CapÃ?Âtulo 5 - ComeÃ?§ando a entender o jogo...
A achava familiar, mas não sabia de onde. Seria péssimo encontrar alguém conhecido naquela prisão. Isso tornaria impossível manter o disfarce e daí sua vida correria perigo. Mas, o rosto lhe era estranho. Não conseguia recordar de ninguém com as características daquela mulher.
“Droga, tenho que dar um jeito de saber o que ela sabe.”
Marcela percebeu que logo após a conversa com Brenda sua parceira de cela ficara extremamente silenciosa. Parecia aérea. Não sabia do teor da conversa, mas temeu por ela quando a mesma disse que Camila deveria ficar esperta porque poderia ser a próxima. Aqueles gritos que se aproximavam...
- Ei, está tudo bem?
Marcela sentou-se ao lado de Verônica. Colocou a mão em sua perna para ter a colega presente já que nem mesmo percebera que havia sentado ao seu lado.
Verônica voltou a si.
- Eu não paro de pensar no alerta daquela mulher. – Mentiu Verônica.
- Camila, ela fez um alerta que é comum aqui dentro. – Tentou amenizar a outra presa.
- Eu não sei. Desde que eu entrei aqui minha vida corre perigo constantemente. Não percebo outras presas passarem por isso.
- Porque já estamos aqui há um tempo. Conquistamos nosso espaço. Mas, também fomos ameaçadas no começo.
- Mas, e a galera que entrou comigo? Não vi ninguém ferida ainda. – Verônica segurou as mãos de Marcela. – Desde que eu cheguei passei alguns dias na solitária. Mas, já ouvi gritos em algumas noites e vi o quanto você fica tensa com esses gritos. É sobre isso que a Brenda está falando?
- Eu não sei. – O semblante preocupado de Marcela dera lugar a um olhar carregado e assustado.
Estava na cara que ela sabia. Ou ainda não confiava na policial para lhe contar o que estava acontecendo e tinha medo; ou pertencia ao esquema. Isso fez com que a policial enrijecesse o semblante. Poderia estar confiando em alguém que pudesse pertencer ao esquema também. Mas, por que, então, Marcela lhe parecia tão assustada?
A noite foi difícil. Sabia que a cada dia que passava corria mais perigo. Precisava agilizar e pensou decididamente em procurar Brenda assim que possível. Precisava saber o que ela sabia.
***
Estava entretida em seus afazeres. Uma grande multinacional aprovara seu projeto de publicidade e ganhara uma excelente conta.
- Hum! Que menina feliz. – Antonia entrou com um enorme arranjo e girassóis, chamando a atenção da amiga. – Aconteceu algo diferente que eu tenha perdido?
Lana levantou o rosto para assistir a amiga. Observou o arranjo de flores. Retirou os óculos e colocou na mesa do escritório. Sentia-se, de fato, muito bem. Animada, inspirada, empolgada... Enfim, atribuía a sua boa disposição a inúmeros fatores, seu projeto sairia do papel, acabara de ganhar uma grande conta. Tudo estava maravilhosamente bem. Seu casamento com Pedro se aproximava...
- Me diga você. A esta hora da manhã com um arranjo divino desse... Quem é o guerreiro que você andou encantando? – gracejou com a amiga.
- Quem dera fosse para mim. – Estendeu o arranjo na direção da amiga e aguardou curiosa a amiga pegar o arranjo e abrir o cartão.
Um sorriso despontou nos lábios de Lana
“Bom dia, srta. Almeida.
Obrigada pela noite maravilhosa.
Madalena”
- Hum! Pedido de desculpas do Pedro? - Estava curiosa.
- Não. Esse arranjo é obra da Madalena. – Disse naturalmente.
- Uau. Linda, perfumada, rica e romântica... Custa uma versão masculina assim, para mim? – disse sentando-se à frente da amiga. – Como foi o jantar?
A publicitária sorriu.
- Uma delícia. Ela é uma mulher admirável. Inteligente, viajada e tem um conhecimento vasto. Eu diria que o jantar foi muito melhor do que eu imaginava.
- Ela se declarou? – Perguntou curiosa.
- Palhaça. É claro que não. Ela é uma mulher deslumbrante o que ela veria em mim? – Aquela pergunta lhe trouxe um certo incomodo.
- Ué! Uma mulher linda, inteligente, inspiradora. Pelo amor do sagrado... Você com problemas de auto-estima não bate.
- Deixa de ser boba. Ela não está interessada em mim. E, eu não estou interessada nela. Simples assim.
- Ok. Não a perturbarei mais. – Rendeu-se. – A loja de vestidos de noiva ligou confirmando a prova.
- Obrigada. Estou ansiosa, acredita?
- Imagino. Queria muito estar contigo, mas não sei se minha chefe me libera.
- Deixe-me pensar... Você é uma funcionária muito abusada. Mas, é uma ótima amiga. Está liberada. – Ambas deram risada.
