CapÃtulo 4 - O Jogo de Xadrex
Adentrou ao restaurante. Foi gentilmente conduzida pelo maître. O lugar era elegante. Sua roupa apropriada. Nada sairia errado naquele jantar. De repente a frase “Somente prazer”, pronunciado mais cedo pela empresária, ecoou em sua mente. Eco que fora deixado de lado ao se deparar com Madalena. Estava exuberante. Confortável em seus 1,75 de altura. Cabelo num corte jovial, levemente repicado até a altura do pescoço. Bem elegante em um vestido preto. Tinha que admitir a mulher emanava poder e beleza.
Madalena se pôs de pé para receber a publicitária. Estava encantada. Um leve rubor na face da mais nova a fez ter certeza de que a impressionara. Era uma mulher vivida, sabia ler as pessoas. E, Lana era mais transparente do que imaginava. Esperou que se aproximasse e a cumprimentou delicadamente com dois beijos no rosto e um apertar de mãos.
- Olá, sócia. – Madalena sentiu o delicioso perfume de Lana e não resistiu ao comentário. – Seu perfume é delicioso. Você está linda.
Um elogio vindo daquela deusa, deixou Lana momentaneamente sem palavras.
- Obrigada. – Finalmente disse. – Você está deslumbrante.
- Esse era o objetivo. - Sentenciou, charmosamente, a empresária.
***
Verônica estava na cela com os sentidos em alerta. A dor em sua costela ainda era enorme. Via os hematomas nas partes visíveis do seu corpo. Assustou-se quando uma mulher por volta de 1,65 de altura saltou de uma das duas camas presentes no local. A mulher tinha um olhar sério e algumas cicatrizes no rosto. Seus cabelos eram pretos. Parecia ter sido bonita em algum momento, mas estava envelhecida.
- Ei, furacão. Presta atenção, eu não sou de briga e nem quero encrenca. Demorou muito para que eu alcançasse uma certa estabilidade aqui dentro. Portanto, não colocarei minha segurança em risco por sua causa.
Verônica respirou aliviada.
- Eu também não quero brigas. – disse erguendo as mãos – Eu só me defendi daquelas malucas.
- É. E, embora tenha se saído bem... Está bem-acabada, também. A propósito, meu nome é Marcela.
- Camila.
A policial se aproximou da cama vazia. Deitou-se nela. Observou que próximo a cama de Marcela havia várias fotos. Fechou os olhos precisava descobrir algumas coisas naquele lugar para poder estabelecer uma linha de investigação.
-Escuta, Camila. O que te trouxe para cá? – Marcela demonstrava uma curiosidade, desnecessária, mas compreensível para a policial.
Pensando rápido, Verônica resolveu investir numa conversa com ela. Poderia ser seu ponto de partida para descobrir as mazelas daquele local. Abriu os olhos e mirou o teto para ganhar tempo.
- Eu fui pega com uma quantidade de drogas, por acidente. E fui enquadrada por tráfico. Armaram para mim.
-Ah. Que merd*. Sempre tem um filho da puta para nos entregar.
- E você, o que faz aqui?
- Eu sou uma cagona. Assim que a polícia me ofereceu acordo, entreguei o bando todo. Consegui diminuir em 6 anos o meu tempo de prisão.
Verônica sorriu. Achou engraçado a forma como a outra se auto definiu.
- Então, você é a famosa X9? – Perguntou achando graça.
- Olha, eu sei que você é do tráfico também. Mas, eu entrei por acidente. Aceitei levar uma encomenda. Nunca fiz nada demais na minha vida. Quando eu doava sangue me achava o ser mais sem graça do mundo. Porque na entrevista de doação eu respondia não para tudo. Saía de lá achando que tinha que viver perigosamente. – Deu uma gargalhada da própria fala, fazendo a policial sorrir também. – Caralh*, quando levei uma enquadrada perto da minha casa e descobri que a bolsa que eu carregava tinha muita heroína, quis matar meu irmão.
- Porr*, seu irmão fez isso com você?
- Pois é, menina. Aquele safado. Nem vem me visitar. Minha família cortou todos os laços comigo. Minha mãe diz que não tem mais filha. Veja se pode? Tudo por causa de uma maldita mala que eu nem sabia o conteúdo que eu estava carregando.
- Nossa! Quando você sair daqui, pega seu irmão e dá uma mega surra. É o que eu faria.
Ambas riram. Com certeza, aquele seria o início de uma amizade interessante.
Verônica fechou os olhos, novamente . Precisava descansar um pouco e Marcela respeitou o momento.
Acordou ao escutar um grito.
Virou-se na cama com dificuldade, pois as costelas ainda doíam. A dor ainda demoraria a passar. Olhou para o outro lado da pequena cela e percebeu que Marcela tinha os olhos abertos.
- Tem alguma coisa errada nessa merd* desse lugar. Não tem? – Sussurrou para Marcela que com os olhos assustados acenou positivamente para a outra.
Verônica logo constatou de que ela sabia de alguma coisa.
