No final do seu expediente, Sofia já se dirigia para o estacionamento próximo do colégio onde sempre guardava seu carro. O caminho ate lá era meio escuro, iluminado apenas por poucas luzes da rua mas isso já não era novidade. Perdera as contas de quantas vezes foi barrada por ali e assaltada, por isso seguia com passos rápidos e sorrateiros.

Ao olhar para trás perdeu a visão do caminho que seguia conseguido esbarrar em uma barreira humana que a assustara pela dureza do choque deste encontro a fazendo derrubar sua pasta e alguns papeis de prova.

Era um homem forte de uniforme e pose militar, carregava em uma das mãos um cape do qual o apertava nervoso pelo encontro que tiveram.

 

--(rs)...me desculpe senhor.—disse Sofia desconcertada diante do sorriso sem jeito do homem a sua frente enquanto se abaixava para recuperar o que caira.

 

--não, eu que devo desculpas por pará-la desta maneira.—abaixou-se ele a ajudando.

--Meu nome é Vincent Kyle. Sou pai de Eve,sua aluna.--disse ele com convicção e estava certo para o seu interesse. Os dois se ergueram e Sofia apertou sua mão em um cumprimento forte que a fizera não demorar com aquele gesto. Ele escondia músculos por baixo daquele uniforme.

 

--sim..é bom conhecer-lo.depois de tantas reuniões perdidas..mas agora eu preciso ir. Meu horário de trabalho acabou. Por que não passa aqui amanha??adoraria conversar com o senhor sobre a Eve.

 

--eu digo o mesmo mas não poderia. Tem que ser agora! É o único horário que estou livre e..o único horário em que ela não esta em casa.--disse ele com um tom de preocupação. Como Eve não estaria em casa uma hora dessas??perguntou-se Sofia mas logo lembrou de seu trabalho mas nunca pensou que ficaria ate tão tarde.

 

Sempre Sofia era a ultima das professoras a deixar o colégio e isso queria dizer que praticamente era melhor amiga dos seguranças de lá. Eram quase onze e meia e estava ali se perguntando onde estaria Eve como seu pai.

 

--do que se trata??das ótimas notas de sua filha ou do quanto ela dorme na minha sala?—insinuou Sofia logo de cara para ele ficar ciente do que a aborrecia.

 

-–...ela deu pra trabalhar agora. Esta tentando ser independente. (rs) como se isso fosse possível.--disse ele com ironia mas algo realmente não estava certo para ele. Estava nítido em seu rosto sério.

 

--que..bom pra ela mas não quando isto esta afetando a vida dela aqui no colégio. Isso esta atrapalhando ela..

 

--não é apenas a vida dela no colégio que esta sendo afetada professora..esse emprego dela do qual ela nunca me fala sobre esta me incomodando! temo que ela tenha se envolvido com algo que no futuro possa sair de seu controle..ou com os mais variados tipos de gente que nem em favela encontro. E se ela estiver se drogando??eu nem posso imaginar isto. Estragaria todo seu futuro..e é por isso que preciso de sua ajuda.

 

--minha ajuda??—perguntou Sofia surpreendida.

 

--você é a única das professoras de Santa Monica que tem a audácia de me enviar bilhetes e mais bilhetes sobre o comportamento de Eve no meu emprego.—dissera ele tentando esconder o pequeno sorriso no canto de sua boca.

 

--não é audácia é a pura verdade. Ela dorme durante a minha aula inteira e mesmo tendo as melhores notas não me conformo com esta situação.

 

--ótimo,e é por isso que quero que descubra o que tanto ela apronta, o que tanto ela me esconde.se puder venha comigo ate em casa e...

 

--o que??(rs) do que esta falando senhor Kyle??

 

--não tenho coragem de invadir o quarto dela e vasculhar suas coisas mas minha vontade é imensa.

 

--e eu teria??!(rs)não! Não posso fazer isto. Sou sua professora!eu não poderia vasculhar o quarto dela procurando sabe-se lá o quê pra você!

 

--a mãe de Eve nos deixou ha muito tempo. Quando não estou viajando, nunca estou em casa senão este horário, cansado depois de horas no quartel..não tenho tempo para mim imagina para ela! Precisa me ajudar..

 

Sofia suspirou pesadamente a pensar.se queria que Eve parasse de vez de dormir em suas aulas teria que ajudar Vincent a descobrir seus mistérios. Aceitou sem escolhas e entrando no seu carro seguiu o dele chegando rapidamente a casa da família Kyle.

 

Era uma casinha simples de paredes brancas com sua fachada bem pintada com uma grade prateada bem no subúrbio da cidade.com garagem e muito bem cuidada a casa era bem comum aos seus olhos. Uma família humilde e pelo visto Eve tinha muito que fazer durante o dia por ali pensou.

