CapÃtulo 8 - Tentando Entender
Selena se aproximou. Sentia o medo e a repulsa nos olhos da detenta. Não queria participar de nada daquilo. Mas, não daria para contrariar a sua superior. Gisele era louca, em seu parecer, porque não via problemas em machucar as pessoas. E, se não fizesse o que estava mandando seria capaz de machucar aquela mulher imobilizada em seus braços.
Uma voz masculina soou no rádio.
“Missão abortada, Meireles”
Gisele esbravejou soltando a morena que era pouca coisa mais baixa que ela.
- Que merd*! Compreendido. – Queria perguntar várias coisas. Mas, não na frente de Selena e Camila. Empurrou Camila nos braços de Selena e saiu xingando.
Selena segurou a morena para que não caísse. Verônica se recompôs rapidamente e empurrou a carcereira.
- Vocês são loucas. Você iria me agarrar só por que aquela mulher estava mandando?
- Me desculpe, Camila. Ela manda em muita coisa aqui dentro. Evite enfrentá-la. – Selena tentou se aproximar da morena novamente. Mas, ela a repudiou.
- Que porr* vocês pensam que estão fazendo? Não somos animais, somos seres humanos. Eu exijo saber o que vocês fizeram com a Marcela.
Naquele momento, um carcereiro nunca visto por Verônica se aproximou trazendo uma Marcela totalmente grogue.
- Ei, garota. – Verônica se aproximou calmamente e sorriu. – Como você está? O que fizeram com você?
Selena se aproximou para ajudar Marcela. As duas, policial e carcereira, conduziram a outra para a cama dela. Marcela parecia alheia ao que acontecia a sua volta. As outras duas perceberam em seu corpo alguns hematomas nos pulsos, nos tornozelos e nas coxas. Ria e chorava ao mesmo tempo sem o menor controle. Transpirava a ponto de pingar.
O carcereiro saiu.
- Selena, me explica o que está acontecendo? O que fizeram com ela? Ela está totalmente grogue. – Verônica a olhava esperando respostas que não vinham.
- Eu não sei. Mas, é nítido que ela esteve mantida presa por algo, a notar pelos hematomas.
- Sim. Isso, eu também percebi. – Foi grosseira.
Selena ficou muda.
- Não me machuquem. Não me machuquem. – Marcela balbuciava ao cair na cama.
Verônica passava as mãos pelo rosto num claro gesto de nervosismo. Olhou para Selena que ainda a encarava em silêncio.
- Você precisa me ajudar. Disse que eu seria a próxima. Em que? Que merd* fizeram com a Marcela?
- Olha para mim, Camila. – Verônica encarou a ruiva. – Eu vou te ajudar. Mas, precisamos ter o máximo de cuidado possível. Isso aqui é perigoso tanto para você quanto para mim. Também quero saber o que se passa aqui dentro. Mas, precisamos ter cuidado. Entendeu?
Verônica acenou positivamente com a cabeça.
- Eu vou confiar em você. Mas, se me trair eu acabo com sua vida, Selena.
A ruiva se aproximou segurando-a firmemente pelo braço.
- Acredito que você não esteja em condições de me ameaçar. Não acha? – Estavam próximas. Se encaravam com raiva.
- Eu não estou me sentindo bem. – Marcela gemia.
Neste mesmo instante Verônica puxou o braço para se desfazer do contato com a ruiva.
- Eu irei levá-la à enfermaria. – A ruiva pegou o rádio e se comunicou com outra carcereira que apareceu em 10 minutos para ajudá-la.
A enfermaria ficava em outra ala. Oposta à das celas. As luzes foram apagadas e Selena andava de um lado para o outro, sentia-se sufocar. Pensava se, de fato, deveria confiar em Selena. Mas, naquela altura do jogo não tinha muita escolha. O dia seguinte seria de visitas. Esperava ansiosamente a amiga para poder passar algumas informações. Haviam decidido que não mandaria cartas, era muito arriscado. Afinal, já entrara chamando atenção demais.
Selena entrava na enfermaria. Cláudia estava de plantão. Nutria certa simpatia por ela. O que era muito difícil naquele ambiente hostil. Muita gente ali vivia de mau humor, péssimos salários, péssimas condições, péssimas histórias e a esperança de um mundo melhor e mais justo todos os dias era drenada para um buraco profundo de dor, injustiças e violência.
- Boa noite, Cláudia. Pode dar uma olhada na Marcela? Sua cela é a 25 – A.
- Oi, ruiva. Por você faço qualquer coisa. Coloca a garota na maca. – Sorriu, sempre solícita.
Selena observou que sangue começava a escorrer por entre as pernas de Marcela. Um pequeno filete contínuo do líquido vermelho começou a manchar tudo bem na hora em que a presa começara a se contorcer.
