Capítulo 22– O Avesso dos Ponteiros..
E a semana passou..
Não. Na verdade, ela se arrastou..
Depois daquela tarde intensa e deliciosamente insana, não vi Melissa mais.
Conversamos apenas por mensagens no celular, mas nada muito importante.
E assim foi até sábado, quando, finalmente, a veria novamente.. Na festa da galera de RI ( Relações Internacionais )
Nem me lembrava mais que não queria ir nessa festa, porque não conhecia ninguém. Só consigo pensar e sentir uma vontade louca de ver, tocar e sentir Melissa outra vez..
O sábado chegou, mas não como eu gostaria..
Acordei com uma ansiedade proporcional ao tamanho de minha espera.
Fiz diversas coisas para que o tempo passasse mais rápido, até arrumei meu guarda-roupa, mas ele fez charme e se arrastou..
Cazuza que me desculpe, mas o tempo para sim. Aliás, 'o tempo não passa' seria o ideal para o dia de hoje.
No auge do meu desespero, resolvi ler..
Não que eu não goste de ler, pelo contrário, mas é que ninguém em sã consciência costuma ler e reler um livro de Direito Constitucional em pleno sábado à tarde.
Mas, como toda tentativa é válida, eu tentei.. Quem sabe assim o tempo passaria.
-- Rafaela..
Ouvia meu nome ser chamado baixinho, parecia longe. E a voz era tão familiar que eu até sorri.
-- Acorda, Rafa..
Depois eu fui sentindo uma sensação estranha, como se algo caminhasse pelo meu rosto.. Alguma coisa leve, mas que fazia cócegas.
Dei um tapa, tentando parar com aquela sensação estranha e indesejada. Abri os olhos, acordando assustada com o barulho do tapa que dei em meu próprio rosto.
Olhei perdida, tentando me lembrar de quem eu era e onde estava, mas só o que eu vi e descobri foi Larissa, com uma pena na mão – É. Pena mesmo. De galinha, urubu. – morrendo de rir em um canto do quarto. Rapidamente, desvendei a voz familiar chamando meu nome e o '' algo '' caminhando pelo meu rosto e fazendo cócegas.. Nem digo o que me deu vontade de fazer com aquela pena. Pena de Larissa eu não teria. Ainda mais depois de ter que aguentar longos minutos de risos e gargalhadas debochadas e incessantes.
-- Chega, Larissa.. – A encarei séria e ela parou de rir, voltando sua atenção para mim – Não tô vendo graça nenhuma, ok?!
-- Bom, a graça que tinha eu já gastei rindo de você, por isso e só por isso vou parar.
-- Tá, tá.. Onde pegou fogo? – Perguntei, voltando a deitar na cama.
-- Fogo? – Ela retrucou, sem entender. – Que fogo, doida?
-- Pra você vir aqui me acordar, suponho que seja um motivo muito grave e urgente.
-- Eu sempre te acordo e nunca é por motivo grave e urgente nenhuma, Rafa. Não viaja.
Já repararam o quanto a intimidade é uma m... moça custosa?! Ela chega de mansinho e quando você vê, já tá sentada no seu sofá, usando seu chinelo e tomando sua cerveja.
Pois é, com Larissa era assim. Intimidade demais..
Suspirei vencida. Quando ela cismava com algo, era melhor nem contrariar..
-- Que foi, Lari? Por que diabos afinal você me acordou?
-- Rafa, tá quase na hora da festa.. Se liga!
Olhei no relógio e levei um susto. Só então fui reparar em Larissa, ela já estava pronta para a festa.
Levantei correndo e fui para o banho. Atrasada. Mas com a certeza de que, quando a insônia bater, esqueçam a história de contar carneirinhos, agarrem um livro de Direito Constitucional e durmam bem.
-- Rafa, tá pronta? – Ouvi Larissa me gritando do quarto.
Olhei-me no espelho. Não estava gostando muito da roupa, ainda faltava a maquiagem e estava em dúvida se deixava o cabelo solto ou se prendia.
-- Terminando! Agüenta aí. – Respondi, omitindo um pouco da verdade para que Larissa não tivesse uma síncope.
-- Desse jeito vão revelar o amigo secreto do ano que vem e eu não cheguei ainda.
Sorri. Larissa só não é mais exagerada que duas Larissas.
Alguns minutos depois, finalmente, eu estava pronta..
-- Não precisa morrer não, dramática. Já tô pronta!
-- Uau! Quer pegar quem hoje?
-- Pegar? Ninguém, louca.. – Respondi, sorrindo internamente com a perspicácia de minha amiga. – Só quis caprichar.
-- Rafa, Rafa.. Olha lá o que você vai aprontar. Não quero encrenca pro meu lado!
-- Se liga, cabeção. Você sabe que eu não apronto..
-- E eu sou a Madonna cantando Like a Virgin.
-- Você, Larissa? Cantora? Virgem? Risadas eternas.
-- Pra você vê o quanto você apronta.