Entraram na casa e ainda sem jeito Vincent a guiou ate o quarto dela no primeiro andar da casa e pararam ali porta. Ali os dois buscavam coragem diante a porta, coragem essa que os dois nitidamente não tinham.

 

--eu..não sei se posso mesmo fazer isto..—falou Sofia virando-se receosa ao homem.

 

--olha...estou pedindo isto para não me desapontar caso..descubra algo..eu só quero ter certeza que minha filha não esta se envolvendo com nada ilícito.

 

--e esta sendo um ótimo pai pensando assim mas eu e ela não temos uma ótima convivência e não sei como ela reagiria ao descobrir isto.de fato me mataria!

 

--ela não precisará saber disto. Não é esse o dever de cada professor??Disciplinar seus alunos..

 

--(rs) Eve..

 

--você é algo que ela precisa.acredite..faça isto por ela não por mim.--falou ele pondo o cape e partindo deixando Sofia com a difícil decisão.

 

Como faria isto??iria mesmo invadir a privacidade de sua aluna para ajudá-la??pensou ela.

 

O que importava agora para ela era a vontade que tinha de abrir aquela porta e assim ela fez.

 

Era um quarto comum de uma adolescente. bem arrumado com suas prateleiras cheias de livros, uma cama bonitinha, cheia de grandes pelúcias, um closet bem trancado. Algo incomum para Sofia mas por onde começaria??perguntou-se ela.

Não conseguia tirar os olhos do relógio em seu pulso.de fato não queria mexer em nada de Eve mas foi atraída por um perfume inebriante vindo do closet trancado. Era o mesmo que sentiu hoje do próprio corpo dela. Só podiam ser das roupas da jovem e ao pensar nisso sentiu suas mãos suarem e gelarem e um estranho ritmo em meu coração. Ele estava acelerado e nem ela sabia porquê.

 

--(rs) isso é loucura Sofia.—disse ela a si mesma. Não havia nada de errado em um closet trancado. Pensou.

Seguiu então a caminho da porta, ciente de que não mexeria em nada e sairia dali com sua consciência limpa quando tropeçou em um azulejo do piso mal colocado e quase caiu por isto.

 

Reparou bem a forma como ele saíra do lugar e revelou um local secreto no piso. Nada mais que um palmo e meio de comprimento onde um pequeno diário se encontrava assim como uma chave sobre ele.

O que seria aquilo??perguntou-se.

ela não teve coragem para abrir e ler suas paginas mas a chave tinha certeza da onde seria. Recolocou o piso no lugar e seguiu ate a trava no closet. A chave encaixara bem e ao girar o cadeado ele abriu. O perfume agora estava mais forte em seu nariz e tomara de conta do seu ser.

 

De tantas cores e tamanhos Sofia deparou-se com uma infinidade dos mais variados tipos de roupas e roupas que talvez nem ela teria coragem de usar. Roupas sensuais e algumas ate que mesmo com todo o tempo do mundo não descobriria para que serviam. Como um uniforme de empregada assim como um uniforme de colegial totalmente diferente de tudo que já vira.

 

Se perdeu tentando entender Eve e de alguma maneira sentiu-se abraçada por ela dentro do seu maior segredo. Cada toque em cada peça a faziam pensar em coisas nunca antes pensadas por ela, como a angustiante vontade que queria ver Eve usando cada peça a sua frente e ate na forma como a garota lhe fitava, tudo parecia tão excitante, de uma maneira nunca sentida por ela. Ate que seu encanto foi quebrado com o bater na porta de Vincent. Quase enfartou, jogou o diário dentro da sua bolsa e trancou novamente o closet.

 

--esta tudo bem ai Sofia??--perguntou Vincent do lado de fora do quarto e Sofia não o deixou esperando.

 

Sofia saiu do quarto e o fitou em sua preocupação.

 

--então??--perguntou ele na espera pelo pior.

 

--não há nada.—falou Sofia em sua calma.na verdade Sofia estava sem folego por dentro.

 

--nada??--perguntou ele novamente a ela.

 

--isso..nada.—respondeu novamente controlando seu pânico e mostrando o belo sorriso que ela tinha. Seria uma ótima distração. Pensou ela.

 

--(rs)..eu..não acredito que..(rs) duvidei da minha menina.--aliviado Vincent respondera e ela só queria ir embora dali de tão desconcertada estava.

 

--pois é..deveria confiar mais nela.

 

--eu..nem sei o que dizer estou..tão..

 

--tudo bem eu..não vou contar nada a ela.