- Só para lembrá-la, antes da prova do vestido você tem uma reunião com a Madalena.
- Ok. Por que mesmo dessa reunião? – franziu o cenho.
- Na verdade ela ligou bem cedinho solicitando com urgência esta reunião, disse que necessita alterar uma minuta do contrato. Mas, disse ser coisa rápida. Insistiu muito.
- Sem problemas. Chame a Sabrina. Ela avaliará se a alteração será boa para todos.
- Sem problemas. – Antonia se levantou e saiu da sala.
Lana acenou negativamente com a cabeça. Reencontrar tão cedo aquela mulher por algum motivo a deixou desconfortável. Tentou se concentrar no trabalho.
A hora passou depressa, depois do almoço. Se encaminhou para a sala de reunião, pois gostaria de estar acomodada antes da chegada da empresária.
Ás 15h00 Sabrina adentrou a sala juntamente com Antonia e Madalena, que estava acompanhada de uma senhora muito elegante.
- Boa tarde.
Todas se cumprimentaram. Madalena ficou por último.
- Olá, srta. Almeida. Eu já estava com saudade. – Gracejou beijando em seguida a face da mais nova.
- Obrigada pelas flores. Lindo arranjo. – Disse . O olhar da empresária era muito intenso e isso desconcertava a publicitária.
Antonia, Sabrina e a senhora estavam entretidas demais em uma conversa amistosa para se preocuparem com a interação entre as outras duas.
A reunião foi breve. Era somente uma questão de reescrita da minuta. Tornando-a mais clara. As advogadas de ambas fecharam o novo texto enquanto Madalena acompanhou Lana até sua sala.
- Toma um café comigo, agora a tarde? – Madalena convidou aparentemente de forma casual.
- Não vai dar. Tenho um compromisso inadiável.
Neste exato momento Antonia adentrou a sala, um tanto esbaforida.
- Lana, a gráfica vai atrasar a entrega do material. Eu queria tanto te acompanhar, mas pelo jeito terei que ir até a gráfica.
- Sério? Detestaria ir sozinha. – Disse desanimada.
- Eu posso te acompanhar. – Sugeriu Madalena interessada em dar suporte para a publicitária.
Lana sorriu.
- Não creio que uma prova de vestido de casamento tenha espaço na agenda da grande empresária Madalena Pimentel. – Debochou.
- Acabei de incluir esse evento em minha agenda. – Afirmou de maneira charmosa.
Antonia acompanhou a troca entre as duas. Dariam um casal quente. Mas, também sabia que a amiga estava estabilizada e tinha um romance seguro com Pedro.
Não queria ir sozinha. Madalena era uma mulher de gosto refinado. Talvez ter a sua opinião sobre o vestido fosse uma boa ideia.
- Certo, Madalena. – A mulher mais velha se deliciou em observar a mais nova ceder. – Mas, saio em 30 minutos.
A caminho de uma das lojas mais procuradas de São Paulo, Madalena acompanhava Lana em seu carro, com a promessa da mais nova deixá-la em casa depois, já que a advogada da empresária ficara com o carro da mesma.
A loja era chique. Tradicional. Aquilo incomodava um pouco Lana. Toda aquela pompa que para si era desnecessária, mas que Pedro fazia questão.
Foram muito bem recepcionadas. Lana ausentou-se para a troca, deixando Madalena confortavelmente instalada em uma poltrona da sala reservada para a prova.
A empresária estava ansiosa. Ver a mulher por quem nutria uma paixão provar o vestido de noiva com o qual casaria com outra pessoa, a deixou à flor da pele. Não era dada à impulsos. Sempre fora muito controlada e meticulosa. Mas, constatava que tinha pouco tempo para conquistá-la. Teria que dispor de alguma arma para impedir aquele casamento.
Estava perdida em seus pensamentos quando uma noiva caminhou em sua direção. A sala era reservada. Madalena a olhou. Parecia uma deusa do Olimpo grego.
- O que você achou? – Lana não deu tempo para Madalena a responder. Virou-se para um grande espelho fixado numa das paredes daquela requintada sala.
Achou-se bonita no vestido. Escolhera um modelo que se moldava ao seu corpo. Acompanhou a empresária parar atrás de si. Com o olhar fixo em seu vestido.
- Por Safo, você está linda.
Lana sorriu satisfeita com o elogio. Madalena parou atrás de si, segurando-lhe os ombros. Olharam-se pelo espelho. O olhar da empresária parecia prender o da publicitária. A mão direita da mulher mais velha saiu de seu ombro e se encaminhou para o pescoço de Lana. Que acompanhava tudo pelo reflexo das imagens.
A mais nova arrepiou-se ao sentir a mão de Madalena ajeitar seu vestido próximo a nuca. Madalena, por sua vez, sentia-se à flor da pele. E, ao observar que a mais nova se arrepiara com sua mão, não se conteve e arrebatou a boca de Lana num beijo há muito desejado e não planejado.
