Boa noite!
CapÃtulo 9 - Um jogo perigoso
- Oi, amiga! Que saudade de você.
Angela a abraçava de forma apertada.
- Calma. Assim você me sufoca e machuca seu bebê.
Não conseguia esconder a felicidade em ver a amiga. Trazia uma certa paz de espírito.
- Como estão as coisas, Camila? Ainda vejo hematomas em você.
- As coisas aqui dentro estão difíceis e perigosas. Não vou mentir. Mas, acredito que eu esteja perto de descobrir alguma coisa. Avise ao André que seja lá o que for que aconteça aqui dentro está muito além do tráfico de drogas. Então, a nossa suspeita inicial está provisoriamente suspensa. Consegui alguns contatos que se predispuseram a ajudar.
Angela segurou as mãos de Verônica e lhe disse o mais baixo possível.
- Toma todo o cuidado do mundo. Jamais vou me perdoar por te colocar nessa enrascada. Mil desculpas.
- Você estava tentando me tirar de uma depressão. – Sorriu. – Sabe que aqui dentro é tão agitado que mal tenho tido tempo para pensar nela. – Voltou a sorrir acariciando as mãos da amiga que ainda estavam sobre as suas.
- Pelo menos nisso tem ajudado.
- Eu ouvi alguém falar numa data especial. A data de um grande carregamento será no dia 29 de abril. Então, fala para o André ficar ligado. É possível efetuar um flagrante neste dia. Mas, não sei se é de dentro para fora ou o inverso. Mas, sinto que o que quer esteja rolando aqui dentro, tenho até lá para descobrir.
- Hoje é dia 22. Você tem uma semana praticamente. Tome cuidado. Já tem alguma pista?
- Estou esperando a Marcela se recuperar. Assim que ela acordar investigarei para saber do que ela se recorda.
- Marcela é sua parceira de cela que foi levada em seu lugar?
- Isso mesmo. Ela retornou cheia de hematomas. Fiquei muito comovida com o que ela passou. Afinal, ela pagou um pato que deveria ser meu.
- Ei, não surta. Agora é hora de ser pragmática.
- Ainda bem que eu tenho você. Como está sendo a experiência da gestação? Mudou alguma coisa? Está se arriscando menos?
- Ainda não senti muito a diferença. O André que é um babão, né?!
O tempo parecia não passar ali dentro. De fato, parecia uma realidade paralela. Com suas próprias leis, próprias formas de sobrevivência, própria cultura. Não aguentava mais aquele lugar. Mas, não podia ter deixado isso transparecer para sua amiga no momento da visitação. Sentia-se sufocar.
- Oi. – Observava Marcela acordar, com certo alívio no peito. Por mais que soubesse que Selena livrara-a de ser pega por Gisele, sua parceira de cela fora levada em seu lugar. Sentia-se culpada.
- Oi. – Sussurrou Marcela já um pouco menos abatida. – É bom olhar a sua cara depois de tudo isso.
- Como você se sente?
Verônica se aproximou da cama de Marcela e passou-lhe a mão na cabeça. Um gesto de demonstração de afeto que surpreendeu a si mesma por perceber nutrir um certo carinho pela sua parceira maluca de cela.
- Eu estou com dores. Cólica. A cabeça ainda não está legal. Mas, seja lá o que tiver acontecido lá dentro ainda bem que estou viva.
- É sobre isso que gostaria de conversar com você. O que aconteceu lá dentro? Do que você se lembra? Para onde foi levada?
- Nossa quantas perguntas para a minha cabeça confusa. Primeiro eu levei um grande susto quando acordei e não vi você aí deitada. Afinal, o que aconteceu? Por que você havia sido levada? Nem ouvi barulho.
- A Selena me jogou na solitária. Disse que se sentiu desrespeitada pela forma como a olhei. – Verônica achou melhor não dar detalhes para aquela fragilizada mulher.
- Hum! Vocês estão se pegando? – Perguntou genuinamente curiosa.
- Claro que não. Por que de repente você e a Brenda cismaram com isso? – Marcela riu do semblante franzido da morena a sua frente.
- As vezes rola uma troca de olhares entre vocês. Não temos muita coisa pra fazer aqui dentro. Então, criar uma fanfic é interessante. - Sorriu.
- Eu estou sem moral nesse presídio. Troca de olhares? Francamente, Marcela. Agora eu acredito que sua cabeça está confusa.