 

--agradeço.

 

Vincent a levou ate a porta e Sofia partiu mais do que impressionada em direção a sua casa. Não parava de pensar no que vira e no que sentia. Ainda os arrepios em sua nuca e isso tudo apenas por tocar em simples roupas de uma garota.

 

logo seu celular tocou e ao tirá-lo da bolsa percebeu uma visão inconveniente dentro desta. o diário e a chave tinham sido esquecidos em sua bolsa.

 

--que droga!!mais que...merd*!!--freou bruscamente o carro e atendendo o celular se deparou com as vozes de Adriana e Carmem a lembrando da sua festa.

 

                                                                ***

 

Nem mesmo a festa ao redor da sua mesa atraia tanta sua atenção como aquele simples diário guardado em sua bolsa. Somente precisava abrir o zíper desta para acabar de vez com esta curiosidade...e foi o que fez.

Com Carmem e Adriana se acabando na pista de dança era o momento mais adequado. Adequado??perguntou-se.

era o diário de uma garota??somente! O que mal deveria ter nele??pensar assim talvez me ajudasse a não me encher de culpa depois. Continuou ela.

Com o forte suspiro e a coragem no peito abriu o diário e na primeira pagina se lia:

 

´´Querido Diário.

 

Deveria estar feliz por entrar no Santa Monica, um colégio prestigiado em suas conquistas e..aplaudido pelo ensino por meu pai.Eu deveria estar feliz por esta mudança..tudo deveria ser diferente de antes mas..

nunca pensei que meu demônio viria de saia e cheia de regras para me punir.

Seu nome Sofia..

minha professora de Geografia. Logo Geografia..parece sacanagem.

um carma em minha vida.

nossa historia de ódio se iniciou desde da primeira vez que nos vimos..claro eu cheguei atrasada mas..ela não tinha esse direito!

meu corpo queima toda vez que a vejo me odiar ou apenas me evitar.eu as vezes a odeio,eu as vezes..eu queria ela longe de mim para que eu nunca pudesse sentir mais isto.

Que ela jamais brinque comigo``

 

Sofia fechou o diário lembrando bem do dia que conheceu Eve.

Era seu primeiro dia na Santa Monica e já chegara atrasada. Sabia bem o que aquilo me custaria, a diretora disse bem: nada de atrasados no primeiro dia, são as regras!

Descontara toda sua raiva na garota. Sua justificativa era o fato de seu pai não tê-la levado ao colégio e por não conhecer muito a cidade acabara se perdendo. Agora Sofia sentia-se mal por descobrir que Vincent sequer podia ajudá-la, e pensar que uma garota, sozinha em uma cidade nova, no seu primeiro dia de aula fosse assustador, imaginou como se sairia no lugar de Eve ainda mais atrasada.

A mandou para a diretoria onde lá ela ouviu poucas e boas da cruel diretora mas se perguntou..o que ela sentia em relação a mim??o que poderia ser maior que o ódio que ela sentia neste justo dia para guardar em um diário escondido como aquele??

Tudo que precisava estava ali em suas mãos, em outras paginas! As respostas para o mistério de Eve.

deixaria ser levada pelo impulso da curiosidade e da falta de ética??apesar de tudo aquilo, o diário ainda pertencia a Eve e não seria justo bisbilhotar o seu mais intimo ser que era Eve naquelas paginas.

 

Sofia guardou o diário com uma incerteza no coração. Perguntou-se deveria insistir ou apenas devolver no outro dia para Eve com uma absurda desculpa de como seu pai a fizera vasculhar seu quarto em busca de alguma maconha ou sabe-se lá o quê.Ela riu de si mesma.

Aquilo nunca daria certo.

 

Essa era a razão para sua cara fechada para aquela noite, coisa nítida a Carmen que deixou o bar já que Adriana acabava-se na pista de dança.

 

--sei onde ele esta.--disse Carmen preocupada com o estado de Sofia ao sentar-se ao seu lado naquela mesa.

 

--o que??—retrucou Sofia retornando a realidade e fingindo interesse.

 

--um dos amigos do Jonas me avisou que a festa dele seria armada em um lugar especial chamado desejo carnal.(rs) homens e suas boates.--debochou ela a beber sua cerveja.

 

--desejo carnal..—avaliou Sofia esquecendo de Eve em seus pensamentos.

 

--sei que esta preocupada com este casamento e digo...eu também estaria. Então, se quer mesmo conhecer o homem com quem você vai passar a vida, vai ate lá...e descubra!

 

--eu devia??e se eu...acabar com a festa dos rapazes??

 

--esquece os outros e foca em você...vai lá.

 

--(rs) obrigada.