Cláudia atendeu pacientemente Marcela, sob o olhar atento de Selena. A ruiva mais uma vez constatou que a enfermeira não fazia parte do time que tratava aquelas mulheres já condenadas por seus crimes, como animais. Era uma das poucas a fazer diferença naquele sórdido lugar. Mal podia esperar para sair dali.
- O que aconteceu com ela, Selena? Ela está com hemorragia. Preciso acionar a Dra. Irei sedá-la. Pode ir. Se houver alguma novidade te chamo.
Selena se aproximou e beijou Cláudia no rosto.
- Obrigada, querida.
- Toma um café comigo quando sairmos do plantão?
Selena sorriu. Estava se acostumando com aquelas investidas dentro daquele lugar. Totalmente fora de cogitação pensar em sair com Cláudia. A dedicada enfermeira não chamava sua atenção em nada. Ninguém chamava a sua atenção. Sua vida amorosa era quase inexistente. Seu trabalho a consumia. Não era à toa que galgava depressa os degraus de sua profissão.
- Me chamou, enfermeira? – Disse a médica entrando calmamente com Gisele à tiracolo.
- Boa noite Dra. – Acenou para a Dra. – Gisele. – Acenou para a outra. – Vocês estão sendo descuidadas. A Selena entrou aqui trazendo essa mulher neste estado lamentável. Essas mulheres estão à margem da sociedade, ninguém reclama por elas. Mas, não podemos deixar brechas. Tenho limpado sistematicamente a sujeira de vocês.
As duas mulheres que entraram achando que receberiam algum tipo de elogio pelos inúmeros serviços prestados, ficaram boquiabertas pela repentina chamada de atenção.
- Desculpe-nos, Cláudia. Ela foi um serviço improvisado para não perdermos viagem. A Selena tirou a Camila de circulação bem no momento em que iríamos pegá-la. Para não perdermos a viagem levamos essa daí. Mas, houve rejeição nos testes depois da coleta de material e não nos serviu para nada.
- E a mandaram de volta sem o tempo de observação. – Cláudia se aproximou visivelmente alterada deu um tapa no rosto da médica. – Imprudentes. Querem nos delatar? Já não basta todo o processo expositivo que temos que enfrentar por causa do procedimento de extração?
Todas ficaram mudas. Cláudia respirava devagar no intuito de se acalmar. Não podia se descontrolar, mas a prepotência daquelas duas poderia colocar tudo a perder.
- Não percebi que poderia haver hemorragia.
- Não percebeu porque trata essas mulheres como se elas não precisassem de cuidados. Gisele essa sua implicância com a tal da Camila pode por tudo a perder. E, não entramos nesse jogo para perder.
- Não é implicância. Essa vadia se acha muito esperta. Quero colocá-la no lugar dela.
- E a Selena? Tem alguma chance de ela desconfiar de alguma coisa? Para onde ela levou a Camila na noite passada?
- Para a solitária. – Gisele disse displicente. – Aquela é uma monga. Não tem como desconfiar de nada. Ela é favorável a essa merd* de Direitos Humanos. Ainda não endureceu com relação a profissão. Daqui uns meses ela estará como nós.
Cláudia ficou pensativa. Adorava o jeito de ser de Selena. E, não conseguia imaginá-la podre como Gisele, aquela já estava corrompida. Era uma mulher nojenta, sem escrúpulos e nenhum pudor. A ruiva era o oposto. Além de linda, muito atenciosa. Cautelosa. Mas, muito séria. Extremamente profissional. Não correspondia a nenhuma de suas investidas. Será que ela estaria interessada na prisioneira parceira de cela de sua paciente?
***
- Oi, amor!
Lana levou um grande susto ao se deparar com Pedro em seu apartamento. Não o esperava. Nem tinha cabeça para lidar com o noivo naquele momento.
Selaram os lábios rapidamente.
Ela foi tirando a roupa e indo para o quarto. Precisava de um banho urgentemente. Toda aquela situação surreal com Madalena havia acabado com seu autocontrole. Ele a seguiu. Estava curioso sobre a prova do vestido. Queria saber os detalhes e, principalmente, desejava ver a empolgação na narrativa da noiva.
- Como foi a prova, amor?
Pensar na prova do vestido foi automático lembrar de como Madalena a beijara. A possessividade com a qual envolvera seus cabelos e sugara sua boca. Anulou toda a emoção da prova do vestido.
- O vestido está lindo, querido. Quase pronto.
Ela entrou no box para tomar uma ducha rápida. Fechou os olhos enquanto sentia a água escorrer pelo corpo. Depois que terminasse o banho, esperava conseguir dar ao noivo toda a atenção que ele desejasse e ela sabia estar em falta.
- Amor, já já conversamos. – Gritou do box.