Num clima descontraído e animado, seguimos até o carro de Larissa e, finalmente, até a festa..
Quando chegamos, várias pessoas já tinham chegado e ocupavam uma enorme sala de um bonito e bem decorado apartamento. Larissa saiu cumprimentando algumas pessoas e eu, ainda parada no mesmo lugar, procurava apenas uma. Melissa.
Meus olhos iam e vinham, percorrendo o ambiente. Mas pararam no meio do caminho, quando encontraram uma silhueta conhecida.
Melissa saia da cozinha sorrindo, acompanhada de alguns garotos que, obviamente, seriam seus alunos.
Estava deslumbrante.. Maravilhosa, perfeitamente linda.
De vestido preto. Frente única. O cabelo preso em um rabo de cavalo. Os olhos realçados por uma maquiagem que os deixavam ainda mais verdes e expressivos.
Não consegui desviar meus olhos de sua imagem..
-- Rafa, que loucura é essa?
Era Larissa perguntando-me indignada. Ela puxou-me pelo braço e arrastou-me até um canto qualquer da sala.
-- Hã? – Perguntei, fingindo-me de desentendida.
-- Você babando na professora Melissa..
-- Tá louca, Lari? – Coloquei a mão no peito e fiz uma expressão surpresa.
-- Não, não estou louca, Rafaela. Te conheço muito bem, esqueceu?
-- Queria ter esquecido, mas você não deixa.
-- O que rolou entre vocês? – Ela perguntou baixinho, olhando para os lados, toda desconfiada.
-- Depois eu te conto. A história é looonga..
Ela me olhou com o olhar mais chocado e embasbacado de todos os tempos. E após alguns segundos só me olhando, disse:
-- Rafaela, caralh*, cara.. Eu sabia que você iria aprontar alguma. Puta merd*. Eu sabia!
-- Lari, amiga.. Gastou sua cota de palavrão do dia em uma frase.
Ela se afastou e eu ainda pude ouvi alguns : puta que pariu, puta merd* e derivados.. que ficavam cada vez mais baixos à medida que ela se distanciava.
Não contive um sorriso, mas logo depois voltei minha atenção e visão para Melissa. Ela estava rodeada de pessoas. Ainda não tinha me visto e, considerando o número de pessoas lutando por sua atenção, não veria tão cedo..
Dei uma circulada e fui parar na cozinha. Precisava beber alguma coisa.
Algumas pessoas estavam ali também e eu percebi que elas eram legais. Me ofereceram e ajudaram a preparar a bebida. E eu, que nem os conhecia, acabei ficando por ali e me deixando levar pela conversa agradável e jovial..
-- Meninos, o que vocês tanto fazem nessa cozinha hein?!
Eu estava de costas quando ela chegou. Mas meu corpo todo se arrepiou com aquela voz, o cheiro dela inebriando toda a cozinha. Senti o coração acelerar na hora.
Me virei e encontrei seus olhos. Eles sorriram para mim, em uma silenciosa maneira de reconhecimento..
Sorri de volta. Com os olhos, lábios e coração..
-- Rafaela, tudo bem? – Ela cumprimentou-me formalmente.
-- Oi, Melissa.. Bem e você? – Respondi no mesmo tom formal..
-- Bem. Está se divertindo?
Eu sorri ainda mais. Quem ela queria enganar com toda aquela formalidade?
Os alunos que estavam ali, preparando as bebidas, foram saindo um a um. E, percebendo que não havia mais ninguém, comentei baixinho:
-- Queria me divertir contigo, Mel.. Morrendo de saudade.
-- Depois da revelação do amigo secreto a gente conversa melhor.
-- Me dá um beijo, Mel..
Tentei me aproximar, mas ela afastou-se rapidamente. Quando estava na porta, que separava a cozinha da sala, ela parou e me mandou um beijo, saindo logo em seguida..
“Ah, se ela soubesse a vontade gritante que eu estava de receber esse beijo.”
Balancei a cabeça, tentando desviar todo e qualquer pensamento sexual da minha cabeça.
Voltei para a sala e sentei-me em um cantinho mais afastado, apenas observando as pessoas que já estavam reunidas e começavam a dar dicas sobre com quem haviam saído. A revelação do amigo secreto, enfim, começara.
Vira e mexe pegava Larissa me observando, com uma cara nada amigável, diga-se de passagem.
Sei que a curiosidade da minha amiga não vai deixar que ela fique afastada por muito tempo. Porém, pelo menos por hora, eu me divertia analisando as dicas nada fiéis das pessoas e tentava não pensar em como a minha situação estava complicada.
Estava achando graça, trocando risadas com algumas pessoas.
Até que chegou a vez dela.. Parei o copo à caminho da boca.
O mundo se calou à minha volta. Tive a sensação de que todas as pessoas ficaram estáticas e só Melissa se movimentava. Em uma dança, lenta, de jeitos e gestos.
O modo com que mexia as mãos ao falar. O jeito de se expressar. A fala mansa.. O riso doce. O sorriso. Meu Deus.. que sorriso!
