O CASO DAS ROSAS por pamg
Capítulo 30 - Amor e Família
— Cadê a formiguinha do papai? Eu trouxe chocolate!
— Papaaaaaaiiiiiiii! — Ao escutar aquela voz, Alycia retesou-se e Emily soube, imediatamente, que havia algo de errado, mas continuou no seu lugar observando a dinâmica. A feição de Alexandra também não estava nada boa.
— Oi, meu am… — O homem parou de falar assim avistou a detetive. Cambaleante, ele empurrou a filha que ia ao seu encontro e seguiu na direção de Alycia — O que essa sapatona está fazendo na minha casa?
— Saindo. — Alycia disse de pronto já se levantando.
— José, eu não te esperava hoje. — Alexandra tentou remediar
— Essa é sua desculpa para trazer essa sapatona para dentro da minha casa? — O homem pegou o braço de Alycia que se desvencilhou rapidamente. De rabo de olho, ela percebeu que viu Emily estava inquieta e a ponto de estourar. Tentou remediar a situação:
— Vem, Emy!
Alycia pegou o mão da Loira.
— O que é isso? Você trouxe outra aberração para dentro da minha casa?
Emily passava perto homem, quando ele disse essa frase. Em um único movimento, ela o imobilizou, Marina correu para os braços da mãe.
— Emy, não vale a pena, vem comigo! Tchau lindinha, a tia te ama. — A morena disse para a namorada já se despedindo da sobrinha. Temia pelo pior. Sabia que se José se comportasse da forma habitual, Emily o prenderia.
A delegada, por sua vez, abaixou e ficou bem perto do rosto do homem que ela estava imprensando sobre a mesa:
— O nome da sua cunhada é Alycia, mas para você é detetive Dias.
— Sua aberração! — Ele esbravejou.
— E o meu nome é Emily — Apertou mais forte o braço do homem que estava torcido para trás. — Mas para você é delegada Rios. Não é aberração, nem sapatona. Se sua filha não estivesse nesta sala, você já estaria preso. Eu vou te soltar, se comporte se não eu peço para tirarem sua filha e te prendo.
O homem ficou mudo quando entendeu que a mulher era uma autoridade. Emily, então, o soltou e disse para Alexandra:
— Obrigada pela acolhida educada e gentil, Alexandra. A comida estava ótima. E mocinha, vem cá. — Chamou Marina, que foi um pouco desconfiada, pegou-a no colo e falou bem baixinho abraçando-a: — Não fica assustada. Desculpa por ter feito isso na sua frente. Eu só fiquei brava com seu papai fazer ele parar de brigar com sua tia Alycia. A tia Emily gostou muito de te conhecer.
A menina abraçou Emily mais forte e ela soube que estava perdoada. Sentiu o coração apertar por que ter que deixar a aquela criança tão doce, esperta e vivaz aos cuidados daquele ser inóspito, mas seguiu com passos firmes (e o coração apertado) na direção de Alycia, que já estava na porta. Pegou a mão da morena e deixou a casa.
Elas entram no carro em total silêncio. Alycia, mal esperou a loira colocar o cinto de segurança para dar partida no veículo. A direção que o carro tomou deixou claro que estavam indo para a casa loira. Essa não fez perguntas, não sabia o que falar.
Mas, depois de 15 minutos em total silêncio, a delegada tentou iniciar uma conversa:
— Aly, desculpa por ter…
A morena interrompeu: — Você não precisa se desculpar, Emily. Ele te ofendeu e você se defendeu. Você fez o certo.
— Ele não me ofendeu, ele NOS ofendeu, Aly.
A morena não respondeu. Emily não tinha certeza nem se ela estava lhe escutando. Parecia longe.
— Aly, fala comigo, você ficou chateada comigo? Se sim, eu entendo, mas não fica em silêncio, briga comigo, fala alguma coisa.
— Emily. — A morena suspirou e mantendo os olhos fixos na estrada tentou explicar. — Eu não estou chateada com você, eu só preciso pensar. Eu... Eu… Eu não sei, só preciso pensar.
