Já enlouqueceram por amor?
CapÃtulo 2 - O perigo e a fantasia
- Eu quero você para mim. – Depois de meses de amizade intensa. De toques mais demorados, de frases ambíguas, de saudades exageradas... Finalmente, Verônica conseguia expressar-se. Percebeu o quanto Vitória ficara desconcertada com aquela declaração. Embora, a professora tivesse iniciado conversa que, segundo ela, não poderia ser adiada. Verônica via com o peito aberto a outra dizer o que sentia, que não a tirava do pensamento, assim como ela.
- Eu preciso ir ao banheiro. – Vitória precisava de ar. Agora tinha a tão esperada declaração.
Levantou-se, incerta, deu as costas para a policial e saiu em direção ao banheiro. Verônica passou as mãos pelo rosto e logo em seguida arrumou o cabelo.
“E, agora? Eu estou ferrada. Fiz uma declaração para uma mulher casada.”
Vitória retornou com água para as duas. A troca de olhares era intensa.
- Eu sou casada. – Disse em meio a um suspiro.
- Eu sei e respeito. – Disse erguendo as mãos. – Mas, quando você disse que não parava de pensar em mim, me senti à vontade para explicitar como me sinto. Eu seria muito covarde se não dissesse que estou sentindo o mesmo ou se deixasse você pensar que sente sozinha. Mas, sei que devemos nos afastar.
- Sim. Devemos. – A outra parecia certa daquilo. O que poderia querer mais sendo ela uma mulher casada? - Acho que é exatamente por isso que estamos conversando num local público, né?!
A conversa foi tensa e ao mesmo tempo mágica. Saber-se correspondida por aquela linda mulher fez Verônica perder o rumo.
Os dias foram passando e por mais que o acordo fosse de se afastarem uma força invisível as tornavam mais próximas. Mais dependentes da companhia uma da outra. Os toques continuavam intensos e recorrentes.
- Alô? – Não leu o visor antes de atender a ligação.
- Oi. – Ouviu-se um sussurro do outro lado da linha.
- Como você está? – Verônica entrava em sua casa quando recebeu a ligação.
- Morrendo de saudade de você. – Vitória não conseguia mais pensar em outra coisa que não fosse estar com Verônica. Trocavam inúmeras mensagens. Mas, a semana corrida da policial impedira que elas se vissem no café.
- Também estou louca de vontade de te ver. Na verdade, tudo o que mais queria agora era estar entrando em minha casa e ter você aqui comigo.
- Eu preciso saber como é estar num local privado com você. Não aguento mais te encontrar em locais públicos que limitam tanto as nossas conversas.
- Vou pensar em um local. Prometo. Daí poderemos conversar com calma.
- Posso estar contigo nos dias 15 e 16. Ele irá para Araçatuba pescar. – Disse com receio do que a outra pudesse achar.
Neste momento da recordação, Verônica foi violentamente tirada de seu devaneio quando a van de transporte chegou ao presídio e ela foi friamente arrancada de seu assento.
- Vamos. Chegamos em seu novo hotel. – Disse uma mulher com cara de quem detestava o trabalho que desempenhava.
A morena seguiu o fluxo. Seus cabelos que soltos iam até os ombros, estavam presos num coque, seguia algemada entre outras prisioneiras. Percebeu o quanto era frequente o empurrão nas costas. Via o escárnio nos semblantes dos guardas que acompanhavam as novas presidiárias.
Um corredor escuro e com pouca ventilação parecia ser o destino daquela “excursão” penitenciária. Olhava para tudo. Poucas vezes estivera numa cela. De repente, ouviu um grito. Sua atenção foi chamada por alguém que lhe apertara as bochechas com uso demasiado de força. A mulher era mais alta do que Verônica e a pegou desprevenida.
- O que tanto observa, marginal? – Verônica a encarou. Aquele tipo de policial lhe dava nos nervos. – Está me encarando por que? – E a mulher deu-lhe um tapa no rosto.
Verônica não pensou duas vezes, partiu para cima da policial. Por milésimos de segundos esquecera de seu papel e de que estava algemada. O soco veio rápido em seu olho. Não houve nenhuma possibilidade de defesa. Outro soco no estômago. Até que uma policial intercedeu.
- Chega, Gisele. Você está infringindo a lei. – Sussurrou a ruiva que chegara logo depois de deixar uma outra presidiária em sua cela.
O olhar de Gisele era assustador e autoritário.
- Vai me desafiar na frente de uma prisioneira, Selena? – Por mais que a troca de olhares fosse intensa e a animosidade entre elas era nítida, a policial recuou. – Vamos dar as boas vindas para a nossa linda garota. Selena, leve-a para conhecer a solitária. Quinze dias para a sua amiguinha.