- Os gritos ficam cada vez mais próximos. Logo, chegarão em nós. – Murmurou assustada
- Como assim?
- Quanto menos você souber será melhor. – Marcela sentenciou e virou-se para a parede.
Mais um grito e tudo caiu num absoluto silêncio. As luzes se apagaram.
“O que quer que esteja acontecendo aqui é muito mais sinistro do que o tráfico de drogas”.
***
Lana estava encantada com Madalena, manter uma conversa com ela havia sido mais fácil do que pudesse imaginar. Era uma mulher sábia, viajada e que conseguia estimular um bate papo interessante com muita facilidade. Deixando sua interlocutora muito à vontade.
Madalena, por sua vez, se mantinha extasiada por partilhar a noite com uma mulher tão agradável e curiosa. Percebera que conseguira cativar a outra no momento em que começara a falar de suas viagens pelo mundo e todas as atrapalhadas que se envolvera com o primo Marco Aurélio. Naquela altura da noite tinha Lana de guarda baixa e encantada com suas histórias.
O jantar havia sido magnífico para ambas.
As duas entraram no carro da mais velha que solicitou ao motorista que se encaminhasse para o apartamento da publicitária.
- Ter a sua companhia esta noite foi adorável, srta. Almeida.
- Posso dizer o mesmo, sra. Pimentel. – Devolveu a mais nova num tom amistoso.
- Preciso perguntar-lhe algo. Em algum momento da noite, em minhas histórias, lhe fiz entender que sou casada? – Perguntou descontraidamente.
- Não.
- Então, por que me tratar por senhora? Estou tão velha assim?
- Não. – disse a outra subitamente por ter sido mal interpretada. – Eu não desejava ofendê-la. Eu realmente pensei que você fosse casada. Até me surpreendi esta noite por saber que não é. – Estava corada e levemente constrangida.
Madalena arqueou a sobrancelha achando o rumo da conversa interessante.
- Surpreendeu-se por que? – Deliciou-se ao ter a atenção da outra que a mirava insistentemente tentando achar uma saída para aquela pergunta.
- Você é uma mulher inteligente, muito bonita, interessante, rica. Tem todos os atrativos para os solteiros de plantão.
Madalena gargalhou. Lana se perdeu naquelas feições ao sorrir.
- Digamos, srta. Almeida, que eu prefira as solteiras de plantão.
A publicitária mal respirava naquele momento. Sentiu-se desconfortável com a conversa. Mas, não se tratava de um sentimento ruim.
- Seus atrativos com certeza atraem as solteiras também. – Sorriu. Sentiu-se infantil por se sentir incomodada com uma simples conversa.
- Atrairiam você, Lana Almeida? - Novamente aquele tom sedutor, o arquear de sobrancelha que não passava despercebido. E, um leve esboço de sorriso nos lábios.
Lana sentiu-se salva pelo motorista que abria a porta naquele exato momento. O carro havia parado e elas, entretidas uma na outra, não tinham percebido.
- Adorei o jantar. Constatei que será um prazer tê-la como sócia no projeto. – Desconversou.
A publicitária prendeu a respiração ao observar a empresária se aproximar e beijar-lhe a face.
- O prazer foi todo meu. – Sussurrou Madalena ao ouvido da mais nova. O som enrouquecido teve um impacto devastador em Lana. O arrepio em sua pele não passou despercebido pela mais velha que desenhou em seus lábios, novamente o sorriso sedutor. – Tenha bons sonhos, menina.
Lana saiu do carro indo direto para seu apartamento. Estava corada. E ainda aérea pela forma como a outra encerrou o contato de ambas. Foi para a cozinha e abriu a geladeira, precisava de um copo de água.
“Atrairiam você, Lana Almeida?”
A pergunta que não respondera graças ao motorista somada a aproximação daquela mulher com aquele perfume divino e aquele sorriso desenhado geraram uma inquietação na publicitária.
Encostou-se na pia. “Atrairiam?” Se questionou. “Não. Definitivamente, não.”
Madalena entrou em êxtase. Sentiu que mexera com Lana.
“Ah, garota. Ainda terei você para mim.”
***
- Camila, vamos pegar uns pesos? O dia está radiante. E, você já luta bem. Imagine se desenvolver uns músculos nesses bracinhos. – Marcela deu um leve tapa no braço esquerdo da mais nova amiga.
- Aff. Como você consegue ter bom humor a essa hora da manhã. – Disse falsamente irritada.
Foi para as barras de ferro. Ali, estavam as mulheres mais fortes do presídio com suas respectivas parceiras ou paqueras. Reproduziam o comportamento heteronormativo, conjecturou a policial. Nem soube o porquê perdera tempo com aquele tipo de pensamento, afinal além de nunca se preocupar com isso, naquele momento era perda de tempo.
Acompanhada por Marcela, a policial deitou no banco para segurar a barra.
- E, você? Pega essa outra barra aí do lado. – Desafiou a policial.
- Não. Eu vim te dar apoio moral. Odeio exercícios. – Começou a rir.