Emily pousou a mão sobre a perna de Alycia e essa correspondeu rapidamente cobrido-a, mas como estava dirigindo teve que quebrar o contato. A mão da delegada, entretanto, continuou no mesmo lugar, acariciando a perna da detetive. O resto do trajeto foi feito em total silêncio.
Quando chegaram próximo à residência da delegada, essa pegou o controle para abrir o portão, mas foi impedida por Alycia:
— Não, Emy, hoje eu vou para minha casa. Tivemos um dia cheio e precisamos descansar.
— Aly, por favor, me perdoa por ter me exaltado.
— Eu já disse que não estou chateada com você. Não estou indo para casa porque me chateei com você.
— Por que, então?
— Porque estou cansada, porque isso mexeu comigo e porque eu preciso ficar um pouco sozinha.
Alycia se virou para a loira e depositou um beijo rápido, mas terno, em seus lábios
— Amo-te, nos vemos amanhã.
— Amor...
— Tá tudo bem, Emy. Eu juro. Pode entrar, nos veremos amanhã. Eu não estou chateada com você.
Emily não gostava quando Alycia entrava no modo caramujinho, mas sempre respeitava. Dessa vez não foi diferente.
Saiu do carro e entrou em casa. Percebeu, que o carro de Alycia não arrancou de imediato, do lado de dentro do portão, ficou em uma posição em que a morena não lhe via, mas ela a via. Sentiu o coração cortar ao perceber que Alycia estava com o rosto encostado no volante, possivelmente chorando. Resolveu intervir. Sabia que não deveria ir até lá, então pediu ajuda.
— Alô!
— Helena?
— Sim! Oi, Emy! Tudo bem?
— Não! Preciso da sua ajuda.
— O que houve?
Emily contou para a filha de Furtado sobre todos os recentes acontecimentos. Ao final, Helena deu o veredito:
— Ela não está chateada com você.
— Como não, se ela se recusou a ficar comigo e está no meu portão chorando sozinha.
— Ela está com vergonha, Emy.
— De mim?
— Não é tão simples... José é um marido abusivo há muito tempo, mas Alexandra insiste em ficar com ele. Alycia já tentou resolver isso, mas fica de pés e mãos atadas, pois a irmã não quer denunciá-lo e não quer que Alycia o denuncie. Inclusive, essa é a condição para que Alycia visite Marina. Tanto que ela só visita a sobrinha quando o pai da menina está viajando.
— Faz sentido. Ela achou mesmo que ele só voltaria amanhã.
— Viu? Mas ele voltou hoje, foi estúpido com vocês e ela não pôde fazer nada, porque não quer magoar a irmã. Você presenciou uma detetive sendo humilhada sem revidar… Ela, por certo, está com vergonha.
— O carro dela arrancou agora, Helena. Eu não sei o que fazer. Será que vou atrás dela?
— Não faça nada, ela precisa de espaço. Eu estou há cinco minutos da casa dela, vou pra lá e faço companhia essa noite, fica tranquila.
— Você poderia me mandar uma mensagem?
— Não precisava nem pedir, te dou notícias. Deixa eu correr. Quero cercá-la na portaria do prédio.
— Bejo.
— Beijo e obrigada.
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Aproximadamente 30 minutos após sair da casa de Emily, Alycia chegou ao portão do seu prédio. Dirigia devagar, não demorou muito para notar a presença de Helena ali. Baixou o vidro:
— Emily é rápida, heim?
— E você é uma cabeça dura, dona Alycia.
— Tá de carro, Lê?
— Sim.
— Pode guardar na garagem, entra logo atrás de mim e estacione na vaga ao lado direito do meu carro, ela ficará vazia por alguns dias.
— Ok.
Alycia sabia que a presença de Helena ali era obra de Emily, então, não falou muito até chegar em seu apartamento. Tinha certeza que a amiga já sabia de tudo.
— Helena, você já comeu?
