Capítulo 6- Primeira pessoa do singular.. – Rafaela.
Senti minhas pernas fraquejarem à medida que me aproximava dela.. Sabia que o fato do meu coração bater assustadoramente acelerado, nada tinha a ver com a minha intenção inicial. Qual era mesmo a intenção inicial? Deixar seu olfato em alerta. Provar que meu cheiro natural se mantinha intacto. Precisava e planejava usar somente um sentido. Só não contava que os outros quatro me pregassem uma peça.
Ela estava acuada, encostada na parede. A cada passo, as lembranças surgiam em minha cabeça. Tudo parecia muito surreal. O encontro na livraria, o telefonema, a cafeteria, o parque e..
E eu continuava me aproximando, não conseguia mais parar. Minhas pernas pareciam ter vida própria. Só conseguia enxergar os olhos dela. E eles brilhavam tanto..
Sem pensar, enlacei sua cintura e a abracei.
Olhei fixamente em seus olhos. Visão. Passei meu nariz suavemente pelo seu pescoço. Olfato. Senti seu corpo se aninhar ao meu e apertei levemente sua cintura. Tato. Escutei sua voz baixinha, perto do meu ouvido.. Audição.
-- O que você tá fazendo?
Respondi no mesmo tom, deixando minha respiração alterada em evidência, tocando suavemente o lóbulo de seu ouvido com meus lábios trêmulos.
-- Te provando que eu ainda não preciso de um banho!
-- Co.. como? – Perguntou com a voz rouca, vacilante.
-- Pelo cheiro, Mel.. – Respondi deslizando meus lábios pelo seu pescoço, em uma carícia suave, tímida.. – Tá sentindo meu cheiro?
Eu perguntava enquanto deslizava pelo seu pescoço.. Ela não respondeu. Continuei..
Continuei sentindo seu gosto em minha boca. O gosto de seu perfume. O cheiro da sua respiração. O toque.. Numa sinestesia impensada, quente..
Na mente, eu continuava com a idéia fixa de que a prática leva à perfeição.. E continuava..
Encostei meu rosto no seu e fui deslizando suavemente. Minha boca acompanhava o percurso tão levemente, que não sabia se podia ser sentida.
Afastei-me apenas para tocar seu rosto com a ponta dos dedos. Fotografei com meus olhos aqueles olhos fechados, a boca entreaberta, deixando escapar a respiração acelerada. O corpo junto a meu.
Me aproximei novamente, dessa vez, com a boca. Senti seu hálito quente. Minha boca sedenta pela dela. Os outros quatro sentidos ansiosos pela consumação do quinto.. Ainda faltava o paladar.
Rocei meus lábios no seu e fechei meus olhos, pronta para lançar-me no abismo de emoções que aquela mulher havia despertado.
Inversão. Alteração de sentidos..
Fui interrompida ao sentir os braços de Melissa empurrando-me e afastando seu corpo do meu. Abri os olhos apenas para constar que ela havia se afastado bruscamente, saindo do quarto sem olhar para trás. Caminhei, sem perceber, até a cama e deixei que meu corpo caísse, sem qualquer indício de força.
Ainda pude ouvir a voz de Mateus e Melissa conversando no banheiro, mas eu não conseguia fixar a atenção. Minha mente projetava uma realidade paralela.
Levei minha mão, em um gesto automático, até meus lábios.. Toquei, com os dedos ainda trêmulos, e lamentei por não ter tido meu desejo satisfeito.
'' Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca..''
Levantei-me atordoada e sai do quarto com a cabeça confusa. Só conseguia pensar no quanto aquela minha atitude havia sido louca e impensada. Que desejo maluco!
Minha consciência teimava em repetir, alertar: '' Ela é casada, tem um filho. Mal te conhece. O que deu em você? ''
Imaginei. Lembrei. Fiz e refiz a cena milhões de vezes enquanto entrava no banho. Condenando-me. Culpando.
Só não conseguia controlar as reações do meu corpo. Reprimi as lembranças e sai do banheiro com a certeza de que devia um pedido de desculpas.
Fim do capítulo
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