Beatriz terminou seu banho rapidamente e optou por deixar o cabelo secar naturalmente. Logo retornou para sala e ansiosa aguardou Carine por alguns minutos.

 

 

- Lorena demorou para dormir? (Perguntou visando puxar assunto).

 

- Não! (Respondeu monossilábica e sentou-se no sofá em frente da loira).

 

Alguns segundos em silêncio e as duas ficaram encarando uma a outra.

 

 

- Cá, por favor, converse comigo (pediu).

 

- Beatriz, eu estou decepcionada (afirmou).

 

- Juro que não quis te decepcionar (explicou).

 

- Mas o fez.

 

- Não seja tão dura, eu não fui infiel, te contei tudo e não aconteceu nada demais (justificou).

 

- Você sentiu desejo por ele, ficou tentada a me trair, teve várias oportunidades, jantou com seu colega de trabalho, saiu com ele para espairecer durante a sua viagem profissional, beberam e dançaram juntos (disse com amargura).

 

Desta vez foi Beatriz quem se calou e abaixou a cabeça.

 

 

- O que me entristece é saber que eu faço de tudo por nós, valorizo e priorizo o nosso amor. Mesmo assim, nem sou suficiente para ti (lamentou).

 

- Não diga isso, você é incrível (elogiou).

 

- Beatriz, comigo traição não tem perdão (enfatizou).

 

- Cá, eu não fiz nada, não trai você (garantiu).

 

- Mas você se interessou por ele.

 

- Só que não cai em tentação, me mantive fiel, compreende?

 

- Eu não consigo compreender por qual razão você sentiu desejo por ele. O que te falta? Acha pouco o carinho, amor e cuidado que te dedico?

 

- Não! Nem me falta nada.

 

- Então qual o seu problema?

 

- Isso não vai se repetir nunca mais.

 

- Será?

 

- Eu prometo!

 

- Rejeito as suas promessas e exijo a sua lealdade.

 

- Eu sou leal.

 

- As pessoas leais honram seus compromissos, com retidão, cumplicidade e responsabilidade.

 

- Eu sei.

 

- Estou muito magoada.

 

- Se eu soubesse que te contar causaria tanto sofrimento teria omitido (ponderou).

 

- Beatriz, não me esconda nada, permaneça sendo sincera e quando se tem amizade conversamos sobre tudo.

 

- Eu te contei tudo e estou sendo castigada por ti mesmo contando a verdade.

 

- Castigo, você de fato merece, só que eu não sei agir assim, prefiro o diálogo, por isso, muitas vezes discordo quando você aplica alguma punição a Lorena, mas respeito e nem me meto, pois sei que faz parte da tarefa de educar.

 

- Você tem sido tão maravilhosa para ela.

 

- Eu a amo.

 

- Ela também te ama.

 

- Com relação a pequena, nada vai mudar, você deve ter notado que agi naturalmente com ela.

 

- Obrigada! Ela não tem culpa por todas as minhas falhas.

 

- Não, ela nem tem culpa alguma e eu tenho maturidade jamais trataria ela diferente. O conflito é nosso e nem devemos envolver mais ninguém.

 

- Por falar nisso, até pensei em ligar para o Akio ou seus pais, para ter notícias suas, imaginei que você pudesse estar com eles, mas nem tive coragem de fazer nenhuma ligação.

 

- Ainda bem que você nem o fez, iria preocupa-los. Eu não estava com nenhum deles.

 

- Onde você estava?

 

- Num hotel próximo daqui. Eu precisava ficar sozinha para pensar e digerir tudo que você me contou.

 

- Nós sentimos a sua falta, ficamos com saudade, Lorena perguntou por ti durante o final de semana inteiro.

 

- Beatriz, com relação a Lorena, eu te peço, não me prive da presença dela, nem sei mais viver sem ela, é um sentimento inexplicável, um amor que chega a doer, totalmente subjetivo e imensurável. Eu dou a minha vida por ela.

 

- Eu te entendo, o amor maternal é assim mesmo e você é uma segunda mãe para ela.

 

- Então, mesmo acabando tudo entre nós duas, por favor, não a afaste de mim.

 

- Pode ficar tranquila, não farei nada que cause sofrimento para a nossa princesa, ela é só uma criança e tem um grande apreço por ti.

 

- Que bom!

 

Sobre a Lorena tudo já estava bem elucidado, é nítido todo o afeto e cuidado delas com a criança. Só que a conversa, ainda não tinha terminado, agora faltava definir sobre o relacionamento das duas mulheres.

 

 

- E nós duas? (Bia perguntou quebrando o silêncio estabelecido entre elas).

 

- Beatriz, se você estivesse solteira, teria ido para a cama com ele. Certo?

 

A loira não esperava por aquela pergunta e nem conseguiu dizer nada; em resposta, somente balançou a cabeça assentindo. Carine voltou a ficar em silêncio e seus olhos encheram de lágrimas.

 

 

- Amor, não chore! (Bia pediu pegando nas mãos da morena).

 

- Eu não vou chorar, você nem merece nenhuma lágrima minha (disse brava, soltando suas mãos e se afastando).

 

- Não se afaste de mim, eu te amo muito.

 

- Demonstre!

 

- Eu vou continuar demonstrando diariamente e saiba que está doendo muito em mim te ver neste estado. O seu silêncio foi corrosivo. Sua ausência me preocupou muito e sei que tudo isso vai passar.

 

- Você poderia muito bem ter evitado este conflito.

 

- Eu errei conosco e te peço minhas sinceras desculpas.

 

- Não consigo te desculpar.

 

- Cá, por favor, seja sucinta e sem se delongar, você vai terminar comigo? (Perguntou apavorada).

 

- Não sei (respondeu sentindo-se perdida).

 

 

Beatriz, em pânico com a possibilidade do término, se entregou a um choro compulsivo.

Carine, odeia ver a loira chorando, magoada não conseguiu ter nenhuma atitude para acalma-la, deixou a sala e seguiu para o quarto de Lorena; passou a noite toda por lá e dormiu pouquíssimo.

Fim do capítulo