— Não, mas não precisa fazer nada, vim para conversarmos.
— Vou pedir uma pizza para você e enquanto esperamos tomo banho, depois conversamos. Pode ser?
— Claro, Aly. — Helena sabia que Alycia estava querendo ganhar tempo e, de certa forma, se isolar. Queria deixar a amiga à vontade.
Meia hora depois, a pizza já havia chegado e, finalmente, Alycia se sentava na sala para conversar com a amiga. Os olhos vermelhos denunciavam que a morena havia chorado no banho.
— Lê, eu sei que você veio com a melhor das intenções e eu te agradeço por isso, mas eu não sei o que te falar. Emily já te contou toda história com certeza. — Alycia começou a falar enquanto servia a amiga.
— Contou. O que eu quero saber é porque você está aqui?
— Porque aqui é a minha casa.
— Para, Aly. Você e Emily moram nas duas casas desde que começaram a namorar. Hoje você deixou ela lá e veio para cá como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.
— Na verdade, isso é normal.
— É, de fato, mas não foi essa a dinâmica que você criou com ela. Vocês estão juntas, Aly, isso exige responsabilidade afetiva. Você pode e deve ter o seu espaço, mas isso deve fazer parte da rotina de vocês. Não é legal mudar o jogo do nada, em um momento de tensão e deixar a outra pessoa sem saber o que está acontecendo.
— Mas eu falei com ela que estava tudo bem.
— Falou e depois ficou chorando dentro do carro, em frente a casa dela.
— Ela viu?
— Sim e ficou sem saber o que fazer.
— Lê, o que eu deveria ter falado com ela? Que tal: “Ah, Emily me desculpe por ser uma detetive covarde que deixa o cunhado bêbado falar barbaridades e bater na irmã”.
— Não, Aly, que tal: “Emily, a situação aqui é complicada, pensando no bem estar da minha sobrinha e da minha irmã, eu não posso fazer muita coisa. Por isso preciso me manter afastada delas”.
— Aiiii, Helena. Relacionamento é tão difícil. Eu errei, né?!
— Sim, ela está achando que fez algo de errado e isso não foi uma situação qualquer, Alycia, ela enfrentou seu cunhado no dia em que você levou-a para conhecer sua família. Ela deve estar pensando que isso te magoou.
— Mas eu falei com ela que não.
— Inverta as situações, Aly. O que você pensaria? Ela não conhece o histórico do seu cunhado. Ela não sabe que sua irmã apanha com frequência, se recusa a fazer uma denuncia e te proibiu de fazer. Nesse momento, ela só sabe que foi na casa da sua irmã enfrentou seu cunhado e você ficou magoada.
— Entendi… Aiiii que vida!
— Amiga, posso falar uma coisa?
— Claro, Lê.
— Eu não sou um exemplo de pessoa, mas acho que você precisa ceder um pouquinho.
— Como assim?
— Aly, você foge. Sempre que tem algo de errado, você foge. Parece que você está sempre esperando algo acontecer para se recolher.
— Todo mundo precisa de tempo e de espaço, às vezes.
— Sim, todos precisam, mas você não faz isso quando está tudo bem. Você corre quando algo tenso acontece e deixa a Emily sem saber o que aconteceu. Ela não sabe nem como pedir desculpas, porque não sabe em quê errou. Você espera ela errar, corre e se esconde dela.
— Mas ela não errou hoje. Eu entendo o que ela fez, achei ótimo. Acho que minha irmã vai apanhar hoje, mas não culpo a Emily. De jeito nenhum. Tipo, ele já chegou em casa bêbado, ele ia bater na Alex com ou sem a interferência de Emily, sabe?! A Emy só me defendeu.
— Então, amanhã, você precisa dizer isso para ela. E começar a conversar com ela quando os problemas aparecerem.
— Eu entendi, Lê.
— Eu fiquei de mandar uma mensagem para ela, que tal você mandar e tranquilizá-la?
— Ok, senhorita Furtado.