A publicitária sentia a boca ser tomada com paixão. O olhar daquela mulher a hipnotizando pelo o espelho e aquela aproximação não planejada a pegara de surpresa. Por um momento sentiu-se numa realidade paralela. O beijo era intenso. Sentia Madalena explorando toda a sua boca e a correspondia.
Estava extasiada em sem condições de interromper aquela insanidade. A mais velha percebeu isso, e se aproveitou. Sentiu a boca de Lana em toda a sua potencialidade. Era delicioso beijar aquela mulher.
- Posso entrar, senhorita Almeida. – Bateram na porta.
As duas mulheres se separaram. Os olhares ainda estavam fixos. A atendente entrou na sala e em nada percebera o que acabara de acontecer ali dentro.
***
- Preciso conversar com a Brenda. – Verônica falou com Marcela.
- Na hora dos exercícios. No banho de sol será o momento ideal.
- Preciso de privacidade.
- Privacidade no presídio, você deseja cada coisa.
No horário do banho de sol, Verônica encontrou Brenda conversando com umas amigas.
- Preciso falar com você. – Disse de maneira marrenta. Entendia que aquela era uma entonação de voz que garantia respeito.
- Eu sabia que você viria me procurar. – A mulher sorriu. – Me deem licença. Carne fresca no pedaço.
Brenda sorriu maliciosamente para as mulheres com quem estava conversando. Que, logo, perceberam as intenções dela.
Verônica se irritou. Brenda a segurou pelo braço e a conduziu para um canto da parede.
“Merda. Só me meto em encrenca.”
- Escuta aqui, Brenda. Você é muito bonita e forte. Mas, não faz o meu tipo. – Disse Verônica já se preparando para enfrentar uma boa luta com aquela enorme mulher.
Brenda se aproximou e segurou Verônica pela cintura. A policial estava prestes a esbravejar quando a outra sussurrou.
- A Selena está olhando? – Vendo a confusão nos olhos da policial, Brenda se aproximou de seu pescoço e começar a salpicar pequenos beijos. – Ela está de olho. Só consigo te passar informação se você relaxar e abraçar o disfarce.
O coração de Verônica palpitava. Enquanto Brenda fingia se entreter em seu pescoço, observou Selena que pareceu fechar o semblante.
- Entendi. Por que disse para eu tomar cuidado? - Passou os braços ao redor do pescoço de Brenda.
- Porque eu te conheço.
Aquela frase apavorou, Verônica. Brenda a sentiu tremer. A segurou firme pela cintura.
- Psiu! Relaxa, investigadora Verônica. - Deu um selinho em Verônica.
Brenda sorriu ao ver os olhos da policial se arregalarem.
- Eu? Policial? Meu nome é Camila. Nem faço ideia de quem seja essa Verônica.
Brenda parou de alisar a policial.
- Não se lembra de mim, né?! Meu nome é Brenda Soares. Há 10 anos meu irmão foi assassinado por um policial que o acusou de ser bandido. E a população pensou... Mais um preto, pobre e ladrão. Essa tríade justificou a morte do meu irmão. Só que aquele policial desgraçado era mais um racista de merd*, exterminador de preto.
Verônica percebeu os olhos de Brenda encherem de lágrimas e fúria. Recordou-se do caso. Mas, Brenda estava muito mudada. Somente o semblante de dor era reconhecível.
Então a prisioneira retomou a narração.
- Você investigou. E, provou que foi o policial, filho da mãe, que fez aquela merd* com meu irmão. Serei eternamente grata a você. Ainda mais porque provou que meu irmão era inocente. Mas, aquele policial de merd* pegou somente uma suspensão. Afinal, o que é assassinar um moleque pobre? Então...
- Você o matou. – Sentenciou a policial.
- Sim. – Disse após um pigarro para limpar a garganta que havia se fechado diante da emoção de reviver a história que a condenara a 26 anos de prisão.
Brenda abraçou Verônica que a correspondeu emocionada ao se recordar daquela história. De fato, a injustiça com a qual o caso havia sido tratado a deixou revoltada por muito tempo.
- Você mudou muito. Não tinha como reconhecer você...
- A dor transforma a gente, policial.
O sinal tocou. Final do banho de sol.
Brenda voltou a dar atenção ao pescoço de Verônica.
- Te encontro no jantar. E, você me conta o que veio fazer aqui. Certo?
Antes que Verônica pudesse responder, Brenda a beijou. Pegando a policial desprevenida.
Fim do capítulo
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Lily Porto
Em: 31/03/2018
Caramba, a Madalena não perdeu tempo... Lana ficou sem reação, terá ela gostado do beijo?!
Verônica encontrou uma aliada dentro da penitenciária... agora é esperar pra ver essa conversa entre elas no jantar. Curiosa para saber como ficarão as coisas.
Bjs
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