. Mas o meu primeiro beijo, desse ainda lembro o gosto dos lábios de Pietra. Fico imaginando como seria beija-la agora, que somos mais velha, provavelmente seria mais cheio de desejo, talvez língua. Jogo água no rosto de novo. Tenho que tirar isso da cabeça, primeiro que nem sei se ela gosta de beijar meninos ou meninas, mas mesmo que ela gostasse até de beijar os dois, Pietra e nenhuma outra menina dessa cidade são para mim. Não podia deixar meu segredo vazar, não enquanto eu ainda estivesse no inferno.
Quando volto a sala, todos estão de volta aos seus lugares, agradeço intimamente, não aguentaria passar mais nenhum segundo ao lado dela. Então me lembro da porr* do trabalho e gemo.
Quando o sinal do intervalo toca, estou exausta mentalmente, tentando achar um jeito de me livrar de fazer o trabalho com Pietra. Além do "eu faço minha parte e você a sua", não havia tido nenhuma outra ideia. Começo a guardar minha coisas para leva-las comigo, havia aprendido da pior maneira que se as deixasse na sala , as encontraria totalmente destruídas e uma vez até um rato morto havia encontrado na minha mochila. Quando estou perto da porta, Pietra para na minha frente, olha intrigada para minha mochila nas costas, já que ninguém leva ,mas não diz nada. E antes que possa lançar minha ideia maravilhosa ela diz:
- tem tempo hoje?
Merda! Mil vezes merd*, estou perto novamente de dizer minha ideia, mas ao encara-la, parece ansiosa pela minha resposta, volto atrás quando me lembro do queixo dela tremendo e digo antes que ela tenha alguma ideia louca , como por exemplo de ir a minha casa:
- sim, vamos até a biblioteca daqui mesmo depois da última aula.
- ta bom.
Ela então se vira e segue para porta, onde as amiguinhas a esperam, posso ver a cara de pena delas, porque Pietra teria que fazer o trabalho comigo.
Sinceramente nem tenho mais saco para ficar irritada, apenas passo por elas e saiu para o refeitório. E lá está Ana quicando no banco, assim que me sento, ela praticamente joga o sanduiche em mim e começa:
- ele quer se encontrar comigo.
Levo um segundo para perceber que ele é o namorado virtual de Ana, ela e os riquinhos são alguns poucos que tem essa nova tecnologia que não entendo patavinas , para o ato de desembrulhar meu lanche e a olho séria, poderia até ser inocente nessa coisa de internet, mas sabia que seria uma furada alguém se encontrar com um desconhecido:
- vão se encontrar onde?
- não combinamos direito ainda.
- sei não Aninha, e se esse cara for um tarado.
- nossa Clara, não é assim. A gente se conhece por foto, e já nos falamos por telefone.
Eu penso por um momento, meu estomago reclama e volto a abrir meu sanduba, dou uma mordida e fico feliz com o de hoje , e de salame e maionese, meu preferido, depois falo com a boca cheia:
- ta bom, mas vou com você
Os olhos de Ana abrem surpresos, limpo a boca com o guardanapo e digo resoluta:
- vou e nem adianta discutir. Marque um encontro com ele no shopping na cidade Pé de vento, chame ele para comer um lanche.
- mas são duas horas até lá Clara! Mas espera, não posso te levar ao meu encontro!
Ela diz angustiada, concluo meu plano:
- ele não vai saber que estou lá. Fico em uma mesa distante, só de olho entende. E se ele for legal, espero até o encontro acabar, se não pode me usar como desculpa para ir embora. Combinamos um sinal e finjo que acabei de chegar e preciso de sua ajuda.
Ana para de falar um tempo para avaliar a ideia, volto a comer, mas posso perceber que ela vai aceitar, pelo sorriso que começa a abrir. Pega minha mão dando um aperto e diz alegre:
- simmmm... e perfeito, nossa Clarinha estou tão feliz. Conhecer o Artur vai ser ma ra vi lho so!!!
Dou risada com a felicidade dela, quem sabe se tivesse essa tal de internet também não poderia encontrar alguém, e Pietra não seria problema. Paro de comer, a angustia é minha agora ao lembrar que tenho que fazer depois da aula. Ana me observa e pergunta:
- o que foi? Desistiu da ideia.
Jogo o resto do meu sanduiche na mesa com raiva e seguro a cabeça na mão e falo rangendo os dentes:
- não vai acreditar, mas tenho uma parceira para fazer o trabalho da múmia.
Esse é o apelido carinhoso que demos para a nossa professora de história, vejo a boca de Ana se abrir em um O e depois ela fecha abismada, até perguntar:
- quem?
- a Pietra.
- a garota nova.
- é.
- que você tem uma queda.
Olho para os lados , mas estamos sós como sempre, e dessa vez sou eu que fico sem palavras, será tão óbvio minha paixonite reprimida, Ana sorri largamente e fala como se tivesse lido meus pensamentos:
- relaxa, reparei porque te conheço - ela abaixa voz agora continuando - desde que ela entrou você está diferente, fora que não tira os olhos dela.
Bato a testa na mesa e de lá falo com raiva:
- sabe queria apenas que ela me deixasse em paz, para que ficar me importunando! Primeiro no meu trabalho e agora aqui!
Acho estranho Ana não falar nada, e quando a olho percebo que encara algo atrás de mim, sei o que aconteceu, mas mesmo assim ainda me viro. Pietra acaba de sair do banheiro que é bem perto da nossa mesa ( pois é ... perto das lixeiras e dos banheiros) e quando me olha espantada, sei que ouviu minha palavras.
Merda!
Fim do capítulo
Enjoy , ;)
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