 

La estava ela usando a desculpa da noiva preocupada para sair de toda aquela folia que estava sendo sua festa.

Todo aquele barulho e pessoas que nunca havia visto sequer uma vez na vida a tornavam uma desconhecida e estranha na própria festa.

Nunca havia gostado de festas e essa não lhe faria falta.

Sentiu-se aliviada por ir na verdade, mas no fundo, uma curiosidade atiçou seu coração.

As palavras de Carmen eram nada mais que verdades.

Se Jonas era o que ela queria para marido pelo resto da vida nada mais justo do que pegá-lo desprevenido em sua despedida de solteiro.

 

Dirigiu ate a boate marcada, não acreditava que Jonas seria capaz de se envolver com uma qualquer. Porem Sofia sabia que despedida de solteiro acontece de tudo, mas ela conhecia Jonas.

Já se passava das três da madrugada e finalmente achou o lugar e não pude dizer que se sentia a vontade só em vê-lo.

 

Com suas paredes vermelhas e o letreiro ardente em suas luzes de neon Sofia percebeu que mesmo o horário tarde da noite a boate tinha sua fila de homens e mulheres que entravam ansiosos por algo.

Seria pela festa de despedida de Jonas ou algum show famoso daquela boate? A curiosidade já a afetava.

Sem perder tempo desceu do carro e adentrou. Usou a desculpa fura fila de ´hey sou a noiva do cara da festa.` e nunca pensou que usaria aquela velha frase na vida para invadir algum lugar.

Contudo depois de entrar facilmente ela mal conseguia caminhar no meio de tanta gente, todos aqueles corpos a dançar, em uma floresta de gente e toda aquela musica alta, era de enlouquecer. Finalmente chegou a um local diferente da pista de dança. Era algo mais formal digamos assim. Havia um palco com uma passarela preta, algumas mesas espalhadas e muita gente ansiosa. Parecia que esperavam por mais um show começar pensou ela.

Logo ela caminhou ate próximo ao palco e as luzes daquele salão se apagaram e com o susto parou de tentar desbravar aquela área.

não havia mesas vazias por ali e era tolice procurar no escuro. Quando aos gritos animados de todos uma musica diferente das eletrônicas começou a tocar. Sofia teve que parar no lugar para entender o que acontecia.

Esta era sensual e talvez já tinha ouvido inúmeras vezes dentro de sala graças as suas alunas obcecadas por uma tal de Demi Lovato.

A cada batida misturada com aquela voz saia do escuro palco, a luz focada nele surgia uma jovem que atraiu mais do que sua atenção.

Em uma barra de pole dance ela descia e caminhando lentamente para frente do palco ela dançava no ritmo.

Tão suave em seus movimentos e agitada quando deveria ser ela demonstrava toda sua sensualidade deslizando suas mãos pelo corpo sobre as justas roupas que vestia enquanto seu cabelo solto nada lhe atrapalhava apenas aumentava a beleza e inocência que aparentava ter.

Entre os gritos dos homens via bem a fama da garota que não era pouca e foi quando a musica diminuiu sua velocidade e ela se aproximou mais da plateia que Sofia pode ver os belos detalhes daquele corpo. Ela não entendia porque estava admirando-a tanto como aqueles homens permanecendo ali em pé próximo a uma pequena multidão que na mesma situação que a dela se encontrava bobos ali de pé

Na verdade ela não se importava.

 

Salto alto e uma calça preta legging rasgada em boa parte do tecido engrandeciam suas pernas e tudo que cobria acima daquela jovem era uma blusa branca fina que praticamente já estava prestes a se rasgar.

Mesmo sendo possível ver um sutiã preto por baixo ainda assim Sofia achava arriscado o que aquela jovem queria conseguir daqueles homens enlouquecidos.

Foi ai que sua mente explodiu, com o retorno da velocidade e ritmo agitado da musica as luzes focaram na jovem por inteiro e uma surpresa veio a tona.

Era Eve sua bela e encrenqueira aluna.

Tinha certeza disto quando ela mesma também a viu do palco e com um sorriso aos poucos tirou sua blusa mostrando a todos a beleza de seu corpo esbelto e pele perfeita.

Paralisada Sofia ficou.

Arrepiando-se com aquela visão e de boca aberta voltou a si escolhendo sair da boate mas não fugindo da cena que se repetia em sua cabeça dentro do carro.

Tudo fazia sentido agora para Sofia. O closet trancado e todas aquelas roupas estranhas e desconfiança de Vincent, o trabalho tarde da noite. Sofia não sabia o que pensar.

Agora a coisa era séria. Teria que ajudá-la.

Fim do capítulo