Meu mundo girando em torno dela. Totalmente fora de órbita. Melissacentrismo.
E, mais uma vez , eu senti medo do que sentia. Do modo com que aquele sentimento crescia assustadoramente rápido.
Eu não pensava. Só me entregava. Mergulhava de cabeça naquela sensação nova. De amar.. Me doar. Como nunca havia feito antes.
Eu estava pateticamente apaixonada, deslumbrada e encantada.
Coloquei as mãos na cabeça. Estar ali, observando Melissa, me fazia sentir um misto de emoções.
Pensei em sua vida, sua carreira, seu casamento. Fui me distanciando, agora ela parecia grande. Gigante. Inalcançável.. Inalcançável demais pra mim.
Perceber isso me assustou. Tanto que senti a garganta se fechar. As mãos geladas. O coração batendo fora do ritmo normal.
Saí dali quase correndo e respirei fundo quando cheguei na sacada, sentindo o ar invadindo e circulando pelos meus pulmões novamente.
A noite estava agradável. A brisa leve batia suave em meu rosto. Fechei os olhos e senti o vento bater.. Sem pensar em nada. Sem querer sentir nada..
-- Rafa? – A voz rouca e sensual percorreu cada pêlo arrepiado de meu corpo. Apertei os olhos e continuei sem me mover.
Senti um frio na barriga ao sentir que ela se aproximava. Seu cheiro estava cada vez mais presente. Inebriante.
Ela parou ao meu lado. Tocou minhas costas e fez um carinho com as mãos. Abri os olhos e a encarei. De frente. Sem barreiras.
Ela acariciou meu rosto com a ponta dos dedos e sussurrou:
-- Vem comigo, Rafa..
Me deixei levar, com a deliciosa sensação de ter sua mão na minha.
Entramos por uma outra porta, sem que fosse necessário passar pela sala principal, onde as pessoas estavam.
Melissa me puxou e guiou até..
-- Um quarto? – Deixei escapar interrogativa, sem conseguir enxergar direito. As luzes ainda estavam apagadas e só a cama se fazia visível, pela luz da lua que entrava pela janela aberta.
-- É, Rafa.. O único lugar, aparentemente, sem ninguém. – Ela respondeu
Respondeu e puxou- me pela mão, que ainda se mantinha entrelaçada à sua, fazendo com que meu corpo fosse de encontro ao seu.
Suspirei deliciada. Era tudo que eu queria e precisava. Estar novamente em contato com aquele corpo. Os lábios doces.. Que logo me beijaram.
A língua cálida.
A pele quente e macia..
Parecia o fim de meus tormentos e pensamentos.
Estar com Melissa era estar em paz. Sentir paz..
Como se minha alma dançasse e embalasse no ritmo de uma canção melodiosa e confortante.
Alma.. Corpo. De corpo e alma.
-- Você é muito gostosa, Rafa.. Muito..
Corpo.
Só corpo e não alma..
'' Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é o que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus – ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não. ''
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 19/04/2018
Olá autoras
Já estou com o coração apertado com os próximos capítulos.
Sei que a Mel não prometeu nada a Rafa, e que ela aceitou o que ela pode dar mais vai chegar a hora que a Rafa não vai querer ser a metade. Assim como a Melissa não será mais a mesma com o Leonardo basta saber se ela vai se acovardar e deixar toda responsabilidade na Rafaela.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Oii, Mille..
Vc já é de casa né, lindona?! Ah.. nem me fala, esses capítulos de sofrência deixa a gente na bad né?! kkkkk
Mas se vc for romântica igual a gente, vai ter uma esperançazinha de que o sofrimento passae e o amor vence né?! Vamos torcer pra Mel perceber que o amor é maior que qualquer medo e preconceito.
Oh, amamos seus comentários. Volte sempre! ;)
Beijão!
GRIPE
Em: 19/04/2018
Comecei a ler a história ontem e estou encantanda. O enredo é bom, a escrita flui de forma prazerosa e envolvente, quando vi que tinha postado hj, e que era mais de um cap, adorei... Mas que maldade deixar a gente com esse gostinho de quero mais! uhuahsuhuash Aguardando novas atualizações ansiosamente! :D
Resposta do autor:
Oiii, GRIPE. Que felicidade em ler seu comentário. Estou postando de 3 em 3 capítulos que é pra vcs não desistirem e sumirem de mim. kkkkk
Muito obrigada pelo comentário e pela sua presença aqui vu?! Aparece mais vezes.
Logo mais postarei mais capítulos.
Beijão, lindona! ;)
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Macaria Real
Em: 19/04/2018
Manuel Bandeira. Muito profundo.
Resposta do autor:
Oii, Macaria. Melhor ainda é ter você aqui que conhece Manuel Bandeira. Ao longo da história, citamos vários autores. Espero que você esteja gostando da história.
Aparece mais vezes viu?!
Beijão e obrigada, lindeza. ;)
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