-- amor já estar tarde, tenta descansar tá?

 

-- queria estar acordada na hora que você fosse sair amor.

Quero me despedir.

 

-- não precisamos fazer isso, vou fazer cafune até você pegar no sono amor.

E amanha bem cedo assim que chegar lá, te ligo tá?

 

-- tá amor...

Te amo...

 

Minha pequena acabou pegando no sono e eu perdi o meu.

Confesso que depois dessa conversa eu estou preocupada.

Esse neném também já é meu, e porque ela comentou sobre tudo isso?

Não dormi nada e já estava na hora de ir me arrumar pra viajar.

Tentei fazer tudo o mais depressa possível e principalmente em silencio.

Não quero acordar meu amor.

Já estava na hora de partir e me aproximei lentamente dela, sorri e dei um beijo na minha pequena, quando puxei o cobertor pra cobri-la meu coração congelou.

Os lençóis estavam cobertos de sangue?

 

-- Meus deus o que é isso?

Sabe quando seu coração dispara?

O meu estava pior que uma escola de samba, eu sabia que alguma coisa não estava certa.

 

--Bárbara, amor

Pelo o amor de deus fala comigo

 

Eu chamava, e mexia nela e nada dela acordar.

Já estava chorando e com medo, vê a pessoa que você ama em uma situação como essa é desolador.

Meus gritos acordaram todos da casa, imediatamente meu Pai me ajudou a levar a Bárbara pro carro, que ainda estava desacordada.

Não pensei mais em nada que não fosse em meu filho e na minha mulher.

Minha mãe também vinha com a gente e ela estava sentindo que eu já estava abalada com isso.

 

-- minha filha calma, estamos chegando tá tudo bem tá?

 

-- pede pro meu Pai ir mais rápido mãe, é meu filho que está correndo risco.

Quase grite com ela

O caminho parecia eterno

Com certeza as estradas são mais longas pela madrugada, quando se esta aflita mais ainda.

Finalmente chegamos e ela entrou logo pra emergência.

Foi um alvoroço só, eu estava tão nervosa que se não tivessem atendido  logo a Bárbara eu juro que me agarraria com alguém ali dentro.

 

-- daqui não pode passar senhora.

 

-- mais é minha mulher

 

-- sinto muito, fique na recepção.

Informou-me um enfermeiro que não me deixou seguir.

 

-- que droga

 

-- Filha, calma.

Ela já está aqui Dávila

Calma

Vou pedir um calmante pra você

 

-- Não mãe, não.

 

-- já estamos providenciando um quarto tá? Os médicos tem carta branca pra fazer o que for preciso, vamos pagar tudo amor.

Você não sabe a tristeza que sinto em te vê assim filha.

 

-- mamãe...

Eu não posso acreditar nisso

Você viu, era sangue mãe.

Sangue

 

-- Dávila, calma.

Vem mamãe dá colo, calma e deixa nas mãos de iemanjá minha filha.

Vai ficar tudo bem...

 

Minha cabeça parecia que iria explodir.

Eu tinha que viajar, mas nessas condições eu não vou.

Parecia que meu amor estava adivinhando ela pediu tanto que eu não fosse...

Minha mãe estava tentando me acalmar e tentando não desabar mais.

Eu me sinto responsável por ela, eu tirei ela de casa, ela deixou a mãe por mim.

O mínimo que posso fazer é cuidar como se deve dela...

Já se passaram cerca de duas horas de quando chegamos, já eram 4h mais ou menos e eu não pregado o olho...

 

-- Filha, eu sei que não é certo falar sobre isso agora, mas também vai ser patrimônio dessa criança.

O problema do caixa precisa ser resolvido, você não pode ir e eu sei e entendo.

Mas alguém tem que ir.

 

-- Meu Pai não tenho cabeça pra isso não, pelo menos enquanto a Bárbara não ficar bem.

 

-- eu vou filha, e vou fechar a matriz aqui pelo menos por hoje.

 

-- obrigada pelo apoio meu Pai

 

-- sua mulher vai ficar bem Dávila, e meu neto também...

Força...

 

Eu já estava aflita até que a medica dela chega...

 

-- Dávila, por favor, me acompanhe...

 

-- doutora, como ela está? E meu filho?

 

-- calma, olha primeiro de tudo.

Vocês a trouxeram bem a tempo, se não chegassem logo o pior teria acontecido.

Você sabe muito bem que a gravidez dela é arriscada

E o que aconteceu?

Ela entrou aqui abatida, pois estava acontecendo um sangramento devido ao descolamento do saco gestacional, que está se moldando ao útero.  Ela foi consultada com urgência e o repouso será fundamental para que o saco se fixe novamente, evitando um processo abortivo.

Foi por um triz Dávila, quase não conseguíamos salvar a criança.

Ela já vai pro quarto mês de gestação e ai que o risco é maior.

-- quer dizer que eles estão bem?

 

-- sim, sua namorada ainda está muito desidratada e mesmo assim foi muito forte.

Já vi casos assim que não tiveram a sorte de vocês.

Você precisa cuidar mais do emocional dela, falo isso porque já acompanho as duas desde o começo.

 

-- obrigada doutora...

Quando posso vê-la?

 

-- ela volta pro quarto logo pela manha, então uma pessoa por vez.

Quando puder eu volto pra avisar.

 

-- ok

Obrigada...

 

Graças a deus, ao universo, a iemanjá!

Meu amor está bem, e meu filho também.

Foi só um baita susto, e já levei tanto puxão de orelha...

Preciso cuidar dela, eu não vou perdê-la mais.

Só poderia vê-la pela manha e estava contando as horas pra isso.

 

-- mãe, eu tive medo de perder a Bárbara...

Confessei pra minha que estava ainda me dando colo.