- Ok. Prosseguindo. – Limpou a garganta e recomeçou o relato. – Entraram dois guardas acompanhando Gisele. Eu nunca os tinha visto. Devem trabalhar em outra ala. Quando eu perguntei o que estava acontecendo, apaguei. Puseram alguma coisa em meu rosto. Quando acordei eu estava numa maca com as pernas abertas. Tipo aquelas macas que usamos quando vamos ao ginecologista? Estava naquela posição desgraçada de frango assado. – Nesse momento Verônica não conseguiu segurar o riso. A gargalhada veio solta pela forma como a outra narrava sua tragédia.
- Nem sofrendo você deixa de ser engraçada.
- Ainda bem que você se diverte. Porque eu estava quase fazendo xixi nas calças de tanto medo. Então apareceu uma deusa vestida de branco.
- Essa deusa seria uma médica?
- Acho que sim. Mas, ela olhou para mim com uma cara de nojo que tive vontade de cuspir na cara dela. Parecia que eu era um inseto somente porque sou uma presidiária. Depois eu apaguei. Quando dei por mim, eu estava sentindo muitas dores aqui na cela.
- E quando a Selena te encaminhou para a enfermaria.
- Eu ouvi vozes. – Marcela fez uma pausa como quem tentasse recordar. – Alguém paquerou a Selena. Uma enfermeira me tratou como gente. E, a Gisele e a médica levaram uma bronca de alguém. Mas, para ser sincera... Não sei se foi sonho ou realidade. Eu estava muito tonta e sentia muitas dores. Me desculpa.
- Ok. Você ajudou muito. Precisa descansar, agora.
***
- Você tem certeza disso? Vai jogar essa merd* no ventilador?
- Se for para tê-la ao meu lado, irei.
- Mas, o que te garante que sabotar o noivo a trará para os seus braços? – Marco Aurélio sabia que seria difícil fazê-la mudar de ideia. Mas, não acreditava que aquele pudesse ser o caminho para atrair a atenção da publicitária.
Madalena passou as mãos pelos cabelos. Impaciente.
- Ok, Marco. O que você sugere? Suponhamos que eu não exponha o noivinho perfeito agora. O que você sugere que eu faça? – Sua pergunta foi pausada... Tentava demonstrar para ele o quanto seria capaz para ter a publicitária.
- Eu sugiro que você tente conquistá-la. Como tem feito. Se o que você me relatou for real, você já está mexendo com ela. Mas, convenhamos... Precisa ter paciência. Ela vai digerir todas essas sensações. Se você manchar a imagem dele, ela se porá contra você.
- Ok. – Respirou fundo. – Pensarei num plano B.
- Meu amor, você está tão mal acostumada a ter tudo na hora que você quer que respeitar o processo da paquera está lhe parecendo o fim do mundo.
Ele sorriu. Havia vencido o plano desastroso da prima de entregar o noivo da publicitária para a polícia.
- Mas, que fique registrado que uma hora o coloco na cadeia. O que ele faz é ilegal.
Em outro ponto da cidade, Antonia conversava com a amiga.
- Estou muito ansiosa. Pegamos o material na gráfica e já podemos distribuí-lo nas escolas e centros culturais. Graças ao investimento da Madalena e as portas que o nome dela abrem, o prefeito topou distribuir o material para ser trabalhado nas escolas municipais.
Antonia relatava com muita euforia. O material havia ficado belíssimo, de muita qualidade. Mas, achava que a amiga devesse estar um pouco mais feliz.
- Eu também gostei. - De fato, hava gostado. Mas, outras coisas passavam por sua cabeça naquele momento.
- Hum! Nesse ânimo ninguém vai acreditar no material. – Deu um sorriso inquisidor. – Qual é? Há quase uma semana que você está ácida.
- Estou com alguns problemas pessoais. O casamento está chegando e eu estou ficando um pouco assustada com tudo isso.
Antonia pareceu acreditar, para o alívio da publicitária. O problema era que não queria mais ver Madalena em sua frente na mesma proporção em que não parava de pensar nela. Fariam na noite seguinte um grande evento com a presença do prefeito e da imprensa para o lançamento do material.
- Eu sei, amiga. Mas, pense como a nossa agência de publicidade vai ganhar um mega espaço após o lançamento desse material. Acredito que teremos que dobrar a quantidade de funcionários em breve.
Lana riu da empolgação da amiga. Sentia que deveria estar no mesmo caminho. Mas, aquela empresária não saía de sua cabeça. Estava gastando tempo demais pensando nela. Para sua sorte, o noivo estaria ausente naquela semana. O trabalho dele o consumiria pela semana inteira.
- Já escolheu o vestido para amanhã? A Madalena Pimentel com certeza estará arrasando. Pena que o Pedro não poderá estar com você.
- Ele detesta esses eventos. O laboratório o consome demais. Ele ficará num Congresso até dia 30. Essa semana estará cheia, melhor assim. Eu não teria nenhum tempo para ele.