Ele não respondeu. Então ela imaginou que ele deveria estar em outro cômodo da casa. Até sentir um par de mãos descansar em seus ombros. Massageando aquela região que se encontrava totalmente tensa.
- Hum! Como você está tensa, amor. Está precisando relaxar.
Ela não disse nada. Permitiu que ele explorasse seu corpo tentando se concentrar no que ele fazia. A mão dele adentrou a sua intimidade.
- Hum! Já está molhadinha para mim? – Questionou ele ao verificar que aquela umidade não era do chuveiro.
- Sim. – Disse ela tentando disfarçar a incredulidade daquela umidade não ter sido provocada pelo homem nu, que naquele momento estava à sua frente. E, sim pelo ataque que sofrera de uma empresária linda e insana que surgira em seu caminho. “Deus, eu fiquei excitada com ela”.
Observou o sorriso bonito e convencido do noivo. Não pensou duas vezes. O abraçou forte e fora correspondida. O beijou. Suas lágrimas mesclaram com a água do chuveiro e ele nem percebera o estado emocional da publicitária. Sua excitação pela noiva já extrapolava qualquer limite de racionalidade. Como já havia percebido que ela estava preparada a sua espera, a penetrou. Ela deu um gemido alto e começou a jogar o quadril contra o dele. Precisava urgentemente entender o que acontecia consigo.
Pedro sugava seus seios ruidosamente. Ela gostava daquilo. Sentia prazer naquele momento.
Ficou feliz. Seu prazer estava a salvo. A empresária não havia destruído nada dentro de si. No máximo em uma semana aquilo já seria passado em sua vida.
Sentiu Pedro goz*r. Ainda não havia goz*do. Mas, sentira prazer na viagem. Isso, naquele momento era o suficiente. Olhou carinhosamente para o noivo.
Beijou-lhe os lábios. A forma possessiva como ele a tomara voltou a excitá-la.
- Não gozou ainda, né amor?! Vem comigo.
Ele a conduziu até a cama. Se colocou entre as pernas dela e começou a ch*pá-la. A publicitária adorava aquilo. Segurou forte seu cabelo. Goz*ria facilmente daquele jeito. Seu gemido era alto.
Estava muito feliz. Certificava-se que seu prazer estava continuava o mesmo.
Imediatamente veio em sua mente a forma como fora beijada pela empresária, a forma como se deixou ser dominada. O prazer que sentiu ao ser beijada por ela. “E, se fosse ela ali agora?” Mal formulara este pensamento e uma descarga elétrica a atingiu com violência. Gozou e tremeu ao sentir o poder da descarga de prazer que seu corpo sofrera.
Assustou-se ao abrir os olhos e deparar-se com o noivo todo satisfeito a lhe olhar.
- Amor, há quanto tempo não te vejo sentir um orgasmo tão intenso. Que delícia! Aprendi a fazer do jeitinho que você gosta.
Mal ela teve tempo de se recuperar e ele a penetrou. Ela precisava voltar a se concentrar. Mas, imaginar Madalena entre as suas pernas lhe proporcionando aquele prazer havia sido uma experiência bizarra.
Se encaixou melhor no noivo. Ele parecia extasiado com aquela predisposição toda dela após um dia de trabalho.
Estavam exaustos quando finalmente se desgrudaram. Caíram na cama já pegando no sono. Tirando o breve lapso de imaginar Madalena entre suas pernas, estava mais do que satisfeita com sua performance sexual ao lado de Pedro.
***
- Marcela, como você está?
Verônica viu a companheira de cela chegar abatida. Visivelmente cansada e frágil. Acompanhada por Gisele. Que deixou a detenta ali e saiu.
- Como é bom ver você, Camila.
Marcela abraçou Verônica e começou a chorar.
A policial ficou emocionada. Também era bom ver aquela maluquinha. A ajudou a se sentar na cama
- O que fizeram com você?
- Eu vou te contar. Mas, a minha cabeça está um pouco confusa agora. E, ainda sinto dores. Preciso de repouso.
Marcela se deitou com a ajuda da mais nova amiga. Percebia as marcas no corpo. Imaginou o medo dela ao ser submetida à alguma tortura. Em questão de minutos, Verônica assistiu aquela mulher já marcada pela vida, pegar no sono sem lhe dizer uma única palavra sobre a violência sofrida.
Fim do capítulo
Comentem...
Beijo!!!
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Mille
Em: 19/04/2018
Olá Paloma
O que será que elas fazem agora fiquei mais curiosa ainda.
Lana tenta se convencer com o Pedro durante o ato sexual que a Madalena não abalou a química entre os noivos.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor: Oi, Mille. Bora torcer para a Madalena ter paciência para conquistar Lana, rsrs. Falta pouco para descobrirmos o que se passa no presídio. Beijos e obrigada por sempre me deixar por dentro de suas impressões.
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