A morena seguiu o conselho da amiga.
Emy, desculpa por hoje, não quis te preocupar e não acho que você fez nada de errado. Como você percebeu, José é abusivo. A Alex não quer denunciar ele e só me deixa ver Marina, porque eu prometi que não vou denunciá-lo. Minha situação com minha irmã é complicada. Você não fez nada de errado, eu só queria ter te apresentado uma família normal… acho que tive vergonha de ver você tendo que proteger minha família… Mas eu te amo e não pense que eu estou magoada. Durma bem, nos vemos amanhã. Um beijo.
A mensagem foi respondida imediatamente.
Eu queria tanto que você se visse como eu te vejo ou que o meu amor por você pudesse ser visualizado. Você entenderia que não precisa ter vergonha de nada. Eu te amo, Alycia. Tanto, tanto!
Boa noite!
— Você são melosas demais.
— Como assim, Helena, você nem sabe o que eu escrevi ou o que ela respondeu.
— Você está lendo a resposta dela com um sorriso idiota no rosto. Posso imaginar.
A morena gargalhou. A conversa com Helena tinha lhe feito bem, estava mais tranquila. Elas conversaram mais um pouco e ambas manifestaram cansaço. Assim lavaram os pratos e copos que haviam usado e foram dormir.
Às 6h da manhã, do dia seguinte, Alycia acorda como seu celular tocando, o número era estranho, mas resolveu atender:
— Alô!
— Detetive Dias?
— Sim, sou eu. Quem é?
— Aqui é o agente Samuel, responsável pela segurança da sua sobrinha, Marina Xavier.
O coração de Alycia acelerou e ela mal conseguiu responder, mas tentou:
— A… Ac… Aconteceu algo?
— Sim.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 22/04/2018
Sabe Autora, outra coisa que me encanta na sua escrita é contato imediato que se faz presente entre as amigas sempre que surge a necessidade. ....é um laço cheio de carinho.....zelo....respeito....amor. isso definitivamente me tocam.
Agora olha eu aqui imaginando: Alex encontrar um motivo que reforce além da sua filha um motivo para dar um basta de vez no José. ....um motivo super alto astral chamado Luciana.....viajei neh Autora.
Desculpa minha imaginação
Rhina
Val Maria
Em: 14/04/2018
Boa tarde linda autora.
A Alice agora tem a Emily,deve compartilhar as coisas com ela.
Esse abusos ainda são tão comuns nos dias de hoje.
Parabéns autora por aborda temas tão atuais e, comuns nos de hoje,mesmo em pleno seculo XXI.
Ansiosa estou pelo proximo capitulo,volta logo.
Beijão e um otimo final de semana para vc linda.
Val Castro
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Thaci
Em: 10/04/2018
Boa noite,quase bom dia,Pamg!!!!
Nossa o que aconteceu com a Marina ou com a Alex? Fico de cara como ainda em pleno século 21 existem mulheres que sofrem todo tipo de abuso. Sejam eles psicologico e sexual. Quando isso vai acabar? A sua estoria mostra o que acontece em quase a maioria dos lares. E com tudo isso a vitima,ela se acha culpada pelo o que acontece com si. A Emily poderia da uma pela sova neste cara e deixa- lo mofar na cadeia. E a Alex encontrar um novo amor. E quem sabe esse novo amor não seja em forma de uma bela mulher. Bem que poderia se a agente Bianca,pensa com carinho. Nota mil. Parabéns.
Resposta do autor:
As estatísticas são assustadoras, né, Thaci!
Precisamos de leis mais rígidas para coibir esses crimes.
ahahaha adoreia a ideia de Alex e Bianca <3
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preguicella
Em: 09/04/2018
Ai meu Deus! Beatriz ntrou em ação! Danou-se, coitada dela quando Emy e Aly a pegarem!
Devia ter deixado Emy dar uns sacodes nesse cunhado nojento!
Até o próximo!
Bjão
Resposta do autor:
AHAHAHA Será?
Bjo, querida!
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