Lana não queria tocar no nome de Madalena. Quanto menos falasse dela mais fácil seria parar de pensar. Não conseguia esquecer o beijo. Mas, por mais que tentasse sentir repulsa, era sempre outro sentimento que tomava conta. A novidade, a surpresa, a entrega. Sentia raiva de si por se perder nessa lembrança. Ao mesmo tempo sentia-se aliviada por não ter notícias de Madalena. Mas, tinha que admitir, saber que a veria no dia seguinte a deixava completamente tensa.
- Sim. E, ele? Animado para o casamento? Está chegando.
- Sim. Estamos contando os minutos. – Sorriu com falsa empolgação.
***
Um copo de suco foi arremessado no rosto de Selena, assim que ela se aproximou de Verônica. A carcereira sem pestanejar levantou a outra, do banco do refeitório, puxando-a pelo braço.
- Solitária. Agora. - Selena a arrastou pelo salão. Adentraram um corredor. Havia pouca resistência por parte de Verônica. Mas, a animosidade era perceptível. Antes de abrir a porta da solitária, passaram por duas guardas.
- Por que você está me colocando na solitária de novo? – Perguntava irritada.
- Cala a boca e entra. -Selena mantinha o semblante fechado.
Abriu a porta e a jogou dentro da cela. Entrando na sequência.
Selena fechou a porta e baixando o tom de voz, sussurrou:
- Presta atenção. Se alguém entrar aqui agora teremos que fingir que estamos juntas. Ok?
Verônica entendia que Selena estava temerosa. Será que havia descoberto algo? Balançou a cabeça positivamente. Toda aquela cena de estar irritada, Verônica percebeu, ser era para as outras presas.
- O copo de suco machucou você? – Perguntou para a ruiva assim que a porta fora fechada.
Selena suavizou o semblante.
- Não. Mas, bem que ele poderia estar vazio. – Ambas riram. – Olha só, descobri algumas coisas. Andei sondando a enfermeira Cláudia.
- Ela é confiável?
- Para ser sincera, nesse momento, ninguém é confiável. Por mais simpática que possa parecer, as pessoas mentem.
- Devo ter medo de você?
- Se eu quisesse lhe fazer algum mal, já teria feito. Não acha?
- Sim.
- É algum tipo de experiência com o útero dessas mulheres. Mas, não sei o quê. A princípio pensei que pudessem estar esterilizando as presas. Mas, onde entraria grana nisso? Então, acho que não é isso...
- Faz sentido. Bate com os hematomas da Marcela e com a hemorragia que ela teve.
Sussurravam. De repente, pancadas na porta. E, o barulho da fechadura.
- Depressa. Abra a blusa. – Selena ajudou a subir a camiseta que Verônica usava. Abriu a própria calça. Simulando que elas estavam a caminho de uma possível trans*.
Quando a porta fora aberta fingiam se recompor. Era Gisele.
Seu olhar era totalmente indiscreto. De quem sabia o que se passava ali dentro.
- A Cláudia quer falar com você. Deixe a putinha que eu termino o serviço. – Ao dizer isso, Gisele foi adentrando a claustrofóbica cela. Quando fora detida pelo braço.
- Você não coloca um dedo nela. Ela é minha. – Selena usara de uma autoridade que não lhe cabia. Mas, estava segura em sua postura. Gisele analisou a situação. Todas estavam tensas. Verônica transpirava.
- Ok. A vadia é sua. – Ergueu as mãos em sinal de rendição com ar de deboche.
Selena soltou o ar devagar. Saiu da cela acompanhada por Gisele que piscou maliciosamente para Verônica. Que, presa, ficara naquele cubículo malcheiroso.
Fim do capítulo
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jake
Em: 26/04/2018
Caramba essa foi por pouco!!!
Acho que vai acabar rolando um clima entre Selena.e Camila...apos o término.da operação
...
Parabéns autora.curiosa pra.saber oq se passa dentro do presídio..
Bjs...
Resposta do autor: Oi, Jake! Será que esse clima se solidifica? O que você acha? Tem capítulo novo! Obrigada pelo comentário. Beijo
Andys
Em: 22/04/2018
Olá autora!
Cada vez mais interessante essa história,tomara que a Vero consiga logo pegar esse bandidos!
Quero ver como a Lana vai resistir a Madalena nessa festa,sozinha e com esse interesse disfarçado.Noivo bandido é o primo está certo melhor a Madalena ir seduzindo a Lana aos poucos.
Abs!
Resposta do autor: Oi, Andys! As coisas se encaminham para um esclarecimento na penitenciária... A Madalena planeja dar o bote. Será que Lana sucumbirá? O que vc acha? Beijo
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