O sábado demorou para passar, Beatriz não teve nenhuma notícia de Carine, aguardou por ela o dia todo e a noite também. Mas nenhum sinal da morena e a loira nem sabia onde ela tinha se metido, pensava que talvez ela estivesse na casa do melhor amigo, já que em momentos complicados é fundamental contar com um ombro amigo, não ousou ligar para Akio, temendo receber muitas broncas. Imaginou também que a companheira optou por viajar para a casa dos pais, em Campos do Jordão, novamente faltou coragem e ela nem ligou para a residência dos sogros.
No domingo, Lorena que já estava chateada com a ausência de Carine ficou muito mal-humorada com as trapalhadas de Beatriz.
 
- Mãe, o que está acontecendo? (A garota questionou colocando as mãos na cintura e batendo os pezinhos).
- Filha, desculpa!
- De manhã a senhora não adoçou meu leite, salgou (reclamou).
- Confundi.
- Como? Se o sal fica no saleiro que é branco e o açúcar no pote vermelho?
- Eu estava distraída.
- Quando eu fico, a senhora me manda prestar atenção.
- Eu sei.
- Agora não tem como almoçar isso, este macarrão está horrível.
- Nem é para tanto.
 
Beatriz respondeu tentando amenizar a situação, em seguida colocou uma colherada na boca e precisou cuspir, já que a filha tinha total razão.
 
- Céus, o que eu fiz?
- Acho que foi pimenta, minha boca ficou até ardendo.
- Me desculpa.
- Estou com fome!
- Eu também, só que hoje estou uma negação, melhor eu ficar longe da cozinha.
- Cá, vai chegar que horas?
- Não sei, ela não disse.
- Pergunta para ela, quero ir no parque.
- Posso te levar.
- Tem que ser ela, para pedalarmos ou patinarmos.
- Vai precisar ficar para outro dia então.
- Poxa, que pena.
- Problemas de adulto minha filha (Bia pensou alto).
- O que a senhora tem?
- Não estou bem, mas vai passar.
- Já sei.
- O que você sabe?
- Que é saudade.
- Como?
- Quando a senhora viajou a Cá disse que estava com saudades. Agora é a senhora que está, não é?
- Sim, só que o meu caso é mais complicado.
- Não entendi.
- Filha, eu sou parecida com um dos seus jogos, sou tipo um quebra cabeça de 10 mil peças, com algumas faltando.
- Então a senhora não tem solução?
- É, acho que não (comentou desanimada).
- Quando um quebra cabeça está muito difícil, no nível avançado, a Cá faz comigo. Pede ajuda para ela mãe.
- Pedirei quando ela chegar, mas agora o que eu tenho que pedir é comida para nós duas.
- Isso, estou faminta!
 
Bia ligou e pediu o almoço. Mãe e filha se alimentaram e passaram a tarde assistindo filmes na TV. Carine retornou para casa só no começo da noite. Ao ouvir o barulho da chave na porta, Lorena pulou do sofá e correu ao encontro da morena.
 
- Cá! (Gritou eufórica pulando e a abraçando).
- Princesa! Que delícia chegar e ser tão bem recebida por você (disse sorrindo para a criança).
- Você demorou.
- Verdade.
- E nem me deu tchau antes de sair (reclamou).
- Desculpa.
- Vamos ter que ir no parque outro dia.
- Sim, nós iremos.
- E agora podemos brincar um pouco?
- Claro!
- Então vamos para o meu quarto.
 
Bia que estava observando as duas decidiu intervir.
 
- Lorena, depois vocês brincam. Cá, precisamos conversar.
- Beatriz, conversamos em outro momento, agora eu quero dar atenção para a Lorena.
- Mas... (Bia tentou insistir).
- Depois (Carine afirmou com ênfase).
- Cá é que a mamãe precisa da sua ajuda (a criança explicou).
- O que você falou para ela? (Quis saber preocupada).
- Minha mãe me contou, que ela parece com meus jogos, igual um quebra cabeça complicado, que a gente acha que não tem solução e que está faltando alguma peça. Ai, eu contei para ela que quando um quebra cabeça está muito difícil, naquele nível avançado, igual aquele que o tio Cairo me deu, que você faz comigo. Então eu disse para ela pedir a sua ajuda.
- Foi bem lúdica a sua explicação para ela, você está na área certa, é uma ótima educadora (comentou Carine).
- É que hoje eu acabei me atrapalhando e ela perguntou o que estava acontecendo (se explicou).
- Cá, ela colocou sal no meu leite (a menina contou).
- Como assim?
- Eu estava distraída (justificou).
- Isso no café da manhã e quase passou manteiga na minha bolacha recheada, achando que era o pão que ela ia comer, sorte que vi.
- Nossa!
- E no almoço ela tacou pimenta no macarrão, ficou muito ruim e ardido.
- Filha, é feio ser fofoqueira (repreendeu).
- Eu só estava contando a verdade (retrucou).
- E o que vocês almoçaram?
- Eu liguei e pedi comida, não achei seguro continuar na cozinha.
- Pode deixar que peço pizzas para jantarmos.
- Oba! Eu adoro pizza (comemorou a criança).
- Agora vamos brincar, preciso mesmo me distrair (Carine falou e as duas seguiram para o quarto).
 
Beatriz toda pensativa permaneceu na sala. Enquanto Carine e Lorena brincaram, pularam e dançaram por cerca de duas horas. Quando cansaram a adulta deixou a criança escolher o sabor da pizza, fez o pedido, seguiram para o banho e já de pijamas voltaram para a sala.
 
- Eu já estava indo chamar vocês, a pizza chegou e já arrumei a mesa para jantarmos.
- Mãe, a Cá deixou eu escolher.
- E qual foi a sua escolha?
- Batatosa!
- Que isso menina?
- Abre para a senhora ver.
- Nossa quanta gulodice, pizza de batata frita. Eu nem sabia que existia este sabor.
- Nem eu, descobrimos hoje né pequena?
- Verdade. Vamos atacar (a menina falou entusiasmada).

Elas adoraram e comeram tudo!
  - Vocês já tomaram banho e eu ainda estou sujinha (disse Bia após o jantar).
- Vá tomar seu banho, eu coloco a Lorena para dormir e depois conversamos.
- Tudo bem, boa noite filha, te amo!
- Eu também te amo, boa noite mamãe.

Carine leu um pouco para Lorena e logo que a criança adormeceu, voltou para a sala determinada em ter uma conversa definitiva com Beatriz, que foi breve no seu banho, já que estava muito apreensiva e ansiosa.

Fim do capítulo