A ruiva segurou Verônica pelo braço. A conduziu mesmo sem concordar com o autoritarismo de sua superior.
- Qual é o seu nome? – Selena perguntou em voz seca.
Verônica demorou a responder. Ou pelo menos achara que havia demorado, pois logo sentira um apertão no braço.
- Camila Teixeira.
- Só um aviso. Não banque a engraçadinha. Não sei se você já esteve em algum presídio antes. Mas, aqui as coisas acontecem e de uma forma diferente do mundo lá fora. Cuidado para não se machucar além do necessário. – Soava rispidez.
- Eu preciso de cuidados na enfermaria. Eu estou sangrando. – Verônica sussurrou.
- Nada que você não aguente.
Selena abriu uma saleta minúscula e lá Verônica entrou.
***
Madalena saboreava seu whisky em frente a enorme janela de seu apartamento. Tinha uma vista privilegiada. Mas, nada observava daquela paisagem. Sua mente estava presa em Lana. Aquela mulher se tornara a sua obsessão desde o momento em que a viu pela primeira vez. Esbarraram-se numa vernissage. E, tivera a atenção totalmente tomada por aquela figura. Era uma mulher bonita, de humor interessante. Conversaram muito rapidamente por intermédio de um conhecido de ambas.
De início, a empresária não deu muita corda para aquela fantasia descabida com a publicitária. Gostava de sex*, mas não era muito dada a sentimentos. Contudo, ao rever a publicitária, meses atrás, em uma campanha para sua empresa compreendeu que, de fato, a queria. Somente sossegaria quando a tivesse junto a si.
Relia pela milésima vez, o dossiê que mandara fazer sobre ela. Precisava achar uma forma de conquista-la. Mas, decididamente a teria. Nem que para isso precisasse lançar mão de meios questionáveis. Essa era sua zona de conforto. Ter o que quisesse a qualquer custo.
Naquele mesmo momento, num outro ponto da cidade, Lana sentia-se ansiosa.
- É sério? A sra. Madalena Pimentel se mostrou disposta a investir esta fortuna toda em nosso projeto? – Parecia inacreditável.
- Sim. Além de ter a proposta mais interessante de fusão para o projeto. – Disse Antonia, uma de suas assistentes e grande amiga.
- Fico feliz pela proposta. Mas, um tanto tensa com essa parceria. – Um lampejo de preocupação pairou sobre o semblante bonito daquela mulher.
- O que? Você está ficando maluca, mulher? – Antonia não entendia.
- O jeito que ela me olha... Me deixa desconfortável. – Lana disse sem saber se devia externar aquela sensação.
- Como assim?
- Parece que eu desperto algum interesse nela. Não sei se para o bem ou para o mal.
- Ah, deve ser impressão sua. Ela é uma mulher de negócios e em meio a tanta luta por visibilidade feminina e combate às múltiplas violências as quais somos submetidas todos os dias, ela achou um meio de ganhar mais dinheiro e visibilidade. – A assistente delineou o que lhe pareceu mais óbvio.
A argumentação de Antonia teve um efeito apaziguador para Lana. Que logo voltou a vibrar com seu projeto.
- Amanhã, logo cedo, ligue para todos. Deixe a Sra. Pimentel por último. E, agende a reunião para sexta-feira, se ela puder, é claro.
***
- O quarto está ao agrado de vocês? – Perguntava o recepcionista do hotel onde Verônica e Vitória foram se hospedar, na cidade de Campinas.
Elas estavam ansiosas. Verônica disse sim, a tempo de perceber o estranhamento do rapaz ao nos indicar o quarto com somente uma cama de casal. Vítória sequer percebeu. Desceram e fizeram o check-in. Se houvesse alguém no elevador perceberia uma mescla de nervosismo e excitação pairando sobre as duas. Presas, cada uma em seu mundo, tentando pensar em como iniciar uma conversa depois que a porta do quarto de hotel se fechasse. Sorriam uma para a outra.
Verônica abriu a porta. Finalmente estariam sozinhas num espaço, sem receio de serem interrompidas. Tanta coisa por dizer. Por onde começar? Não deu tempo. Ao fechar a porta recebeu de Vitória um olhar que a deixou sem palavras. Ela se aproximou e segurou seu rosto entre suas mãos.
- Eu preciso saber como é beijar você. Sentir seu toque. – Sussurrou.
Não houve tempo para respostas. Vitória avançou sobre Verônica. E, a conversa ficaria para depois.
O beijo correspondeu em cheio as expectativas de ambas. Foram caminhando aos tropeços para perto da cama. A fome era voraz. As mãos passeavam por lugares há muito desejados.
