Depois de virar e dar de cara com uma área que mais parecia um jardim de inverno gigante, com várias portas de salas. Provavelmente todas com movimento de aula naquele momento seguimos até o fim do local, que dava para um corredor que se bifurcava, para um lado escadas e para o outro já varias portas, que deviam ser já dormitórios. Elas subiram um lance de escadas e a morena parou na frente do quarto 01.

 – Aqui estamos – Ela disse com um sorriso educado no rosto, abrindo a porta dando passagem para que entrasse. Havia duas camas de solteiro. Um lado do quarto estava adornado com laços e fotos e a loira viu algumas figuras meio bucólicas em que uma senhora já idosa aparecia em várias das mesmas.

– Essa é minha avó, ela quem paga para que eu possa estudar aqui. – Ela falou antes mesmo que se perguntasse alguma coisa.

 – Minha sorte foi ter conseguido uma bolsa... Não tenho alguém para me ajudar a ficar em locais como esse.

Emma sorriu sem graça, não era do feitio dela falar desses assuntos sensíveis, menos ainda com uma pessoa que acabara de conhecer. Ruby franziu levemente os lábios se sentindo meio sem graça, mas desconversou.

– Sério? Caramba, é bem difícil conseguir uma bolsa aqui Emma, então você realmente deve ser muito boa no ballet! –

A morena deixou a mala de Emma no canto livre do quarto e jogou-se na sua cama, enquanto a outra aproveitou para ir organizando seus pertences, era importante que ela não perdesse noção do tempo, pois não tinha mais às duas horas antes de sua primeira aula.

– Ruby...- A loira chamou sem graça, sem saber como abordar o assunto. A morena que olhava o teto aluada, voltou seus olhos curiosos para a nova amiga.

– O que você pode me dizer sobre a professora, a Regina? –

 Tentou perguntar da maneira mais discreta e desinteressada possível, não queria chamar atenção desnecessária para aquilo, nem precisava que sua nova colega de quarto desconfiasse de qualquer coisa. Era bem provável que ela fosse pedir que a trocassem com qualquer outra pessoa, normalmente meninas lésbicas não eram bem vistas, não em um local majoritariamente hétero.

– Olha...- Ruby virou-se de lado para olhar para Emma, apoiou-se no cotovelo e falou o que lhe convinha sobre a professora.

- A Regina é uma das professoras mais duronas que temos aqui no instituto. Não se iluda pela sua carinha linda, nem corpo maravilhoso, nem a pouca idade para uma professora de ballet profissional. Ela vai fazer você sentir dores onde nunca sentiu e se esforçar mais do que você aguentaria, mas no fim é total o aproveitamento que ela tem do aluno.

Ela falou aqueles adjetivos sem pestanejar, deixando o rosto de Emma ruborizar sem graça. Ela já esperava por algo desse gênero, mas precisava ter certeza, mas não achava que Ruby fosse fazer seu comentário daquela forma. Está certo que Regina visivelmente estava na casa de seus 30, no máximo 40.  Apesar de não ser boa em adivinhar idades pela face da pessoa, se fosse apenas pelo corpo... A loira riu sozinha, pensando que não daria a ela muita idade só olhando o físico.

– Obrigada? – Emma tentou rir um pouco sem jeito, virou um pouco de costas para a garota, tirando sem qualquer pudor suas roupas já as jogando em cima da cama, iria tomar um banho rápido  e vestir logo sua nova farda. Se se deixasse levar e ficasse conversando, iria perder a noção do tempo. Ruby não deu muita atenção à colega se despindo, quem trabalha com a parte de arte não tende a se incomodar com o corpo alheio, apenas apontou a direção do banheiro, mais uma vez, antes mesmo de ser perguntada. Emma juntou a meia e o collant e foi tomar sua ducha. Em menos de dez minutos, estava pronta e de volta ao quarto, alguns longos anos praticando ballet, acostuma-se a vestir-se correndo como se fosse uma maratona, e a meia suplex não se torna mais um problema, mesmo com a pele ainda úmida. A loira se jogou na sua cama, e olhou o relógio, ainda faltava pelo menos uma hora para sua aula, deu um longo suspiro com preguiça de tirar o resto de suas coisas das malas naquele momento.  A morena voltou a falar, meio que sozinha, para contar e esclarecer às coisas que sua companheira ainda não sabia.

– O almoço começa às 13 e vai até às 15, que é o horário que o pessoal da manhã tem seu tempo livre para então se começarem as aulas da tarde.  O jantar é das 19 às 20, sim, apenas uma hora, e algumas aulas acontecem em parte desse horário, eles meio que fazem isso para que nós não tenhamos tempo de comer excessivamente no horário noturno.  O café já passou tem um tempinho, ele vai das 5 às 7, mas é tranquilo, dá pra se acostumar, e unir com uma rotina diária de exercícios, sabe? –

 Os olhos de Emma se voltaram à morena, que mexia em uma mecha de seus cabelos que tinham um tom meio acobreado.

 – Certo, obrigada. - Abriu mais um sorriso dessa vez tentando parecer o mais disposta e animada possivel, tinha que estar de bom humor para aquela aula que estava por vir. Se a professora fosse tudo aquilo que a morena falou, certamente não seria moleza. Puxou seu celular que estava dentro da sua bolsa de mão e ligou o despertador para tocar quando faltasse meia hora para o inicio da aula, ela já fazia isso para se precaver e não perder a hora enquanto mirabolava alguma coisa ou se perdia em pensamentos futuros e para não perder a hora, deixou como lembrete.

1 hora depois...

- Emma? – Ruby balançou a loira que estava desacordada, chamando-a,

 - EMMA! – Dessa vez, a loira abriu os olhos e sentou-se em uma velocidade impressionante.

– Quem morreu? – Perguntou Emma sem entender o motivo de seu nome ser chamado aos gritos.

– Sua aula! – A morena gritou mais uma vez, sabia que Regina não era moleza para que a sua colega se atrasasse logo no primeiro dia de aula com ela.

A loira piscou algumas vezes antes de compreender a situação em que se encontrava, até compreender que ela tinha aula naquele momento.

– MENTIRA, TA DE SACANAGEM NÉ? – Ela desesperada puxou o celular que não havia tocado o despertador. O que ela tinha feito para que ele não tocasse? Sem entender, também não era hora de ela fazer aquilo, ela levantou-se em um salto e saiu às pressas para que não chegasse mais atrasada do que já estava.

Saiu do quarto batendo a porta sem nem se despedir da colega de quarto, correu pelos corredores em direção ao jardim de inverno que tinha dentro da escola. Ela só precisava achar o número de uma e se situar para então encontrar a tal sala 13. Viu ali sua primeira sala à direita, 25, seguiu por aquele lado, vendo os números diminuindo em números ímpares.

Sorte sua, logo, o lado contrário devia ser todo números pares, estava na direção correta. Ao ver o número 13 em uma porta branca com uma listra preta na altura da maçaneta, o coração da garota falhou por um momento. Não havia música no interior da sala. Por quê aquilo? Ela abriu uma brecha e não viu o movimento de outras alunas. Foi colocando o rosto dentro da sala muito bem iluminada e com espelhos em duas paredes: um para aula de diagonal e outro para centro, num canto, viu de costas Regina, aparentemente mexendo no aparelho de som, respirou fundo e olhou o relógio que estava acima da altura dos espelhos, se atrasou exatos 4 minutos, mas pelo texto que a Ruby havia passado, já sentia sua cabeça rolando pelo chão da sala. 

Fim do capítulo