 

-- filha, essa menina veio como uma benção na sua vida.

Os orixás não fazem a obra pela metade...

Você precisa cuidar do seu tesouro, não esqueça isso.

 

-- nunca mais mãe...

Se quiser vá em casa, desde da madrugada que está aqui...

 

-- irei quando tiver noticias dela filha.

Também amo meu neto já.

 

-- obrigada mãe.

 

Era por volta das 8h da manha e estavam em um quarto bem confortável até, nosso hospital era particular e meu amor teria todo conforto...

Decidi andar um pouco e acabei passando pelo o berçário.

Eram tantos bebes lindos e de todas as formas e tamanhos...

Confesso que nessa hora eu desejei já estar com meu filho, sim, ele já é meu filho.

Mesmo não tendo meu sangue, mesmo que eu não o tenha gerado...

 

-- Dávila?

A medica estava me chamando...

 

-- Oi Doutora

 

-- vamos lá?

A paciente acordou

 

Bárbara

 

Acordei tonta, fraca e sem saber o que estava acontecendo.

Olhei em volta e não conheci o quarto

Vi varias pessoas de branco e em mim estavam alguns aparelhos.

Acabei me rendendo ao cansaço de novo...

 

-- a qualquer momento ela acorda, fique a vontade e não esqueça que ela não pode ter emoções fortes...

 

-- obrigada doutora.

 

Entrei e meu amor estava dormindo, era visível que ela estava fraca e parecia ter feito muito esforço.

Puxei uma cadeira que tinha e me sentei do lado da cama...

 

-- amor sou eu...

Beijei sua mão.

O pior já passou, e você foi uma guerreira por ter lutado por nosso filho...

Perdoa-me por não ter sido a melhor namorada desse mundo, por não ter te dando atenção e ter colocado coisas acima do nosso amor.

Eu estou tão arrependida, estou tão triste por isso que aconteceu...

Eu morreria se alguma coisa tivesse acontecido com você e com meu filho.

Eu juro minha vida não teria mais sentindo amor.

 

Essa hora já estava em prantos, e senti a Bárbara apertando minha mão.

Ergui minha cabeça e vi meu amor abrindo os olhos que tanto amo

 

-- amor eu sei que você não está entendendo nada

Mais o pior passou.

 

-- Daa....

 

-- não fala, e nem faça esforço minha vida...

Eu estou aqui, logo você estará bem e nosso filho também...

Beijei a barriga da Bárbara e fiquei ali por longos minutos.

 

-- Dávi...

Precisooo me levantarrr...

 

-- não amor, você não vai se levantar.

A gente está em um hospital e você não está recuperada.

Por favor, eu te amo mais que tudo nessa vida.

 

Ela compreendeu a gravidade do assunto e da situação.

E continuou de mãos dadas comigo...

 

-- te amo minha loirinha...

Mais que tudo nessa minha vida...

 

As próximas horas do meu dia foram totalmente dedicadas a ela, durante o dia eu não aceitei revezar e fiquei com meu amor a todo tempo.

Praticamente ela dormiu o dia todo e minha mãe pode voltar pra casa.

No fim da tarde a Dinda veio com uma muda de roupas pra mim e como sempre me apoiando em tudo.

Era por volta das 18H quando ela acordou.

 

-- Boa noite minha dorminhoca...

Se sente melhor?

(falei beijando a testa da Bárbara)

 

-- Dávi, eu não consigo me lembrar de nada.

Nosso filho, o que aconteceu?

 

-- amor o importante é que o pior não aconteceu.

Nosso filho esta aqui, no seu ventre.

 

-- eu vi tantas pessoas, tantas falas...

 

-- estavam cuidando de você amor, a gente chegou e você foi logo pra emergência.

 

-- e sua viajem?

 

-- pequena á única pessoa que me importa é você.

Não fui e não me arrependo de ter viajado amor.

E estou aqui, pra cuidar de vocês.

 

-- mesmo?

 

-- sim, mesmo.

Não vou sair de perto de você amor.

E quando você se recuperar vamos sair daqui e ir pra nossa casa.

 

-- Dávi

 

-- Fala minha vida...

 

-- eu ainda não acredito que vamos assumir essa criança.

 

-- amor acredite.

Você se tornou parte de mim, e essa criança também.

Não entendo porque você insiste nisso coração

 

-- é que ela não foi gerada por você

Eu tenho nojo só de lembrar.

Eu tenho medo, medo de não aceitar essa criança.

 

Agora eu estava entendendo.

A Bárbara mesmo que involuntariamente está colocando a culpa de tudo que aconteceu nessa criança;

Eu ainda vou acertar as contas com essa cara que fez isso com ela.

Eu juro que ainda vou.

 

-- Pequena, me escuta.

Eu não tenho espermatozoide pra gerar essa criança por meios naturais.

O que tenho é muito mais lindo que isso, tenho meu amor que muito mais do que gerar, vai dá vida a essa criança.

Eu sinto um aperto no peito só em pensar que esse cara te tocou, te machucou ou bem algum mal contra você.

Mas me controlo porque sei que você não tem culpa, muito menos essa criança.

Entenda que quem está gerando realmente ela somos nos, a gente que vai comprar as primeiras roupinhas, os brinquedos,  a gente que vai ensinar as coisas da vida.

Levar pra escola e tudo isso mais.

Esse idiota não tem importância na nossa vida.

A criança que você carrega no ventre, é minha e sua, pois ela está sendo gerada com nosso amor.

 

-- Dávi, você não existe...

 

-- existo, e estou aqui.

Estamos firmes e juntas novamente meu amor.

Vai precisar de chumbo mais forte pra nos fazer cair...

 

Continua

 

 

Fim do capítulo