- Espera. – Sussurrou Vitória. – Trouxe algo para vestir e te mostrar.
Verônica não tinha condições de falar. Arfava. Passou as mãos pelos cabelos e acenou positivamente. A outra se retirou para o banheiro depois de mexer na mochila. A policial se sentia quente. A cabeça pouco focava naquele momento. Pegou o celular no bolso da calça e engatilhou a playlist. Poderiam conversar ao som de uma música pelo menos. Os toques de Mummer´s Dance de Loreena McKennitt.
Sentou-se na cama. Se pôs a pensar por onde começar. Será que aquela seria a última vez que se veriam? Não tinha ideia. Mas, sabia que o que sentia por aquela mulher era forte demais.
Ao avistar Vitória vestida com um espartilho preto altamente sensual entendeu que não haveria conversa naquele dia. Tentou ser sútil, mas sua ansiedade estava totalmente aflorada e o desejo reprimido por tanto tempo parecia agigantado para a pequena comporta de sua razão contê-lo, além da música que soava como uma afrodisíaco a mais.
Aproximou-se. Sentiu seu cheiro e percebeu a outra se arrepiar apertando-lhe os ombros. A beijou. Com certeza, aquela mulher seria sua perdição. Era muito sentimento e tesão, perigosa combinação na situação em que ambas se encontravam. Os toques recomeçaram. As mãos da policial passearam lentamente pelos seios da outra. Um gemido, um beijo molhado e, finalmente, as roupas estavam no chão.
- Vi, olha para mim... – Vitória se sentia em outra dimensão e ouvindo aquela voz rouca quase teve um orgasmo naquele momento. Abriu os olhos. – Mesmo que não haja amanhã para nós, eu amo você! – Os olhos de Vitória lacrimejaram. Sentia o mesmo.
Verônica explorou cada centímetro do corpo de Vitória. Os seios se tornaram seu lugar favorito e percebeu o quanto aquilo agradava sua amada. Desceu um pouco mais. Encontrou o paraíso. Abocanhou. Vitória gemia. Aquilo era um despertar de todos os sentidos.
De repente, Verônica sentiu fortes dores nos olhos. Nem lembrava onde estava.
- Ei, novata. Hora de conhecer as amiguinhas. Você já teve tempo demais para pensar sobre a vida. As férias acabaram. – Alguém a segurava pelo braço com grande truculência. – Hum! Mas, antes você necessita de um banho. Que mulher mais fedida.
Verônica pensou em retrucar. Mas, sabia que para aquela guarda seria indiferente deixa-lá sabe-se lá por mais quanto tempo presa naquele cômodo horroroso. Ficou quieta.
Foi para o banho. O tempo todo sendo analisada.
Agora, restava se concentrar em sua missão e tirar Vitória de seus pensamentos. Embora, pensar nela tivesse sido um bálsamo para aguentar aquele inferno. Contudo, sabia que quanto mais alimentasse as recordações mais difícil seria para se desvencilhar daquele sentimento.
Foi encaminhada para o mesmo corredor do primeiro dia. Reviu Selena que abria a cela naquele momento.
- Selena, nesta aí ela entra depois. Agora, jogue-a com a Soninha e a Vânia. Uma semana com elas e a nossa novata estará à par das regras daqui.
Verônica percebeu o desagrado estampado na face da ruiva. Mas, viu que ela não questionaria as decisões da outra. Caminhou trôpega até a cela. O que viu a fez temer pelo seu bem-estar. Vânia e Soninha eram enormes. Parecia clichê da novela das 21 horas.
“Merda. E eu que pensei que isso só acontecesse nos filmes do Jason Stathan ”
Fim do capítulo
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NayGomez
Em: 22/03/2018
O pensamento da Vero deveria ser esse " Merda eu juro que mato meu chefe quando sair daqui " . bom ja to com dó da Vero kkkk eu jo espero que ela saiba lutar bem , pq ela vai precisar se defender . Madalena essa vai dar trabalho para a Lana . mesmo assim amei o conto continua plis .
Resposta do autor:
Oi, Nay. Pois é, a Verô vai ter muito trabalho e a Madalena vai dar muito trabalho, rsrs.
Continue a leitura e sempre que puder deixe seus comentários por aqui.
Beijo.
Mille
Em: 22/03/2018
Olá Paloma
Veronica está comendo o pão que o diabo amassou, ela é forte e logo a dupla de godiza vai saber disto.
Madalena está doida para pegar a Lana só espero que não use a garota.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Oi, Mille. Tdo bem?
A Verônica vai ralar um pouquinho ainda, rsrs. Quanto a Madalena... Ela está apaixonada... Mas, corre o risco de meter os pés pelas mãos.
Obrigada pela leitura.
Beijo
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