Elas estavam num clima descontraído com alguma palhaçada contada por Marcela. Enquanto contava a sua série, Verônica estranhou o silêncio da tagarela parceira de cela. Colocou a barra no lugar e, de repente, teve seu corpo arrancado do banco. Fora jogada no chão e mal sabia o que estava acontecendo.
Levantou-se a tempo de desviar de um golpe em sua cabeça. Era Sônia. Logo, as presas se juntaram ao redor fazendo um grande cerco para presenciar aquela briga. Antes que Sônia se aproximasse, novamente, uma mulher apareceu se colocando em frente à Sônia.
- Deixe-a em paz. É uma ordem.
Sônia parou. Olhou a mulher à sua frente e recuou. Se enfiou em meio à multidão deixando todas frustradas. As policiais se aproximaram.
- Explique-se novata. – Gisele chegou juntamente com Selena.
- Não há o que explicar, Gisele. Estavam somente conversando. – A mulher que interrompeu a briga se pronunciou.
- Conversando, Brenda? – Gisele se aproximou de Verônica que não baixou o olhar. – Eu não quero conversas por aqui, novata. – A multidão se dispersava com a intervenção de Selena.
Gisele olhou para Selena e se afastou.
Marcela se aproximou da amiga e tentava observar seu rosto.
- Mulher, você vai sair daqui deformada se continuar arranjando encrenca.
- Eu não arranjei nada. Aquela mulher não pode me ver que já quer se jogar em cima de mim. E, essa guarda nojenta, que vontade louca que eu tenho de dar um soco na cara dela.
Marcela gargalhou.
- Você e a torcida do Corinthians, né?! Ela é muito folgada. Mas, na outra, a ruiva eu daria uns pegas selvagens. Eita, mulher bonita. Não acha, Camila?
Verônica riu.
- Eu nem reparei nela.
Neste momento Brenda se aproximou. Era uma mulher negra. Um pouco acima do peso e com traços bonitos. Era alta e com músculos levemente definidos, impunha presença.
- Fique esperta. Você está na lista delas. Pode ser a próxima.
- Próxima a que? - Verônica fitou aquela mulher que por algum motivo a defendera.
- Fique esperta. – Brenda deu seu recado e deu as costas.
Verônica foi atrás. Segurou-a pelo braço, detendo-a.
- Do que você está falando? Me diz. – Ordenou a policial.
- Eu sei quem você é. Fique esperta.
Neste momento soou o sinal. Era o término do banho de sol. Brenda se desvencilhou e deixou Verônica boquiaberta.
- Merda. – disse baixo. "Se ela sabe quem eu sou, corro perigo. Mas, porque me ajudou?" - Refletiu a policial enquanto retornava para a cela.
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 30/03/2018
A vida sa Veronica ta bem pesada. E a lana está ba mira da sra. Pimentel, mulher poderosa da porra. Otima estória. Bjs
Resposta do autor:
Oi, Patty. Tdo bem?
Que bom que vc está gostando.
Para esquecer a dor de cotovelo a Verônica se meteu em uma bela encrenca... rsrs
Beijo
Lily Porto
Em: 29/03/2018
Oiie Paloma!
Estou tão feliz por poder acompanhar uma nova narrativa sua.
Estou encantada com a divisão dos núcleos. A Verônica é uma mulher de personalidade e que tá meio encrencada, esse presídio além de ter uma guarda malvada oferece ainda mais riscos a sua vida... fiquei com um aperto no coração com esse aviso que ela recebeu...nossa mãe do céu!
Madalena é uma mulher que não mede esforços para ter o que quer, isso é bem perigoso. A Lana ficou "admirada" por ela, e foi bem perceptível... vejamos o que a "toda poderosa" ainda fará para conquistar a publicitária.
Sucesso autora! Bjs
Resposta do autor:
Oi, Lily.
Obrigada pelo apoio. Fiquei contente com seu comentário. Corre lá, que tem um capítulo novo no pedaço.
Beijo
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Silvana Januario
Em: 28/03/2018
Olá Paloma, tudo bem?
Estou achando que a Verônica está em maus lençóis ou então a moça que a alertou (sim, esqueci o nome) também é uma policial infiltrada.
E o alerta tem a ver com os gritos que ela ouviu na madrugada.
Ou é espancamento ou estupro.
Em contrapartida, num belo restaurante, encontra-se um clima bastante agradável para Lana e Madalena. Acho que a mais velha irá seduzir a mais nova, resta saber a que preço tudo isso.
Espero que o próximo capítulo não demore.
Beijos!!
Resposta do autor:
Oi, Silvis.
Tdo bem?
Tem capítulo novo na área, rsrs. Obrigada pelo comentário. E continue me deixando por dentro da sua opinião.
Beijo
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Mille
Em: 28/03/2018
Sujou para a Veronica.
Madalena conseguiu chamar atenção da Lana, logo a publicitária se rende ao charme dela.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Oi, Mille!
A coisa vai começar a ficar mais apertada para Verônica...
Tem novo capítulo postado.
Beijo
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